terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Reflexão do dia – Gildo Marçal Brandão

Gramsci foi importante na construção da esquerda porque justificava, delineava e trazia elementos de reflexão para uma esquerda que tentava fazer uma política de frente democrática contra o regime militar. Várias categorias do Gramsci e do euro-comunismo foram usadas no Brasil por uma parte da esquerda que estava se reconciliando com a democracia, e que achava que não se devia lutar pela derrubada da ditadura, mas sim pela derrota da ditadura. A idéia era fazer uma política de frente para isolar o regime militar. Então, categorias de Gramsci, como a Guerra de Posição e a idéia de que o País já era ocidentalizado e não oriental, comportavam a luta política institucional, luta de massa, reivindicação da democracia. Esse foi o Gramsci importante para a reconstrução da esquerda brasileira. Isso influenciou no começo o velho comunismo e depois se propagou pelo petismo, que tinha muitos elementos em contradição com a velha esquerda comunista. Mas Gramsci foi particularmente influente nos dois casos, porque, em ambos, a atenção da luta democrática, institucional e eleitoral, era importante."


(Gildo Marçal Brandão, em entrevista de 21 de outubro de 2009, publicado neste Blog - faleceu ontem)

Viva o 'tríduo momesco!' :: Arnaldo Jabor

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Todo ano meu artigo cai na terça-feira de carnaval e todo ano me repito sobre o chamado "tríduo momesco", como escreviam os jornalistas barrocos. Os bombeiros eram os "bravos soldados do fogo", um incêndio era o "belo horrível" e "no desastre o trem ficou reduzido a um monte de ferros retorcidos". E o carnaval era o "tríduo momesco".

Todo ano, espremo a cabeça sobre o assunto - nostalgias, pretensas reflexões - e nada sai de novo.

Assim, resolvi fazer uma antologia de mim mesmo sobre forrobodó de fevereiro, o farrancho, a folia, a folgança, o banzé, a bambochata, como rezam os sinônimos do genial dicionário analógico de Francisco dos Santos Azevedo.

Muito bem.

Acho o carnaval nossa patuscada e grandeza. Como pode o mundo achar o carnaval um desvio da razão, este mundo insano de Chávez, Irã , Iraque, de bombas "clean" contra bombas sujas? O carnaval nos vê e exibe a matéria de que somos feitos, por baixo dessa mímica de "Ocidente" que tentamos há quatro séculos.

A África e os índios nos salvaram, assim como salvaram os USA. Que seria da América sem o jazz?

O carnaval é feminino; o "rock" é de homem. O "rock" é guerra; o carnaval é luxo e volúpia. As mulheres que flutuam no ar dos desfiles estão além do desejo real. Conquistadas, elas seriam reais, mas nosso desejo as quer como metáforas inatingíveis.

Se bem que, nos musicais americanos, quem inventou as escolas de samba na tela foi o americano Busby Berkeley, esse gênio esquecido.

Talvez nosso carnaval seja uma doença salvadora, uma epidemia de delírio de que o mundo precisa, além da guerra, da velocidade e do mercado cruel.

A "razão perversa" é a razão do carnaval. Não a perversão como "pecado", mas como a busca de uma civilização "não civilizada", de retorno a uma animalidade perdida e pulsante.

A sacanagem das matas profundas é diferente das surubas calvinistas de Nova York, que inventaram o sexo torturado nas boates doentias e acabaram na aids. Nosso carnaval mostra que o Inconsciente brasileiro está a flor da carne. Quanto mais civilizado o país, mais fundo o recalque. Já imaginaram nossa cascata de bundas na Suíça?

Antes, o carnaval começava no Rio com as marchinhas tocando no rádio desde dezembro, sob o canto das cigarras do verão.

Na terça-feira (hoje) eu ia com meu pai à Avenida Rio Branco, ver a passagem das "sociedades" carnavalescas.

Eram carros alegóricos cheios de rodas moventes, de estátuas de papel e massa, grandes e toscas carrancas, estrelas, sóis, luas cobertos de mulheres provocantes. As "sociedades" competiam com nomes góticos como "Pierrôs da Caverna" ou "Tenentes do Diabo". Todo mundo cantava: "Chiquita Bacana lá da Martinica, se veste com uma casca de banana nanica!" De repente, eu vi um carro imenso que era um despotismo de cachos de banana, onde dançava uma mulher lindíssima, completamente nua na proa. Os pais de família, as mães de família (todo mundo era de família) sussurravam: "Olha a Elvira Pagã! Olha a Elvira Pagã!"

Já contei essa história aqui, mas repito.

Elvira Pagã era apenas uma vedete mas, naquele ano remoto, ela queria "provar" alguma coisa. Algumas atrizes como ela (Luz del Fuego e outras) transcendiam o palco e viravam símbolos dos desejos reprimidos no coração das famílias. Eu via nas senhoras distintas a inveja infinita e escandalizada e no olhar de meu pai um brilho faminto que eu não conhecia. Elvira Pagã (que nome anticristão e livre...) foi a precursora corajosa das mulheres nuas de hoje, como Luz del Fuego e Eros Volusia.

Hoje, as mulheres do carnaval travam uma competição frenética de bundas e seios e eu me pergunto: O que querem elas provar? Querem nos levar para o fundo do mar como sereias, querem destruir os lares, querem mostrar que o sexo sem limites resolverá os problemas do Brasil?

Até hoje, quando penso nos carnavais da minha infância, lembro do cheiro do lança-perfume. Carnaval para mim era o cheiro.

