quarta-feira, 7 de abril de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso

Como levar daqui para frente a democracia - essa é uma reflexão fundamental. Fiz recentemente uma conferência sobre Joaquim Nabuco, na Academia Brasileira de Letras, e me ocorreu levantar questões sobre a República, a organização política, as instituições e o processo social. Nós sempre tendemos a dissociar liberalismo e democracia em qualquer discussão. Por razão histórica há uma reação muito grande ao liberalismo no Brasil, tanto que quando alguém quer me xingar, me chama de neoliberal (risos), o que é um absurdo. Porque tomam o liberalismo como laissez-faire, simplesmente liberdade de mercado. Ora, não é isso. Hoje ninguém aqui é contra o capitalismo e sim contra o liberalismo. Mas não se pode recusar o liberalismo político, até porque a democracia substantiva não foi criada para isso. Não foi para dizer "democracia formal não vale, a representação não tem mais sentido". Não era uma volta a Rousseau. Há uma questão central: conseguiremos ou não certa convergência entre o pensamento democrático tradicional e as formas de participação direta no processo decisório? O equilíbrio é difícil. Em sociedades de massa como a nossa, e Nabuco e Tocqueville já tinham percebido isso lá nos Estados Unidos, há o risco da demagogia. Nabuco temia que nos EUA, dada a forma republicana presidencialista, houvesse uma delegação total ao tutor, o presidente da república: "Parece que os americanos ficam felizes porque elegem o próprio tutor", disse, ironicamente. Hoje, em lugar de procurarmos combinar representação clássica com participação, corremos o risco de substituir tudo isso pela figura do tutor. É um perigo. Daniel Bell (professor de filosofia na Universidade Tsinghua, de Pequim) escreveu um artigo dizendo que os chineses têm uma ideia diferente dos ocidentais: com a generalização do voto e o desejo da massa de contar com uma figura simbólica, eles têm medo de não eleger os mais capazes e sim os de maior poder de comunicação. Por isso tendem a preservar os mecanismos meritocráticos do Partido Comunista. No Ocidente, onde se conseguiu fazer parlamentarismo houve maior possibilidade de equilíbrio institucional. Onde há presidencialismo, há risco maior de cesarismo. Vamos ter que pensar: na democracia, como compatibilizar o respeito às ideias de delegação com as de participação? Temos que voltar a discutir também o que é liberalismo político, não econômico. Ser contra o liberalismo político é estar a um passo de cair no lado autoritário.


(Fernando Henrique Cardoso, no debate Aliás, domingo, em O Estado de S. Paulo)

Oposição diz que homenagem de Dilma a Tancredo é oportunista e lembra que PT negou apoio ao mineiro

Por: Direções do PPS, PSDB e DEM

Em nota divulgada nesta terça-feira, PPS, PSDB e DEM criticam a visita de Dilma Rousseff ao túmulo do ex-presidente Tancredo Neves e afirmam que trata-se de uma atitude oportunista da candidata do PT à Presidência da República. "O PT, partido ao qual Dilma Rousseff aderiu recentemente, mas que hoje representa no nível mais alto, negou apoio a Tancredo Neves e ao pacto de transição democrática que sua candidatura presidencial possibilitou', destaca a nota. No texto, os presidentes dos três partidos lembram ainda que o PT expulsou seus deputados que votaram em Tancredo no colégio eleitoral. "Com a arrogância habitual, nem o PT, nem Dilma Rousseff, nem Lula da Silva jamais se retrataram por suas posições equivocadas e mesquinhas nesse passo decisivo da caminhada do Brasil rumo à democracia", critica a nota.

UM ATRASO HISTÓRICO

A homenagem de Dilma Rousseff a Tancredo Neves chega com 25 anos de atraso e sem explicações devidas e nunca apresentadas todo esse tempo.

O PT, partido ao qual Dilma Rousseff aderiu recentemente, mas que hoje representa no nível mais alto, negou apoio a Tancredo Neves e ao pacto de transição democrática que sua candidatura presidencial possibilitou.

Intransigente no erro, o PT expulsou seus deputados que entenderam a importância desse pacto para o Brasil e votaram em Tancredo no colégio eleitoral.

Luis Inácio Lula da Silva, numa de suas lamentáveis bravatas oposicionistas, desprezou a proposta de diálogo entre trabalhadores e empresários formulada por Tancredo em sua pregação.

Com a arrogância habitual, nem o PT, nem Dilma Rousseff, nem Lula da Silva jamais se retrataram por suas posições equivocadas e mesquinhas nesse passo decisivo da caminhada do Brasil rumo à democracia.

Da mesma forma, jamais se retrataram da negativa de apoio a outro mineiro ilustre, Itamar Franco, quando lhe coube a missão de resgatar a democracia brasileiras dos descaminhos de Collor de Mello - hoje aliado dileto do governo Lula e da candidatura de Dilma Rousseff.

Tardia e mal explicada, a homenagem a Tancredo Neves se reduz a uma encenação com as marcas inconfundíveis da impostura e do oportunismo, presentes em outras passagens da carreira da neo-petista Dilma Rousseff.

Senador Sérgio Guerra - Presidente Nacional do PSDB
Deputado Rodrigo Maia - Presidente Nacional do DEM
Roberto Freire - Presidente Nacional do PPS


Brasília, 07 de abril de 2010

Lula republicano:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Dois políticos que não estão diretamente envolvidos com a disputa eleitoral para a Presidência são fundamentais para o resultado da eleição: o presidente Lula e o ex-governador mineiro Aécio Neves. A campanha da ex-ministra Dilma Rousseff gravita em torno da figura de seu padrinho político, e ela não tenta esconder o que está sendo conhecido como "lulodependência", assim como o presidente não pretende disfarçar seu papel, a tal ponto que alardeia que a vitória da candidata petista será a sua vitória, e só ela o fará plenamente realizado no governo.

Já o ex-governador paulista José Serra depende do também ex-governador Aécio Neves para manter a liderança que ostenta há anos nas pesquisas de opinião. Se o eleitorado mineiro chegar em outubro convencido de que a vitória de Serra é a vitória de Aécio, o PSDB estará consolidando sua hegemonia nos dois maiores colégios eleitorais do país, com amplas chances de partir dos dois estados para vencer a eleição presidencial.

Ao usar a metáfora "lobo em pele de cordeiro" para identificar a postura do oposicionista José Serra de não atacar Lula, garantindo que não haverá descontinuidade nos programas sociais assistencialistas, a candidata oficial, Dilma Rousseff, utilizou uma imagem que pode facilmente se transformar em arma contra ela.

É ela quem está sendo acusada de não ser uma democrata convicta, e, a cada vez que homenageia seu passado de lutas contra a ditadura, há quem veja nesse gesto a reafirmação de que existe por trás da "pele de cordeiro" o velho lobo guerrilheiro.

Um outro ponto sensível, pelo menos para um eleitorado identificado com valores da classe média tradicional, é o mote da campanha oposicionista de atacar a complacência petista com a corrupção.

Como o assunto é suprapartidário e atinge tanto o PSDB quanto o DEM, em escalas diversas, mas no mesmo calcanhar, a campanha tucana está baseada aparentemente mais na proteção dos companheiros, no compadrio, do que nas acusações de corrupção.

Aécio Neves vem batendo com rara objetividade na falta de compromisso do PT com o bem comum, lembrando várias situações em que o partido hoje no poder recusou-se a aderir a movimentos políticos que uniam a maioria, desde a Constituinte, que seus representantes não assinaram, até a recusa de participar de um governo de união nacional após o impedimento de Collor.

E também a ineficiência da máquina pública, devido ao seu aparelhamento político e ao descaso com a meritocracia, substituída pelo apadrinhamento de companheiros.

