sábado, 4 de dezembro de 2010

BC lança pacote para frear crédito e esfriar consumo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Medidas incluem alta do compulsório dos bancos, que retira da economia R$ 61 bi, e restrição ao financiamento de carros

O Banco Central anunciou uma série de medidas para frear o crédito e esfriar o consumo, a fim de evitar que a inflação suba no início do governo Dilma Rousseff. A principal delas é a alta do compulsório (dinheiro dos bancos que fica depositado no BC), que vai retirar R$ 61 bilhões da economia.

Com compulsório maior, os bancos terão menos dinheiro para emprestar, o que resultará em juro mais alto para os consumidores.

Além disso, o BC restringiu recursos para financiamentos de carros com prazo superior a 24 meses - quanto mais longo for o prazo, maior a entrada a ser paga.

A expectativa é que até o número de parcelas em compras simples no cartão, como presentes de Natal, caia. O mercado espera que as medidas permitam ao governo adiar para janeiro a alta do jura básico.

BC quer esfriar economia para Dilma

Medidas restringem crédito e retiram R$ 61 bi de circulação para desacelerar crescimento, sob risco de inflação

Aumenta o depósito que bancos precisam deixar no Banco Central como garantia, o que reduz novos empréstimos

Eduardo Cucolo

BRASÍLIA - Passadas as eleições e a crise do PanAmericano, o Banco Central anunciou medidas para reduzir o ritmo de aumento do crédito e intensificar o processo de desaceleração da economia, a fim de evitar o aumento da inflação.

Haverá aumento do compulsório (dinheiro dos bancos que fica depositado no BC), para retirar R$ 61 bilhões da economia, e restrição a empréstimos de longo prazo para consumo.

O governo decidiu prorrogar, no entanto, a ajuda a bancos de menor porte anunciada durante a crise.

A decisão foi tomada em conjunto com membros do atual governo que farão parte da equipe econômica da presidente eleita, Dilma Rousseff: Alexandre Tombini, atual diretor e futuro presidente do BC, e Guido Mantega, que vai continuar no Ministério da Fazenda.

O atual presidente do BC, Henrique Meirelles, indicou que esse é apenas o início de um processo cujo próximo passo deve ser o aumento da taxa básica de juros (Selic).

Disse também que a mudança inibe o surgimento de "bolhas" no crescimento do crédito e "riscos que podem ser negativos para a saúde da economia no futuro".

"Em março, o BC aumentou o compulsório e, em abril, adotou medidas de política monetária, com alteração da taxa Selic. As condições macroeconômicas e de expansão do crédito já justificam que o BC retome esse processo", afirmou.

A próxima reunião para discutir a taxa básica será realizada na próxima quarta-feira, mas a expectativa do mercado é que as medidas anunciadas ontem permitam ao governo adiar o aumento da Selic para janeiro.

As estimativas são que a Selic passe dos atuais 10,75% ao ano para mais de 12% ainda no primeiro semestre.

Além de frear o crédito ao consumo, um dos principais motores do crescimento econômico, o BC quer evitar a disparada da inflação no início do novo governo.

Projeções do mercado e do BC indicam que o índice oficial de preços ficará acima do centro da meta de 4,5% neste e no próximo ano.

O crédito ao consumidor cresce hoje acima de 20% ao ano e não dá sinais de arrefecimento. Mas o financiamento para a produção só agora começa a se recuperar.

No caso das empresas, o crédito será incentivado. O governo acabou com o compulsório sobre Letras Financeiras, instrumento que os bancos usam para captar recursos de longo prazo a pessoas jurídicas.

Também foi anunciada a manutenção das medidas de apoio aos bancos de menor porte, que têm como clientes pequenas empresas.

O incentivo à venda de carteiras de crédito dos bancos foi prorrogado por pelo menos mais seis meses.

A captação de recursos com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) começa a acabar somente em 2012, mas só será extinta em janeiro de 2016.

O dinheiro retirado da economia pelo aumento do compulsório equivale a cerca de 20% do que os bancos recolhem. A maior parte foi injetada no sistema bancário na crise de 2008/2009.

Em março deste ano, parte desse dinheiro já havia voltado para o BC. Agora, os valores recolhidos já superam o nível pré-crise.

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