terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Economia perdeu o fôlego no 3º trimestre

DEU EM O GLOBO

A economia brasileira andou mais devagar entre julho e setembro, segundo projeções do PIB feitas por bancos e consultorias. Sobre o 2º trimestre, a expansão deve ficar entre 0,4% e 0,8%. Em relação ao 3º trimestre de 2009, está entre 6,3% e 7,4%, abaixo dos 8,8% anteriores.

PIB em ritmo mais lento

Analistas estimam alta de 0,4% e 0,8% no 3º trimestre, com freio na indústria e mais importação

Cássia Almeida

A economia brasileira andou mais devagar entre julho e setembro, segundo as projeções de bancos e consultorias sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) do terceiro trimestre, que o IBGE divulga na próxima quinta-feira. As expectativas giram de alta entre 0,4% e 0,8% no período frente ao segundo trimestre deste ano, quando a expansão fora de 1,2%. Frente a 2009, quando o país ainda subia a ladeira na qual desabara no fim de 2008, o número está entre 6,3% a 7,4%, num desempenho inferior ao segundo trimestre, quando a economia crescera 8,8%. Para o ano, a média das projeções é de 7,5%:

- A desaceleração vem da indústria. Estoques elevados, paradas técnicas de plataformas da Petrobras e a competição dos importados foram três fatores que afetaram a indústria - afirma Luiza Rodrigues, economista do banco Santander, que prevê recuo de 1,2% na indústria no trimestre.

Mesma opinião tem Bernardo Wjuniski, economista da Consultoria Tendências. Para ele, o que puxou a economia para cima no trimestre passado foram os serviços. Com a renda em alta - a massa salarial pela Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE cresceu 11,1% de janeiro a setembro - os serviços ganham força:

- O setor deve ter crescido 2% frente ao segundo trimestre. O comércio está forte, e os números da intermediação financeira e dos aluguéis devem vir bons.

Mercado interno: alta de 10% no ano

José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, diz que esse comportamento está aparecendo na inflação dos serviços, que sobe mais de 7% nos últimos 12 meses, enquanto na média, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está em 5,2%.

Armando Castelar, da Fundação Getulio Vargas (FGV), também concorda e espera alta de 0,5% no PIB.

- O setor de serviços será importante, já que a indústria andou mal - disse Castelar, em evento realizado ontem na sede da FGV, no Rio.

Pelo lado da demanda, o consumo das famílias - que acumula 30 trimestres seguidos de alta - e os investimentos impulsionaram o país no terceiro trimestre. Amparado pelo salário maior, mais emprego (foram abertas 2,4 milhões de vagas com carteira assinada este ano até outubro) e crédito, o consumo das famílias deve ter crescido mais de 2% frente ao período de abril a junho e mais de 6% contra o terceiro trimestre de 2009.

O investimento, depois da alta recorde frente a 2009 de 26,5%, deve prosseguir crescendo a mais de 20%, diante da importação de máquinas e equipamentos e do bom desempenho da construção civil, na avaliação de Regis Bonelli, também da FGV.

O setor externo vai ter influência nula nos resultados do PIB de julho a setembro, após quatro trimestres reduzindo os números da economia, diante do crescimento das importações. Elas continuam em alta, mas as exportações reagiram mais no trimestre passado. Esse comportamento é momentâneo, na opinião de analistas, que esperam que o setor externo retire 2,5 pontos percentuais do PIB este ano. Isso significa que a demanda interna, suprida por produção nacional e importações, poderá crescer mais de 10% este ano, já que as projeções para o PIB estão entre 7,5% e 8%.

- Mas esse crescimento não é sustentável, basta ver as pressões inflacionários claras e espalhadas - afirma Luiza, do Santander.

Para o ano que vem, as projeções estão entre 4% e 5%, num freio considerável frente aos 7,5% deste ano. Para Wjuniski, da Tendências, a expansão levada de 2010 para 2001 será bem menor do que a trazida de 2009 para este ano:

- Nessa alta de mais de 7%, 2,7 pontos percentuais vieram de 2009. Para o ano que vem, essa contribuição cairá para 1,3%.

Para Lima Gonçalves, do Banco Fator, o corte nos gastos do governo e mais importação vão segurar o avanço no ano que vem.

Para 2011, Mantega prevê taxa de 5,5%

O Ministério da Fazenda manteve projeção de 7,5% para 2010. Os técnicos da Fazenda garantem que alta de, pelo menos, 7% no ano já está assegurada hoje. O ministério traça uma série de cenários para o PIB do ano. Um deles mostra que, se a economia crescer, em média, 0,5% no terceiro e no quarto trimestres, o resultado do ano será de 7,4%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem no Rio que a alta do PIB brasileiro ficará em 7,5% este ano, abaixo apenas das taxas de Índia e China. Para 2011, ele prevê alta de 5,5%: - O próximo ano será de ajuste econômico. Mas 5,5% está de bom tamanho.

No Banco Central, a projeção é de alta de 7,3%, com base no Índice de Atividade Econômica do BC, que mostrou pequena expansão no trimestre passado, de 0,35%, sobre o período abril-junho. Se comparado com o terceiro trimestre de 2009, o crescimento foi de 6,78%.

Colaboraram Bruno Rosa, Danielle Nogueira, Martha Beck e Patrícia Duarte

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