domingo, 21 de março de 2010

Reflexão do dia – Fernando Mota Lima

Mas que posso eu escrever do Gildo militante político? Deixo isso a cargo de Marco Antonio Coelho, Luiz Sérgio Henriques, Marco Aurélio Nogueira, Carlos Nelson Coutinho e tantos outros que bravamente lutaram em tempos sombrios, novamente evocando Hannah Arendt, ou ainda in dark times, como escreveu no original. A luta destes e tantos outros não consistiu apenas em manter vivo o comunismo sob a ditadura, mas sobretudo em renová-lo democraticamente.

(Fernando Mota Lima, professor da Universidade Federal de Pernambuco, no artigo, “Gildo, memória e perda”, em Gramsci e o Brasil)

Crise no FMI:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Uma crise diplomática de amplas proporções para o governo da Colombia, e que o governo brasileiro procura reduzir a uma simples questão administrativa, se desenrola nos bastidores do Fundo Monetário Internacional (FMI), acrescentando mais um contencioso nas relações com países da América do Sul governados por políticos conservadores, como o Chile, onde o presidente Lula não foi para a posse de Piñera, ou o Peru de Alan Garcia.

O economista Paulo Nogueira Batista Junior, diretor executivo do FMI em Washington, demitiu recentemente a economista colombiana Maria Inês Agudelo do cargo de Diretora-Substituta.

O Brasil representa diversos países no FMI, como a Colômbia, República Dominicana, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, Suriname e Trindade e Tobago, mas a Colombia alega que a economista, ex-vice ministra das Finanças, ocupava um posto que era de representação do país, e não poderia ser demitida.

Oficialmente, não há uma explicação, e ao ser procurado Paulo Nogueira não quis falar, alegando se tratar de assunto administrativo interno, e por avaliar que, ao falar sobre o tema em público, poderia ser indelicado com pessoas envolvidas.

María Inés Agudelo, também não quis se pronunciar. Mas nos bastidores do FMI, as versões correm soltas, alimentando um clima de crise política entre os governos do Brasil e Colombia.

Os colombianos fizeram protestos formais junto ao governo brasileiro e atribuem informalmente a demissão às posições políticas de Paulo Nogueira, que seria ligado à ala esquerda mais radical do governo Lula, interessada em boicotar o governo conservador de Uribe, tirando-lhe poder nos organismos internacionais.

O fato de que Paulo Nogueira pediu a substituição de Maria Ines Agudelo por outro representante colombiano, alegado pelo governo brasileiro como prova de que se trata apenas de uma questão adminstrativa, é entendido pelo governo colombiano como tentativa de rebaixar sua representação, tornando-a subordinada ao diretor-executivo brasileiro.

O governo brasileiro alega que a Colombia sempre elogiou a atuação do diretor-executivo Paulo Nogueira no FMI, e ressalta que foi com seu apoio que a entidade criou linhas alternativas de crédito mais flexíveis na crise de 2008, que ajudaram a Colômbia.

O governo brasileiro procura retirar do episódio qualquer tom ideológico, mas atribui a politização do caso pelo governo Uribe a uma insatisfação com o fato de o governo brasileiro não querer apoiar a reeleição do Presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o colombiano Luis Alberto Moreno.

Mais uma vez, as críticas de autoridades brasileiras à atuação do BID ganham, na visão da Colombia, cores ideológicas, enquanto da parte brasileira são tidas como posições meramente técnicas.

Há na origem da eleição de Moreno para o BID um fator político importante: ele venceu a eleição em 2005 derrotando o candidato do governo brasileiro João Sayad, que tinha o apoio argentino, mas só recebeu 11 dos 48 votos dos países-membros da instituição.

Moreno foi eleito com o apoio do governo Bush, pois os Estados Unidos têm a maior participação no banco. Hoje, no entanto, a situação é distinta, pois a nova administração Obama também estaria insatisfeita com a atuação do BID durante a crise financeira internacional.

O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, é um dos mais ácidos críticos da gestão de Moreno, e recentemente disse claramente que era preciso "uma nova gestão mais eficaz em benefício da região".

Uma das queixas maiores é quanto ao custo dos empréstimos do BID, que não seriam compatíveis com a situação financeira da América Latina.

Seja por questões ideológicas, seja por questões meramente técnicas, o fato é que o governo brasileiro está negociando desde o ano passado a apresentação de uma candidatura alternativa para a sucessão de Moreno, em outubro deste ano.

E procura uma parceria com os Estados Unidos, que a Colombia também busca. Uma das consequências dessa crise atual gerada pela demissão da diretora colombiana é que a Colombia se recusa a ser representada pelo Brasil daqui por diante no FMI, o que provocará uma mudança de procedimentos.

O governo brasileiro acha que a Colombia quer mesmo é ficar sob a representação dos Estados Unidos no FMI, o que aumentaria a já estreita ligação entre os dois países nos organismos internacionais, e dificultaria qualquer ação americana contrária, que setores da administracão Obama já defendem.

O governo colombiano acha que o governo brasileiro o discrimina justamente por essa proximidade com os Estados Unidos.

O governo brasileiro, que já perdeu outras indicações para organismos internacionais como na Unesco, quando apoiou o egipcio Farouk Hosni, acusado de anti-semitismo, que perdeu para a búlgara Irina Bukova; ou quando tentou a indicação de Luís Felipe de Seixas Corrêa na Organização Mundial do Comércio (OMC), tenta agora montar novamente uma candidatura para o BID.

Diversos nomes estão sendo cogitados, todos a nível de ministro de Estado, entre eles o do Planejamento, Paulo Bernardo, e o da Fazenda, Guido Mantega, além do ex-ministro da Fazenda Antonioo Palocci, o que só faz aumentar nos colombianos a sensação de que estão sendo vítimas de uma grande armação política brasileira para esvaziar sua presença nos organismos internacionais.

Bicos calados:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Depois de proclamar com entusiasmo durante os últimos dois anos a invencibilidade da chamada chapa-puro sangue com José Serra como candidato a presidente e Aécio Neves de vice, o PSDB reconhece que errou feio.

Precipitou-se ao comemorar como realidade algo que era apenas uma possibilidade. Real e com muita chance de se concretizar, até pela força da lógica de se unir os dois maiores colégios eleitorais do Brasil, São Paulo e Minas Gerais.