O lança-perfume era tudo. Havia uns em vidro, frágeis como ampolas, mas o símbolo do carnaval era o Rodouro Metálico, que ejetava um fino jato de éter, gelando as costas nuas de odaliscas e havaianas que se torciam em risos trêmulos. O perfume flutuava pelas avenidas como uma aragem geral, uma nuvem de felicidade salpicada de pontos coloridos de confetes e rasgada por serpentinas. Hoje, com os corpos malhados, excessivamente nus, falta a celulite, falta o mau jeito, falta o medo, a ingenuidade, o romantismo, falta Braguinha, Lamartine Babo, Mario Lago. Lembro também das escolas de samba a pé ainda na Avenida Rio Branco, um bando de índios de bigode e penas de espanador, pintados de preto, seguidos pelas gordas baianas cobertas de balangandãs.

Naquele atraso havia ainda uma preciosa alma brasileira, um ritmo humano de esperança que víamos no carnaval e no futebol, com Ademir e Zizinho geniais, disputando o Vasco e Bangu, esperança ingênua que se via nos bondes, nos botecos, nos caixotes dos bicheiros nas ruas, nas cadeiras da calçada e até nas favelas líricas e sem droga, sem crimes hediondos.

Este passado ainda se vê hoje no mundo dos foliões anônimos. Nas ruas, está a preciosa origem do carnaval profundo. Lá, estão os desesperados, os famintos de amor, os malucos, os excluídos da festa oficial. O carnaval das ruas está longe do populismo oficial, que transforma o popular em kitsch.

Nas ruas, estão os blocos dos anjos de cara suja, os blocos das escrotas, dos vagabundos, dos bêbados ornamentais, da crioulada pobre.

Só os sujos são santos. Ali, estão as três raças brasileiras entrelaçadas num casamento grupal doido: negros, brancos e índios dando à luz um grande bebê mestiço e gargalhante.

O carnaval de hoje é um grande tumulto. Parece uma calamidade pública musicada por uma euforia disputada pelo narcisismo de burgueses e burguesas se despindo para aparecerem na TV.

Em matéria de saudades, sou nacionalista.

Tenho vontade de botar uma camisa amarela, sair com um reco-reco e um pandeiro na mão e sumir no turbilhão da galeria da minha vida que já passou.

Cabral cobra fidelidade de Dilma

DEU EM O GLOBO

No Sambódromo, governador adverte que ministra não poderá ter dois palanques no Rio

Chico Otavio, Flávio Tabak, Maiá Menezes, Fábio Vasconcelos e Natanael Damasceno


Ao chegar ao Sambódromo no fim da noite de ontem, para a segunda noite de desfiles do Grupo Especial, o governador Sérgio Cabral (PMDB) fez uma advertência pública à ministra Dilma Rousseft, pré-candidata do PT à Presidência da República: não aceitará que, no Rio, ela também suba no palanque do ex-governador Anthony Garotinho (PR), até aqui seu mais ferrenho opositor. Dilma se reuniu com Garotinho no fim do mês passado, no Rio. Cabral disse que não uma equação eleitoral que “não fecha”, e deu a entender que Dilma poderá perder seu apoio:

- Acho o seguinte: quando há dois palanque, pode ser um problema. Aqui, a equação não fecha. Como é que ela (Dilma) vai no mesmo dia para um palanque de situação e, depois, para um de oposição? Vai acabar perdendo o voto até da minha mulher.

Na véspera, Cabral conversou Dilma no Palácio Laranjeiras, antes de os dois seguirem para o sambódromo, onde assistiram juntos à passagem de três escolas de samba. Segundo testemunhas, o encontro teria sido “extremamente” cordial. Encorajados pela apresentação da Unidos da Tijuca, um aliado próximo a Cabral chegou a dizer que já começaram as negociações para convencer Garotinho a sair do páreo em troca de alguma vantagem política.

A notícia circulou na porta do camarote do governador, na Passarela do Samba, logo depois da saída da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que passou quase quatro horas no Sambódromo, tempo suficiente para assistir, entre rápidos aplausos e braços cruzados, à passagem de três escolas de samba. Dilma desembarcara na cidade por volta das 20h, mas, antes de seguir para o camarote, teve uma reunião política com Cabral e seu staff no Palácio Laranjeiras. Garotinho, por outro lado, nega as negociações.

O encontro serviu para um acerto de ponteiros depois do mal-estar provocado pelo encontro de Dilma com Garotinho, ocorrido no fim do mês passado, no Rio. Além de explicar as razões da aproximação, a ministra aproveitou a oportunidade, em pleno carnaval, para acertar com Cabral uma agenda de campanha no estado. Segundo testemunhas, o encontro teria sido "extremamente cordial".

- Não acredito que as convenções partidárias vão confirmar as candidaturas previamente colocadas. Até lá, muita água vai passar por debaixo da ponte. Há muito balão de ensaio - disse um dos articuladores de Cabral.

Um dos trunfos do grupo de Cabral, no esforço de convencer Garotinho a abandonar o páreo, é o pouco tempo de TV que o ex-governador terá (cerca de dois minutos) numa disputa cada vez mais voltada para a mídia eletrônica. Cabral venceu as eleições passadas tendo em seu palanque o casal Garotinho, na época no PMDB.

Outra novidade esperada é a concretização de uma aliança inédita, no Rio, entre peemedebistas e petistas. Para isso, Cabral contaria com o aval do presidente Lula. Mas o governador sabe que, mesmo após a derrota de Lindberg Farias no PT fluminense, o que afastou o prefeito de Nova Iguaçu da disputa sucessória, ainda terá de acomodar os aliados, já que pelo menos três deles (Marcelo Crivella, do PRB, com apoio de Lula; Jorge Picciani, PMDB; e Benedita da Silva, do PT), cobram apoio de Cabral na disputa das duas vagas ao Senado Federal.

Depois de encerrar, à 1h40m de ontem, sua participação no carnaval 2010, a ministra só voltará ao trabalho amanhã. No Sambódromo, procurou evitar temas políticos. Nem mesmo a provocação, em tom de brincadeira, de Cabral, que tomou o microfone de uma repórter de TV para "entrevistar" Dilma, a convenceu a politizar sua passagem pelo carnaval carioca.

