segunda-feira, 26 de abril de 2010

Reflexão do dia – Fernando Henrique Cardoso


Bom, essa sociedade nova – e ao dizer “nova” não digo boa – é fragmentada e vai ser crescentemente mais fragmentada. Se pensarmos a política à moda antiga, a resposta e: sim, vai haver o desinteresse da política. Mas a política é outra coisa hoje nessa sociedade fragmentada: são grupos que são issue oriented, são grupos orientados para questões. E politiza, não é? Não politiza no sentido anterior nosso, que atendia à globalidade, a uma ideia totalizante.

Desde o século XIX, a aspiração máxima da esquerda o que era? Um partido que representasse uma classe que ia ser capaz de universalizar-se. Isso não há mais, o que não quer dizer que não haja política, o que não quer dizer que haja desinteresse ou apatia. Há apatia, talvez, visto desse ângulo. É que as nossas cabeças foram feitas com outros modelos, para outras sociedades, e nós julgamos o novo pelo velho.

Creio que novas reivindicações globais vão existir. Por exemplo, nunca se imaginou que meio ambiente mobilizasse o mundo. E hoje mobiliza o mundo.


Fernando Henrique Cardoso, na entrevista em 2000, publicada no livro Relembrando o que escrevi, pag. 113 – Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2010

1994 e 2010:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA -
Faltam pouco mais de 60 dias para terminar o atual período anômalo no qual os políticos fingem não ser o que são. Até 30 de junho os partidos farão suas convenções, escolherão candidatos e a campanha oficial começará.

Com a eventual e quase certa saída de cena de Ciro Gomes nesta semana, há poucos eventos com potencial para alterar radicalmente o quadro eleitoral nos próximos dois meses.

Já virou também uma tradição o fato de a cada quatro anos a final da Copa do Mundo de futebol coincidir com o início real da campanha presidencial (e para governos estaduais) no Brasil. Neste ano, o evento esportivo será na África do Sul e termina em 11 de julho.

Até 30 de junho, algumas legendas ainda terão direito a programas partidários na TV. É um festival de propaganda eleitoral disfarçada. Um comercial anula o outro.

A não ser que um fato muito inesperado ocorra, não é um absurdo imaginar os candidatos em julho mais ou menos no mesmo lugar em que estão hoje nas pesquisas. Será então o momento de o PT acionar a sua bomba atômica a favor de Dilma Rousseff: a participação intensa de Lula na campanha.

Lula terá de ser para Dilma o que o Plano Real foi para Fernando Henrique Cardoso em 1994.

Naquele ano, durante a Copa, Romário deixou-se fotografar com uma nota de R$ 1. Lula era candidato. Liderou a disputa em boa parte do primeiro semestre. Depois, só deu FHC.

Mas há diferenças entre 1994 e 2010. Uma delas é o PT ter sido contra o Plano Real. Hoje, o PSDB e José Serra se esmeram para não estigmatizar Lula e o Bolsa Família, os maiores cabos eleitorais dilmistas.

Não se sabe se Lula teria sido eleito em 1994 se tivesse ficado a favor do Plano Real. Agora, na dúvida, os tucanos paparicam Lula e o Bolsa Família. Vai dar certo? Por enquanto, sim. A resposta definitiva virá depois da Copa do Mundo.

Ciro Button::Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição”.

(Ciro Gomes, ex-aspirante a candidato à vaga de Lula)

Brasília - Quem aí assistiu ao filme “O curioso caso de Benjamin Button”? Benjamin (Brad Pitt) nasceu com aparência e doenças típicas de uma pessoa em torno de 80 anos de idade. Ao invés de envelhecer com o passar do tempo, ele foi rejuvenescendo até se tornar um bebê. Lembrei-me do filme depois de assistir, na semana passada, ao desempenho de Ciro Gomes.

Dos políticos ainda no batente, Ciro é o mais parecido com Button. Candidato a presidente da República duas vezes, ministro de Estado duas vezes, governador do Ceará uma vez, deputado federal uma vez e estadual duas, ele corre o risco de encerrar a carreira política como presidente de grêmio estudantil. Em 1979, quando a inaugurou, foi candidato a vice-presidente da União Nacional dos Estudantes.

O que fez Ciro para ser candidato a presidente pela terceira vez? Acreditou que a lembrança do seu nome lhe asseguraria uma posição confortável nas pesquisas de intenção de voto. Isso deu certo até o momento em que os eleitores passaram a prestar atenção em Dilma Rousseff e a entender que ela — e não Ciro — é a candidata de Lula à sua sucessão.

De Lula ou de Deus, como Ciro prefere.

Ciro apostou que a insistência do ex-governador Aécio Neves em ser o candidato do PSDB a presidente forçaria José Serra a concorrer a mais um mandato de governador de São Paulo. Se tal não acontecesse, quem sabe Aécio não acabaria abandonando o PSDB para sair candidato pelo PMDB? Então iria para o espaço o ambicioso plano de Lula de juntar mais de uma dezena de partidos em apoio a Dilma.