Mas não contava com um dado: a escolha do candidato a vice se sobrepor em importância à candidatura presidencial. E pior, não dando certo ficar a impressão do fracasso, da impossibilidade do cabeça da chapa competir com chance de vitória.

Feita a autocrítica, a ordem geral é bico calado sobre a escolha do vice de Serra. Seja ele Aécio Neves ou qualquer outro. Sim, porque ainda reina na nação tucana a esperança - agora oficial e estrategicamente negada - de retomada do plano original.

Os mais inconformados com a ordem unida ainda falam no assunto. Dizem que a última declaração de Aécio falando que a decisão "depende do Serra e do partido" soa a uma reconsideração da recusa.

Os mais disciplinados - não por coincidência todos residentes nas proximidades do governador já quase candidato oficial - juram por nossa senhora do bandeirantes que vice é assunto fora da agenda.

Serra diz que pensará no assunto em maio.

Os mais normais preferem não contrariar o bom senso. Informam que o partido examina possibilidades enquanto aguarda uma decisão de Aécio que, segundo eles, dependerá da avaliação que ele fizer da conveniência ou não da candidatura a vice para o sucesso da eleição do sucessor em Minas.

O governador sai do cargo dia 2 de abril, participa do lançamento da candidatura de Serra no dia 10 e depois sai em viagem de 30 dias para o exterior. A volta coincide com o mês de maio citado por Serra.

Enquanto isso grassa a especulação. Mediante critérios do que seria um bom vice. Primeiro que não tire votos, não atrapalhe. Segundo, partido que acrescente ou subtraia do adversário. Terceiro que seja de uma região ou estado eleitoralmente significativos.

A premissa é se a solução será interna ou externa. Se for interna, o que se fala hoje como possibilidade é em Beto Richa, do Paraná, que implicaria a troca do candidato a governador por Osmar Dias, do PDT. Talvez Sérgio Guerra, de Pernambuco.

Do mesmo estado, aventa-se a possibilidade de Roberto Freire, do PPS, ou Francisco Dornelles, do PP. Este, mineiro, eleito senador pelo Rio, tio de Aécio, mataria dois coelhos, mas esbarra na dificuldade de pertencer a um partido aliado de Lula.

E o DEM? Pois é, uma dificuldade. O partido quer, mas há os critérios no meio do caminho.

Peso médio. É relativa a importância da multa de R$ 5 mil aplicada ao presidente Lula pela Justiça Eleitoral. Em 2006 ele foi condenado apagar R$ 900 mil por causa da edição de uma cartilha considerada propaganda eleitoral e até hoje a multa é contestada na Justiça.

Referencial. O ministro-chefe da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, considera "fundamental" para a democracia o controle do Estado sobre os meios de comunicação.

"Esse quarto poder tem que entrar na roda do sistema de controles recíprocos", defende. Ressalva o cerceamento de liberdades, como o existente em Cuba.

A reciprocidade a que alude é de mão única, pois a proposta é que se estabeleça um rol do que pode ou não ser divulgado.

Repudia o modelo, mas toma como parâmetro o regime cubano, no lugar de adotar como referência países onde a regra é a liberdade de expressão como conceito absoluto, preservados os direitos garantidos em leis às quais todos estão submetidos, inclusive a imprensa.

Ademais, não parece que as imperfeições da democracia brasileira sejam decorrentes da liberdade. Antes, ao contrário. Fundamental para o aprimoramento do regime nesses 25 anos de retomada democrática foi justamente a possibilidade de escolha do exercício da independência.

31 de março:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Ao que tudo indica, teremos um 31 de março da pesada.

Além de já naturalmente tensa, por marcar o golpe militar e abrir a brecha para "recados" de oficiais, a data vem chegando neste ano sob a tensão entre as Forças Armadas e a área de Direitos Humanos por causa do 3º PNDH e da criação da Comissão da Verdade para apurar torturas, desaparecimentos e mortes durante a ditadura.

No dia 31, Dilma Rousseff (chamada de "ex-guerrilheira" por setores fardados) sai do governo para a campanha, e o general de Exército Maynard Marques de Santa Rosa sai da ativa para a reserva.

Ele foi afastado do Departamento Geral de Pessoal do Exército, depois que a Folha publicou trechos de uma carta dele chamando a Comissão da Verdade de "comissão de calúnias", cheia de "fanáticos que, no passado recente, adotaram o terrorismo, o sequestro de inocentes e o assalto a bancos". Adivinha a quem se referia?

Colocado de escanteio pelo ministro Nelson Jobim, ficou calado.

Passando para a reserva, vai abrir a boca? A resposta virá no dia 31, que neste ano será embrulhado no tema dos direitos humanos. Há reações tanto à nova versão do PNDH quanto ao desdém de Lula pelos dissidentes em Cuba. É como se ele escrevesse uma coisa aqui e fizesse outra lá, ao sabor das conveniências políticas e ideológicas.

Justiça seja feita: depois do cerco da Igreja, dos ruralistas, dos militares, do setor de comunicação e dos ministérios da Defesa e da Agricultura, o ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que não é nenhum xiita, vem lapidando cuidadosamente o 3º PNDH para que o diamante bruto, que visava o futuro, possa caber no presente.

Se Lula orientou Vannuchi para ouvir e rever, que os comandantes militares também controlem seus subordinados, como convém. Vale hoje o mesmo equilíbrio proposto na distensão: "Você segura os seus radicais que eu seguro os meus".

Serra aponta seu problema:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

PARIS - Ao assumir sua candidatura à Presidência com aquele jeito José Serra de ser, o governador paulista disse o seguinte: "O Lula fez dois mandatos, está terminando bem o governo. O que nós queremos para o Brasil? Que continue bem e até melhore".

Em três frases, Serra conseguiu, ao mesmo tempo, ser honesto na avaliação do governo do adversário, ser também óbvio e, por fim, definiu a imensa dificuldade que terá para vencer a disputa.

De fato, é muito difícil encontrar quem ache que Lula está terminando mal o governo.

Mas uma das principais características do mundo político é a oposição negar-se sempre a reconhecer os fatos quando os fatos são favoráveis ao governo. Serra não caiu nessa tentação.

O problema é o item seguinte, a torcida para que o Brasil "continue bem e até melhore".

É o óbvio. Salvo um ou outro tarado, não há nunca quem não queira que o país melhore. O problema para Serra será provar que ele é a pessoa indicada para fazer o Brasil melhorar.