Dando demonstrações claras de que se empenhará por uma vitória do PSDB mesmo que não aceite ser o vice oficial, Aécio coloca sua aprovação popular em Minas em contraponto com a do presidente Lula, como uma demonstração de que não é preciso ser "messiânico" para ser popular.

Já o pré- candidato José Serra tem feito referências diretas à "roubalheira", uma maneira popular de falar em corrupção.

Disse ele, em uma frase de seu discurso de despedida que já ficou emblemática do que será sua campanha: "Eu estou convencido de que o governo, como as pessoas, tem de ter honra.

E assim falo não apenas porque aqui não se cultivam escândalos, malfeitos, roubalheira, mas também porque nunca incentivamos o silêncio da cumplicidade e da conivência com o malfeito."

Lula segue sendo o principal ativo político da candidata Dilma e, camaleônico, muda de tática à medida que as reações se sucedem.

Depois de multado duas vezes, e de menosprezar a Justiça Eleitoral com gracejos em comícios, Lula deve ter-se dado conta de que é contraproducente cutucar os juízes eleitorais desse jeito.

Passou a posar de "republicano" e agora promete fazer campanha apenas "fora do expediente", como se fosse presidente apenas das 9 às 17h.

Na sua nova fase, que combina cinismo com ironia, Lula condenou, em entrevista à Rádio Tupi, no Rio, o uso da máquina pública durante o processo eleitoral. E ainda por cima criticou seus antecessores, que nunca foram multados pelo TSE por fazerem campanha antecipada.

Lula, dizem que sem ficar vermelho, disse que seria "um teste importante para a democracia" participar da campanha sem usar a máquina pública "como sempre se usou neste país".

Assim como em São Paulo nos primeiros meses do ano, que teve o maior índice pluviométrico em 70 anos, o volume de chuva que caiu no Estado do Rio nas últimas 48 horas superou tudo o que havia sido registrado nos últimos 40 anos.

Não é possível atribuir-se a uma só administração os transtornos da cidade e as mortes por todo o estado, mas é possível, sim, constatar a incapacidade dos três níveis de governo de montar um esquema de emergência para orientar e dar uma sensação de menos insegurança aos cidadãos.

Desde os guardas nas ruas, que desaparecem ao sinal das primeiras chuvas, até os táxis, que também somem, não existe um esquema de emergência montado para situações extremas.

Os aeroportos, que já são caóticos normalmente, tornam-se inviáveis em dias de crise como a de segunda-feira.

Com os atrasos dos vôos por falta de teto, e os aviões desviados do Santos Dummont para o Galeão, não há organização suficiente para reordenar o fluxo de malas, nem pessoal para dar informações aos passageiros que se aglomeram nos aeroportos sem informações.

A Infraero não tem capacidade para organizar os serviços de apoio, e as companhias aéreas não se consideram responsáveis pelos passageiros que despejam pelos aeroportos do país.

Mas pelo menos foi equiparada a ineficiência administrativa de governadores da oposição e governistas, impedindo que se tire vantagens políticas de situações climáticas extremas, como fizeram os petistas nos primeiros momentos da crise paulista.

Os bueiros entupidos não têm partido político. A falta de investimento em infraestrutura é generalizada.

Jogo de amarelinha:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pelo revés na formação do palanque para José Serra no Rio de Janeiro a direção nacional do PSDB realmente não esperava. Ao contrário.

Os tucanos andavam se jactando de que estavam muito mais adiantados que o PT na formação dos palanques regionais nos três principais colégios eleitorais do País: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

São Paulo, tudo certo com Geraldo Alckmin, candidato disparado nas pesquisas; Minas, sob a administração do ex-governador Aécio Neves; no Rio, com Fernando Gabeira de candidato a governador, dividindo palanque com Marina Silva, numa aliança de quatro partidos: PSDB, PV, PPS e DEM.

Agora, embora não se possa dizer que a situação tenha se invertido, constata-se, no mínimo, um abalo. Só São Paulo segue sendo um porto seguro.

Mesmo assim, o adversário que estava perdido entre a indefinição total e uma situação quase esdrúxula de ter Ciro Gomes como candidato do PT, hoje já pode apresentar nome definido: Aloizio Mercadante.

No PT de Minas permanece a pressão pela candidatura própria e a contrapressão do Planalto pelo apoio à candidatura de Hélio Costa do PMDB. Mas no PSDB reina uma tênue, sutil, quase imperceptível insegurança a respeito do grau de empenho de Aécio Neves na campanha de José Serra.

Mas a desarrumação mesmo, explícita, deu-se no Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral.

O presidente do PV, Alfredo Sirkis, e a vereadora Andrea Gouveia Vieira, do PSDB, comandam uma rebelião contra a presença do DEM na aliança. Mais precisamente contra a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia a senador.

Argumentam, grosso modo, que há rejeição da classe média ao ex-prefeito e pressionam o candidato a governador, Fernando Gabeira, a anunciar o rompimento.

O PSDB nacional já entrou em cena para impedir que se desfaça a coligação. Com alguma dificuldade, diga-se, porque o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia, resolveu agredir Gabeira, que, na verdade, era o menos interessado na confusão.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, estará hoje no Rio, mas a discussão do problema deverá ser adiada para a semana que vem, a fim de evitar que as animosidades contaminem o lançamento da candidatura presidencial no próximo sábado.

E qual é a posição da direção nacional?

Simples. Ou se faz a coligação com todos ou não se faz coligação com ninguém, porque todos precisam de todos.

Serra precisa de Gabeira para ter um bom candidato a governador. Gabeira precisa do PSDB para ter tempo de televisão. Ambos precisam do DEM para aumentar o tempo de televisão e ganhar densidade em termos de estrutura partidária. Marina, como candidata a presidente, também precisa de Gabeira, que precisa do PSDB, que precisa do DEM, que precisa de Gabeira, que precisa de Serra.

Resumindo: política, eleitoral e friamente falando, soltos, cada um dos quatro partidos em questão não somam meio. No máximo flanam pelo cenário brincando de amarelinha

Bom combate. A título de provocação, o PSDB pôs o tema da ética na mesa e o PT, a fim de não parecer acuado, aceitou o debate de pronto. Foi um avanço, já que não faz muito tempo as duas principais forças políticas avaliavam que o assunto estaria fora do cenário eleitoral.

Primeiro, porque o eleitorado teria outras prioridades na vida antes de discutir coisas que só interessam a "falsos moralistas", os chamados udenistas de plantão desde a extinção dos partidos pré-ditadura.

Depois, segundo esses autores, a discussão estaria interditada por conta da existência de escândalos nas searas governista e oposicionista. Foram defendidas teses profundas a respeito da política das mãos sujas.

A ideia ganhou reforço especial no fim do ano passado, quando surgiu o caso Arruda, então governador do Distrito Federal filiado ao DEM, principal aliado do PSDB.

Diante daquele acordo tácito segundo o qual a ética estaria fora do debate político, por um nefasto zero a zero entre o roto e o esfarrapado, é motivo de celebração a entrada desse item na agenda de campanha.

Verônica Ferriani - Rosa

Verônica Ferriani e grupo Choro Rasgado interpretando a canção "Rosa" para o programa "Mosaicos - A arte de Pixinguinha", exibido em 27/04/2007 pela TV Cultura

Tancredo Neves, a CUT e o PT::Almir Pazzianotto Pinto

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

No dia 21 de abril completam-se 25 anos da morte do presidente Tancredo Neves. Após longo sofrimento, o dr. Tancredo sucumbiu à doença que o perseguira ao longo da campanha presidencial e na viagem ao exterior, depois da vitória no Colégio Eleitoral, em 5 de janeiro de 1985, reunido na forma do artigo 74 da Constituição de 1967. O dr. Tancredo obteve 480 votos; Paulo Maluf, 180; registrando-se 17 abstenções, 5 do PT, e 9 ausências.