Por muito tempo, Ciro imaginou que Dilma enfrentaria sérias dificuldades para crescer. E por muito tempo também acreditou na lorota que sua eventual saída do páreo presidencial beneficiaria Serra em detrimento de Dilma. Assim, talvez o melhor para Lula e o PT fosse engolir sua candidatura como um remédio amargo.

De imediato, Serra deve, sim, ganhar com a saída de Ciro. Mas a longo prazo quem ganhará é Dilma.

Entre tantos erros cometidos por Ciro, o mortal foi mesmo aquele de se comportar como uma candidata a miss. O que fez Karla Mandro, 19 anos de idade, 60 quilos, 90 centímetros de busto, 63 de cintura e 92 de quadril para se eleger Miss São Paulo 2010 na noite do último sábado? Malhou, refreou o apetite, cuidou da pele, aprendeu a desfilar e sorriu muito. Ciro fez menos do que ela. Sequer deixou de fumar.

Foi um deputado pouco assíduo às sessões da Câmara.

Sumia com frequência.

Ocupou rarefeito espaço na mídia. Interessado em agradar Lula e a pedido dele, transferiu seu domicílio eleitoral para São Paulo. Jamais seria candidato a governador, como admitiu.

Mas durante meses seu nome esteve associado à sucessão de Serra. Ora ele negava a pretensão. Ora a alimentava.

Deixou todo mundo confuso.

Na verdade, Ciro contava com a boa vontade de Lula para lhe ceder alguns pequenos partidos, de modo que ele pudesse dispor de tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão como candidato a presidente.

Lula não cedeu nenhum.

Cozinhou Ciro em fogo brando. E quando viu Dilma encostar em Serra nas pesquisas eleitorais, concluiu que chegara a hora de ordenar ao PSB que se livrasse de Ciro. O PSB obedeceu.

O que miss Ciro fará daqui para frente? Imprevisível, audaz e temerário, poderá fazer qualquer coisa ou simplesmente nada. Poderá cuidar apenas da reeleição do irmão, governador do Ceará, da reeleição do seu padrinho político, o senador Tasso Jereissati (PSDB), e da eleição para a Câmara da ex-mulher Patrícia Saboya. Ou poderá aplicar mais alguns golpes em Dilma para se vingar da ingratidão de Lula. Ninguém sabe.

O que se sabe: se Serra vencer, não haverá lugar para Ciro no governo. Os dois são desafetos. Ao dizer que Serra é mais bem preparado do que Dilma para ser presidente, Ciro fechou de vez a porta de um eventual governo de Dilma. Está completa a obra política mais que perfeita de Ciro.

Ciro Gomes: modos de usar:: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO -
É compreensível que os petistas procurem desqualificar as palavras de Ciro Gomes invocando a sua incoerência. O político que pretende falar em nome da moralidade, que reveste suas posições com verniz ideológico, não passa de um oportunista. Espalhar essa versão parece ser a melhor maneira de exorcizar a frase: "Serra é mais preparado, mais legítimo e mais capaz do que Dilma Rousseff".

Muitos comentários a respeito da entrevista de Ciro seguiram essa mesma linha. Seria apenas mais uma do homem-bomba. Seus ataques seriam apenas fogos de artifício. Afinal, Ciro não merece crédito. Mas não é incrível que o carimbo na testa tenha surgido justamente quando ele resolveu abrir a boca contra a candidata de Lula?

Enquanto o alvo era Serra (e é improvável que deixe de ser), Ciro parecia cumprir um papel. Era destemido ou, no máximo, uma espécie de "menino maluquinho", a quem se tolerava apesar dos exageros.

Eis que ele -humilhado pelo lulismo a que serviu- pretende dizer o que de fato pensa sobre a amiga Dilma. Pronto. Tornou-se o homem-maionese, um cascateiro, o vulcãozinho que é preciso isolar. Dois pesos, duas medidas.

Ninguém deve tomar a palavra de Ciro pelo valor de face, inclusive porque ele é instável.

Mas também não se deve agora transformar o que ele diz em moeda podre, sob o risco de deixar escapar o principal: a novidade não está no no clichê da "metralhadora giratória", mas no fato de que, contrariado, o aliado de peso lançou contra Dilma a principal crítica que lhe faz a oposição.

Que autoridade tem Ciro? Pelo menos a de quem conviveu com Lula e Dilma de perto, anos a fio, inclusive na crise do mensalão.

O impacto das suas palavras sobre a campanha talvez seja pífio, talvez não. Mas elas apanham Dilma num momento delicado. Há um mês, Serra era visto como um candidato hesitante e o PSDB parecia um ninho de cobras. De alguma maneira, as coisas se inverteram nas últimas semanas.

Agenda de Serra

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, pode voltar a se encontrar com o ex-governador Aécio Neves (PSDB) na quarta-feira, em Minas Gerais.