Imagino que a massa de eleitores se fará a seguinte pergunta: se está bem com Lula, como admite até o candidato a candidato da oposição, para que mudar?

A resposta de Serra será (ou foi) esta: "Pesam as ideias, as propostas e o passado, o que cada um fez, como foi provado na vida pública".

Pode até ser que tais fatores pesem. Mas pouco. Vamos ser sinceros: ideias e propostas servem para debate entre especialistas. A massa é guiada pela emoção e/ou pelo sentimento pessoal de cada qual. E o sentimento predominante, repito, é o tal "feel good factor", o sentir-se bem que predomina na população/eleitorado.

Passado conta? Talvez. Mas pode contar contra também. Afinal, todas as pesquisas mostram que a maioria do eleitorado está hoje mais contente do que quando Serra fazia parte do governo.

País tem 16 milhões de eleitores ''duas caras''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Declaração de voto não condiz com posicionamento em relação ao presidente

Daniel Bramatti

A mais recente pesquisa do Ibope sobre a sucessão presidencial revela que cerca de 12,5% dos eleitores se apresentam com "duas caras" ao manifestar a intenção de voto. Eles são os que querem eleger a pessoa apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas citam José Serra como seu candidato favorito. Ou os que preferem alguém da oposição, mas se dizem inclinados a votar na petista Dilma Rousseff.

Essas declarações de voto paradoxais e incoerentes revelam um alto nível de desinformação e de desinteresse na eleição, segundo Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope.

O levantamento do instituto, divulgado na última quarta-feira, mostra que a maioria absoluta dos eleitores (53%) quer votar no candidato apoiado por Lula. Mas apenas metade desse contingente aponta Dilma como sua candidata preferida, e um quarto - ou 12% do eleitorado total - cita Serra, ignorando o fato de que ele será o principal nome da oposição na disputa.

São quase 16 milhões de eleitores que, até a eleição, terão de se posicionar de maneira coerente: ou abandonarão o barco governista ou votarão na candidata efetivamente apoiada pelo presidente, conforme sua intenção declarada.

Oposicionistas. No outro extremo, os eleitores que querem um candidato de oposição abrangem 10% do total. Nesse grupo, o nível de desinformação é bem menor: apenas 3% - cerca de 400 mil pessoas -afirmam votar em Dilma e sete em cada dez apontam Serra como seu candidato preferido.

No geral, a pesquisa mostrou o tucano na liderança, com 35% das intenções de voto, e Dilma em segundo, com 30%. Os cruzamentos de dados mostram que a petista é, neste momento, a mais prejudicada pela desinformação dos eleitores, e a que mais tem a ganhar à medida que sua associação com Lula ficar clara para a totalidade da população, afirmou Márcia Cavallari.

"A eleição não está na ordem do dia para grande parte dos brasileiros", disse a diretora do Ibope. "Isso tende a mudar após a Copa do Mundo e, principalmente, com o início do horário eleitoral gratuito." Em pesquisa feita pelo instituto em fevereiro, 47% disseram acompanhar as eleições com "pouco interesse" ou "nenhum interesse".

A maior evidência do nível de desinformação é a pesquisa espontânea, na qual os entrevistados manifestam sua preferência antes de consultar o cartão que traz a lista de candidatos. No início de março, apenas um terço do eleitorado foi capaz de citar um presidenciável que, de fato, está no páreo em 2010. Nada menos que 42% não souberam responder à pergunta sobre seu candidato preferido. E 20% optaram por Lula, que nãopode concorrer a um terceiro mandato.

Continuísmo. Bem informados ou não sobre a sucessão, os eleitores não vacilam ao manifestar o que esperam do futuro. Na pesquisa de fevereiro, o Ibope perguntou aos entrevistados se o próximo presidente deve promover muitas ou poucas mudanças no governo. A manifestação por “total continuidade" em relação ao governo atual ficou em primeiro lugar, com 34% das respostas. Outros 29% pediram "poucas mudanças e continuidade para muita coisa". Os que optaram por "muitas mudanças" ou “mudança total no governo" chegaram a 35% dos entrevistados.

Entre os nordestinos, 77% se manifestaram por "total" ou "muita” continuidade. O Nordeste, onde o governo Lula tem seus maiores índices de aprovação, é a única região em que Dilma lidera a corrida presidencial de forma isolada.

A última pesquisa Ibope ouviu 2002 eleitores entre os dias 6 e 10 de março de 2010. O levantamento, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo 5429/2010.

Polarização perde espaço nos Estados

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

PT e PSDB abrem mão de candidaturas próprias em busca do apoio de aliados para fortalecer palanque de Dilma e Serra

Luciana Nunes Leal
RIO - Na contramão da polarização nacional entre PSDB e PT, em pelo menos cinco Estados nenhum dos dois partidos será protagonista na eleição para governador. Na maioria dos casos, petistas e tucanos estão fora da disputa local para facilitar acordos em torno das candidaturas da ministra Dilma Rousseff (PT) e do governador José Serra (PSDB) à Presidência da República.

PT e PSDB não terão candidatos aos governos do Rio de Janeiro, de Pernambuco, do Rio Grande do Norte, do Maranhão e do Amazonas. Nesses Estados, os partidos mais competitivos são PMDB, DEM, PV, PSB, PC do B, PDT e PMN. Na Paraíba, o PSDB está dividido entre a coligação com o PSB e a candidatura própria. O senador tucano Cícero Lucena lançou-se candidato contra socialistas e peemedebistas, mas sofre pressão de parte da legenda para desistir.

Reportagem do Estado publicada no início do mês mostrou que o confronto direto entre petistas e tucanos deverá acontecer em apenas dez dos 26 Estados. Em São Paulo, a candidatura petista ao governo só avançou nos últimos dias, depois que o deputado Ciro Gomes (PSB), que pretende disputar a Presidência, mas era uma opção ao governo paulista, criticou o PT estadual e acabou dando força à pré-candidatura do senador Aloizio Mercadante.

"PT e PSDB nasceram em São Paulo e lá essa oposição tem se reproduzido muito. São fortes em São Paulo, mas já não têm essa importância em outros Estados, que têm características próprias. O modelo de São Paulo não se reproduz no resto do País", diz o pré-candidato do PV ao governo do Rio, deputado Fernando Gabeira. O parlamentar, que apoia a senadora Marina Silva para a Presidência, vai disputar aliado ao PSDB, ao DEM e ao PPS. Enfrentará o governador Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição.

