domingo, 26 de dezembro de 2010

O mundo do dinheiro em 2011:: Vinícius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Bancão vê baixo risco de colapso chinês, reclama da inflação no Brasil e está otimista com "emergentes"

Os problemas da economia do Brasil não são, no curto prazo, lá muito dramáticos. A impressão geral vem das avaliações de investimentos e mercados do Goldman Sachs, o bancão de investimento mais bem-sucedido no mundo. O mais interessante nesses relatórios, dirigidos a clientes, é que o nível de hipocrisia é quase nenhum. Seus redatores não estão interessados em pregação ideológica e não dão a mínima para o bem-estar ou para o futuro do país. Ou melhor, tal perspectiva importa apenas quando se trata de analisar quais são os riscos e as oportunidades de investimento.

Como se trata de estudos de estratégia global de investimento, não há consideração sistemática sobre o caso de país algum, com exceção da China. A preocupação maior é avaliar o risco de bolhas, de crises financeiras e de mudanças dramáticas em políticas econômicas e preços de ativos. O pessoal está otimista.

A economia mundial estaria saindo da lama, "não emergentes" incluídos. O risco de colapso chinês seria baixo. Até o alardeado excesso no mercado imobiliário chinês não é levado muito a sério -na conta do pessoal do Goldman Sachs, os preços médios e relativos dos imóveis chineses estão num patamar aceitável. A inflação chinesa continua a acelerar, para mais de 6%, mas é administrável.

Uma reviravolta negativa nos mercados financeiros, ações em particular, não deve acontecer antes de 2012, afora a hipótese de alguma catástrofe. O mercado deve piorar com o fim do relaxamento monetário no mundo rico, com a alta de juros nos Estados Unidos e/ou com a baixa relevante do desemprego americano. As catástrofes por ora improváveis seriam uma crise da dívida europeia (agora detonada pela Espanha) ou de "pouso forçado" na China (com inflação explodindo).

No geral, o bancão continua a sugerir investimentos além da média em "emergentes", como o faz há uma década. Segundo economistas do banco, o "mercado" começaria a antecipar a hipótese de fim do crescimento dos "emergentes" apenas quando tais países passassem a ter grandes deficit em conta-corrente e sua dívida externa voltasse a aparecer, "o que está muito longe de acontecer".

Além do mais, continuam firmes os vetores do crescimento emergente: crescimento acelerado da produtividade, baixo endividamento do setor privado e público e moedas desvalorizadas. No Brasil, porém, o crescimento da produtividade é relativamente menor. Ainda mais discrepante, a moeda brasileira é a mais supervalorizada do mundo emergente em relação ao dólar, entre 30% e 40% mais cara do que seu "valor justo", na conta do banco.

O que parece incomodar mais o bancão é a economia crescendo além do "potencial", que, segundo o banco, é de 4%, e a inflação decorrente já atingiu um nível "problemático" (maior que 5% ao ano). De 19 "mercados emergentes" avaliados, Brasil, Argentina e Índia levam bandeira vermelha.

Porém, do ponto de vista do investidor global, o problema brasileiro estaria longe de ser crítico, como observado acima: o superaquecimento se torna um risco mais assustador depois de anos de elevados deficit em conta-corrente e da volta da dívida externa.

A perspectiva de tal coisa ocorrer no Brasil é remota, por ora.

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