O dois devem ir à região de Uberaba para visitar a Expozebu, um dos maiores eventos agropecuários do país. Também está prevista a volta de Serra à Bahia amanhã para visitar Alagoinhas e Feira de Santana.

Nós bem atados nas alianças fluminenses

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Coligações no Rio não serão fáceis para governistas ou oposicionistas. Enquanto tucanos nem sequer têm nome para o Executivo local, PT pode ficar com palanques divididos

Ivan Iunes

Terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro se transformou em uma caixa de marimbondos tanto para os governistas quanto para a oposição. As principais alianças em torno das pré-candidaturas ao Palácio do Planalto de José Serra (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT) encontram dificuldades com aliados no estado, que concentra quase 11,5 milhões de eleitores. De olho no voto dos fluminenses, Serra e Dilma estiveram no Rio durante o fim de semana. O tucano preferiu evitar uma agenda política e participou das comemorações do aniversário da economista Maria da Conceição Tavares. A ex-ministra da Casa Civil esteve presente no mesmo evento, inclusive sentou-se ao lado do adversário, e se aventurou ontem no lançamento da pré-candidatura ao Senado de Lindberg Farias (PT).

A situação de governistas e de oposicionistas no Rio de Janeiro apresenta nós apertados a pouco mais de dois meses da confirmação das candidaturas. Do lado da aliança PSDB-DEM-PPS, nem sequer há um nome confirmado ao governo estadual. Aliado da oposição no estado, o PV encabeçaria a chapa majoritária, com Fernando Gabeira como candidato ao Palácio das Laranjeiras. Insatisfeito com nomes indicados pelo DEM para a chapa, o deputado federal ameaça abandonar a disputa. Do lado governista, o problema está na divisão de palanque entre o candidato à reeleição, governador Sérgio Cabral (PMDB), e o ex-governador Anthony Garotinho (PR); e na acomodação do senador Marcelo Crivella (PRB), que tentará a reeleição.

Durante o lançamento da pré-candidatura de Lindberg (leia mais na página 3), Dilma reforçou que a aliança petista é com Cabral, mas que não descartava subir também no palanque de Garotinho. “O único palanque do PT no Rio é o do Sérgio Cabral”, afirmou a pré-candidata. Sobre o apoio do ex-governador Garotinho, Dilma saiu pela tangente e disse que o comando da pré-campanha é quem decidirá as condições de participação. A declaração dúbia não irritou Garotinho. O ex-governador avisou, em entrevista por telefone ao Correio, que tem a petista como candidata preferencial da aliança, mas que o apoio ainda está em aberto. “Dilma ressaltou que outros palanques da base aliada não estão descartados no Rio de Janeiro. Da mesma forma, nós ainda estamos tratando dessa questão (apoio). Nada foi fechado”, avisou.

Disputa

No Senado, a chapa de Cabral entregou uma das cadeiras disponíveis para Lindberg Farias. O outro assento está sendo disputado pelo deputado estadual Jorge Picciani (PMDB) e pelo atual senador Marcelo Crivella (PRB). Político ligado a Cabral, Picciani é o favorito, mas Crivella teve melhores índices de intenção de votos nas últimas pesquisas. Caso as portas se fechem na chapa encabeçada pelo PMDB, Crivella teria dificuldades em encontrar um palanque forte na tentativa de permanecer no Senado. A coligação de Garotinho tem como candidato o deputado federal Manoel Ferreira (PR-RJ), inimigo político de Crivella e adversário na busca pelos votos dos evangélicos.

Na aliança oposicionista, a dificuldade está em fazer sentar-se à mesma mesa o pré-candidato ao governo Fernando Gabeira (PV) e um dos pré-candidatos ao Senado, César Maia (DEM). O deputado federal não quer pedir votos para o ex-prefeito do Rio de Janeiro e vice-versa. O raciocínio é de que o apoio cruzado acabaria por retirar votos de ambos, já que os eleitores dos dois não se bicam. Para tentar desatar o nó, Gabeira chegou a enviar uma consulta à Justiça Eleitoral sobre a possibilidade de inscrever mais de dois candidatos ao Senado pela chapa. Em caso de negativa do Tribunal Superior Eleitoral, o parlamentar ameaça desistir da candidatura para tentar permanecer na Câmara dos Deputados.

Serra faz visita relâmpago a Brasília

Após participar da comemoração dos 80 anos da economista Maria da Conceição Tavares, realizada no sábado à noite, na Casa do Minho, no Cosme Velho, Zona Sul do Rio de Janeiro, o pré-candidato tucano à Presidência da República, José Serra, cumpriu uma agenda rápida em Brasília.
Por volta das 23h, Serra chegou à capital federal para participar de um jantar na casa da escritora Vera Brant em homenagem ao novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso. Além do pré-candidato e do homenageado e sua família, participaram do encontro o vice-presidente do STF, Carlos Ayres Britto, e outras autoridades. Para animar a noite, Brant organizou uma roda de música popular com Danilo Caymmi, Reco do Bandolim e Fernando Brant. Serra voltou a São Paulo por volta das 3h, logo após a festa, em um jatinho particular.