- Ministra, como a senhora se sente ao receber aplausos na Passarela do Samba? - perguntou um sorridente governador.

- Olha, Sérgio, nesse momento eu não prestei atenção. Eu não vi - respondeu.

A ministra estava certa. Não houve aplausos para ela.

Ajuda de Lula para para pressionar PR

Eleito com o aval de Garotinho, de quem hoje é adversário ferrenho, Cabral vinha correndo isoladamente na campanha para a reeleição, até ser surpreendido pela entrada no páreo do deputado federal Fernando Gabeira, que será candidato pelo PV, numa aliança com o PSDB.

Cabral conta com a ajuda do presidente Lula para pressionar o PR a desistir de lançar candidato. O ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, será o novo presidente do partido. Cabral havia pedido uma conversa com o presidente Lula sobre o quadro eleitoral no Rio e trataria do tema durante o carnaval, mas ele desistiu de acompanhar os desfiles.

De acordo com aliados do governador, a maior preocupação de Cabral é com a entrada de Gabeira no cenário: há um temor de que, em um segundo turno, haja uma nacionalização a campanha.

- O presidente ligou para o governador, e a conversa foi marcada para depois do carnaval - disse o vice-governador Luiz Fernando Pezão, acrescentando que Cabral está convencido de que Dilma ficará em apenas um palanque no Rio.

Garotinho faz questão de dizer que ainda não sabe se concorrerá ao governo do estado. Por trás da indecisão está a sua filiação ao PR, em 2009, partido da base do governo Lula. Em troca de seu apoio e dos mais de 20% das intenções de voto que apresenta nas pesquisas, Garotinho quer estar ao lado de Dilma ou, no mínimo afastá-la de Cabral. Garotinho nega que o Planalto está tentando barrá-lo da sucessão.

- Ninguém pode retirar o que não está colocado. A ministra Dilma foi muito clara comigo no encontro que tivemos. Ela disse: "Estou aqui conversando com você, e o presidente Lula sabe que eu não faria nada sem que ele soubesse" - afirma o ex-governador. - Caso se confirmem, hipoteticamente, a minha candidatura, a do Cabral e a do Gabeira, acho pouco provável que ele (Cabral) vá ao segundo turno. A tendência que os setores populares fiquem comigo, e os mais conservadores, com o Gabeira. Aí fica difícil um espaço para ele.

Enquanto Cabral e Garotinho ainda costuram alianças e negociam vagas em suas futuras chapas, o deputado federal Fernando Gabeira (PV) já começa a esboçar o formato de sua campanha ao governo. A coligação PV/PSDB/DEM/PPS foi formalizada no dia 8 de fevereiro. Durante os dias que restam de folia, Gabeira quer ir ao Maracanã para torcer pelo Flamengo na Taça Guanabara, e escrever ideias que serão apresentadas aos eleitores.

- Trarei algumas metas que serão apresentadas na coligação, como utilizar os recursos do petróleo para nos libertarmos dele. Também escreverei sobre como avançar na segurança, que hoje está mais concentrada na Zona Sul (da capital) - diz o deputado.

OS ENREDOS DA ELEIÇÃO NO RIO

DEU EM O GLOBO

Os três prováveis candidatos ao governo do estado neste ano têm semelhanças que vão além de suas profissões de origem. O governador Sergio Cabral (PMDB), o deputado Fernando Gabeira (PV) (ambos jornalistas) e o radialista e ex-governador Antony Garotinho (PR) já passaram por diferentes trincheiras políticas. Aliaram-se a correntes que um dia já criticaram e tentam montar seus discursos na fronteira entre o pragmatismo e a coerência política.

Sergio Cabral

1) Sua estréia na política foi na juventude do PMDB, nos anos 80. Foi presidente da TurisRio na gestão do ex-governador Moreira Franco.

2) Em 1992 passou para o PSDB. Foi candidato a prefeito e a governador pelo PSDB. Cresceu na política com a benção do então governador Marcelo Alencar. Era aliado do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

3) Em 1999 entrou no PMDB pelas mãos do ex-governador Antony Garotinho. Foi com o apoio de Garotinho que Cabral se elegeu governador.

4) Hoje é amigo e aliado do presidente Lula.

Fernando Gabeira

1) Sua vida política começou nos anos de chumbo, época em que participou da luta armada contra o regime militar. Atuou em episódios marcantes, como o seqüestro do embaixador americano Charles Elbrik. Foi exilado e depois entrou na vida político-partidária brasileira.

2) Com a reabertura política fundou o PV. Foi candidato ao governo do Estado em 1986 e é deputado federal desde 1995.

3) Gabeira trocou o PV pelo PT em 2001. Deixou o partido em outubro de 2003 por divergir de políticas adotadas pelo presidente Lula.

4) De volta ao PV em 2005, Gabeira, que sempre foi identificado com a esquerda, agora é apoiado pelo PSDB, que indicará seu vice. Ele receberá ainda o apoio do DEM. Foi candidato a prefeito do Rio em 2008 pelo PV.

5) Fará campanha para Marina Silva, ex-ministra de Lula, e receberá apoio do tucano José Serra.

Garotinho

1) Começou na política no PT como vereador. Migrou para o PDT do então governador Leonel Brizola.

2) Foi eleito para o Palácio Guanabara pelo partido, brigou no meio do mandato e se filiou ao PSB. Deixou o governo e elegeu a mulher, Rosinha Garotinho, como sua sucessora. Foi candidato à Presidência pelo PSB em 2002. No meio do mandato de Rosinha rompeu com os socialistas e procurou abrigo no PMDB

3) Ungido por Garotinho o governador Sergio Cabral foi eleito para suceder Rosinha, em 2006.

4) Em 2006 tentou ser candidato pelo PMDB ao Planalto como crítico do governo Lula, mas perdeu a indicação do partido. Garotinho era adversário ferrenho de Lula, de quem hoje se diz aliado.

