quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Aécio defende Rodrigo Maia para manter DEM unido à oposição tucana

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raquel Ulhôa De Brasília

Em plena campanha para se consolidar como pré-candidato do PSDB a presidente em 2014 e se contrapor a eventuais articulações do ex-governador José Serra para voltar a disputar a Presidência da República ou mesmo de conquistar o comando do partido, o ex-governador de Minas Gerais e senador eleito Aécio Neves fez ontem um gesto importante para consolidar aliança com o Democratas e tentar manter o partido aliado unido.

Em sua primeira visita a Brasília como senador eleito, antes de encontro com a bancada do PSDB no Senado, Aécio deu enfático recado ao DEM da necessidade de a oposição estar unida em torno de um projeto futuro de poder. "O Democratas fortalecido, unido, sólido, é absolutamente vital para a construção de um projeto alternativo para o país", disse. "Nada agrega mais do que a expectativa de poder. (...) Os embates pra valer que vamos enfrentar é com nossos adversários."

O pronunciamento foi feito na sede do DEM, em encontro com parlamentares reunidos pelo deputado Rodrigo Maia (RJ), que enfrenta uma oposição interna do partido, comandada pelo ex-presidente da legenda Jorge Bornhausen (SC) e pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Aécio manifestou apoio a Maia, que defendeu abertamente opção por sua candidatura a presidente, em vez do nome de Serra.

O tom de Aécio surpreendeu os presentes. "Temos que superar um decréscimo de cadeiras que tivemos na Câmara e no Senado com uma ação eficiente, qualificada do ponto de vista da oposição e muito firme e corajosa do ponto de vista político. E o DEM é vital para isso", afirmou. Depois da reunião com o DEM, Aécio reuniu-se com a bancada de senadores - atuais e eleitos - do seu partido.

Nos últimos dias, o ex-governador fez claros movimentos em busca de apoios para seu projeto futuro. Uma das iniciativas foi a aproximação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que sempre foi o aliado mais importante de Serra no partido, ao lado de sua mulher, a ex-primeira-dama Ruth Cardoso, morta em 2008. Tucanos históricos dizem que, pela primeira vez, FHC dá sinais claros de simpatia por uma pré-candidatura do mineiro.

O ex-governador tem procurado governadores eleitos pelo partido, como o aliado Geraldo Alckmin (SP), com quem se encontrou na segunda-feira, e Beto Richa (PR), praticamente um novato na cúpula partidária. Nos encontros, o ex-governador prega a ideia da "refundação" do PSDB, baseada principalmente na modernização do programa do partido.

A ideia é que um conselho de "notáveis" fique responsável pelos estudos das mudanças necessárias ao programa. A proposta de Aécio é que participem FHC, Serra e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) - que hoje faz seu discurso de despedida do Senado.

Ontem, o ex-governador mineiro reuniu-se com os senadores atuais e os eleitos do PSDB, no gabinete de Tasso, que passará a ser seu após assumir o Senado - assim como o apartamento do cearense. O gesto tem um simbolismo: é como se Tasso tivesse transferido a Aécio uma espécie de coordenação política da bancada.

Nos oito anos de seu mandato, o gabinete do cearense era o local mas frequente em que a bancada tucana do Senado se reunia. Em geral, para almoço oferecido pelo anfitrião. Nessas oportunidades, os senadores tucanos discutiam temas da pauta e estratégias de atuação. Pelos almoços e reuniões, passavam também senadores de outros partidos de oposição ou dissidentes da base governista, como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).

Aécio também busca fortalecer a relação com outros partidos. Ontem, fez a visita a Rodrigo Maia, que foi um de seus maiores aliados na fase em que disputava com Serra a vaga de pré-candidato a presidente. Pressionado a antecipar a troca de comando do partido, Maia pediu o gesto de apoio de Aécio.

Em outra frente de articulação, Aécio reforça os laços com o PSB do governador Eduardo Campos (PE), reeleito, com quem se reuniria ontem à noite. Campos já declarou que pretende ajudar na interlocução de setores da oposição com o futuro governo Dilma Rousseff.

O primeiro item da pauta da conversa com Campos é a política mineira. Aécio está preocupado com a troca de comando do PSB de Minas. Sairá o deputado estadual Vander Borges e assumirá o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda. A preocupação de Aécio deve-se ao fato de que setores da nova direção não compõem com o governador eleito, Antonio Anastasia (PSDB), de quem a atual cúpula do PSB é aliada.

Setores do PSDB mais ligados ao ex-governador José Serra consideraram a movimentação de Aécio "um factoide" de fim de ano.

(Colaborou Raymundo Costa)

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