quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Inflação já é a maior em 5 anos mas BC mantém juros

DEU EM O GLOBO

Pressionado pela alta de preços de alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, (IPCA) ficou em 0,83% em novembro, a maior taxa de inflação desde abril de 2005. No ano, o índice acumula alta de 5,25%, bem acima do centro da meta de 4,5%, fixada pelo governo para este ano. Apesar do aumento da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter os juros básicos em 10,75% ao ano. Foi a última reunião comandada por Henrique Meirelles à frente do BC. A manutenção dos juros só foi possível porque, na última sexta-feira, o próprio BC baixou um pacote de medidas de restrição ao crédito e de aumento de compulsórios bancários para frear o consumo e segurar a inflação. A medida foi elogiada porque evitou a alta de juros ontem.


Alta de juros só em 2011

SOB PRESSÃO

Na última reunião com Meirelles, Banco Central vê piora da inflação, mas mantém taxa básica em 10,75%

Patrícia Duarte e Bruno Villas Bôas

Em uma reunião cheia de simbolismo - último encontro do ano, do governo Lula e sob a batuta de Henrique Meirelles -, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve ontem, por unanimidade, a taxa básica de juros em 10,75% ao ano. Em nota, o Copom reconheceu que o cenário de inflação piorou, mas alegou ter ganho fôlego com as medidas de restrição ao crédito anunciadas semana passada, cujos efeitos vai avaliar até o próximo encontro. Para o mercado, o sinal é claro: a alta da Selic será retomada em janeiro. A aposta é de 0,5 ponto percentual.

Na nota, o Copom reconheceu que o cenário está menos favorável, mas argumentou que, diante as recentes medidas que limitaram o crédito, "prevaleceu o entendimento (...) de que será necessário tempo adicional para melhor aferir seus efeitos".

A nota conclui afirmando "não ser oportuno reavaliar a estratégia de política monetária nesta reunião". E informa que vai "acompanhar atentamente a evolução do cenário macroeconômico" para definir os próximos passos da política monetária.

Previsão é de Selic a 12,25% em abril


A pressão sobre a inflação ganhou força nos últimos meses. O mercado já projeta IPCA a 5,78% este ano e a 5,20% em 2011, longe do centro da meta do governo, de 4,5%. Em novembro, o IPCA avançou 0,83%, a maior alta desde abril de 2005.

- O BC tinha condições de elevar a Selic hoje (ontem) porque as expectativas de inflação estão cada vez piores - afirmou o economista do banco Santander Cristiano Souza, para quem a autoridade monetária levará a Selic a 13% até o fim de 2011.

O BC acredita que as medidas anunciadas na sexta-feira vão segurar o consumo e a inflação. Além de elevar os compulsórios bancários (parcela dos depósitos dos bancos que fica presa no BC), retirando R$61 bilhões de circulação, há medidas que encarecem os empréstimos de longo prazo, voltados à compra de automóveis e bens duráveis.

Quando o BC anunciou o pacote, o mercado elogiou a medida porque ela evitaria alta de juros em dezembro e reduziria a pressão sobre a dívida pública. Ou seja, seria uma saída mais barata para conter a inflação, sem ter que gastar mais com juros maiores.

O cenário internacional, avalia o BC, continua incerto, o que pode ajudar a segurar os preços. A recuperação econômica de EUA e Europa ainda não mostrou força. Nas atas das últimas reuniões, essa era uma das principais explicações para manter a Selic.

Para o sócio da consultoria Tendências Juan Jensen, o BC já deveria estar subindo a Selic, pois a demanda interna continua elevada. Além disso, há preocupação com a política fiscal. A equipe econômica da presidente eleita, Dilma Rousseff, promete austeridade nos gastos públicos. Mas o mercado ainda espera ações concretas.

O consenso do mercado é que a Selic subirá em janeiro, chegando a 12,25% ao ano em abril. Além de controlar a inflação, isso mostrará que o futuro presidente do BC, Alexandre Tombini, terá "autonomia plena", como prometeu Dilma. Foi o que aconteceu com Meirelles em janeiro de 2003: elevou a Selic de 25% para 25,5% para segurar os preços.

- Deixar para o Tombini começar o ciclo de aperto monetário é interessante para mostrar a força dele - disse o economista de um grande banco.

Analista: BC não daria duas pancadas

Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a inflação dos alimentos deve continuar em 2011, obrigando o BC a "jogar duro". Apesar da aceleração da inflação, ele considera que seria "muito estranho" se o BC tivesse elevado a Selic ontem, depois do aperto do compulsório:

- Normalmente o BC primeiro avisa o que vai fazer.

Luis Otávio Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, lembra que o aumento do compulsório dos bancos equivaleu a uma alta de 0,5 a 1 ponto percentual nos juros, segundo os cálculos do mercado. E que duas "pancadas" em um curto período trariam desequilíbrio ao mercado. Leal não acredita que a alta da Selic ano que vem consiga levar a inflação a 4,5%, o que só ocorreria em 2012:

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou pelo segundo dia seguido. O Ibovespa caiu 1,68%, aos 68.174 pontos, devido à queda nos preços das commodities e à reunião do Copom. Também ajudou a saída de estrangeiros da Bolsa, o que levou o dólar a subir 0,65%, a R$1,693.

Colaborou Lucianne Carneiro

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