domingo, 26 de dezembro de 2010

PMDB se queixa do espaço perdido para o PT no Ministério

DEU EM O GLOBO

Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. A redução dos recursos orçamentários administrados pelo PMDB no futuro governo de Dilma Rousseff deu início a uma rebelião silenciosa na bancada do partido. Apesar de integrar a chapa com o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), a legenda não se conforma por ter perdido espaço para o PT. No futuro governo, os petistas passarão a gerenciar um orçamento de cerca de R$250 bilhões, enquanto o PMDB ficará com R$84,9 bilhões, já descontando o Ministério da Previdência, porque os recursos da pasta são comprometidos praticamente em sua totalidade com o pagamento de benefícios previdenciários e assistenciais.

Os peemedebistas incluem na conta os orçamentos dos ministérios da Saúde, de R$77,1 bilhões, e das Comunicações, de R$4,4 bilhões, que foram para o PT, e o da Integração Nacional, de R$5,4 bilhões, que foi para o PSB.

SAE, uma pasta sem orçamento

Em troca, o PMDB passou a administrar pastas de menor expressão, como Turismo e Previdência, além de uma pasta sem orçamento, a Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Mesmo descontando os orçamentos dos ministérios técnicos, como Fazenda e Planejamento, o PT somará, ainda, cerca de R$215 bilhões. Além da Saúde, que tem parte da verba bloqueada para o custeio do Sistema Único de Saúde, o PT continuará controlando o Ministério da Educação, que chegará a R$63,6 bilhões. Há ainda o Ministério do Desenvolvimento Social, com R$43,1 bilhões, sendo que apenas o Bolsa Família responde por R$13,4 bilhões.

O PMDB ficará com R$84,9 bilhões mas, como compensação, concentrará em suas mãos alguns campeões de emendas parlamentares, como o Ministério do Turismo, que teve sua verba inflada em quase R$2,8 bilhões na passagem do Orçamento pelo Congresso. Há também o Ministério de Minas e Energia e o Ministério da Agricultura.

Partido admite que Temer errou

A rebelião do PMDB já passou a ser monitorada na Granja do Torto pelos integrantes da equipe de transição. Líderes peemedebistas já avisaram que, no primeiro momento de dificuldade, o partido saberá mostrar sua importância. A expectativa no comando da legenda é que, na primeira reforma ministerial, o PMDB volte a recuperar o espaço perdido para o PT.

A estratégia peemedebista é não entrar em confronto com os demais aliados. Há o reconhecimento de que não houve crescimento expressivo de nenhum partido da base governista. O PMDB aguarda a insatisfação natural de legendas não contempladas, como o PSC e o PTB, que ficaram de fora do primeiro escalão, para acumular forças.

De forma reservada, o PMDB reconhece que houve um erro nas negociações encaminhadas pelo vice, Michel Temer, com Dilma. Na condição de integrante da chapa vitoriosa, Temer teria sido excessivamente tímido nas negociações, avaliou um influente peemedebista.

Diante disso, o partido admite que deveria ter indicado um negociador mais agressivo para tratar dos cargos do primeiro escalão. A ordem será escalar um interlocutor com esse perfil para discutir o loteamento do segundo escalão.

Diante da perda de ministérios estratégicos, o PMDB decidiu fazer uma espécie de silêncio obsequioso nesse momento. Isso porque as reclamações públicas feitas pelo partido estavam carimbando a imagem de uma sigla fisiológica, com grande desgaste para os peemedebistas.

Oficialmente, a ordem é relativizar a redução de espaço para evitar novos ataques.

- Esse assunto está superado. O partido é governo e tem que compreender as dificuldades da presidente Dilma para montar o Ministério. Não estamos preocupados com o orçamento, e nem com bilhões para mais ou para menos. Não estamos fazendo esta conta. Estamos, sim, preocupados com o conjunto do governo. Estamos contemplados, até porque agora nós somos governo - disse o líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves (RN).

Na Granja do Torto, a ordem é tentar pacificar o PMDB para evitar surpresas durante o governo Dilma. O futuro ministro de Relações Institucionais, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), argumenta que o PMDB não pode se sentir diminuído na composição do futuro governo, e lembra que é preciso incluir nesse cálculo o espaço político no Legislativo, como o cargo de presidente do Senado, que deve permanecer na cota do PMDB, com o senador José Sarney (AP). Ele acrescenta que é preciso incluir nesse cálculo também a vaga de vice-presidente para Temer.

- Não podemos olhar de forma fracionada para os partidos aliados. Temos que olhar o conjunto da obra. O que existe é uma coalizão, no qual a presidente eleita é do PT e o vice, do PMDB. O que existe é uma composição, que, além de Dilma e Temer, tem Sarney como candidato à presidência do Senado.

Petista minimiza o desgaste

Na prática, cada partido ficou com um grande filão. O PP ficou com o Ministério das Cidades, outro campeão de emendas parlamentares e onde se concentra boa parte dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O PSB ficou com Integração Nacional. O PR, com o Ministério dos Transportes, que também concentra o PAC. O PCdoB ficou com o Esporte, que receberá recursos por causa das obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016. E o PDT manteve o feudo no Ministério do Trabalho.

No Planalto, há o reconhecimento de que o PMDB ficou com uma fatia menor. A ordem é minimizar o episódio e tentar consertar no futuro. Tampouco o PT quer se vangloriar de ter ficado com a maior.

- Não acredito que a divisão dos ministérios possa criar problemas, porque todos os partidos estão representados e satisfeitos. A presidente Dilma teve sensibilidade de ouvir todas as correntes de opinião das legendas aliadas - minimizou o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

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