sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dilma mantém feudo de Sarney no governo

DEU EM O GLOBO

Para acalmar o PMDB, a presidente Dilma Rousseff vai antecipar a indicação de Edison Lobão, aliado de José Sarney, para voltar ao Ministério de Minas e Energia. O PMDB quer cinco pastas. Pelo menos outros quatro ministros devem ser anunciados hoje.

Para enganar a fome do PMDB

Dilma anuncia hoje Lobão para Minas e Energia e mais quatro ministros

Gerson Camarotti , Eliane Oliveira, Maria Lima e Luiza Damé

BRASÍLIA - Pelo menos cinco ministros do governo Dilma Rousseff serão formalmente anunciados hoje, no mesmo formato dos três confirmados até agora: por meio de nota ou comunicado, sem a presença da presidente eleita. Dilma decidiu antecipar a indicação do primeiro ministro do PMDB, o senador Edison Lobão (MA), ligado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para o Ministério de Minas Energia.

Para tentar diminuir a crise aberta dentro do partido aliado, o convite de Dilma a Lobão foi formalizado ontem à tarde, num encontro na Granja do Torto. Mas o impasse continua. O PMDB quer cinco ministérios, mas Dilma oferece quatro.

Além de Lobão, serão confirmados Antonio Palocci (PT-SP) para a Casa Civil, o atual chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, para a Secretaria Geral da Presidência, José Eduardo Cardozo (PT-SP) para o Ministério da Justiça, e a permanência de Alexandre Padilha na pasta de Relações Institucionais.

Segundo fontes da equipe de transição, não está descartado o anúncio de outros ministros ainda hoje, como a manutenção de Wagner Rossi na Agricultura. A confirmação oficial de outros já dados como certos, casos de Fernando Pimentel (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Paulo Bernardo (Comunicações), estava prevista para semana que vem. Mas também pode ser antecipada.

Temer ainda insiste por Moreira Franco

Descartada a indicação do secretário de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes, a escolha do ministro da Saúde, segundo integrantes da transição, voltou à estaca zero.

Além do pedido de desculpas, de Buenos Aires, o governador Sérgio Cabral teria enviado, segundo boatos que circularam ontem na equipe transição, um buquê de flores brancas para a presidente eleita. As flores foram compradas pelo sistema internacional de venda pela internet. Mais tarde, já depois das 9 da noite, outro boato: Côrtes estaria na Granja do Torto acompanhado de Palocci. A assessoria do secretário negou.

Além desse impasse, Dilma ainda precisa concluir as negociações com o PMDB, que não estão fáceis.

Durante todo o dia, líderes do partido se reuniram com Michel Temer e com Antonio Palocci para pressionar pela indicação de Moreira Franco numa cota pessoal do vice-presidente eleito. Os peemedebistas alegam que, se Temer não conseguir emplacar Moreira no primeiro escalão, sairá desmoralizado.

Mas Dilma insiste que o PMDB só terá quatro ministérios: dois indicados pela bancada da Câmara e dois pela bancada do Senado. No Senado, a negociação está bem encaminhada e o nome mais forte para a segunda indicação dos senadores do partido é o do ex-presidente Garibaldi Alves (RN), para o Ministério de Portos. O primeiro da Câmara é o de Wagner Rossi.

— Há uma guerra para ver qual é o espaço do PMDB no Ministério. O Michel disse publicamente desde o início que o Moreira era a indicação número um dele. Sua nomeação agora passa a ser extremamente importante para a estrutura do PMDB.

Mas não tem sido fácil passar isso adiante — afirmou um dos interlocutores de Temer, ontem, ao final das reuniões.

Com a crise aberta pela nomeação precoce feita por Sérgio Cabral, a palavra de ordem ontem era cautela entre petistas e aliados. O temor é que um anúncio antecipado se torne no dia seguinte um veto da presidente eleita. Lobão, por exemplo, nada quis dizer.

— Ainda estou aguardando uma posição. Esse não é o momento de falar — despistou Wagner Rossi.

— Comigo, não bateram o martelo.

Muita gente que bateu o martelo de forma antecipada, teve que voltar atrás — reforçou o governador Jaques Wagner (PT-BA), que indicou nomes para os ministérios do Nordeste.

Nas seguidas reuniões d o PMDB, o partido sinalizou que se a cota não for de cinco ministérios, a conta do partido não fecha.

Para a segunda vaga da Câmara, o PMDB chegou a ser sondado para ocupar o Ministério da Previdência, mas a proposta não foi bem recebida.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, considerou natural que os partidos façam suas reivindicações por maior espaço e acha que até o dia da posse tudo estará resolvido.

— Eu tenho plena confiança que todos os partidos que fazem parte dessa coligação estão empenhados em garantir o sucesso do governo.

Vão estar representados de acordo com o peso de cada um.

Até a posse, vai se confirmar o Ministério em que todos os partidos vão estar representando e atuando para sucesso do governo Dilma — disse Dutra.

Há um impasse também na escolha do ministro dos Transportes. O presidente do PR, Alfredo Nascimento (AM), tenta se viabilizar para voltar ao cargo, mas ontem entrou e saiu de um encontro com Dilma sem qualquer definição.

A presidente eleita reclamou que o PR precisa entrar em um consenso sobre os nomes, já que além de Nascimento, o presidente da Confederação Nacional dos Transportes, Clésio Andrade, indicou o deputado Jaime Martins (PR-MG) para o mesmo cargo. A presidente pediu que o PR se entenda até a próxima terça-feira, para que possa anunciar o escolhido.

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