quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O dia mundial pela não violência contra as mulheres :: J. R. Guedes de Oliveira*

Transcorreu, no dia 25 deste mês de novembro, a efeméride do “Dia Mundial pela não Violência contra as Mulheres”, com o alerta de que existem países, ainda, que desrespeitam as mais simples leis de proteção a nossa avó, mãe, esposa, filha e/ou neta.

Dogmas das mais horripilantes aberrações; leis descompassadas pelo passar do tempo e indiferenças governamentais pelo valor da mulher, criam um cenário cadavérico da ignorância que permeia algumas nações, num mundo que exige revisões profundas.

É estarrecedor o que se observa em pleno século XXI, tempos de globalização, de avanças tecnológicos, de retomadas de economias que sofreram, nos últimos tempos, a crise financeira que abalou o mundo.

Não se admite, em hipótese alguma, que a mulher seja a eterna submissa ao homem, sem também usufruir de seus direitos à vida, à dignidade humana, ao trabalho e ao lazer. É imperioso, portanto, que as denúncias sejam levadas ao judiciário, aos órgãos de defesa dos direitos humanos e a todas as instâncias seja de onde for.

Lembrar deste dia, é reportar ao passado há 50 anos, na República Dominicana, já que foi do ocorrido a idéia de tornar 25 de novembro “Dia Mundial pela não Violência contra as Mulheres”.

No 1º. Encontro Feminista Latino-Americano e do Caribe, evento realizado em 1981, na Colômbia, foi escolhia a data de 25 de novembro, para lembrar o assassinato cruel das irmãs Pátria, Minerva e Maria Teresa Mirabal, tragadas pela violência do facínora ditador Rafael Trujillo, da República Dominicana.

“Las Mariposas”, como eram conhecidas (este era o nome secreto de Minerva), foram brutalmente mortas em 1960, há 50 anos, quando se deslocavam para a prisão, a fim de visitar os seus maridos. A outra irmã, Dede, também compartilhando com as outras irmãs, era a guarda das armas para combate ao facínora ditador.

Eis, aqui, um relato da escritora Bia A. Jolie, descrevendo o ocorrido:

“Quatro irmãs, Pátria, Minerva, Maria Teresa e Dede Mirabal, da República Dominicana. As três primeiras são conhecidas por suas atividades políticas clandestinas contra a tirania do governo Trujillista na Republica Dominicana (1930-1961). Na década de 40, Minerva conheceu um jovem político Péricles Franco Ornes, fundador do Partido Socialista Popular, reconhecido como anti-trujilista. No dia 12 de outubro de 1949, em uma festa celebrada em comemoração ao descobrimento da America e com a intenção de homenagear a sociedade da província de Espaillat, as irmãs Mirabal foram convidadas pelo próprio governador e senador para participar. Compareceram Pátria e seu marido Pedro Gonzales, Minerva e Dedé e seu marido Jaime Fernandez e Don Enrique Mirabal, o pai. Como a festa era ao ar livre, e começou a chover muito forte e as irmãs resolveram ir embora. Trujillo ficou bravo com a "falta de respeito". O governador da província de Espaillat, sugeriu que Enrique mandasse uma carta de desculpas ao ditador, mas isso não acalmou Trujillo, que no dia seguinte mandou prender Dom Enrique e Minerva. Minerva foi acusada de ser comunista e foi intimada a escrever uma carta a Trujillo, mas ela recusou. Depois de muito apelo dos amigos, os dois foram soltos. No dia 25 de novembro de 1960, Pátria, Minerva e Maria Teresa viajaram para visitar seus maridos na cadeia. Voltando da viagem seu caro foi parado pelos cúmplices de Trujillo. O ditador mandou matar cada uma separadamente para assim não sentirem a execução da outra.

Forjou um suposto acidente de carro, mas todos sabiam quem era o tal assassino. Depois da morte das três irmãs, começou a decadência do regime de Trujillo”.

A tão bestial assassinato, com requinte de crueldade, pois foram golpeadas e esfaqueadas, o povo dominicano se revoltou e não conseguiu mais a paz, tendo, em verdade, o ditador, sanguinário e déspota ficado no poder por 31 anos (1924-1961). Nesse ano de 1961, Trujillo foi assassinado, pondo fim a mais de três décadas de perseguições, mortes e desaparecimento dos opositores ao seu regime de força.

A memória das irmãs Mirabal, permanece cravada no mundo dos heróis e das heroínas como um brado contra as violências que se praticaram e, lamentavelmente, ainda se praticam sobre as mulheres.

Na nossa recente estada em Santo Domingo, participando de atividades da OEA – Organização dos Estados Americanos, tivemos a honra e orgulho de conhecer e conversar com o Ministro do Meio Ambiente e Recursos Naturais da República Dominicana, Dr. Jaime David Fernández Mirabal, médico e engenheiro agrônomo. Homem notável, de uma fantástica cultura, é filho de Dede Mirabal com Jaime Fernandéz. Vimos no seu semblante um orgulho de ser um dos Mirabal e, vimos ainda, pelo enorme prestígio que tem na grande tarefa de meio ambiente. Vimos, também, com que especial deferência e simpatia as pessoas o cercam, já que a história de sua família é um marco na República Dominicana, assim como os libertadores Duarte, Sanchez e Mella. Ficando, ainda, o registro do poeta e estadista Juan Bosch e o Cel. Caamaño Deno, venerados por todos os cantos.

O “Dia Mundial pela não Violência contra as Mulheres” não deve ser tão somente uma efeméride a ser lembrada É preciso que na dinâmica dos tempos seja uma data a exigir e lutar em prol daquelas avós, mães, filhas e netas que sofrem nas mãos dos desalmados ou são discriminadas em todas as atividades humanas.


J. R. Guedes de Oliveira, ensaísta, biógrafo e historiador.

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