quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A cara da nova equipe econômica:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente eleita completa nova equipe da Fazenda, formada de ex-esquerdistas temperados com realismo

Não faz muito tempo, a formação intelectual da cúpula econômica de Dilma Rousseff causaria esgares, faniquitos, protestos da mais baixa estima e desconsideração e jeremiadas sobre "ameaças à política econômica sustentável". Sinal dos tempos e do fato de que crescimento e dinheiro de sobra abafam até ódios ideológicos, mal se vê um muxoxo público dirigido ao time escalado pela presidente e seu ministro da Fazenda, Guido Mantega.

A equipe de Dilma é parecida com a de Lula 2, a qual, apesar de evidentemente não ser do gosto profundo do "mercado" e de economistas-padrão, não causa comoções maiores. No mais, devido a uma mistura de sorte (conjuntura mundial favorável) com competência e até de alguns exotismos, entrega o país com crescimento do PIB de 4,6%, na média dos últimos quatro anos, e com incremento de 3,5% do PIB per capita, também na média do quadriênio, o maior avanço desde o final dos anos 1970, lá se vão cerca de três décadas.

Mantega é um velho militante petista, "heterodoxo" desde sempre, "desenvolvimentista" etc.

Seu escudeiro na Secretaria de Política Econômica no governo Lula, Nelson Barbosa, doutorou-se na New School of Social Research, de Nova York, um centro de boa formação de quadros esquerdistas ou pelo menos "liberals" (no sentido americano, de progressistas democratas moderados). Barbosa é considerado o "formulador" das políticas econômicas da Fazenda no governo Lula 2. Agora, será vice-ministro da Fazenda, no posto de secretário-executivo. O secretário de Assuntos Internacionais será um diplomata capaz e temperado em duras negociações comerciais, Carlos Conzendey.

Barbosa será sucedido por Marcio Holland, professor da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas. Holland doutorou-se na Unicamp com estudos sobre regimes cambiais. Foi então orientando de Otaviano Canuto, ora um dos vice-presidentes do Banco Mundial. A Unicamp, como se lembra, era considerada ou malfalada como ninho heterodoxo.

A Escola de Economia da FGV-SP é dirigida por Yoshiaki Nakano e tem Luiz Carlos Bresser-Pereira como seu professor emérito. Nakano e Bresser-Pereira são críticos históricos da política econômica implementada por FHC e, aliás, também por Lula. Representam o espírito de uma escola que ainda se ocupa de temas como desenvolvimento autônomo, nação e, enfim, suas preocupações intelectuais e políticas são também as da elite de um Estado que fez a industrialização do país.

Obviamente, Holland não é um mero rebento clonado da Unicamp ou da FGV. Além de ser um economista rigoroso, Holland transita política e intelectualmente bem tanto entre ditos "ortodoxos" (desculpem o palavrão) do Rio, da PUC ou da FGV como entre "desenvolvimentistas" de São Paulo. Não acredita de modo algum em mágicas e em milagres, nem em macumbas econômicas, mas tempera seu conhecimento da profissão com pragmatismo, senso de realidade e desconfiança de extremismos teóricos.

São esses pragmáticos um dia esquerdistas que vão comandar a política econômica. Resta ver como vão lidar com problemas muito "ortodoxos" e urgentes, tais como gasto público no limite suportável "cum" inflação e deficit externo em alta.

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