quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Saúde não mata fome do PMDB

DEU EM O GLOBO

Na cota de Cabral, Dilma escolhe Côrtes, mas partido não se entende sobre outras indicações

Gerson Camarotti e Maria Lima

A presidente eleita, Dilma Rousseff, amanheceu ontem com o seu principal aliado, o PMDB, insatisfeito com o rumo das negociações para a composição de seu Ministério. No centro de mais uma crise que se avizinhava entre peemedebistas, Dilma e o PT estão dois personagens políticos do Rio: o governador Sérgio Cabral, que fechou a indicação de seu secretário Sérgio Côrtes como novo ministro da Saúde, e o ex-governador Moreira Franco, que pretende ser o novo ministro das Cidades, com o apoio do vice-presidente eleito, Michel Temer. Moreira teria sido vetado por Cabral e não tem apoio integral da bancada do partido.

Ontem cedo, Dilma recebeu, em audiências separadas na Granja do Torto, integrantes da cúpula do PMDB. Ciente da divisão interna, pediu que o partido aliado entre num entendimento para que ela possa nomear os aliados. Dilma avisou aos peemedebistas que acertou com Cabral a indicação de Côrtes e que não teria problemas para nomear Moreira. Só que, para isso, ela quer a garantia de votos da bancada do PMDB.

Dilma oferece Cidades ao aliado

Dilma comunicou também ao partido que decidiu nomear o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para o Ministério das Comunicações, como antecipou O GLOBO semana passada. Além disso, vai transferir o Ministério da Integração Nacional para o PSB. Essas duas pastas são atualmente da cota do PMDB. Como compensação, os peemedebistas terão o Ministério das Cidades, que sai das mãos do PP, e uma outra pasta, que pode ser Turismo ou Portos. A legenda vai manter ainda os ministérios da Agricultura e de Minas e Energia.

Dilma recebeu Temer na Granja e, depois, reuniu-se com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o líder da bancada, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). A Temer, Dilma disse que fechara a indicação de Cortês para a Saúde e que não havia veto ao nome de Moreira.

Com Sarney e Renan, o nome do senador Edison Lobão (PMDB-MA) foi confirmado para Minas e Energia. A bancada do Senado ainda indicará um segundo nome para o primeiro escalão: os mais cotados são os senadores eleitos Eduardo Braga (AM) e Eunício Oliveira (CE).

Hoje, a bancada do PMDB da Câmara fará uma reunião para analisar as indicações. O grande problema é que há forte resistência ao nome de Moreira entre os deputados peemedebistas. O nome do ministro da Agricultura, Wagner Rossi - outro apadrinhado de Temer - tem boa aceitação entre os peemedebistas.

O grande problema é que Temer tenta emplacar Moreira também na sua cota pessoal, sem o respaldo da bancada. Mas Dilma sinalizou que não haveria espaço para mais um ministério peemedebista e que Moreira teria que se encaixar numa das duas vagas da Câmara. Nesse caso, Temer teria que sacrificar Rossi.

Nas conversas de ontem, Dilma sinalizou que deseja resolver logo essa equação com o PMDB. Para isso, escalou ontem o deputado Antonio Palocci (PT-SP) para conversar com o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Também ontem à noite, estava agendada uma reunião de Temer com a cúpula do Senado para unificar o discurso do PMDB.

Além disso, há desconforto na equipe de transição com a interferência do vice-líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) nas negociações. Ele é apontado como o mentor da criação do blocão de cinco partidos com 202 deputados, para se contrapor ao PT e forçar negociações com o governo.

No Planalto, o blocão foi visto como uma espécie de "faca no pescoço" de Dilma. Temer já percebeu a contrariedade da presidente eleita com a desenvoltura de Cunha, e agora tenta se afastar dele.

Nome forte para presidir Correios

Com a confirmação do ministro de Paulo Bernardo para a pasta das Comunicações, o nome mais cotado para comandar os Correios é o de Nelson Luiz Oliveira de Freitas. Diretor de Recursos Humanos da estatal, é homem de confiança do ministro, de quem recebeu em meados deste ano a missão de elaborar um diagnóstico sobre os problemas na empresa; foi uma espécie de intervenção branca, após o escândalo envolvendo a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra e seus apadrinhados nos Correios.

O trabalho de Freitas será apresentado à equipe de transição nos próximos dias. Dilma está determinada a acabar com o loteamento político dos Correios e reorganizar a empresa, que além de foco de denúncias de corrupção, perdeu eficiência nos últimos anos. A empresa é alvo de escândalos desde o primeiro mandato do presidente Lula. A estatal tem 108 mil funcionários e 12 mil agências no país. O faturamento anual gira em torno de R$13 bilhões.

Colaborou: Geralda Doca

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