Aliado. No Rio, o PT só abandonou a possibilidade de lançar candidatura própria depois que a ala contrária à ideia venceu a eleição para o comando estadual do partido. Antes disso, o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, insistia na disputa com Cabral. Agora, é aliado do governador. Um terceiro candidato ao governo fluminense é o ex-governador Anthony Garotinho (PR).

No Maranhão, o PT também não terá candidato próprio, mas ainda nãoformalizou o apoio à reeleição da governadora Roseana Sarney (PMDB), defendido pela direção nacional do partido como parte da estratégia para fortalecer a aliança entre petistas e peemedebistas na sucessão presidencial. Já o PSDB negocia o apoio ao PDT do ex-governador Jackson Lago, apesar de, no plano nacional, os pedetistas apoiarem a ministra Dilma. Em troca, Lago ofereceria seu palanque ao tucano José Serra.

Outro pré-candidato na eleição maranhense é o deputado Flávio Dino (PC do B). "Até pelo tamanho do País, o jogo é multifacetado. As forças dominantes fazem concessões para formar a aliança nacional. É muito complicado PT e PSDB transferirem a disputa (presidencial) para os Estados. Só se houvesse verticalização", afirma Dino, referindo-se à regra que obrigava os Estados a reproduzirem as alianças nacionais, masque teve vida curta.

Em Pernambuco e no Rio Grande do Norte, Estados governados pelo PSB, o PT manterá o apoio aos socialistas, apesar de alguns grupos petistas terem tentado o lançamento de candidatura própria, em retaliação à insistência de Ciro Gomes em disputar a Presidência da República. "O PT só tem um lado nesse Estado", disse, na semana passada, o presidente do partido no Rio Grande do Norte, Eraldo Paiva. Lá, os petistas estarão com o vice-governador Iberê Ferreira de Souza (PSB), que enfrentará o DEM da senadora Rosalba Ciarlini e o PDT do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves.

Em Pernambuco, a aliança do PT é com o governador Eduardo Campos (PSB) e a oposição trabalha para lançar o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), em aliança com o PSDB e o DEM.

O pequeno PMN disputa, com chance de vitória, o governo do Amazonas, com o vice-governador Omar Aziz. Os outros partidos na disputa deverão ser o PR do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e o PSB do ex-prefeito Serafim Corrêa. O PT ainda não definiu a aliança no Estado e o PSDB deverá se aliar aos socialistas.

Candidato confesso

DEU NA REVISTA VEJA

Apertado em um programa de TV, o governador de São Paulo, José Serra, admite que será o candidato do PSDB a presidente da República

Felipe Patury e Fábio Portela

Em entrevista, José Luiz Datena parabeniza Serra e o tucano fala sobre sua candidatura ao Planalto


Na última sexta-feira, o governador de São Paulo, José Serra, admitiu em público pela primeira vez que será candidato à Presidência da República pelo PSDB. O anúncio não ocorreu com a pompa e a solenidade que seus aliados e adversários esperavam, mas em uma simples entrevista concedida ao apresentador José Luiz Datena, da Band. Serra pretendia falar sobre um projeto na área de saúde.

A conversa tomou outro rumo. Ele recebeu parabéns por seu aniversário e, ao ser questionado sobre a data em que deveria lançar seu nome, respondeu: "No início de abril". O jornalista ainda conferiu: "Está definido, então?". O tucano confirmou: "Está". A candidatura de Serra era um segredo de polichinelo. Ainda assim, a revelação surpreendeu até seus colaboradores mais próximos.

Eles esperavam que Serra emitisse declarações cada vez mais claras sobre sua intenção de concorrer ao Palácio do Planalto. A senha nesse sentido foi dada no início do mês, durante as comemorações do aniversário de 100 anos do presidente Tancredo Neves.

Na oportunidade, Serra garantiu à cúpula do partido que disputará a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A partir daí, deveria fazer afirmações semelhantes para círculos cada vez menos restritos. Deveria, no entanto, evitar manifestações públicas, que poderiam esvaziar o lançamento formal de sua campanha, em 10 de abril.

Tão convencido estava da decisão de disputar a Presidência e da correção de sua estratégia que Serra acabou se traindo. "Não disse nada de novo", ponderou o governador, declarando-se surpreso com a repercussão da entrevista. "Ele guardou isso por tanto tempo que acabou saindo", avaliou um de seus amigos. O deslize verbal não deverá, porém, alterar o calendário tucano. Na semana passada, Serra tomou novas decisões sobre a cerimônia.

Aprovou, por exemplo, o horário (de manhã) e o local (Brasil 21 Centro de Eventos e Convenções, em Brasília) em que ela ocorrerá. Também incumbiu o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e seu secretário executivo, Sérgio Silva, de contratar as empresas que vão organizá-la. Empenhou-se em eliminar possíveis focos de conflito em sua equipe de campanha. Uma das preocupações atuais de Serra é convencer a agremiação de que o mais indicado para chefiar sua área de comunicação é o marqueteiro Luiz González, que o ajudou a conquistar a prefeitura de São Paulo, em 2004, e o governo do estado, em 2006. Alguns dos líderes do PSDB têm restrições a González porque, também em 2006, ele coordenou a campanha fracassada a presidente da República do tucano Geraldo Alckmin. Mas Serra não só gosta do marqueteiro como confia nele e está certo de que não há ninguém melhor para a tarefa.

A principal preocupação do tucano é outra. O governador paulista quer chegar ao dia do lançamento oficial de sua candidatura com o maior número de apoios possível. Por isso, orienta e acompanha passo a passo as negociações que Sérgio Guerra conduz com partidos que poderão integrar a sua coalizão. Já tem garantido o apoio do DEM e do PPS. Gostaria de concluir ainda neste mês os entendimentos com o PTB e o PSC. Tenta também seduzir o PP e angariar mais apoio com o PMDB e o PDT, que já prometeram se perfilar com a petista Dilma Rousseff. O grupo de Serra crê que a conquista desses apoios seria não apenas uma demonstração de força, mas também poderia ter impacto nas próximas pesquisas eleitorais.