Em 14 de março, à noite, preparando-se para a posse, o dr. Tancredo Neves, que comemorara 75 anos no dia 4, participou da missa no Santuário Dom Bosco, oficiada por Dom João de Rezende Costa, arcebispo de Belo Horizonte.

Momentos depois, vítima de fortes dores, o dr. Tancredo foi levado ao Hospital de Base para ser operado de complicações no divertículo. Desde esse instante a população brasileira passou a aguardar o restabelecimento do seu líder, expectativa que, desgraçadamente, não se concretizou.

Exemplo do estilo mineiro de fazer política, o dr. Tancredo sabia como ninguém combinar energia, coragem e firmeza nos momentos críticos, como por ocasião do suicídio do presidente Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954, com a lhaneza, paciência e diplomacia que lhe permitiram encaminhar, em nome da oposição, a sucessão do presidente João Figueiredo e obter dos comandantes militares o compromisso de que respeitariam os resultados da eleição indireta.

Raras vezes estive com o dr. Tancredo. À época, era secretário do Trabalho do governo Franco Montoro.

O primeiro encontro ocorreu no Palácio das Mangabeiras, sede do governo de Minas Gerais, em almoço do qual participaram líderes do PMDB. Em determinado momento, o governador me pediu informações sobre a estrutura sindical. Disse-lhe o que pensava, destaquei o problema do peleguismo e declarei que a solução consistia na ratificação da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que trata da autonomia de organização e garante liberdade de sindicalização.

Com o dr. Tancredo eleito, soube pelo dr. Roberto Gusmão, secretário de Governo, de reunião com o dr. Francisco Dornelles, futuro ministro da Fazenda. O encontro se deu em São Paulo, ocasião na qual fui informado de que assumiria o Ministério do Trabalho, cabendo ao dr. Gusmão o Ministério da Indústria e Comércio.

Nos últimos dias de fevereiro compareci à Granja do Torto, onde o dr. Tancredo disse-me que era convocado para "sofrer com ele durante quatro anos".

O decreto designando-me ministro acha-se assinado pelo dr. Tancredo na qualidade de presidente da República e é datado de 15 de março de 1985. Quem me entregou a cópia foi o ministro-chefe da Casa Civil, José Hugo Castelo Branco, acompanhada de mensagem pessoal. O documento de posse contém o autógrafo do vice-presidente José Sarney.

Antes mesmo da nomeação, fora incumbido da tarefa de negociar entendimento entre governo, patrões e trabalhadores.

O dr. Tancredo julgava indispensável, para a recuperação econômica e o sucesso do período de transição, que se fizesse algo semelhante aos pactos celebrados na Espanha após a morte de Francisco Franco, em 1975, com a instituição do regime monárquico democrático.

Seis importantes acordos, o primeiro conhecido como Pacto de Moncloa, haviam sido firmados, entre 1977 e 1984, pelo ministro Adolfo Suarez com a Confederação Espanhola de Organizações Empresariais (CEOE) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT), para tornar possível, em clima de tranquilidade sindical, a estabilidade da moeda, a retomada do desenvolvimento e a criação de empregos.

A revista Senhor de 9 de janeiro de 1985 publica entrevista do dr. Tancredo Neves a Mino Carta, em que ele revela desejar "uma trégua para organizar o pacto social que poderá remeter o País a um novo patamar de crescimento".

As reações ao pacto foram divergentes. Enquanto Joaquim dos Santos Andrade, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da Conclat, reconhecia a gravidade da crise e se revelava disposto a colaborar, a associação CUT-PT abria hostilidades contra o dr. Tancredo, sem mesmo tentar saber o que se pretendia.

Em vez de aceitar o diálogo, um desvairado Jair Meneguelli panfletava fábricas com a seguinte mensagem: "Metalúrgicos vão à greve contra o pacto."

O Jornal da Tarde, na edição de 11 de fevereiro, estampava as manchetes: "A CUT e o PT declaram guerra a Tancredo" e "Os trabalhadores metalúrgicos do ABC vão à luta já, contra o pacto."

Os fatos revelariam que PT e CUT não blefavam. Em abril a CUT ocupou as instalações da GM, em São José dos Campos, e submeteu a cárcere privado 370 funcionários, vítimas de violências e humilhações.

Na manifestação de 1.º de maio, realizada na Praça da Sé, Meneguelli esbravejava: "Vamos parar o Brasil de norte a sul." De fato, o Brasil via-se atacado por milhares de greves políticas e selvagens.

Em 24 de junho de 1985, o presidente José Sarney convidou as lideranças sindicais, sem exceção, para reunião na Granja do Torto, a fim de discutir como deter a inflação, retomar o crescimento e aumentar salários. Compareceram todos, à exceção da CUT, empenhada no boicote do governo.

Jamais saberemos como seria o Brasil se o dr. Tancredo houvesse governado. A História, porém, é implacável e registra que o PT e a CUT foram responsáveis por 20 anos de atraso, até que o País recuperasse a estabilidade e o desenvolvimento, graças ao Plano Real.

Advogado, foi Ministro do Trabalho (1985-1988) e Ministro do Tribunal Superior do Trabalho (1988-2002)

Lulocentrismo e dilmismo:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Pouco se faz ou se decide na campanha de Dilma Rousseff sem a bênção de Lula. A centralização dos debates relevantes é completa. Seria prematuro apontar o mandonismo lulista como algo líquido e certo num eventual governo Dilma em 2011. Mas, por enquanto, os sinais emitidos são exatamente nesse sentido.

Tome-se o caso curioso da agenda da petista no dia 10 de abril, sábado, quando José Serra (PSDB) lançará de maneira oficial sua pré-candidatura a presidente. O evento será em Brasília, numa anunciada grande festa tucana. Os petistas passaram dez dias pensando no que fazer com Dilma nessa data.

Só ontem no fim do dia Lula bateu o martelo e optou-se por uma visita à região do Grande ABC. Antes, a ideia inicial havia sido levar Dilma e Lula ao Rio para um evento público no momento em que Serra estivesse lançando sua candidatura em Brasília. Houve divergência dentro da coordenação petista.

Alguns mais radicais sonharam em promover um convescote de Dilma por locais que ficaram alagadas em São Paulo no início do ano.

Ou uma passagem rápida pelo notório buraco do metrô paulistano.

Tudo ficou suspenso até Lula ter dado ontem sua palavra final.

Some-se ao lulocentrismo a atitude também centralizadora de Dilma Rousseff. A petista até hoje não tem página oficial na internet nem perfis próprios nas redes de relacionamento social. Está tudo pronto, mas só nesta semana a candidata reservou um pouco de tempo para aprovar os layouts preparados. Por enquanto, não fala de maneira direta com os mais de 60 milhões de brasileiros com acesso à web.

Se a ex-ministra deslanchar nas pesquisas e ganhar em outubro, essas idiossincrasias ficarão para trás.

No caso de a campanha fazer água, o lulocentrismo e o dilmismo ocuparão papel de destaque como fatores responsáveis pelo eventual descarrilamento da candidatura.

Primazia nacional leva tensão ao PT:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Contrários, antipatizantes, adversários oficiais do ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), incomodados com a persistência de sua candidatura ao governo de Minas Gerais e da liderança regional do partido que ainda exerce, postulações que com ele disputa o ex-ministro Patrus Ananias (PT), estão levando essa briga para dentro da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Pimentel é um dos coordenadores do grupo que traça os rumos da candidatura, tarefa que divide com o deputado Antonio Palocci. E tem muito poder, nutrido na confiança e proximidade com a ex-ministra, que vem de longa data.

Ora o bombardeiam em Minas para confiná-lo à campanha presidencial, ora o tiram de tudo. Um grupo de políticos petistas que tem pensado os rumos do partido, porém, não quer dar maior peso à refrega mineira, no momento, por basicamente duas razões.