5) No fim do ano passado, se filiou ao PR, partido da base do governo federal..


Adeus à política diz Denise Frossard

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Informe JB :: Leandro Mazzini

EX-DEPUTADA FEDERAL e juíza aposentada Denise Frossard não vai mais disputar eleições. “Adeus à política”, disse ontem num encontro com a coluna no Rio, durante duas horas de papo. Denise ainda era esperança do PPS de um grande quadro no Rio para disputa proporcional ou majoritária.

Em 2006, levou para o segundo turno a disputa contra Sérgio Cabral pelo governo. Frossard revelou que a decisão é pessoal e irrevogável. Não houve acordo com Cesar Maia, nem mágoa com aliados ou adversários, como se propaga pelas ruas diante de sua ausência no cenário. Acredita que aprendeu a fazer a boa campanha, mas desnudou-se de ambições.

Embora ainda filiada ao PPS, não participa mais do debate partidário. Aos eleitores e fãs, esqueçam Denise política.

Voltou a ser tão só uma cidadã carioca.

Na praia com Serra

DEU EM O GLOBO

Em projeto com deficientes, governador entra de roupa no mar

Wagner Gomes

PRAIA GRANDE. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), mostrou que, em véspera de período eleitoral, vale tudo, até entrar no mar de tênis, calça jeans e camiseta. Ao lançar ontem, na Praia Grande, uma das mais populares do litoral paulista, um programa para ajudar o acesso de deficientes físicos ao mar, Serra teve dia de candidato, com as pessoas chamando-o de "presidente". Mas ele negou que estivesse em campanha eleitoral.

- Sempre sou bem recebido nos lugares em que vou - disse Serra, desconversando sobre a clima de campanha na praia lotada.

O programa ""Praia Acessível" facilitará o acesso de pessoas com deficiência às praias de São Paulo com o uso de cadeiras de rodas adaptadas, que não afundam na areia e flutuam na água. Serra foi breve no discurso, mas não hesitou em caminhar até o mar empurrando algumas cadeiras especiais. Com água na cintura, ele brincou com banhistas, tirou fotos e abraçou crianças.

Como tudo foi de improviso, Serra não encontrou toalha para se enxugar e voltou para o carro do governo encharcado e aparentemente cansado. O programa vai funcionar em Praia Grande, Ilha Bela e Santos. Na primeira fase estão sendo entregues cem cadeiras de rodas, mas a ideia é chegar a mil ainda nesta temporada.

- É mais um aspecto da batalha que estamos fazendo em São Paulo para dar a pessoas com deficiência uma condição melhor de vida e de cidadania - disse o governador.

O serviço ficará disponível de terça-feira a domingo, das 9h às 17h, até o fim de março. Após a temporada, os cadeirantes poderão utilizar o serviço durante nos fins de semana. Para usar as cadeiras, é necessário apresentar os documentos do usuário e acompanhante, além de preencher um termo de responsabilidade. O equipamento só pode ser utilizado com acompanhamento facilitador ou acompanhante, independentemente da condição física do usuário. O país tem hoje 24,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Esse número representa 14,5% da população brasileira. Em São Paulo, segundo o governador, 4 milhões de pessoas têm algum problema de mobilidade.

Corte de gastos é desafio para era pós-Lula

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula chega ao fim de seu segundo mandato com a estabilidade econômica consolidada. Ao mesmo tempo, dizem economistas, deixa lacunas e desafios para quem vencer as eleições, como o descontrole dos gastos e a elevada carga tributária.

Altos e baixos do governo Lula

Estabilidade foi mantida, mas redução de gastos e reformas são desafio para sucessor, dizem analistas

Eliane Oliveira e Vivian Oswald

Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva completará este ano seu segundo mandato, com o mérito de ter consolidado a estabilidade macroeconômica, com a manutenção dos regimes de metas de inflação e de câmbio flutuante e a produção de superávits primário (receitas menos despesas, descontados os juros da dívida) no setor público e nas contas externas. No entanto, segundo economistas ouvidos pelo GLOBO, Lula também deixará como legado lacunas e desafios, como a diminuição dos gastos correntes, o aumento dos investimentos públicos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), a aprovação de reformas constitucionais, a redução da burocracia e do excesso de regulamentação e a busca por maior competitividade, por meio de uma política alentada de pesquisa e desenvolvimento.

A expectativa é que pouca coisa resta a ser feita em 2010. Como ocorre tradicionalmente em ano de eleição, deverão entrar em pauta apenas os assuntos em fase mais avançada e que exercem forte pressão no Congresso, como o marco regulatório do pré-sal. Na esfera administrativa, o que pode se esperar é a implementação de medidas pontuais, tendo como foco a continuidade do crescimento econômico.

Para a economista-chefe da Rosemberg & Associados, Thais Zara, o maior desafio é a recuperação da estabilidade fiscal. Além dos dispendiosos gastos com a máquina, o governo ainda teve de abrir a torneira, com medidas de estímulo à produção, para permitir que o país enfrentasse a crise financeira internacional, que começou no segundo semestre de 2008 e foi perdendo forças em meados deste ano.

- Tivemos uma mudança no comportamento fiscal para fazer frente à crise - disse ela.

Com crise mundial, "licença para gastar"

A questão é que, segundo Raul Veloso, especialista em contas públicas, enquanto os gastos correntes representam 16,3% do PIB, os investimentos do setor público estão em torno de 1%.

- O governo conseguiu licença para gastar com a crise, mas essa licença tem de ser temporária. A expansão das despesas acaba sendo compensada pela alta carga tributária - afirmou Veloso.