No levantamento do Ibope divulgado na semana passada, Serra aparece com 35 pontos porcen-tuais, enquanto Dilma fica em 30 pontos. Para os analistas tucanos, um lançamento eficiente da campanha, com bom aproveitamento dos veículos de comunicação, poderia elevar essa diferença de 5 para 8 pontos porcentuais. Resta saber se a declaração fora de lugar e de hora feita na sexta-feira pode atrapalhar a repercussão do evento marcado para o dia 10 de abril, que disputará espaço nos veículos de comunicação com uma agenda de obras e lançamentos programados pelo governo para promover Dilma. Ainda neste mês, ela deve lançar uma versão recauchutada do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC-2) e outra do plano habitacional Minha Casa, Minha Vida. Teleguiada pela equipe de marketing, Dilma certamente não fará isso em um programa policial.

O degelo das ideologias:: Yoshiaki Nakano

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Pelo resultado da última reunião, o BC parece começar a se libertar da cegueira imposta pela ortodoxia

O colapso do bloco soviético escancarou o fracasso do planejamento central e acabou com o seu mito. A queda do Muro de Berlim, em 1989, marcou o fim da ideologia do socialismo autoritário abraçado pelas esquerdas e, desde então, passou a prevalecer o outro extremo conservador com o mito do mercado livre, eficiente e que se autorregula. A grande crise e o colapso do sistema financeiro nos EUA e na Europa, em 2008, tornaram a intervenção maciça do Estado uma necessidade absoluta, marcando o fim dessa ideologia neoliberal.

Com o degelo das duas ideologias e a destruição de dois mitos poderosos, o planejamento central e o mercado livre e eficiente, abre-se neste início de década um período que deverá ser muito fértil para a revisão de todo o pensamento econômico com grande liberdade de pensar e abrindo espaço para posições mais pragmáticas e livres dos grilhões das ideologias e dos mitos.

As consequências desse degelo das grandes ideologias terão enorme repercussão. No Brasil, sabidamente a partir da década de 90, a opinião pública foi dominada pelo pensamento neoliberal. As políticas públicas passaram a ser formuladas com base na perspectiva de que, quanto menos Estado, melhor.

Mas os setores que abraçaram o neoliberalismo no Brasil, aliando-se politicamente aos conservadores, não levaram até as últimas consequências a destruição do Estado. Retirou-se da função-objetivo do Estado a promoção do desenvolvimento econômico e mesmo a geração de emprego. Destruiu-se a capacitação técnica de pensar e planejar a longo prazo e, estrategicamente, o futuro do país, supostamente um segmento dominado pelas esquerdas intervencionistas, e manteve-se intacto dentro do Estado o atraso: o segmento patrimonialista, clientelista e burocrático. Paradoxalmente, o neoliberalismo brasileiro impõe uma carga tributária e um imenso custo Brasil que sufocam o mercado.

Agora, abre-se um período de reflexão sem os mitos e dogmas do livre mercado que cerceavam o livre pensar, estabeleciam os limites do que pessoas sérias e respeitáveis poderiam falar. Falar em desenvolvimento econômico deixou de ser assunto de economista desocupado, como censurava um ministro do governo anterior. A política macroeconômica está incorporando o crescimento e a geração de emprego como seus principais objetivos. Controlar o fluxo de capitais e administrar a taxa de câmbio está deixando de ser uma obscenidade. Deficit público para fazer política anticíclica tem o apoio de todos. O Banco Central, pelo resultado da última reunião do Copom, parece começar a se libertar da cegueira imposta pelo pensamento ortodoxo. Com isso, abre-se a possibilidade de nos livrarmos da taxa de juros mais alta do mundo e da taxa de câmbio apreciada que está desindustrializando e transferindo empregos para o exterior.

Em suma, o Brasil está se libertando dos grilhões e da cegueira imposta pelo pensamento dominante no último quarto de século. Com isso, caminhamos para maior pragmatismo e convergência de pensamento, com perspectivas de retomarmos o projeto nacional de desenvolvimento, interrompido em 1980.

Yoshiaki Nakano, 65, diretor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV (Fundação Getulio Vargas), foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo no governo Mario Covas (1995-2001).

A pouca realidade 2:: Ferreira Gullar

ILUSTRADA/ FOLHA DE S. PAULO

A arte contemporânea caracteriza-se não por reinventar a realidade e, sim, mostrá-la

Na crônica aqui publicada no dia 7 deste mês, disse que a próxima Bienal de São Paulo teria o propósito de nos mostrar aspectos da realidade política e social, por meio de filmes, vídeos e fotografias, conforme li na imprensa. Pareceu-me que, com isso, a Bienal se inseria na tendência chamada arte contemporânea de nos mostrar a realidade em lugar de recriá-la ou transfigurá-la. A curadoria da mostra contestou minha afirmação, alegando que, pelo contrário, pretende "destacar a singularidade da arte em relação ao campo da cultura e se propõe mostrar a relação entre arte e política".

Acrescenta, ainda, concordar com minha tese de que a arte existe porque a realidade não nos basta. Se é assim, tanto melhor. Mas por que fazê-lo por meio do cinema se a Bienal é de artes plásticas?

Quem leu a referida crônica terá percebido que me vali da futura Bienal como pretexto para expor meu ponto de vista, segundo o qual a chamada arte contemporânea caracteriza-se não por reinventar a realidade e, sim, simplesmente, mostrá-la. Esses artistas -se ainda cabe chamá-los assim- têm as chamadas linguagens da pintura, da gravura, da escultura etc., por superadas.

Vou me valer de uma metáfora bem simples. Ao nascermos, porque ainda não aprendemos a falar, somos quase que apenas nosso corpo -um bichinho que apenas gesticula. Depois que aprendemos a falar, tudo muda, já podemos traduzir em palavras o que sentimos e desejamos, e, por meio da poesia, nos inventamos e inventamos a realidade imaginária que amplia nossa existência. Assim também, se me torno pintor, de posse de uma nova linguagem, reinvento a realidade e a transfiguro.

Mas o que sucederia se, por alguma razão, essa linguagem pictórica se desfizesse?

Restaria eu, pintor sem linguagem, diante da realidade, agora inalcançável. Cézanne, ao pintar a maçã, não a copia, simplesmente; muda-a em pintura. As garrafas e púcaros dos quadros de Morandi são entes pictóricos, que ele acrescentou ao mundo, o que só se tornou possível pelo domínio técnico e poético da linguagem da pintura. Sem ela, o que faria Morandi, fascinado como era, pelo mistério daqueles objetos? Nos chamaria a sua casa para mostrá-los? Certamente, não o faria por saber que a função do artista não é mostrar a realidade, mas mudá-la. Tanto o sabia que, tendo vivido até 1964, não aderiu às vanguardas que negaram a linguagem da arte.