Oposição tenta corrigir erros para voltar ao poder

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Marcelo de Moraes de Brasília - O Estado de S.Paulo

Nas campanhas anteriores, disputas e desentendimentos entre alguns dos principais representantes do PSDB e DEM minaram as chances de sucesso eleitoral nas corridas presidenciais. Foi o caso, por exemplo, do processo de disputa interna do PSDB que acabou definindo o então governador Geraldo Alckmin como candidato à Presidência em 2006.

Naquela disputa o então prefeito da capital José Serra era a opção considerada mais lógica até por adversários. Apontado como tendo maior potencial eleitoral para barrar a reeleição de Lula, Serra demorou a definir sua candidatura e acabou sendo surpreendido pela movimentação de bastidores de Alckmin. Escolhido candidato de uma oposição dividida e desinteressada, o tucano não teve fôlego para impedir a vitória do PT.

Divisão semelhante já havia ocorrido em 2002, quando Serra foi apoiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para sucedê-lo, mas perdeu o apoio formal do tradicional parceiro PFL, que tinha cedido o candidato a vice nas duas campanhas anteriores. Os pefelistas enxergaram a mão do PSDB paulista na implosão da pré-candidatura presidencial de Roseana Sarney e não se empenharam por Serra.

De quebra, Serra enfrentou o descontentamento do cearense Tasso Jereissati, também interessado em concorrer, e que reclamava da falta de discussão interna para a definição do candidato. Com pouco jogo de cintura dos dois lados, os tucanos de São Paulo e do Ceará ficaram distantes durante toda a campanha e a derrota foi questão de tempo.

Agora, líderes da oposição como os próprios José Serra, Tasso, Alckmin, Cesar Maia e o mineiro Aécio Neves adotam linha mais conciliatória nas relações e na formação de alianças justamente para evitar estragos políticos ocorridos anteriormente.

Mandato. Foi o que aconteceu n o processo de costura da aliança entre Serra e Aécio, por exemplo, mesmo depois que o ex-governador mineiro perdeu a corrida para se tornar candidato à sucessão de Lula. Serra acenou com o apoio ao fim da reeleição presidencial e de um mandato único de cinco anos, o que, em tese, reduziria o tempo de espera de Aécio para concorrer à Presidência. Além disso, ofereceu ao mineiro a vaga de vice-presidente e a ocupação de espaços estratégicos dentro de seu governo, caso seja eleito.

Serra tem procurado também atrair para seu lado antigos parceiros políticos do PSDB. O ex-presidente Itamar Franco (PPS) tem sido afagado pelo tucano, de quem nunca foi próximo, em busca de uma aliança que reforce sua presença em Minas.

A razão para essa mudança de comportamento é uma só: o instinto de sobrevivência. A oposição recebeu análises feitas por especialistas dando conta de que a eleição deste ano poderá ser a mais estratégica para seu futuro.

Se Dilma Rousseff vencer, garantirá ao PT seu terceiro mandato presidencial consecutivo e a perspectiva de poder eleger Lula para mais dois mandatos seguidos, a partir de 2014.
Caminharia, assim, para concretizar um projeto de poder de vinte anos.

Natural. Para Cesar Maia (DEM), ex-prefeito do Rio e que também adota tom conciliatório para garantir no Estado a aliança em torno de Serra, o processo de boa vontade a oposição foi natural.

"É sempre assim. Na oposição, as diversas forças se juntam mais. Lembre-se da máxima: a esquerda só tem unidade na prisão. Mas o processo na oposição foi mais lógico. Alguma espuma pelo Serra manter-se calado em 2009 sobre candidatura. Mas nunca foi questionada sua capacidade e liderança no processo, mesmo quando se discutia a eleitorabilidade de Aécio", avalia.

A tarefa da oposição tem sido facilitada também pelo fato de se reunir em torno de apenas três partidos (PSDB, DEM e PPS), formando alianças regionais pontuais com outras legendas.

Para o governo, apoiado por mais de dez partidos, se tornou impossível conciliar todos os interesses regionais.

Guerra: 'O Brasil tomou nota do que Ciro falou'

DEU EM O GLOBO

Em entrevista pelo Twitter, presidente do PSDB diz que declarações sobre Dilma são "verdades"

BRASÍLIA. O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), comemorou ontem discretamente em entrevista ao jornalista Ricardo Noblat, por meio do Twitter, as declarações do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) sobre a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Segundo ele, os comentários de Ciro são “verdades” e o Brasil não vai esquecê-los. Irritado com o PT e com seu próprio partido, Ciro disse, na semana passada, que o pré-candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra (SP), é mais bem preparado para governar do que Dilma.