Uma das consequências da bonança no país acabou se refletindo do câmbio valorizado, uma das maiores queixas da indústria, sobretudo dos exportadores. A média da taxa de câmbio no ano passado foi de R$1,99. A previsão é que, em 2010, a moeda americana deve ser cotada em R$1,70. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) já afirmou que este deve ser o maior desafio do setor, assim como os investimentos em infraestrutura.

- Os investimentos públicos são baixíssimos. E é o investimento privado que tem movido o país - comentou o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto.

Para o líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, o Brasil não pode se descuidar da agenda microeconômica. Ele reconheceu que é necessário aumentar os esforços de aprofundar as reformas e atacar as deficiências da infraestrutura e da logística.

Newton Marques, professor de Economia da Universidade de Brasília, cita como exemplos de frustração as reformas da Previdência, Tributária e Sindical, que não foram feitas em dois mandatos. Para ele, outro fracasso da área econômica consiste no fato de, mesmo com diversas medidas tomadas, o spread bancário (diferença entre os juros que o banco paga para captar recursos e o que ele cobra na concessão de empréstimos) não ter diminuído.

- A lacuna que fica para 2010, ou mesmo para o próximo governo, é aumentar a oferta de crédito através de cooperativas, microcréditos e estimular a ampliação da concorrência - disse Marques.

Fernando Holanda Barbosa, da escola de pós-graduação de Economia da FGV/Rio, cita especialmente a reforma tributária, que começou a ser discutida antes do governo atual:

- A reforma tributária é bastante esperada, para que tenhamos um sistema mais eficiente e menos oneroso. Também é necessário rediscutir a atual política fiscal.

Carga tributária e burocracia em alta

Para o economista e ex-diretor do Banco Central José Julio Senna, da MCM Consultores, o aspecto menos saudável da economia brasileira é o da intervenção do Estado no domínio econômico.

- Eu chamaria atenção para a intervenção tanto direta quanto indireta. A última é a regulamentação, as leis que regem o funcionamento das coisas, a burocracia. O empresário tem que ser estimulado a produzir mais para ter lucro. Os grandes geradores de empregos no mundo são os micro e pequenos empresários, que sofrem com a burocracia e o excesso de exigências - afirmou Senna.

Ele também citou a elevada carga tributária, em torno de 35% do PIB, como fator inibidor do crescimento econômico, "uma intervenção direta do Estado".

O professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, destacou que o governo Lula deu continuidade às bases deixadas pela administração anterior, o que foi visto como um passo extremamente positivo, especialmente no fim de 2002, quando havia temor de que as bases fossem demolidas com a vitória de Lula nas eleições. No entanto, faltou uma política de desenvolvimento em pesquisa e tecnologia que permitisse fazer com que o país desse um salto tecnológico.

- O período FH e Lula pode ser visto como uma etapa no desenvolvimento do país. Começou com o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o sistema de metas de inflação, rigor fiscal, superávit na contas externas. Chegou o momento de se dar um passo à frente, focado em uma política consistente - disse Leite.

Classe média à vista::Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O rumo que a classe média tomar na eleição deste ano tem tudo, pelo menos em princípio, para confirmar a continuidade da democracia e reduzir a folga ética praticada de maneira equivocada abaixo do Equador.

Só não se sabe até quando.

A falta de consequência legal para práticas inaceitáveis ou a interrupção das investigações por motivos aleatórios, de força maior e no pior sentido, continuam a perverter os costumes.

Partindo do princípio de que não há como piorar o teor da representação política com graves danos à credibilidade democrática, como passou a ser desde o mensalão, a conclusão é pela necessidade de um ponto de inflexão, a partir do qual a classe média entornará o caldo.

Por mais qualificado que seja o eleitor dessa faixa social, espremida entre o nível superior de renda e o inferior, que não são expressos em números, o que genericamente se entende como classe média, com margem de folga à direita e à esquerda, não para de crescer. Por enquanto, ainda é cedo para entender o que se passa na cabeça dessa gente que, para não se comprometer, limitase a manifestar-se em pesquisas de opinião. O anonimato funciona também no espaço cibernético que se expande socialmente com o exercício de pequenos textos, meia dúzia de linhas, opiniões veementes que traduzem mais irritação e impaciência do que raciocínio.

Na internet circula material que diz mais do quea intenção de voto. Vem aí a campanha eleitoral em novos termos.

Depois da eleição que se arma em estilo de tempestade de verão, com mais ruído do que chuva, será inevitável que a cidadania identifique novas formas de participação, mesmo que não sejam convencionais, antes que a opinião pública se solte das conveniências e procure um caminho natural como a água ensina a fazer quando entorna. A credibilidade da democracia representativa entraria em colapso se a Câmara e o Senado – sem falar nas assembleias legislativas e câmaras municipais, caixas de ressonância que desaprendem com o nível federal princípios elementares de democracia – deixassem os líderes de bancadas tomar decisões por seus liderados.

Só falta o voto por telepatia, substituído provisoriamente pelo telefone celular (obviamente tambémpago pela viúva), como etapa mínima de sobrevivência para o que restar do conteúdo representativo na evolução política brasileira.

Não é com reverência subalterna, a título de evitar o pior, que se aperfeiçoa a vida política, devedora de um exemplar ato de penitência por ter sido dócil às imposições do autoritarismo, nem sobre viver de favores que não dignificam o que se denomina democracia representativa.

Representativa de quê? Líderes que votam pelos liderados como se fosse pesquisa de opinião por falta de autoridade para exercer a função são coveiros (com carteira assinada) da democracia.

Ninguém desconhece que a classe média brasileira aprendeu o suficiente quando assistiu, transitiva e intransitivamente, à instabilidade que instalaram os governos militares e, depois de 20 anos, está elatestemunhando a desagregação do poder representativo, que não emana da simulação de líderes sem conteúdo.

Não se mede o grau de democracia pelo número de partidos políticos. O pequeno burguês tem visto de perto e deve ter aprendido o suficiente para entender o que se passou e não querer repetir lição. A alternância do poder se processa sem risco de retrocesso político, desde que se estabeleceu o princípio da maioria absoluta.