O que é o "ready-made", se não a apropriação do que já está feito? O "ready-made" dispensa a linguagem da arte, ou seja, dispensa a arte que, sem linguagem, não existe. Mas Marcel Duchamp, que era artista, dedicou oito anos a fazer o "Grande Vidro" e 12 a fazer o "Étant Donné", que, aliás, de realidade não tem nada: é puro sonho.

O "ready-made" duchampiano expressa a contradição entre a arte artesanal e a sociedade industrial. É como se Duchamp dissesse: "Nesta época, a arte já era". E, com isso, o pintor saiu do espaço fictício do quadro para o espaço real do mundo.

No começo, o propósito era criar, nesse espaço, objetos que, de algum modo, aludissem à subjetividade, do artista e do espectador, mas, em seguida, até essa significação estética (isto é, formal) se desvaneceu e ao artista, sem linguagem, só restou a realidade inalcançável.

A performance resulta dessa perda da linguagem: sem ela, sou apenas meu corpo material: lambuzo-me de tinta, me masturbo em público, me corto, fico nu no museu; sim, no museu, porque ficar nu na rua ou em casa não é arte. Tenho que me masturbar na galeria de arte para que a masturbação vire expressão estética. Sem linguagem artística, reduzido a meu próprio corpo, é a instituição -o museu, a galeria de arte- que dá sentido às minhas atitudes e ações.

Por coincidência, naquele mesmo domingo em que abordei aqui este assunto, um jornal do Rio publicou uma entrevista com Marina Abramovic, artista performática que está se exibindo no MoMa. Um dos principais elementos de sua exibição são mulheres e homens nus. Ela fez questão de explicar que não se trata de teatro, "onde tudo é mentira, pois os atores fingem que são personagens e o sangue é tinta vermelha". Já na performance, é tudo verdade, tudo é real: se houver sangue, é sangue mesmo. E assim ela confirma o que afirmei sobre a arte contemporânea que, ao contrário do que a arte sempre fez, não cria nada: mostra o real. Ou seja, o que já conhecemos e não nos basta.

Em matéria de nus mostrados em museus, prefiro o Davi, de Michelangelo, ou a Vênus de Cnido, que, em vez de me constrangerem, me deslumbram.

Francisco Montalvo (Mozart 3mov)

Francisco Montalvo, com 12 aanos, interpreta o concerto nº3 de Mozart para violino e orquesta. Orquesta Sinfonica de Cordoba com maestro Manuel Hernandez-Silva Francisco

Lula deixa para sucessor conta de R$ 35 bi do PAC

DEU EM O GLOBO

Programa acumula restos a pagar e obras atrasadas pelo país

O governo Lula deixará para o sucessor uma conta de R$ 35,2 bilhõesreferente a obras do PAC, contratadas entre 2007 e 2010, mas que nãoserão executadas nem pagas na atual gestão. Na primeira semana destemês, os restos a pagar do PAC somavam R$ 25 bilhões e crescerão 40% atéo fim do ano, se for mantido o ritmo atual de execução do programa. Emvários estados há problemas de atraso nas obras do PAC. No Ceará, umconjunto habitacional lançado há um ano não passou das fundações. EmAlagoas, casas inauguradas há dois meses racharam ou inundam a cadachuva.


Uma pendura de R$ 35 bilhões

Lula deixará para seu sucessor uma conta alta por causa de atrasos no PAC

Regina Alvarez
BRASÍLIA - O governo atual deixará para o próximo uma conta estimada em R$35,2bilhões, referente a obras do Programa de Aceleração doCrescimento(PAC) contratadas entre 2007 e 2010 e que não serãoexecutadas nempagas na atual gestão. Usado pelo governo Lula paraturbinar acandidatura da ministra Dilma Rousseff (PT), o PAC temproblemas degestão que se refletem na execução das obras. Como nãoconsegue cumprirprazos de execução, o governo acumula uma contabilionária que osucessor de Lula terá de assumir. Os chamados restos apagar do PACjá somavam R$ 25 bilhões na primeira semana de março, masdevem crescerainda mais até o fim do mandato.

Focado no PAC-2 umpacote deobras para o período 2011-2105 que será anunciado dia 29, àsvésperasda saída da ministra do governo e do início, de fato, desuapré-campanha à Presidência o governo tem procurado minimizarosatrasos na execução do PAC-1. O balanço de três anos divulgadoemfevereiro está cheio de malabarismos e maquiagens que escondem o queaexecução do Orçamento da União mostra com clareza.

Em 2010, oPAC tem disponíveis no Orçamento R$ 30,3 bilhões, valor que devesubirpara R$ 33,5 bilhões com créditos extraordinários, mas a execuçãoaté aprimeira semana de março era de 5,5%. Apenas R$ 1,66 bilhão tinhasidoexecutado, incluindo despesas do ano e restos a pagar deanosanteriores. A dificuldade para a execução do Orçamento é maior emanoseleitorais, por conta das restrições que a lei impõe entre julhoeoutubro para a assinatura de novos convênios.

Atrasos no Arco Rodoviário do Rio

Aconta para o próximo governo foi calculada pelo GLOBO a partir dedoisdados: o estoque atual de restos a pagar (R$ 25 bilhões) e umaprevisãode execução de empenhos em 2010 equivalente à média de 2008 e2009. De2007 a 2009, o governo empenhou (contratou) despesas de R$60,3 bilhõese executou R$ 33,2 bi (55,2%), incluídos restos a pagar.Nos últimosdois anos, o ritmo de execução foi acelerado, ficando, namédia, em 65%dos valores contratados. Se conseguir manter em 2010 aexecução de 65%do valor empenhado, já incluindo os restos mesmo comrestrições do anoeleitoral o governo chegará ao fim do ano comdespesas executadas novalor de R$ 18,7 bilhões, restando um estoque dedespesas contratadas enão pagas de R$ 35,2 bilhões.

Mesmo nahipótese de o governoacelerar a execução das obras este ano, superandoa média de anosanteriores, o que é improvável, as receitas disponíveisno Orçamento de2010 não seriam suficientes para fazer frente àsdespesas de anosanteriores (que ficaram pendentes) e ao montanteprevisto para este ano.Somadas, as despesas chegam a R$ 55,4 bilhões R$ 30,3 bilhões doorçamento do ano e R$ 25 bilhões dos restos a pagar.