— Ciro é uma pessoa que fala o que pensa. O que ele disse sobre Dilma são verdades. O Brasil tomou nota do que o Ciro falou e não vai esquecer disso — afirmou Guerra.

O presidente do PSDB evitou especular sobre como Ciro vai se posicionar na corrida presidencial, mas destacou: — Ciro afirmou que Serra estava mais qualificado para governar do que Dilma. Para mim, isso já é o bastante.

Segundo Guerra, um governo Dilma seria “fraco e antidemocrático”, enquanto um governo Serra seria “democrático, eficiente e sem aparelhamento”.

O senador afirmou que o PSDB no poder daria mais dinheiro ao programa Bolsa Família e não privatizaria o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e a Petrobras.

Mesmo assim, disse que o partido faria um governo austero e gastaria com responsabilidade.

Senador diz que aliança com o PP não foi decidida O senador descartou a possibilidade de o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, ser vice na chapa de Serra.

Disse também que ainda não há decisão sobre uma possível aliança com o PP, que teria como resultado o senador Francisco Dornelles (PP-RJ) se tornar vice de Serra: — O PP vai decidir o seu rumo mais à frente.

Guerra afirmou que as pesquisas eleitorais encomendadas pelo PSDB no Nordeste mostram a liderança de Serra em Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte. Já Dilma está na frente na Bahia e no Maranhão.

Ciro lidera no Ceará.

PSB quer tirar cargos de Ciro no governo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O deputado Ciro Gomes virou alvo de fogo amigo no PSB. Em retaliação às críticas ao presidente Lula e ao PSB, integrantes da cúpula do partido querem afastar os protegidos por Ciro no governo. O principal alvo é a Secretaria de Portos, cujo titular foi indicado por ele.

Ciro vira alvo de fogo amigo no PSB e pode perder seus cargos no governo

Eugênia Lopes, de Brasília - O Estado de S.Paulo

A um dia de perder a legenda para disputar a Presidência da República, o deputado Ciro Gomes (CE) transformou-se em alvo de fogo amigo do próprio PSB. Em retaliação às críticas desferidas pelo deputado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PSB, integrantes da cúpula partidária defendem que Ciro perca os cargos que possui no governo.

Na mira dos dirigentes socialistas está a Secretaria de Portos, que tem status de ministério, sob o comando de Pedro Brito, homem de confiança de Ciro Gomes. A Secretaria de Portos comanda sete Companhias Docas pelo Brasil e foi criada pelo presidente Lula, em 2007, para atender à reivindicação do PSB de mais espaço no governo.

Secretário executivo de Ciro Gomes no Ministério da Integração Nacional, no primeiro mandato de Lula, Brito ganhou o cargo por indicação do deputado. Antes, ele ocupou por quase um ano a titularidade da pasta da Integração Nacional, com a saída de Ciro Gomes para disputar uma cadeira na Câmara, em 2006. O sucessor de Brito na Integração Nacional foi o peemedebista Geddel Vieira Lima, hoje candidato ao governo da Bahia.

O Orçamento de 2010 para a Secretaria de Portos é de R$ 1,5 bilhão. Desse total, R$ 300 milhões já foram empenhados, ou seja, podem ser usados, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). São 34 portos públicos marítimos sob a gestão da secretaria e sete Companhias Docas: do Pará, do Ceará, do Rio Grande do Norte, da Bahia, do Rio de Janeiro e de São Paulo, responsável pelo Porto de Santos.

A Executiva Nacional do PSB se reúne amanhã para bater o martelo sobre a retirada da pré-candidatura de Ciro da corrida presidencial. A expectativa é que o partido apoie a candidatura de Dilma Rousseff (PT).

Em troca, o PT deverá permitir que partidos aliados se coliguem com o PSB em alguns Estados. Seria o caso de São Paulo, onde o pré-candidato do PSB ao governo, Paulo Skaf, quer atrair para sua chapa o PR e o PC do B.

As críticas feitas por Ciro a Lula e ao PSB irritaram integrantes da cúpula do partido, que, nos bastidores, passaram a defendem as retaliações.

O presidente do partido e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, não gostaram da reação de Ciro diante da iminência de ter a candidatura negada. O deputado os acusou de não estarem "no nível que a história impõem a eles". Outro que ficou aborrecido foi Lula, que foi surpreendido com a comparação feita entre Dilma e o pré-candidato tucano, José Serra. Ciro disse que "Dilma é melhor do que Serra como pessoa, mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz".

Polêmica. A ordem do Palácio do Planalto e do PSB é, no entanto, evitar responder às críticas e não polemizar com Ciro. Na avaliação dos socialistas, a candidatura dele perdeu densidade com a polarização da eleição presidencial entre Dilma e Serra.

Um dos sinais de que o próprio Ciro teria jogado a toalha em relação a sua entrada na disputa foi o fato de Pedro Brito não ter se desincompatibilizado, no início de abril, para disputar uma vaga na Câmara pelo Ceará.