Uma é que, segundo creem, o embate interno do PT de Minas e as relações do partido, em si conflagrado, com o PMDB do candidato a governador Hélio Costa, já virou caso perdido. Não há acordo possível e ninguém aposta mais em uma solução negociada.

O que se espera, até entre auxiliares do presidente Lula, é que uma pesquisa sobre o apoio dos eleitores aos três líderes políticos do campo governista - Pimentel, Hélio e Patrus - convença-os a definir o candidato a ser apoiado pelos demais. E já está passando a hora do desenlace, marcado para fim de março ou começo de abril.

Um colégio de deputados federais, senadores e dirigentes partidários analisaria os dados da pesquisa. Com a subida de Antonio Anastasia, candidato do ex-governador Aécio Neves, informa-se, nas discussões em Brasília, que Hélio Costa caiu um pouco e já não é tão certo que surgirá em primeiro lugar dessa consulta. Se Pimentel estiver à frente, ele deve insistir na disputa do governo e haverá mais tensão dentro do PT. Se Hélio ainda estiver em primeiro, espera-se forte pressão final do PMDB para Pimentel ficar só com a campanha de Dilma, deixando o caminho do Senado livre para Patrus.

Vê-se que são muitas correntes contra Pimentel, e elas estão esticando a corda ao máximo. Os que estão pensando o partido, preocupam-se com a hipótese de essa implosão, em Minas, inviabilizar definitivamente uma candidatura do PT. E seria, então, mais um Estado politicamente importante onde o partido dispensaria o papel protagonista.

Esses formuladores veem o PT perdendo espaço nos principais colégios eleitorais do país em consequência da prioridade absoluta atribuída à eleição presidencial.

Para entregar segundos a mais ao programa eleitoral comandado pelo marqueteiro João Santana, o partido estaria entregando eleições para os aliados, do PMDB, o mais guloso, ao PR, PDT e até o PC do B.

Não é só em Minas que o PMDB quer engolir o aliado. No Pará, Jáder Barbalho, do PMDB, não cede ao PT. No Rio, preparado para a conquista, o PT foi conquistado pelo PMDB e até pelo PR. No Paraná, deu seu lugar ao PDT. No Maranhão, com sacrifício, muita tensão e oposição da Presidência da República, o partido venceu o esquema Sarney, por apenas 2 votos, e vai brigar sozinho. No Amazonas, o PT entregou-se ao PR. Em São Paulo, depois de enfraquecer-se muito à espera de uma definição de Ciro Gomes, ainda tenta erguer sua candidatura própria.

Diz um desses intérpretes do que define como reais interesses do partido: "O problema não é Minas Gerais, ali ainda se resiste à pressão para ceder espaço. O PT não terá candidatos para sustentar o governo Dilma, não terá governadores, deputados, senadores". O cenário resultante dessas análises é pessimista: "Se a ministra vencer a disputa presidencial, seu partido terá pouca importância na aliança. Se perder, o PT terá se reduzido em todo o país, inutilmente". O partido se vê fraco em qualquer desfecho.

Conflito

Existiu um conflito sério na direção da campanha de Dilma Rousseff, candidata do PT a presidente, provocado pela histórica difícil relação do governo, do PT, da candidata e do staff que os cerca com a imprensa.

Embora muitos defendessem desprezo ao assunto, "por ser insolúvel", um dos coordenadores, o ex-ministro e deputado Antonio Palocci, tomou a si o problema e determinou: "O candidato que quer se eleger não despreza nenhuma questão, muito menos esta. Vamos dialogar".

Palocci advertiu que não poderiam começar uma campanha com um contencioso com a imprensa. O comando se dividiu mas a candidata, na decisão, acabou pendendo para a argumentação de Palocci.

Sobrevivente

A intensa e direta campanha lançada pelo governo contra o Tribunal de Contas da União, ao longo de todo o ano passado, não só manteve o colegiado vivo como provocou-o a ampliar e aperfeiçoar seus instrumentos de fiscalização e controle.

O TCU manteve sua independência para fiscalizar os três poderes, está se unindo à Receita Federal, Polícia Federal, Banco Central e outros órgãos que atuam em controles para evitar superposições e explorar os instrumentos à disposição de cada um, tem um projeto de criar um corpo de procuradores capazes de fazer execução judicial e, sobretudo, entre dezenas de novas iniciativas, aperfeiçoar sua ação de controle preventivo.

Ao traçar ontem um panorama do desempenho da instituição, sem contar as adversidades, o presidente do Tribunal, Ubiratan Aguiar, e seu vice-presidente, Benjamin Zymler, destacaram uma medida de controle preventivo que fala direto ao bolso do gestor do dinheiro público e deve funcionar mais do que qualquer multa: a retenção de parcelas. Evitar que o dinheiro saia do cofre, porque depois que sai é difícil recuperar.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras.

Intelectuais, cultura e democracia::Coordenadores: Luiz Jorge Werneck Vianna (IUPERJ), Rubem Barboza Filho (UFJF)

Resumo:

O protagonismo assumido pela intelligentsia em diferentes momentos da história ocidental merece uma continuada reflexão. Ainda que o tradicional papel exercido pelos intelectuais no Ocidente seja hoje o objeto de uma crítica normativa, a presença relevante da intelectualidade continua a ser considerada um elemento fundamental numa sociedade democrática e reflexiva.
Com o intuito de explorar e compreender o território comum entre as temáticas dos intelectuais, da cultura e da democracia, este Seminário Temático se dedicará à discussão de aspectos teóricos e metodológicos relacionados à sociologia dos intelectuais e da cultura, à análise de suas produções artísticas ou acadêmicas, à discussão de seus espaços de sociabilidade e reflexão, bem como à relação que os intelectuais mantêm com a vida pública e com temas relacionados à construção da democracia nos mais variados contextos.

Ementa:

A compreensão da presença dos intelectuais e de sua atuação na vida pública tem sido alvo de diversos estudos nos últimos anos (Baumann, 1987; Carvalho, 2007; Habermas, 2009; Micelli, 2001). O protagonismo assumido pela intelligentsia em diferentes processos de modernização, seja na construção de uma agenda pública, seja na crítica dos resultados desses processos, justifica uma maior atenção ao seu papel na configuração da cultura e dos regimes políticos. Em especial no momento em que os modelos consagrados de organização política e democrática enfrentam sérios desafios, nascidos de profundos movimentos de mudança do mundo contemporâneo.
Nesse sentido, a capacidade de interpelar criticamente a sociedade a partir do posicionamento em questões cruciais para a vida pública, vocalizando demandas, construindo alternativas, ou mesmo endossando posições consolidadas pode, de certo modo, ser compreendida como elemento fundamental na formação dos arranjos democráticos. Ainda que o tradicional papel exercido pelos intelectuais no Ocidente seja hoje o objeto de uma crítica normativa – como no caso de Baumann, que para eles reclama tão somente a condição de “intérpretes” -, a presença relevante da intelectualidade continua a ser considerada um elemento fundamental numa sociedade democrática e reflexiva.

Com o intuito de explorar e compreender o território comum entre as temáticas dos intelectuais, da cultura e da democracia, este Seminário Temático se dedicará à discussão de aspectos teóricos e metodológicos relacionados à sociologia dos intelectuais e da cultura, à análise de suas produções artísticas ou acadêmicas, à discussão de seus espaços de sociabilidade e reflexão, bem como à relação que os intelectuais mantêm com a vida pública e com temas relacionados à construção da democracia nos mais variados contextos.
Esta proposta se origina a partir da constatação da inexistência, nos últimos anos, de um espaço na ANPOCS com o foco direcionado para a discussão entre as temáticas acima destacadas de maneira articulada. Este seminário nasce, portanto, com a vocação de reunir pesquisadores de variadas regiões do país, no sentido de constituir tanto uma agenda de pesquisas em torno das temáticas destacadas, quanto um direcionamento para pensar vínculos cada vez mais intensos entre a universidade e a vida associativa brasileira.