Os atrasos ficam evidentes no acompanhamento da execução do Orçamento.

Nocasodo Arco Rodoviário do Rio, a execução corresponde a 33% dovalordisponível no Orçamento entre 2007 e 2010. De R$ 407,4 milhões,foramgastos R$ 134 milhões, já incluindo os restos a pagar. Secomparados osvalores executados com o montante empenhado até 2009, opercentual é de46%.

A execução do Orçamento do PAC mostra que ogoverno nãoconsegue executar na proporção dos recursos disponíveisobras demanutenção das rodovias, cruciais para o escoamento da produçãoe paraas exportações. A média de execução dessas obras entre 2007 e2010 é de48%, em relação aos valores contratados, ficando abaixo damédia geralde três anos (55%).

No Ceará, só um contrato em andamento

DEU EM O GLOBO

Atraso na execução do programa Minha Casa, Minha Vida no estado perde apenas para o do Amapá

Isabela Martin

FORTALEZA. A poucos dias do anúncio da segunda edição do Minha Casa,Minha Vida, o único contrato em andamento no Ceará, para a populaçãocom renda de até três salários mínimos, representa 0,23% das 51 milunidades previstas para o estado quando o programa foi lançado, há umano.

No bairro Vila Velha, periferia de Fortaleza, o residencialTurmalina terá 120 apartamentos previstos para dezembro, um ano após aassinatura do contrato, o primeiro do estado. Nenhum imóvel está de pé.É o único canteiro de obras do Minha Casa, Minha Vida no Ceará, queperde apenas para o Amapá em atraso na execução do programa. EmFortaleza, são 80 mil inscrições, e foi prevista a construção de 15 milunidades.

Concluído o serviço de terraplanagem, os 60funcionários trabalham nas fundações. É possível ver dois palmos dealvenaria brotando do chão. Segundo o engenheiro da obra, José TadeuAugusto Júnior, em dois meses o número de funcionários terá dobrado eos blocos de alvenaria estarão de pé e fechados.

A Fundação deDesenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), ligada àprefeitura e responsável pela inscrição das famílias, não para dereceber pedidos de explicação sobre a demora.

O atraso frustra apopulação e adia o sonho da casa própria. É o caso do carpinteiroEsmeraldo Jorge Batista, de 41 anos, pai de três filhos. Ele trabalhana construção do conjunto e se inscreveu no Minha Casa, Minha Vida.Pagando mensalmente R$ 150 de aluguel num bairro distante, ficoumotivado ao começar a trabalhar na obra.

A esperança é a última que morre diz.

Umano após o lançamento, apenas dois contratos para a população entrezero e três salários mínimos foram fechados no Ceará com a CaixaEconômica Federal, agente financeiro do programa.

O último,assinado há dez dias, é dos residenciais Virgílio Távora I, II e III,que serão construídos em Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza.

Serão672 apartamentos. Mas a única movimentação no local, por enquanto, épara a instalação do canteiro de obras. O investimento do governofederal é de R$ 27,1 milhões.

Cerca de dez mil unidadeshabitacionais estariam sendo analisadas pelo banco, ainda muito aquémdos 51 mil projetados para o estado. Procurada, a Caixa não deuinformações. O imbróglio é maior em Fortaleza, município comaproximadamente 62% de área saneada. Como a grande parte dos terrenosindicados pelas construtoras para a construção dos residenciais fica emáreas sem saneamento, a Caixa veta o negócio.

Segundo opresidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil do Ceará,Roberto Sérgio Ferreira, as empresas estariam buscando alternativa emterrenos cujas áreas deverão ser beneficiadas pelo plano de expansão daCompanhia de Água e Esgoto do Ceará nos próximos dois anos.

Oprograma só está dando certo em quatro estados: Maranhão, Goiás, MatoGrosso e Bahia, que ultrapassou a meta em pelo menos 12 mil unidadeshabitacionais disse Ferreira.

Em Pernambuco, só 9% das 725 obras prometidas no PAC estão concluídas

DEU EM O GLOBO

Projetos grandiosos, como a Refinaria Abreu e Lima, esbarram no TCU

Letícia Lins

RECIFE. O Programa de Aceleração do Crescimento tem presença maciça em Pernambuco, com 725 obras das quais, porém, apenas 9,2% estão concluídas, somando-se as exclusivas (tocadas pelo governo local) e as regionais (empreendidas pela administração federal). Quando a análise é feita em separado, o percentual de obras terminadas no setor regional praticamente não aparece nos gráficos, embora 86,5% estejam em execução, de acordo com dados oficiais.

Algumas enfrentam problemas no Tribunal de Contas da União (TCU), caso da Refinaria Abreu e Lima, por suspeita de superfaturamento. Outras tiveram problemas burocráticos, como a morosidade em desapropriações, como na BR 101.

Incluída no PAC e prevista para ser inaugurada em abril de 2010, a duplicação de um trecho de 40 quilômetros da rodovia, ao norte do estado, só deve ocorrer em outubro; até agora, só 65% da obra estão concluídos.

Dnit justifica os atrasos

Segundo o superintendente regional do Dnit, Marcos Crispim, os atrasos ocorreram devido a problemas nas desapropriações de terras e por conta da existência de solo móvel na região, o que exigiu obras complementares.

Tocada pelo Exército, a duplicação do trecho estava orçada em R$ 234 milhões, mas deverá chegar a R$ 250 milhões.

A obra já foi visitada pelo presidente Lula. Segundo Crispim, os demais lotes da rodovia ao sul do estado, somando-se 84 quilômetros encontram-se quase concluídos: 90%.

A Refinaria Abreu e Lima já teve o cronograma revisto várias vezes, depois de ser questionada pelo TCU.

O governo Lula não conseguiu concluir uma só obra estruturante nestes sete anos em Pernambuco. E as principais não serão entregues, porque todas estão fora do cronograma diz o deputado Raul Jungmman (PPS-PE).

Estudo dos professores José Maria Nóbrega e Bruno Menelau, com base em números do sistema de acompanhamento do governo federal, dá conta de 759 obras do PAC em Pernambuco.O trabalho, encomendado pelo Instituto Teotônio Vilela (do PSDB), concluiu que 4,5% das intervenções do PAC estão concluídas em Pernambuco, 22,2% estão em andamento, 15% em licitação, 41,6% em ação preparatória e 16,6% em processo de licitação.