Na reunião da Executiva do PSB, a direção apresentará levantamento que mostra a maioria dos diretórios hoje contra a candidatura Ciro.

Site de petista se explica sobre foto de Norma Bengell

DEU EM O GLOBO

Imagem da atriz aparece em seção que conta vida de Dilma Rousseff

André Miranda

Uma foto da atriz Norma Bengell no site da pré-candidata Dilma Rousseff causou constrangimento neste fim de semana, no site oficial da candidata do PT à Presidência.

Na imagem, Norma, de cabelos curtos e expressão decidida, surge à frente de um cartaz com os dizeres “Contra a censura pela cultura”, entre duas outras fotos, numa seção intitulada “Minha vida”, com a biografia de Dilma. A primeira foto, à esquerda, mostra Dilma ainda criança, enquanto a última, à direita, apresenta a candidata numa foto recente. No sábado, ao se passar o mouse do computador pela imagem, uma mensagem aparecia no monitor: “Conheça Dilma”. Ontem, responsáveis pelo site mudaram a legenda das três fotos para “Dilma criança, manifestantes nos anos 60 e Dilma já ministra”.

Em nota divulgada ontem, o site “Dilma na web”, lançado no último dia 19, diz que “lamenta profundamente a interpretação equivocada da foto que traz a atriz Norma Bengell participando de uma passeata contra a ditadura.

Jamais houve a intenção de confundir a sua imagem com a de Dilma, o que seria estapafúrdio, ainda mais se tratando de uma figura pública”.

No site da campanha, não há qualquer identificação da origem da imagem. A foto original, tirada em 1968, pode ser facilmente encontrada na internet.

Nela, além de Norma, aparecem as atrizes Tônia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara e Ruth Escobar e o crítico de arte Mário Pedrosa, entre outros. Todos estavam numa passeata, no Rio, pedindo o fim do controle sobre a produção cultural no país.

A nota afirma que o site usa outras fotos de passeatas contra a ditadura: “Dilma participou de todas essas lutas. Elas fazem parte de sua vida e da vida de milhões de brasileiros.

Lamentamos eventuais mal-entendidos que possam ter ocorrido e tomaremos providências para evitá-los”. No blog, a descrição da trajetória de Dilma nos anos 1970 utiliza o mesmo cartaz da foto da capa do site (“Contra a censura pela cultura”), mas numa montagem com outra passeata.

Serra e Dilma à mesa com Conceição

DEU EM O GLOBO

Tucano aproveitou para pedir votos na festa de economista; petista dançou o vira

Bruno Villas Bôas e Flávio Tabak


Adversários na política, os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rouseff (PT) sentaram-se anteontem à mesma mesa, no Rio, no aniversário de 80 anos da economista Maria da Conceição Tavares. Por 40 minutos, os dois estiveram lado a lado, separados pela aniversariante.

Dilma e Serra disseram ter tratado apenas de amenidades, dadas as circunstâncias do encontro, organizado na Casa do Minho, clube de origem portuguesa no bairro do Cosme Velho.

À exceção de uma ligeira conversa entre Serra e excompanheiros de exílio, a festa não ganhou ares eleitorais. Conceição estava tão alegre que até puxou um trenzinho com os convidados. Ela só saiu da festa às 2h, com fôlego de sobra para mais uma rodada de conversas com amigos e ex-alunos em sua casa.

Segundo um convidado que participou da roda entre Serra e os colegas de exílio, o tucano teria perguntado: “Vocês vão votar em mim, né?”. Serra teria emendado: “O meu governo vai ser mais à esquerda que o da Dilma. Controlo minha turma, não sei se ela vai controlar o PMDB”. Quando os pré-candidatos levantaram-se para uma foto ao lado da decana, os cerca de 70 convidados aplaudiram.

Serra chegou às 20h45m e saiu às 22h, antes da apresentação do grupo de dança portuguesa Rancho Folclórico Maria da Fonte. Dilma aceitou o convite de um integrante e dançou o vira, assim como a própria Conceição, que nasceu em Portugal.

Ao sair da festa, Dilma, ex-aluna da economista, disse aos jornalistas que o encontro com o adversário foi amistoso: — Foi muito bom encontrar o Serra.

Sempre tivemos uma relação cordial, amigável.

(A conversa) foi mais social, é um ambiente que propicia isso.

Serra, que não quis falar sobre o naufrágio da pré-candidatura de Ciro Gomes (PSB), seguiu no mesmo tom: — Foi uma conversa normal.

Tenho uma relação cordial com ela (Dilma). Fui um dos primeiros a chegar, fiquei lá com a Conceição.

Disse a ela que tudo o que queria era estar do jeito que ela está com a idade dela.

De vestido verde-esmeralda longo, com um bolero rendado da mesma cor, Conceição chegou por volta das 20h30m. A aniversariante dançou muito. O parabéns ocorreu pouco antes da meia-noite.