BAUMAN, Zygmunt. (1987), Legislators and interpreters. Cambridge: Polity Press.

CARVALHO, Maria Alice Rezende de. (2007), “Temas sobre a organização dos intelectuais no Brasil”. RBCS, vol. 22, pp. 17-31.

HABERMAS, Jürgen. (2009), “Espaço público e esfera pública política: raízes biográficas de dois motivos conceituais”. Rio de Janeiro: Lúmen Júris.

MICELI, Sergio. (2001), Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras.

Convite para o IV Seminário de Sociologia da Cultura e da Imagem

Com grande satisfação, viemos convidá-los para o VI Seminário de Sociologia da Cultura e da Imagem a acontecer nos dias 08 e 09 de abril no IFCS/UFRJ. Organizado pelo Núcleo de Pesquisa em Sociologia da Cultura, NUSC/UFRJ, o evento tem o objetivo de promover um debate sobre os usos das artes e das imagens e suas relações com as Ciências Sociais.

Mantendo o formato dos outros anos, discutiremos trabalhos de pesquisadores de diversas instituições pautados nas temáticas de artes plásticas, pensamento social, cinema e televisão, contando ainda com palestras e com a exibição de filme e posterior debate com o diretor.

Contamos com a presença de todos!

Cordialmente,

Equipe organizadora

Serra vai se apresentar como moderado

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raquel Ulhôa, de Brasília

Um pré-candidato à Presidência politicamente moderado, com experiência administrativa e propostas para o futuro é como o ex-governador José Serra (PSDB) vai se apresentar no sábado, em evento em Brasília dos três partidos que o apoiam (PSDB, DEM e PPS).

No primeiro evento em que apresentará propostas para o futuro, Serra deve explicitar as diferenças entre sua candidatura e a da ex-ministra Dilma Rousseff, do PT, considerada "tecnicamente fraca e inconsistente" pela oposição. Ao contrário do que disse a pré-candidata governista em discurso na segunda-feira, Serra não se apresentará como o "anti-Lula".

Além do pré-candidato e dos presidentes dos três partidos, também falarão no evento o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, como presidente de honra do PSDB, e o ex-governador Aécio Neves (MG), em nome dos governadores. Um vídeo com a história pessoal e política de Serra será exibido. Mostrará a infância humilde, mas dará ênfase à trajetória como homem público.

Mais de 2 mil pessoas são aguardadas. Pelo menos um representante de cada palanque estadual vai comparecer. "Queremos dar uma demonstração de unidade e do nosso tamanho nessa eleição", disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). "Queremos mostrar qual é nosso time para disputar a eleição no país todo. Nosso time estará presente", completou.

Como explica Guerra, Serra evitou manifestar-se sobre questões eleitorais enquanto estava no cargo e agora terá chance de apresentar seu ponto de vista. O evento partidário será a oportunidade para ele falar sobre "o que fez, faz e fará pelo Brasil". De acordo com o dirigente tucano, a ideia é fugir do cenário habitual de eventos partidários como esse, "nos quais o barulho é grande e as pessoas prestam pouca atenção".

O formato da organização do evento em Brasília deverá ser submetido a FHC e lideranças de partidos aliados. Um dos objetivos é evitar militância profissional. O foco será o discurso de Serra, voltado para o futuro. A oposição pretende que seja um diferencial em relação a Dilma, que faz discurso baseado nas conquistas do governo Lula. O tom mais agressivo que a ex-ministra adotou em evento do PR, em Brasília, no qual chamou os oposicionistas de "lobos em pele de cordeiro", foi comemorado pelos aliados de Serra.

"Foi um discurso ótimo para nós. Quanto mais brava ela ficar, melhor", disse Guerra.

Acordo com o PR sai caro para governo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Bastidores: Marcelo Moraes
Para garantir apoio formal do PR e aumentar o tempo de propaganda eleitoral para a campanha da pré-candidata petista Dilma Rousseff, o governo federal fez concessões políticas importantes que provocaram mal-estar político em várias frentes aliadas.

Em troca da aliança, Dilma e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitaram, por exemplo, participar da campanha do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR), o principal adversário do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), criando constrangimento entre os peemedebistas locais.

Desde sua eleição, no fim de 2006, Cabral se tornou o aliado preferencial de Lula no Estado. Agora, já não esconde sua insatisfação com a abertura de espaço para Garotinho na campanha de Dilma, uma das exigências apresentadas pelo comando nacional do PR para apoiar a ex-ministra da Casa Civil.

O próprio Lula tentou amenizar o problema ontem, conversando com Cabral durante sua passagem pelo Rio e oferecendo apoio federal para amenizar os efeitos dos temporais no Rio. Mas a crise está longe de solução.

Carlismo. Na Bahia, são os partidos de esquerda, incluindo o PT, que se queixam do movimento feito pelo governador da Bahia, Jaques Wagner, com a chancela de Lula, para se aliar ao PR local, apoiando a reeleição do senador César Borges. Antigo representante do carlismo, Borges foi adversário direto da esquerda durante muitos anos e sofre grande rejeição desse grupo que não quer pedir votos a seu favor.

A aliança em torno da disputa pelo Senado poderia até ser assimilada pelos partidos de esquerda.
O problema é que o PR quer que o acordo valha também para as eleições proporcionais. Ou seja, o partido estaria coligado com o PT e toda a esquerda nas eleições para deputados federais e estaduais. O movimento é visto como suicídio político pela esquerda, que avalia que a reunião de muitos partidos na mesma chapa reduziria o número dos seus parlamentares eleitos.

Como presidente do PR baiano, Borges defende a coligação completa como condição para fechar o acordo político com o PT.

No Amazonas, o novo presidente nacional do PR, o senador e ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, terá apoio incondicional de Dilma, de quem se tornou amigo e aliado durante a convivência na equipe de governo.

O problema é que esse movimento deixa Lula e Dilma tendo de administrar a insatisfação do ex-governador Eduardo Braga (PMDB), que disputará o Senado, mas apoiará para sua sucessão Omar Aziz, do PMN, que assumiu o governo em seu lugar.

Mesmo que haja palanque duplo para Dilma no Amazonas, a proximidade com Alfredo Nascimento deixa clara a preferência da ex-ministra pelo presidente do PR, enfraquecendo a campanha do grupo liderado por Braga.

FHC fará discurso em lançamento de Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Lista de oradores do encontro não está definida, mas os três partidos de oposição já bateram o martelo em relação ao nome do ex-presidente

Christiane Samarco / BRASÍLIA

Ausência mais notada na cerimônia em que José Serra despediu-se do governo de São Paulo na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não será "escondido" na festa, em Brasília, para lançamento da pré-candidatura do tucano à Presidência.

O encontro nacional que reunirá o PSDB, o PPS e o DEM será no próximo sábado. Embora líderes dos três partidos ainda não tenham "batido o martelo" sobre o formato do evento, está decidido que FHC terá a palavra como presidente de honra do PSDB.

O tucanato avalia que, em encontros desse tipo, a regra geral é muito barulho, dispersão e pouca atenção aos oradores. Por isso, os organizadores estão empenhados em realizar uma cerimônia que não dure além de quatro horas. Esse modelo não comporta mais do que meia-dúzia de oradores - todos orientados a fazer discursos curtos até que Serra tome o microfone para apresentar sua candidatura. A ideia é fazer com que a estrela da festa comece a discursar ao meio-dia. Só o pré-candidato terá tempo franqueado para falar sem pressa.