O resultado da aplicação da maioria absoluta e da alternância do poder já está na história. O pecado original de que a democracia precisa se libertar é a reeleição, que embaralhou o compasso da alternância natural a partir da tentação inevitável do terceiro mandato.

Wilson Figueiredo é jornalista

Madonna ofusca Dilma no Sambódromo do Rio

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

A ministra e presidenciável petista assistiu ao desfile das escolas de samba, no domingo à noite, no camarote do governador Sérgio Cabral. No entanto, as atenções estavam voltadas para a cantora

RIO – Na última etapa da maratona carnavalesca que incluiu Recife e Salvador, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, assistiu no domingo ao desfile no Sambódromo do Rio e dividiu as atenções com uma concorrente imbatível. A cantora Madonna foi a grande estrela durante quase duas horas em que ficou no camarote do governador Sérgio Cabral (PMDB).

Pessoas que estavam nas frisas do setor 9 e até as que desfilavam na avenida aproveitaram a oportunidade para fotografar a cantora. Algumas sequer reparavam a presença da ministra. Dilma, discreta, cumprimentou a companheira de camarote e se divertiu com a filha adotiva de Madonna, Mercy James. A ministra pegou a menina no colo e mostrou a festa para ela. Depois, leu e cantarolou trechos dos sambas.

Como a maioria dos convidados que não estão acostumados ao desfile carioca, Dilma não resistiu e, por duas vezes, desceu até a avenida para ver o espetáculo de perto. Logo ao chegar, pouco antes das 22 horas, viu o fim do desfile da União da Ilha, a primeira escola a se apresentar. Depois, voltou para assistir ao início da Imperatriz Leopoldinense. Desta vez, mais descontraída, provou o “cravo do Candonga”, bebida conhecida como “viagra natural” com aguardente e várias especiarias misturadas. Dançou com um gari e, quinze minutos depois, voltou ao camarote.

Foi na terceira escola, a Unidos da Tijuca, que Dilma mostrou mais empolgação. “Um espetáculo. Quando a gente pensa que já viu tudo, vê que não viu nada”, elogiou a ministra, ao deixar o Sambódromo, à 1h40. Dilma se disse encantada especialmente com a comissão de frente da escola tijucana e com o efeito que mudava a fantasia das dançarinas. “Hoje eu me energizei”, comentou, ao se despedir do governador Sérgio Cabral.

Cabral e Paes simularam uma entrevista com Dilma. Cabral perguntou à ministra como ela tinha se sentido ao ouvir a arquibancada aplaudi-la. “Olha, nisso eu não prestei atenção, porque não vi”, respondeu Dilma. A pergunta era, na verdade, uma brincadeira do governador, porque não houve aplausos para Dilma, que teve uma passagem bastante discreta pelo carnaval carioca. O governador de São Paulo e presidenciável do PSDB, José Serra, era esperado ontem à noite no Rio para assistir ao desfile.


De roupa, Serra entra no mar e volta ao carro encharcado

Da Agência Estado

O governador de São Paulo, José Serra, com cadeirante na Praia Grande (Foto: Paulo Pinto/Agência Estado)

Governador levou cadeirantes até o mar em Praia Grande (SP).

Deficientes estrearam cadeiras adaptadas para banho de mar.

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), entrou nesta segunda-feira (15) no mar com tênis, calça jeans e camiseta tipo polo na Praia da Guilhermina, na Praia Grande, durante o lançamento do projeto Praia Acessível - que vai oferecer cadeiras de rodas adaptadas para que deficientes físicos possam tomar banho de mar.

Serra evitou falar de política, mas, no melhor estilo pré-eleitoral, aproveitou a praia lotada em pleno feriado de carnaval para acompanhar os cerca de 20 deficientes que estrearam as cadeiras. Empurrou uma delas, entrou no mar até que o nível da água atingisse a altura da cintura e brincou de jogar água no grupo durante cerca de cinco minutos.

Serra decidiu empurrar uma das cadeiras assim que ouviu a sugestão um popular e, ao que tudo indica, também resolveu entrar no mar com roupa e tudo em cima da hora: não havia qualquer assessor com uma toalha e o governador retornou ao carro oficial encharcado.

O governador aparentava cansaço depois das viagens recentes ao Nordeste nos últimos dias. O lançamento do projeto Praia Acessível ocorreu em uma tenda montada na Praia de Guilhermina. A ideia é distribuir cerca de cem cadeiras, na primeira fase, entre diversas praias do litoral (as primeiras serão Guilhermina; Perequê, em Ilhabela; e Boqueirão, em Santos). Compareceram ao evento os prefeitos de Peruíbe, Mongaguá, Guarujá e Bertioga e os vice-prefeitos de Praia Grande, São Vicente e Itanhaém.

'El País': Com Serra ou Dilma, 'Lula vencerá' eleições de 2010

DEU EM O GLOBO

" Se ela (Dilma) vencer, as eleições seriam na verdade um terceiro mandato de Lula e garantiriam a continuidade de um certo lulismo "

"Com Serra, o Brasil seria um país sem Lula, mas ainda com Lula, no sentido de que o governador paulista não nega nenhuma das conquistas sociais de seu governo "

Um artigo no diário espanhol "El País" avalia que, qualquer que seja o vencedor das eleições de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sairá, simbolicamente, vencedor no pleito.

A análise, assinada pelo correspondente do jornal no Brasil, Juan Árias, discorre sobre os dois principais pré-candidatos na disputa - a petista Dilma Rousseff, candidata do Planalto, e o tucano José Serra, da oposição - afirmando que ambos, se eleitos, "seguirão o caminho" de Lula.

"A partir do próximo dia 1º de janeiro, o Brasil será um Brasil sem Lula. O que acontecerá? Nada", diz o repórter.