Também houve apresentação do grupo de percussão dos netos Leon e Ivan. Eles vestiram a camisa do Vasco, time de Conceição. Ela ganhou a nova camisa do clube com seu nome impresso e o número 80.

Na lista de convidados, ex-alunos e colegas como Luiz Gonzaga Belluzzo (presidente do Palmeiras), Jorge Mattoso (expresidente da Caixa), Vladimir Palmeira, o ex-prefeito do Rio Saturnino Braga, a ministra Nilcéa Freire (Secretaria de Políticas para as Mulheres), entre outros.

— Foi uma festa ótima, com muitos amigos.

Só houve polêmica quando o assunto foi futebol. Falamos de tudo, mas não de política. Pra quê? — disse Conceição.

UNE decide não declarar apoio a candidatos

DEU EM O GLOBO

Entidade defende independência. Campanha anti-Serra também não foi votada na plenária final do Coneg

Dandara Tinoco

A União Nacional dos Estudantes (UNE) decidiu ontem não declarar apoio a candidatos nas eleições para a Presidência da República. A discussão marcou o fim do 58oConselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg), realizado no terreno da futura sede da entidade, na Praia do Flamengo. Havia pressão de alguns grupos para que a UNE apoiasse a précandidata Dilma Rousseff (PT).

No entanto, a proposta não foi à plenária final, já que a corrente, minoritária, foi convencida a recuar na madrugada de ontem. A ideia de fazer uma campanha contra o pré-candidato à Presidência José Serra (PSDB) também não seguiu em frente.

Apesar da opção pela independência, a proposta aprovada em votação pela grande maioria dos 300 delegados faz críticas ao neoliberalismo e à política do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em um trecho, declara que seus dois governos “quebraram o país e produziram efeitos sociais devastadores”.

Presidente da UNE, Augusto Chagas era um dos que defendia a neutralidade da entidade.

Ele comemorou o resultado: — Conseguimos reafirmar algo que é muito valioso para a UNE: sua independência e sua pluralidade. A UNE sai daqui sabendo o que quer e o que não quer. Vamos lutar para que o Brasil não retroceda em determinadas políticas que, na nossa opinião, são muito negativas.

“Um programa muito próximo ao programa dela” Para Chagas, a decisão de não apoiar um candidato é também uma resposta aos que acusam a entidade de não fazer oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de ter se tornado “chapa-branca”. Na última terça-feira, a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado aprovou projeto do governo que prevê indenização de até R$ 30 milhões para a construção da nova sede da UNE. O projeto foi apresentado em 2008 por Lula.

Tássio Brito, um dos líderes da Articulação de Esquerda, corrente ligada ao PT que defendia o apoio a Dilma, disse não considerar o resultado do Coneg uma derrota: — Um congresso é construído a partir de conversas com as frentes políticas em nome de uma unidade. Apesar de não termos saído com o apoio a Dilma, saímos com um programa muito próximo ao programa dela, o que nos dá tranquilidade inclusive de ser um instrumento para que a gente faça campanha.

A União da Juventude Socialista (UJS), braço político do PCdoB e a Construindo um Novo Brasil (CNB), ligada ao PT, estão entre os grupos que escreveram o programa. O texto defende a destinação de 50% dos recursos do Fundo do Pré-Sal para a educação, o Plano Nacional da Banda Larga e o 3oPlano Nacional de Direitos Humanos (PNDH).

O presidente da UNE não descarta a possibilidade de que a entidade se decida por um candidato oficial se houver um segundo turno.

“A UNE está desconstruindo sua história” :: Gil Castello Branco, Economista da ONG Contas Abertas

DEU NO ZERO HORA (RS)

Mesmo que a UNE tenha optado por não apoiar Dilma Rousseff (PT), o economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, mantém a crítica em relação à entidade. Para ele, a UNE perdeu a independência.

ZH – Como o senhor avalia a posição da UNE em relação ao governo Lula?

Gil Castello Branco – A UNE vai reconstruir sua sede no Rio, mas está desconstruindo sua história. O movimento estudantil, quando subvencionado pelo governo, perde sua essência, perde sua independência.

ZH – A entidade está alinhada ao governo?

Castello Branco – Não se trata nem de uma postura neutra, mas de uma postura pró-governo. Não vi os estudantes da UNE nas ruas durante a crise envolvendo o senador José Sarney. Não vi os estudantes atuando pelas investigações durante a CPI da Petrobras. Ao contrário, tinham uma posição favorável à postura governista.

ZH – Qual deveria ser a postura da UNE, na sua opinião?

Castello Branco – Precisamos da ousadia dos jovens. E isso se perde quando eles estão cooptados. Não é bom para o Brasil que a UNE seja dependente do governo. Ela perde sua capacidade crítica. E isso vale para qualquer governo, seja de Lula, Sarney ou José Serra.

Lançamento do livro de Marco Aurélio Nogueira/SP

O lançamento do livro sobre Joaquim Nabuco ocorrerá no Instituto Fernando Henrique Cardoso e terá a abertura do próprio FHC.