"O Serra ficou muito calado esse tempo todo", diz o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). "Como ele tem falado pouco, os brasileiros querem ouvir muito mais sobre o que ele fez, o que faz e o que fará pelo Brasil." O foco da cerimônia é criar um espaço político para que Serra possa apresentar suas ideias sem infringir a Lei Eleitoral, que não permite campanha até o lançamento oficial das candidaturas nas convenções partidárias de junho.

Vozes. Além de FHC, também terão direito a voz os presidentes nacionais das três legendas. Vice dos sonhos da aliança, o ex-governador de Minas Aécio Neves, falará em nome dos governadores. E os partidos avaliam a conveniência de convidar uma prefeita da aliança para falar como representante das mulheres.

Também estarão presentes líderes e dirigentes de outros dois partidos, o PTB e o PSC, que os tucanos querem incluir na aliança, além de dissidente da base do governo, como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que deve disputar o governo de Pernambuco para dar mais um palanque forte a Serra no Nordeste.

A programação incluirá exibição de um vídeo sobre Serra, preparado pelo publicitário Luiz Gonzales, que deverá cuidar do marketing da campanha.

Guerra não arrisca palpite sobre o conteúdo do discurso de Serra, que está sendo alinhavado pelo próprio pré-candidato. Ele avalia que a adversária petista Dilma Rousseff subiu o tom e exibe postura mais agressiva, mas não se queixa: "O discurso da Dilma é ótimo para nós. Quanto mais brava ela estiver, melhor". O tucanato acredita que Serra se apresente exibindo serenidade.

No Twitter

Ontem, depois de contar que passou o feriado empacotando coisas, José Serra confidenciou que um de seus seriados preferidos é Monk, um detetive hipocondríaco e que sofre de TOC.

'Dilma deve estar perdida sem Lula'

DEU EM O GLOBO

SÃO PAULO. Principal articulador político da gestão José Serra (PSDB) no governo de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira diz que os ataques da ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff (PT) ao tucano são uma forma de encobrir os problemas do governo Lula na gestão do PAC. Aloysio deixou o cargo de secretário estadual da Casa Civil junto com Serra para disputar uma vaga no Senado, e diz que irá se empenhar na campanha presidencial.

Sérgio Roxo

O que o senhor achou da declaração da ex-ministra Dilma Rousseff de que aceita um embate no campo ético com o PSDB?

ALOYSIO NUNES FERREIRA: Estamos prontos para uma comparação em qualquer terreno. Nós damos de 10 a 0 em qualquer terreno.

E o fato de a Dilma ter falado que Serra planejou o apagão quando era ministro do Planejamento?

ALOYSIO: É uma forma de encobrir o fiasco da sua função de gestora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), em que a maior parte das obras ficara inconclusa.

O senhor acredita que o tema da campanha serão sempre esses ataques?

ALOYSIO: Acho que não. Daqui a pouco começam (outros assuntos). Ela (Dilma Rousseff) deve estar um pouco perdida sem a tutela do presidente Lula, agora que não é mais ministra. Deve estar um pouco aturdida com a nova situação.

As citações de questões éticas feitas por Serra no discurso de despedida são uma forma de confronto com adversários?

ALOYSIO: Quem vestiu a carapuça é que tem que se explicar. O governador José Serra fez no seu discurso um apanhado do conjunto de princípios que regem a sua vida pública. Entre esses princípios está esse, do respeito ao dinheiro público, à gestão ética, à transparência, à responsabilidade.

Qual será o seu papel na campanha de Serra?

ALOYSIO: Estou absolutamente envolvido na campanha dele, convencido de que ele é o melhor para o Brasil neste momento. Vou me empenhar como se fosse minha própria campanha.

TSE mantém multa a Lula; Ayres condena promiscuidade na política

DEU EM O GLOBO

ELEIÇÕES 2010: Tribunal rejeita recurso do presidente apresentado pela AGU

"Ninguém foi eleito para fazer seu sucessor, mas para seu projeto de governo"

BRASÍLIA e RIO. Por quatro votos a três, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou a condenação imposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter feito campanha eleitoral para sua pré-candidata, Dilma Rousseff, fora do prazo permitido por lei. Em 18 de março, o ministro auxiliar Joelson Dias havia determinado a Lula o pagamento de multa no valor de R$5 mil pela infração. Na sessão de ontem à noite, a maioria dos ministros da Corte concordou com o relator. Ainda há possibilidade de recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A decisão de Joelson Dias foi tomada em representação feita pelo PSDB, com relação a inauguração de obras no Rio em 29 de maio do ano passado. Na ocasião, Lula, na companhia de Dilma, disse ter certeza de que ganhariam as eleições de 2010. Ele também torceu para que os gritos de apoio a Dilma fossem uma "profecia".

Ontem, o TSE manteve a decisão do relator ao rejeitar um recurso da Advogacia Geral da União (AGU) em defesa de Lula. Em seu voto, Dias ressaltou que a infração foi potencializada porque era uma cerimônia com cobertura da imprensa. Ele rebateu o argumento da defesa de que o evento ocorreu muito antes do início da campanha e, por isso, não poderia ser considerada propaganda antecipada. Para o ministro, não seria razoável deixar a prática impune por esse motivo. Ele também afirmou que a infração ocorreu, mesmo que apenas poucas pessoas tenham assistido ao discurso.

- Não deixam nenhuma dúvida as imagens do evento - disse, completando: - A propaganda eleitoral extemporânea é conduta vedada, independe de potencialidade de desequilibrar as eleições.

Concordaram com o relator os ministros Cármen Lúcia, Aldir Passarinho e Carlos Ayres Britto, presidente do TSE, que aproveitou para dar um recado aos políticos:

- A qualidade da vida política no Brasil é ruim por essa promiscuidade entre projeto de governo e projeto de poder. Ninguém foi eleito para fazer seu sucessor, mas para implementar seu projeto de governo. Quando o chefe do Poder Executivo só pensa em fazer o sucessor, ele desvia o olhar do projeto de governo para o projeto de poder, como acontece em alguns países muito próximos ao nosso.

O presidente do TSE criticou a prática de o governante se afastar do cargo, mesmo que informalmente, para se dedicar à eleição de seu sucessor:

- Essa confusão entre projeto de governo e projeto de poder é cultural, infelizmente. Está na cabeça dos prefeitos, dos governadores e do presidente da República, quem quer que seja ele. Se acham na obrigação de fazer sucessor e se afastam 2, 3 meses do mandato para se dedicar a isso. Ele foi eleito para o mandato cheio, e não para se afastar para fazer o sucessor!

Ayres Britto lembrou que, à época das inaugurações do Rio, Dilma já era conhecida como "mãe do PAC" e se apresentava como pré-candidata. Para o ministro, numa inauguração, o presidente deveria ter falado da importância da obra para o local, e não estimulado o público, "um modo subliminar, disfarçado, camuflado, de estimular o público" a aplaudir a ministra.

Lula diz condenar uso de máquina na eleição

DEU EM O GLOBO

"É preciso que a gente seja, definitivamente, republicano neste país", afirma presidente

Apesar de já ter sido multado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por fazer campanha antecipada para a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que condena o uso da máquina pública durante o processo eleitoral. Em entrevista à Rádio Tupi, ele contou ter dito aos novos ministros, na primeira reunião com eles, segunda-feira, que "não pode haver abuso do poder econômico" na campanha eleitoral.

- É preciso que a gente seja, definitivamente, republicano neste país. Que a gente passe para a sociedade a ideia de que é possível você ajudar um candidato, você participar de um processo eleitoral sem utilizar a máquina como sempre se usou neste país para beneficiar um ou outro candidato - disse Lula.

Ao ser perguntado se é possível fazer campanha sem usar a máquina, disse que sim e que seria um teste importante para a democracia.

Lula voltou a negar ter feito campanha antecipada, e responsabilizou as redes de TV que noticiaram o evento pela edição de imagens, ao comentar as punições impostas a ele.