"Continuará sendo um país com instituições democráticas consolidadas, que não apenas conseguiu sair, sem se quebrar, da crise mundial, mas que está crescendo; um país sem possibilidades de golpe de nenhum tipo e que, apesar de alguns rompantes populistas em alguns momentos - sobretudo pela influência do chavismo - não se deixou arrastar pelo populismo da vez na América Latina."

Juan Árias aposta que a disputa presidencial deste ano será disputada. De um lado está Dilma, "uma espécie de sombra" de Lula, diz o analista. "Se ela vencer, as eleições seriam na verdade um terceiro mandato de Lula e garantiriam a continuidade de um certo lulismo."

Porém, diz o texto, "Dilma não é Lula". "É quase um anti-Lula porque, mais que uma iluminada e uma improvisadora como ele, é uma gestora, que carece do carisma transbordante de seu chefe", descreve.

Já Serra "suporia a alternância normal, interrompendo de alguma forma a continuidade do PT no poder", avalia Árias.

Mas o autor acredita que o tucano não é um "anti-Lula" e que, portanto, a escolha entre sua política e a política atual é "um falso dilema". "Com Serra, o Brasil seria um país sem Lula, mas ainda com Lula, no sentido de que o governador paulista não nega nenhuma das conquistas sociais de seu governo."

Na opinião do correspondente, a campanha de Serra não seria "contra Lula", mas "depois de Lula". "Para Serra, seu governo não seria uma fotocópia do passado social-democrata, mas uma página nova."

Na avaliação do correspondente do "El País", "sem Lula agora, e talvez com Lula amanhã de novo, o Brasil é um país que tomou o trem na direção certa, que o levará a consolidar o milagre de seu desenvolvimento".

(VER matéria, na integra, neste Blog, ontem)

Para Dilma, Estado deve ser também ‘empresário’

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, defende a presença mais forte do Estado na economia: não apenas para induzir investimentos mas também para tocar obras, informa Marta Salomon. "O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor", disse a ministra, ao detalhar proposta que chamou de "bem-estar social à moda brasileira".

Dilma faz defesa de Estado presente e tocador de obras

Ministra explica em livro editado pelo PT o que chama de bem-estar social à moda brasileira

"O grande desafio é ainda superar o peso dos 25 anos de estagnação da economia e das políticas sociais", diz a pré-candidata na entrevista

Marta Salomon

BRASÍLIA - Em entrevista editada em livro que será lançado no congresso petista, de quinta a sábado, a pré-candidata ao Planalto Dilma Rousseff defendeu a presença mais forte do Estado na economia, não só para induzir investimentos mas também para tocar obras. "O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor", disse a ministra ao apresentar proposta que chamou de "bem-estar social à moda brasileira".

A presença mais forte do Estado na economia será necessária, defende Dilma, para universalizar serviços de saneamento, melhorar a segurança pública, ampliar o número de unidades de atendimento na saúde e a oferta de habitação a partir de 2011. Mais de quarta parte da população (26,6%) ainda não dispõe de serviços de esgoto, de acordo com os dados oficiais mais recentes.

"Muitos diziam que só havia um jeito de as pessoas melhorarem a sua situação, era através do mercado. E que, se acreditássemos nisso, todos seríamos salvos", observou a ministra da Casa Civil, defendendo a concessão de incentivos à atividade econômica nos últimos anos."O grande desafio é ainda superar o peso dos 25 anos de estagnação da economia e das políticas sociais. Nós vamos fazer, sabemos como fazer, aprendemos o caminho no governo Lula", diz a pré-candidata.

Lula e a ministra já tinham defendido, em eventos públicos, um Estado mais forte. No início do mês, durante inauguração da primeira fábrica de chips da América Latina, o presidente disse que "o fracasso do sistema financeiro internacional fez ressurgir o Estado como único capaz de salvar a economia da crise". Dilma seguiu o raciocínio: "Achamos que o Estado tem de ter uma presença clara na economia".

Durante a entrevista, Dilma Rousseff concordou com o coordenador do seu futuro programa de governo e vice-presidente do PT sobre o que Marco Aurélio Garcia chamou de "retraimento do pensamento crítico", com o avanço de uma "subintelectualidade de direita".

Garcia defendeu a valorização da produção cultural "submersa" pela indústria cultural.Dilma acenou com o plano que pretende universalizar o serviço de acesso à internet por banda larga para ampliar os canais de comunicação.

"Estamos vivendo um momento culturalmente explosivo. Precisamos colaborar com essa explosão", afirma a ministra no trecho final da entrevista, que ocupa parte do livro "Brasil, Entre o Passado e o Futuro", organizado pelo cientista político Emir Sader e por Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula. Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, afastado após a quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, participou da entrevista.

Vinicius Torres Freire: O caixa automático e o especulador

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Xerife do mercado britânico critica livre fluxo de dinheiro, a finança e elogia taxa sobre entrada de capitais no Brasil

O LORDE que fiscaliza o mercado financeiro britânico, um dos dois maiores, mais complexos e mais liberais do mundo, disse ontem algo parecido a um grande cardeal da Igreja Católica anunciar que acha adequado o uso de preservativos em relações casuais.

Lord Adair Turner, presidente da Financial Services Authority, afirmou ontem o seguinte, em discurso no banco central da Índia:

1) Especulação internacional com moedas pode ser algo muito nocivo;

2) É no mínimo duvidoso que a liberdade de capitais da finança seja de algum modo positiva para o crescimento econômico;

3) Impor controle do fluxo de capitais pode ser bom, tal como o Brasil faz desde outubro de 2009;

4) O sistema financeiro é grande demais para o tamanho das economias, sendo em parte inútil;

5) Parte das inovações financeiras das últimas três décadas e da teoria que a sustentava era apenas ideologia interessada. Turner cita estudos recentes para dizer que os efeitos positivos dos fluxos de capitais de curto prazo podem ser muito pequenos mesmo quando não ocorrem choques econômicos ou financeiros.