Pelo acompanhamento do governo estadual, não há obra concluída entre as chamadas obras regionais. Mas 86,5% se encontram em execução, 12,1% em ação preparatória e 1,4% em licitação. Das exclusivas do governo federal, 71,6% estão em execução, 11,8% concluídas, 10,4% em licitação, 2,8% em ação preparatória e 10,4% em licitação. O PSDB contratou professores universitários para avaliar o andamento do programa no estado.

Os outros inauguravam obras acabadas. Lula segue a tradição ao contrário. Inaugura pedras fundamentais. E isso está mostrando ter um efeito político tão grande quanto à obra concluída afirma André Régis, presidente do Instituto Teotônio Vilela, que acrescenta: Na realidade, Lula está fazendo uma antecipação do futuro. As pessoas acreditam que a vida delas vai mudar, e a população fica simpática a ele. Ninguém tem expectativa de uma obra ficar pronta em poucos meses, mas ficam esperando os seus resultados, não perdem a esperança. Ao meu ver, essa é uma grande sacada.

Levantamento feito por uma comissão extraoficial da Assembleia Legislativa do Ceará formada por deputados do PSDB para acompanhar o andamento do programa, aponta que em 2009 apenas 28,94% das despesas foram pagas, o que representa cerca de R$ 240,8 milhões do total previsto.

O ritmo desacelerado mantém-se em 2010, com apenas 0,21% do orçamento do PAC liquidado nos dois primeiros meses do ano. A informação foi dada com base em dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal(Siafi), atualizado até 5 de março.

No Amazonas, 80% atrasadas.

DEU EM O GLOBO

Só oito de 24 terminais hidroviários inaugurados

Paula Litaiff

Levantamento junto ao Sistema Integrado de Administração Financeira do governo federal (Siafi) mostrou que 80% das obras do PAC no Amazonas estão atrasadas. Dos 24 terminais hidroviários previstos para serem entregues este ano, só oito foram inaugurados, entre o ano passado e este ano, apesar de as obras terem começado em 2007. Em 12 portos as obras ainda nem começaram.

Dos 400 quilômetros de pavimentação projetados para a BR-319 (Manaus-Porto Velho) para 2009, somente 208quilômetros de estrada foram entregues, semana passada. O orçamento para o serviço de pavimentação da BR319, construída entre 1972 e 1973 e intransitável desde 1988, é de R$ 697 milhões.

Outros dois projetos do PAC no Amazonas estão com menos de 30% das dois projetos: a ampliação do terminal de passageiros do Aeroporto Eduardo Gomes e o Programa Luz Para Todos. O Luz Para Todos do PAC visava a levar energia elétrica a pelo menos 50% dos moradores de 61 municípios do interior do Amazonas, que somam quase dois milhões de habitantes. Semana passada, o ministro Alfredo Nascimento informou que o atraso do porto não é culpa dele e sim do governo do estado, que ficou de executar os serviços: O ministério repassa o dinheiro, mas cabe ao governo do estado realizar as obras.

O governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), reconheceu o atraso e pôs a culpa nas empresas responsáveis pelos serviços.

Lula inaugura obras que voltam a ser canteiros

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

De 22 inaugurações, 13 foram de construções que hoje não funcionam

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Planalto, viajam pelo país para inaugurações, que, após a desmontagem do palanque oficial, voltam a ser canteiros de obras, relatam Simone Iglesias e Eduardo Scolese. Levantamento em 22obras entregues pelo presidente e pela ministra desde outubro mostra que 13 delas (60%) não funcionam efetivamente. Em um dos casos, barragem inaugurada pelos dois em Jenipapo de Minas (MG) não tem licença ambiental nem prazo para entrar em operação. A Presidência alega quedados imprecisos enviados pelos Estados, insistência de Lula em participar de alguns eventos e falhas do gabinete do Planalto explicam a inauguração de obras não concluídas.

Governo diz receber dado impreciso de obras

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Agenda lotada, informações imprecisas transmitidas pelos governos estaduais, insistência do presidente em participar de determinadas cerimônias e, eventualmente, um escorregão do gabinete do Planalto são os argumentos da Presidência para os casos de inaugurações de obras ainda nãoconcluídas.

Lula recebe centenas de convites de governos, prefeituras e empresas. Eles passam pela triagem de Cézar Alvarez, responsável pela agenda, e por Gilberto Carvalho, chefe de gabinete. No caso de inaugurações de obras federais, cabe à Casa Civil sugerir o trajeto a Lula.

Ainda assim, a palavra final é sempre do presidente. Segundo um auxiliar direto de Lula, se ele quiser visitar determinada obra ou participar de alguma inauguração, não há quem o convença a mudar de ideia.

Há situações em que, mesmo informado de que a obra não está concluída, Lula pede para comparecer, sob a alegação de um suposto caráter simbólico.

Segundo esse mesmo auxiliar do presidente, é preciso considerar que nem sempre há disponibilidade de a viagem ocorrer na data prevista da inauguração, o que provoca antecipação ou adiamento na agenda de Lula.

Em algumas situações, porém, na ânsia de aparecer em eventos ao lado do presidente, governadores enviariam dados imprecisos ao Planalto para acelerar a confirmação da agenda oficial no Estado.

Responsáveis por obras que foram inauguradas de outubro do ano passado até este mês disseram à Folha que depois da cerimônia com a presença de Lula, os trabalhos começam a funcionar, mesmo que ainda falte concluir integralmente.

A assessoria da CTBE (Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol) disse que os dois prédios prontos permitem que os estudos sejam feitos e que a obra que segue em andamento com previsão de término em dezembro é um galpão para abrigar uma máquina também em fabricação. Tanto o galpão quanto o equipamento não seriam fundamentais para o funcionamento do laboratório.

A assessoria do Serviço Municipal de Água e Esgotos de São Leopoldo (RS) afirmou que a obra física da estação de tratamento foi concluída, mas são necessários 90dias para testes e treinamento de operadores.

No caso do Ceitec(Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada), que produz semicondutores, a assessoria afirmou que para o processo de produção dos chips são necessários dois ciclos de 90 dias e que não teria sentido esperar que o material desenvolvido ficasse pronto para inaugurar a fábrica.