quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

PT racha e abre 1ª crise política da gestão Dilma no Legislativo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O PT rachou e forçou o favorito do partido na disputa pela Presidência da Câmara dos Deputados, Candido Vaccarezza (SP), a desistir em favor de Marco Maia (RS), atual vice-presidente.

Deputados estão insatisfeitos com o que chamam de "paulistério" na equipe de Dilma Rousseff e no comando do partido
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"Paulistério" racha PT e faz favorito desistir da Câmara

Vaccarezza abre mão da presidência e bancada aclama "azarão" Marco Maia

Equipe da presidente eleita, que preferia o deputado paulista, tentou influenciar na decisão, sem sucesso


Ana Flor
Enviada especial a Brasília
Valdo Cruz
DE BRASÍLIA

A bancada do PT aclamou ontem o atual vice-presidente da Câmara, Marco Maia (RS), como nome do partido para presidir a Casa a partir de fevereiro.

Um racha da legenda fez o favorito na disputa, Cândido Vaccarezza (SP), desistir da candidatura. Apesar da tentativa de demonstrar unidade ao fim do encontro, foi a primeira crise antes mesmo da posse da presidente eleita, Dilma Rousseff.

No final da noite, conforme era esperado, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) foi escolhido líder da bancada para o próximo ano.

A desistência de Vaccarezza, líder do governo na Câmara e preferido de Dilma, foi consequência da perda de apoio nas bases.

O racha interno começou com o descontentamento de deputados com o "paulistério" em formação -a supremacia de nomes do PT de São Paulo no novo ministério e no comando do partido.

Uma ala do PT mineiro, por exemplo, se diz ressentida com a composição -por ora, esse grupo só foi contemplado com o nome de Fernando Pimentel, indicado para o Desenvolvimento.

Informada da desistência, a equipe de Dilma tentou atuar para adiar a decisão, mas não pôde evitar a indicação de Maia como candidato do PT à presidência da Câmara a partir de fevereiro.

A avaliação entre os assessores de Dilma é que o deputado gaúcho pode "ganhar a indicação, mas corre sério risco de perder a eleição".

Isso porque ele não conta com o apoio dos principais líderes do partido, que teriam condições de costurar um acordo para assegurar sua eleição no plenário.

A situação atual se assemelha à de 2005, quando o PT também rachou e teve dois candidatos na disputa pelo comando da Câmara.

Na época, o "baixo clero" acabou aproveitando a situação para eleger o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

Cândido Vaccarezza era até hoje o franco favorito na disputa e contava com a simpatia do Planalto. A situação mudou com a desistência do terceiro candidato, Arlindo Chinaglia (SP), que decidiu apoiar Marco Maia.

O deputado gaúcho também arrebatou o apoio da segunda maior tendência do PT, a Mensagem ao Partido, a mesma do governador eleito Tarso Genro (RS).

A disputa pela indicação -o PT tem a preferência para indicar o próximo presidente da Câmara por ter o maior número de deputados- deixa a bancada rachada.

Causa também um problema dentro da maior corrente do PT, o Campo Majoritário. Tanto Vaccarezza quanto Maia são da CNB (Construindo um Novo Brasil).

Ontem, cerca de 18h, Vaccarezza ligou ao presidente do PT, José Eduardo Dutra, informando sua desistência.

Seu grupo havia feito as contas e chegou à conclusão de que não teria votos suficientes.

Tentavam o adiamento da decisão, mas consideravam difícil de conseguir devido ao impasse.

A decisão do nome deveria ter acontecido ontem. Como os grupos viram que não haveria consenso, a reunião foi suspensa após 30 minutos.

"Candidatos pediram tempo para sair [da disputa]", disse Fernando Ferro (PE), líder da bancada, pela manhã.

Remarcada para as 17h, a plenária não ocorreu. Chinaglia anunciou a desistência antes disso.

Dutra, disse, ao final do encontro, que a surpresa na definição faz parte da história do PT.

"Eu saio satisfeito de não ter tido votação."

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