terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Balanço Meirelles :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Oito anos depois, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, entra hoje na sua última reunião do Copom. Ele tem a comemorar o fato de que entrega o que foi encomendado: a inflação esteve na maioria do período dentro da faixa de flutuação da meta. Ao mesmo tempo, há incertezas sobre a política monetária, o BC entrou em contradição no último ano, e há riscos inflacionários e de bolhas.

Os economistas em geral fazem uma avaliação positiva do trabalho de Meirelles, a divergência é quanto ao último ano. Há quem considere que ele ficou dividido entre a política e o Banco Central por um bom tempo e que passou sinais contraditórios na comunicação.

O conjunto da obra é de um presidente do BC que enfrentou divisões internas no governo, oposição no partido do governo, críticas do ministro da Fazenda e, em alguns momentos, uma enorme solidão.

O Ministério da Fazenda depois do período de Antonio Palocci manteve uma política fiscal expansionista e o Banco Central ficou sozinho na tarefa de controlar a inflação.

O governo teve déficit nominal durante todo o período e abandonou a boa proposta do então ministro Antonio Palocci de buscar o déficit zero. Nem no ano de aumento forte de arrecadação de 2010 o déficit não será zerado. Ficará em torno de 2,5% do PIB e a presidente eleita acha que esse resultado é de se gabar, como disse na entrevista ao "Washington Post".

José Márcio Camargo, da PUC-Rio, acha que Meirelles fez uma excelente gestão e foi a garantia da estabilidade nos últimos oito anos. Ao contrário da maioria dos economistas do mercado, ele acha que o BC vai subir os juros nesta última reunião, em meio ponto percentual.

Maurício Molan, do Banco Santander, disse que os juros deveriam subir, mas não vão subir, e chama de "ginástica retórica" o que o BC fez na última ata.

Arthur Carvalho, da Ativa Corretora, avalia que Meirelles tem também o mérito de ter acumulado reservas cambiais, o que foi fundamental na crise de 2008. Mas considera que no último ano ele demonstrou erro de avaliação e entregar a inflação em 5,78%, bem acima dos 4,5% do centro da meta, é sinal de que errou na sua aposta.

De fato, há uma dissonância entre o que o Banco Central disse nas últimas atas e no relatório de inflação e o que disse na sexta-feira. O BC dizia que o cenário inflacionário era benigno e que havia "aumentado a potência da política monetária." Mas, na sexta, deu sinais de que está preocupado com o excesso da oferta de crédito e com os sinais de alta nos preços.

Mesmo assim, a maioria acha que uma alta dos juros ficará para mais adiante. Elson Telles, da Máxima Asset, acha que a Selic não vai subir em dezembro, mas que se pagará mais na frente o custo do atraso no ajuste. Acredita que os juros vão subir a partir de janeiro, em três reuniões seguidas, para 12,25%.

Felipe Salto, da Tendências consultoria, disse que o problema não é apenas o fato de o país ter tido déficit fiscal durante todos os anos do governo Lula, mas o fato de o gasto corrente ter se elevado tanto. Para se ter uma ideia, os últimos dados disponíveis do governo mostram que os gastos de pessoal, previdência e custeio da máquina ficaram em 15,4% do PIB, e o investimento ficou em 1,3%, em 12 meses. E, olha que esse foi o melhor número de investimento. Na média, não chegou a 1% ao ano.

O país investiu pouco, ampliou muito os gastos, e, para piorar, no final, o Ministério da Fazenda passou a adotar maquiagens fiscais e novos canais de expansão do gasto, como as transferências para o BNDES.

Ontem, o ministro Guido Mantega, em mais um momento de "neomanteguismo", prometeu controlar os gastos. O novo discurso desafina tanto com seus atos que fica difícil acreditar. Todo mundo prefere esperar para ver, porque não parece ser o mesmo ministro que alega ter cumprido a meta de um superávit primário de 3%, quando, na verdade, no mercado há quem calcule em 1,7% e até em apenas 0,5%.

Ontem, Meirelles disse que agora é "só correr para o abraço." Quando se pensa nas várias bolas divididas em que entrou para manter a inflação na meta não se pode negar que ele tem o que comemorar.

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