domingo, 19 de dezembro de 2010

Lá vem o Patto: Urbano Patto

DEU NO JORNAL DA CIDADE DE PINDAMONHANGABA/SP

Pode parecer um tanto pernóstico, mas cada vez mais fico com uma sensação de “terceiro mundismo” quando vejo essas cerimônias de autoglorificação pessoal e demonstrações explícitas de bajulação como essa reunião festiva recentemente promovida pelo presidente Lula na qual juntou todos os ministros que tiveram passagem pelo seu governo, Zé Dirceu inclusive, a guisa de despedida e prestação de contas.

Se há uma coisa em política que me causa preocupação é o chamado culto à personalidade e a visão de que a realização das coisas públicas depende exacerbadamente e quase que exclusivamente da vontade e/ou do tirocínio dos líderes.

Sem negar a importância e o papel das lideranças, não há como negar que, historicamente, sempre que se concentra poder e o povo é colocado sob tutela a Democracia se reduz e, nas situações extremas, chega a ser eliminada. Nas situações menos ferozes, como a do Brasil atual, os resultados são o populismo e o messianismo e, quase sempre, a produção desses espetáculos tão megalomaníacos quanto caricatos.

Num país com carências crônicas e com conhecidos problemas na educação, que facilitam a manipulação e a ilusionismo da população, tal situação é reproduzida nas mais diversas escalas. Não é incomum encontar-se esse perfil de liderança até mesmo em vereadores e líderes comunitários e religiosos. Agem como se fossem os provedores de soluções que acontecem apenas por sua ação ou com sua intermediação, quando tais soluções deveriam decorrer simplesmente do cumprimento pelo poder público de suas obrigações básicas.

A ascensão ao poder central da República de uma presidente como Dilma Roussef que não tem esse perfil carismático e que está se portando discretamente nesse processo de transição, poderá abrandar no imaginário do povo brasileiro um pouco dessa característica personalista e messiânica do atual governo, dando-lhe um caráter mais objetivo e menos fantasioso.

Resta saber se Lula, que é o grande fiador de Dilma e que tratou a sua campanha e vem tratando a composição do novo governo, como um fruto de sua vontade e de sua onipresença, gostará de uma mudança desse tipo, pois quanto mais racional seja a vinculação da população com a política e com a administração pública menos o seu jeitão populista e falastrão cativará o eleitor.


Urbano Patto é Arquiteto Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional e membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista - PPS - do Estado de São Paulo. Críticas e sugestões: urbanopatto@hotmail.com

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