Os choques, de resto, quase anulam tais benefícios.

Um tipo de operação financeira criticada por Turner é "carry trade". Isto é, tomar empréstimos na moeda de um país onde o juro é muito baixo (iene, por exemplo) e investir numa moeda onde o juro é mais alto (como, em anos recentes, o Brasil), a fim de ganhar com a diferença. Turner diz que "não consegue discernir nenhum valor econômico" nisso.

Tais negócios foram responsáveis, em parte, por valorizar demais o real; um real forte "demais" (o demais é controverso) encarece as exportações e barateia importados. Pode prejudicar, assim, o comércio e empresas brasileiras. Uma saída rápida de capitais "especulativos" pode desorganizar a atividade econômica dita "real". Turner então elogia a taxação da entrada de capitais (para desestimular excessos especulativos) implementada pelo Brasil.

Em suma, a defesa da livre movimentação de dinheiro e a inovação financeira se baseia no seguinte:


1) Quanto mais diversos instrumentos financeiros houver, mais bem atendidas estarão as necessidades de realização de negócios e cobertura de risco dos agentes econômicos (como instrumentos negociados em mercados futuros, seguros de crédito e derivativos do gênero);


2) Quanto mais líquido e livre um mercado, menos distorção haverá: a ação dos agentes econômicos refletiria "fundamentos" econômicos.

Isto é, a moeda de um país se valoriza porque um país é capaz de pagar suas contas, seus credores. Se investidores, "especuladores" ou não, compram em massa essa moeda, mesmo sem que precisem realizar operações "reais", comerciais, isso seria reflexo de "fundamentos".

Mas sabe-se que "comportamentos de manada", irracionais, provocam excesso, superinvestimento num ativo financeiro (ações etc.) e seu contrário; causam bolhas. Paul Volcker, lendário presidente do Fed, ora assessor de Barack Obama, costuma comentar com sarcasmo sofisticações excessivas das finanças. Diz que, nas últimas décadas, a invenção mais útil do setor financeiro foi o caixa automático.

Morre o cientista político Gildo Marçal Brandão

Ontem, dia 15, segunda-feira de carnaval, por volta das 21 horas, faleceu, em São Sebastião/SP, onde repousava com a família, o nosso estimado companheiro Gildo Marçal Brandão, cientista político singular e intelectual da melhor qualidade. O seu corpo deverá ser trasladado para a cidade de São Paulo, onde será velado e posteriormente enterrado. Natural de Alagoas, transferiu-se para São Paulo, onde desenvolveu seus estudos universitários. Era professor da Universidade de São Paulo. Gildo era casado com Simone Coelho, filha de Terezinha e do nosso inefável Marco Antonio Tavares Coelho, a quem transmitimos nossos fraternos votos de pesar e de muita paz para suportar tão grande perda.

Francisco Almeida

Quem é: Gildo Marçal Brandão

É graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco (1971), doutorado em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1992) e livre docente em Teoria Política Moderna pelo Departamento de Ciência Política da USP (2004). Atualmente é pesquisador do Cedec e faz parte da Comissão Editorial da Revista Lua Nova. Foi secretário adjunto da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, editor da Revista Brasileira de Ciências Sociais (gestões 2004-2006 e 2006-2008) e coordenador científico do NADD - Núcleo de Apoio à Pesquisa Sobre Democratização e Desenvolvimento (2001-2007). Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Teoria Política Moderna, História das Idéias e Pensamento Político Brasileiro.

Participa dos Conselhos Editoriais

1988 - Atual
Periódico: Lua Nova. Revista de Cultura e Política

2001 - Atual
Periódico: Política Democrática (Brasília)

2001 - 2008
Periódico: Revista Brasileira de Ciências Sociais

2004 - Atual
Periódico: Revista Mediações (UEL)

2005 - Atual
Periódico: Política Hoje

2005 - Atual
Periódico: SciELO Social Sciences


Livros publicados/organizados ou edições, entre muito outros

1. BRANDAO, G. M. B. (Org.) . Brasil: Vinte Anos de Constituição. 1. ed. São Paulo: Anpocs/Fundação Ford/Hucitec, 2008. v. 1. 239 p.

2. BRANDAO, G. M. B. (Org.) . Regionalismos, Democracia e Desenvolvimento. , 2007. v. 1.

3. BRANDAO, G. M. B. . Linhagens do Pensamento Político Brasileiro. 1. ed. São Paulo: Hucitec, 2007. v. 1. 260 p.

4. BRANDAO, G. M. B. ; GAJARDONI, Almyr . A Esquerda no Brasil. São Paulo: Duetto Editorial, 2006.

5. BRANDAO, G. M. B. ; QUIRINO, C. G. ; VOUGA, C. . Clássicos do Pensamento Político. 2ª. ed. São Paulo: Edusp, 2003.

6. BRANDAO, G. M. B. (Org.) ; QUIRINO, C. G. (Org.) ; VOUGA, C. (Org.) . Clássicos do Pensamento Político.. SP: Edusp, 2003.

7. BRANDAO, G. M. B. . Caio Prado Júnior e a nacionalização do Marxismo no Brasil.. SP: , 2000.

8. BRANDAO, G. M. B. . A vitalidade de um pensamento.. SP: Editora da UNESP, 1998. 201 p.

9. BRANDAO, G. M. B. . A Esquerda Positiva (As Duas Almas do Partido Comunista, 1920-1964). 1a.. ed. SAO PAULO: HUCITEC, 1997. v. 1. 302 p.

10. CLAUDIO VOUGA (ORGS,) CÉLIA GALVÃO QUIRINO ; BRANDAO, G. M. B. . Clássicos do Pensamento Político. São Paulo: EDUSP - NO Prelo, 1997.