- Não conheço o teor das multas, não li o processo. A primeira multa que tive parece que foi na inauguração da sede de um sindicato. Portanto, uma entidade particular, não tinha obras públicas ali. E me parece que fui multado porque falei que íamos ganhar as eleições, e a câmera de televisão (a estatal EBC) mostrou a cara da Dilma, que estava lá no palanque. Então, no meu entendimento, quem deveria ser multado era a televisão, e não eu. Não tenho o controle da câmera.

O presidente afirmou que, se a Justiça entender que ele é culpado, pagará pelo erro.

Uso da Máquina: Lula sofre de dissonância cognitiva grave, diz Jungmann

Por: Diógenes Botelho
Portal do PPS

Para deputado, declarações de Lula contrárias ao "uso da máquina" na campanha são contraditórias, pois é ele quem mais vem desrespeitando a legislação para beneficiar Dilma.

"Lula está dando demonstrações de dissonância cognitiva grave", afirmou nesta terça-feira (05/04) o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) ao analisar declaração do presidente à rádio Tupi de que é contra o uso da máquina pública no processo eleitoral. "Ou então ele teve uma crise de autocrítica, pois hoje quem mais vem ferindo e desrespeitando a legislação é o próprio Lula', completou o parlamentar.

Jungmann ressaltou ainda que nem os ministros de Lula acreditam em suas palavras e conselhos. Na última segunda-feira, em reunião ministerial, o presidente orientou seus ministros sobre como deveriam se comportar no processo eleitoral e fez advertências sobre o usa da máquina pública em campanha. Horas depois, o ministro dos Transporte, Paulo Sérgio Passos, foi de carro oficial (veja), em pleno horário de expediente, ao ato político em que o Partido da República (PR) anunciou apoio oficial a candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff à Presidência da República. "As determinações do presidente não estão sendo levadas em conta. Mas também fica difícil, pois qual é a autoridade dele? A tendência é que isso fique na base do faça o que eu diga e não faça o que eu faço", resumiu o deputado.

Mesmo sem acreditar nas declarações do presidente, Jungmann afirmou que vai cobrar a promessa de uma campanha sem o uso da máquina. "Vamos tomar por valor de fato e esperar que o presidente passe a observar os limites da legislação eleitoral, até porque ele já tomou duas multas inéditas do Tribunal Superior Eleitotal".

Goldman: chamar tucanos de lobos é coisa de quem não tem o que falar

Para novo governador de SP, o presidenciável do PSDB, José Serra, deve manter distância dessa discussão

Carolina Freitas - Agência Estado


O governador recém-empossado de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), rebateu nesta terça-feira, 6, as críticas da pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, que na última segunda-feira, 5, chamou os tucanos de "lobos em pele de cordeiro". "Quem não tem o que falar fala isso. Nós vamos entrar em uma discussão de temas políticos. Se nos chamarem de cordeiros ou de lobos, não precisamos disso", disse, ao ser questionado sobre a fala da ex-ministra.

Para Goldman, o presidenciável do PSDB, José Serra, deve manter distância dessa discussão. "Debate de nível que não leva a nada ele não entra. Serra tem luz própria, pode levantar o debate", afirmou. "Quem partir para uma atitude agressiva vai perder. Se alguém agride, o outro tem de fazer de conta que não é com ele."

Serra, que renunciou ao governo paulista na última sexta-feira, 2, não foi à posse de Goldman na Assembleia Legislativa nem participou da recepção ao governador no Palácio dos Bandeirantes. O pré-candidato deve tirar a semana para descansar, até o dia 10, quando lança sua candidatura em Brasília. Segundo Goldman, Serra não achou "pertinente" participar dos festejos desta terça-feira, pois poderia tirar os holofotes do colega tucano. "Como ele é um foco muito forte da imprensa, talvez ele não tenha desejado desfocar."

'Sou intolerante à corrupção', alfineta Alberto Goldman

Discurso do tucano seguiu a mesma linha da despedida de Serra, com foco na defesa da ética política

Carolina Freitas - Agência Estado

O tucano Alberto Goldman tomou posse nesta tarde como governador de São Paulo. Em cerimônia na Assembleia Legislativa do Estado, Goldman afirmou que dará continuidade ao trabalho do antecessor José Serra, que deixou o posto para concorrer pelo PSDB à Presidência da República. O discurso do tucano seguiu a mesma linha da despedida de Serra, com foco na defesa da ética política.

"Tornei-me mais aguerrido no exercício do mandato de deputado federal, como líder do PSDB em 2005 na Câmara dos Deputados, quando fui colocado diante de um delicado momento da história política deste País: o escândalo do mensalão", afirmou o governador. "Aliás, devo admitir, continuo intolerante frente ao mau-caratismo, à mentira, à deslealdade e à corrupção", enumerou o tucano.

Goldman aproveitou para esclarecer como vai tratar uma das heranças deixadas pela gestão Serra: a greve de professores que completa um mês nesta quinta-feira. O governador citou duas vezes a importância do trabalho dos servidores estaduais e falou de forma indireta do movimento grevista.

"Estaremos sempre prontos a dialogar dentro do nível de respeito necessário entre nós e os servidores. Nunca com aqueles que ameaçam atos de violência. Não vamos conciliar com os que transformam reivindicações em instrumento político, com finalidade eleitoral", ressaltou.

O governador reiterou a intenção de manter o governo do Estado nos rumos do que Serra determinou. Goldman classificou o antecessor como "o mais preparado e eficiente homem público" que conheceu.

O tucano lembrou de seu ingresso na vida política como militante de esquerda, contrário à ditadura militar no País. Ele brincou ainda que mantém a mesma disposição de quando tinha 18 anos. "Estou apenas mais maduro, realista e experiente", afirmou.

Goldman reforçou sua opção por não concorrer à sucessão ao Palácio dos Bandeirantes nas eleições de outubro. "É uma decisão de vida e uma decisão política consciente de que outros companheiros também podem alcançar os mesmos objetivos", disse, fazendo mistério. "Eu não sou insubstituível. Outros podem fazer o que eu gostaria de fazer", acrescentou.

A CHUVA NO RIO:: Graziela Melo

Cai chuva
Na minha alma
E molha
meu coração

Chegam ventos
Trazendo raios,
Vão soprando,
friorentos

Dos recantos
Do céu,
Já cinzentos,

Fogem as estrelas,
Se esconde a lua!!!

Minha alma
entristece
E se esconde
Da tua

Meu corpo
Padece

Só olho
Para as águas

Que rolam
Na rua!!!!

Os ruídos
dos ventos
Me fazem
tremer

O céu
Escurece
E a chuva
teimosa
Volta a chover!!!


Rio, 06/04/10 - 16,57hs

Morte e vida Severina (Auto de Natal Pernambucano) – parte 16 :: João Cabral de Melo Neto

FALAM AS DUAS CIGANAS QUE HAVIAM APARECIDO COM OS VIZINHOS

— Atenção peço, senhores,
para esta breve leitura:
somos ciganas do Egito,
lemos a sorte futura.
Vou dizer todas as coisas
que desde já posso ver
na vida desse menino
acabado de nascer:
aprenderá a engatinhar
por aí, com aratus,
aprenderá a caminhar
na lama, como goiamuns,
e a correr o ensinarão
o anfíbios caranguejos,
pelo que será anfíbio
como a gente daqui mesmo.
Cedo aprenderá a caçar:
primeiro, com as galinhas,
que é catando pelo chão
tudo o que cheira a comida;
depois, aprenderá com
outras espécies de bichos:
com os porcos nos monturos,
com os cachorros no lixo.
Vejo-o, uns anos mais tarde,
na ilha do Maruim,
vestido negro de lama,
voltar de pescar siris;
e vejo-o, ainda maior,
pelo imenso lamarão
fazendo dos dedos iscas
para pescar camarão.
— Atenção peço, senhores,
também para minha leitura:
também venho dos Egitos,
vou completar a figura.
Outras coisas que estou vendo
é necessário que eu diga:
não ficará a pescar
de jereré toda a vida.
Minha amiga se esqueceu
de dizer todas as linhas;
não pensem que a vida dele
há de ser sempre daninha.
Enxergo daqui a planura
que é a vida do homem de ofício,
bem mais sadia que os mangues,
tenha embora precipícios.
Não o vejo dentro dos mangues,
vejo-o dentro de uma fábrica:
se está negro não é lama,
é graxa de sua máquina,
coisa mais limpa que a lama
do pescador de maré
que vemos aqui, vestido
de lama da cara ao pé.
E mais: para que não pensem
que em sua vida tudo é triste,
vejo coisa que o trabalho
talvez até lhe conquiste:
que é mudar-se destes mangues
daqui do Capibaribe
para um mocambo melhor
nos mangues do Beberibe.

A grande chuva:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

É mais do que a queda de um Boeing. De novembro para cá, morreram pelo menos 307 pessoas em sete estados castigados pelas grandes chuvas que têm marcado os últimos meses. A chuva encharcou o Rio nas últimas horas num índice muito acima do normal, e isso criou o caos urbano. O problema é que o anormal de hoje pode ser o normal de amanhã.

Os climatologistas avisam que eventos mais extremos ficarão mais frequentes. O que será das cidades que hoje já não absorvem a água que cai? Cada evento é tratado como fato isolado, as autoridades demonstram não esperá-lo e dele não tiram lições. Se os eventos vão ficar mais frequentes como parte das mudanças que os climatologistas dizem que estão contratadas, as cidades precisam se preparar para este futuro. Mas o quadro é pior: elas não estão preparadas para o presente.

O Brasil é urbano. O espaço urbano abriga 80% dos brasileiros. As cidades, pequenas, médias e grandes, têm os mesmos defeitos: bueiros entupidos, drenagem deficiente, construções nas encostas, ocupação desordenada do espaço, excessivo bloqueio do solo, concretagem de margens de rios, lixo e esgoto jogados em rios e córregos. Estamos despreparados para qualquer chuva forte nos padrões atuais. Os administradores públicos e as empresas, que não se planejam para os eventos regulares, não têm planos de emergência para o fato extraordinário.

Eventos extremos não são apenas chuvas e enchentes; são também secas mais severas e prolongadas, ciclones mais fortes. O Brasil trata cada caso como se ele fosse uma surpresa, um fato único. Assim que passa a situação emergencial, os governos se desligam do assunto como se aquilo não fosse mais se repetir. Santa Catarina, depois das tragédias das chuvas em 2008, aprovou uma lei que permite mais desmatamento nas encostas. Segundo o site Contas Abertas, o Ministério da Integração, cujo ministro era até a semana passada Geddel Vieira Lima, mandou R$69 milhões para a prevenção e preparação para desastres nos municípios baianos e R$8,7 milhões para os do Rio, São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, somados.

O Brasil precisa de mais respeito ao dinheiro público, mais rigor nas regras urbanas; precisa equipar a defesa civil, investir em saneamento, drenar as cidades, ter uma matriz energética que não dependa tanto da hidroeletricidade. Isso não significa aumentar as térmicas mas apostar em alternativas limpas para os momentos de secas severas. Elas virão, isso é tão certo quanto as chuvas intensas.

Cada órgão público tem que saber o que fazer em momentos de emergências. Segunda-feira à noite no Galeão não havia um único meio de transporte para sair do aeroporto, nem sinal da existência da Infraero nas longas horas de espera por transporte. Nas emergências, os responsáveis somem, em vez de aparecer para mostrar que têm um plano para enfrentar o problema. A mesma situação de abandono dos passageiros aconteceu em Guarulhos.

Moro no Alto Gávea, e no meu terreno há uma encosta cuja vegetação mantive preservada. Há três anos, uma parte pequena dela desceu, e chamei a Georio para me orientar a conter a encosta da forma correta. O funcionário, para meu espanto, lavrou uma autuação me intimando a resolver o problema. Situação kafkiana. Perguntei ao funcionário o motivo da agressividade já que eu tinha pedido por um conselho. Ele disse que era a única forma de "abrir um procedimento" para que eu fosse orientada. A orientação foi procurar uma empresa de uma lista. Chamei a primeira, e ela me apresentou um projeto ambientalmente errado - fazer um paredão de concreto - e me cobrou um valor extorsivo. Recusei o projeto. Procurei outras, ouvi diagnósticos contraditórios. Fui multada. A multa nunca chegou, fiquei sabendo dela por um funcionário que esteve na casa para "inspecionar" minha encosta. Tive que correr atrás da multa para pagá-la.

A vegetação voltou a crescer e o terreno se estabilizou, até que o vizinho resolveu tirar a parte dele do morro para construir uma área de lazer. A encosta voltou a ficar instável. Como há um novo prefeito, chamei a Georio novamente. Desta vez, foi uma relação normal de munícipe com a prefeitura - sem ameaças, intimações e achaques - mas o problema é a falta do sentido de urgência. Tenho que fazer um projeto, aprová-lo na prefeitura para depois executá-lo.

O Rio, espremido entre mar e montanha, com um terreno específico, em camadas, que parece às vezes se esfarelar, é de extremo risco para seus moradores, se as grandes águas descerem mais frequentemente. No Brasil todo há problemas, cada pessoa tem sua história. A questão é que agora não é mais um aborrecimento individual. Estão se acumulando as tragédias. Quem ouve os climatologistas sabe que o futuro será pior. Nós não estamos preparados para o presente, para um dia de chuva mais intensa, e temos que planejar as cidades para enfrentar um clima mais rigoroso e em mudança. O poder público não está preparado para proteger os pobres, orientar a classe média, impor a lei a todos, usar bem os impostos nem prevenir o previsível.

Salve-se quem puder:: Ricardo Melo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Deixo para os leitores as conclusões sobre a primeira reação de autoridades diante da tragédia (anunciada) no Rio de Janeiro. A semelhança com o que governantes falam quando chuvas atingem SP ou qualquer outro lugar do país não é mera coincidência.

"Nosso apelo é para que as pessoas permaneçam em casa, não saiam de casa, não levem seus filhos ao colégio". Eduardo Paes, PMDB, prefeito do Rio.

"Todas as vias importantes da cidade estão interrompidas por alagamentos. É um risco enorme para qualquer pessoa tentar atravessar alagamentos". Idem.

"Os problemas que estamos vendo são estruturais, e compete à prefeitura resolvê-los. Não adianta vir aqui e dizer que são heranças históricas". Idem.

"Eu peço para essas pessoas se retirarem. É uma loucura, é uma irresponsabilidade permanecer nesse momento. Essas pessoas estão cometendo quase um suicídio." Governador Sérgio Cabral, PMDB, sobre as áreas de risco.

"Todas as enchentes atingem mais as pessoas pobres, que moram em regiões inadequadas.

Não é mais possível permitir que as pessoas ocupem áreas irregulares. É preciso que os administradores públicos antevejam isso." Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"A única coisa que a gente pode fazer, num momento como este, é pedir a Deus que a chuva pare um pouco para as coisas melhorarem e voltarem à normalidade." Idem.

"Devido à forte chuva que atinge o Rio de Janeiro, por decisão da Presidência da República, comunicamos o cancelamento da cerimônia de inauguração de obras do PAC, no Complexo do Alemão, prevista para esta terça-feira (6), que contaria com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Saúde, José Gomes Temporão." E-mail enviado pela assessoria do Ministério da Saúde aos chefes de reportagem ontem pela manhã.

O presidente estava no Copacabana Palace.