Dia: 29 de abril (sexta-feira)

Local:
Sede do IFHC (Rua Formosa, 376 - 6º andar. Praça Ramos, Anhangabaú.

Horário: 16 h.

Debate com o historiador carioca Ricardo Salles.

Sessão de autógrafo: às 17.30 h.

Regular e supervisionar as finanças:: Luiz Carlos Bresser-Pereira

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A crise convenceu a todos de que a teoria econômica neoclássica dos mercados autorregulados é enganadora

EM NOVA YORK , os dois temas que continuam a dominar a discussão de economistas e financistas são o "grande demais para quebrar" ("too big to fail") e a necessária regulação e supervisão dos bancos. Em outras palavras, pergunta-se, de um lado, como impedir que os grandes bancos comerciais façam operações arriscadas porque sabem que, na última hora, serão socorridos, e, de outro, como regulá-los e supervisioná-los melhor. Essa dupla preocupação dominou a Conferência Minsky, organizada pelo Levy Institute e patrocinada pela Fundação Ford. Participaram dela um equilibrado número de financistas, representantes do governo (inclusive três diretores do banco central americano) e professores de economia.Na conferência, poucos se mostraram seguros quanto à solidez da recuperação econômica depois da crise.

Boa parte dos que intervieram nos debates se mostrou convencida de que a crise poderá voltar a qualquer momento, principalmente porque, apesar do empenho do presidente Barack Obama, o governo não foi ainda capaz de re-regular o sistema financeiro desregulado durante os 30 Anos Neoliberais (1979-2008). Há também uma grande insatisfação com a teoria econômica ortodoxa ou convencional, que, evidentemente, contribuiu para a crise ao pressupor um mercado financeiro eficiente, autorregulado.

Em relação ao problema do "grande demais para quebrar", a solução apresentada por Paul Volcker -ex-presidente do Fed e hoje assessor especial de Obama- de proibir os bancos de realizarem operações de tesouraria (uma espécie de volta à separação dos bancos comerciais dos bancos de investimento) dividiu as opiniões. Volcker argumentou que a medida é necessária para impedir que os bancos participem de operações financeiras arriscadas demais. Entretanto, muitos consideraram a proposta pouco realista; incompatível com a necessária rentabilidade dos bancos comerciais. Melhor será regulá-los e supervisioná-los mais cerradamente, já que são entidades quase públicas que criam crédito e, portanto, dinheiro.

Embora a principal causa da crise tenha sido a desregulação do sistema financeiro promovida no início dos 30 Anos Neoliberais, houve também grande falha de supervisão, já que muitas operações com securitização e derivativos não eram apenas excessivamente arriscadas; elas violavam a regulação ainda existente, implicando fraude. Esse fato, assinalado por diversos participantes, foi mais uma vez confirmado no dia seguinte ao término da conferência, quando os jornais publicaram que a SEC acusou de fraude e iniciou ação civil contra o banco Goldman Sachs, porque este teria participado, com o fundo hedge Paulson & Co., da securitização e empacotamento de hipotecas que sabiam ser de baixa qualidade. Eles as venderam para clientes e outros bancos mal informados para, em seguida, o próprio banco e o fundo hedge apostarem contra esses mesmos títulos e, assim, obterem enorme ganho à custa dos que compraram os títulos empacotados.

Nessa fraude, o fundo ganhou US$ 1 bilhão, enquanto Goldman Sachs ganhava quase a mesma quantia.

Antes da crise, muitas operações desse tipo passaram sem supervisão, não por falta de regulação, mas porque se supunha que os mercados eficientes tudo regulavam. A crise global ainda custará muito ao mundo, mas, pelo menos, convenceu a todos quão importante é a regulação e a supervisão e quão enganadora é a teoria econômica neoclássica dos mercados autorregulados.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Globalização e Competição".

Nos EUA, Marina critica aproximação entre Brasil e Irã

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A pré-candidata do Partido Verde à Presidência, senadora Marina Silva, criticou ontem a política do governo Lula de aproximação com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. "O Brasil é a única democracia ocidental que tem dado audiência para o Ahmadinejad. A própria China não tem dado, nem a Rússia", disse Marina, que está em Washington para participar de um evento de comemoração dos 40 anos do Dia da Terra.

Um dos poucos países do mundo que se opõem à adoção de sanções na Organização das Nações Unidas (ONU) contra o programa nuclear iraniano, o Brasil tem uma atitude preocupante, na avaliação de Marina. "O Irã tem desrespeitado direitos humanos, ali tem presos políticos, pessoas são executadas."

Marina foi igualmente crítica com a atitude do governo Lula em relação ao desrespeito aos direitos humanos em Cuba. "Se de fato somos amigos, temos de fazer ver que a revolução se completa com a democracia", afirmou. "Se os direitos humanos são importantes para os brasileiros, também são importantes para os cubanos."

Paraguai pedirá que Brasil retire status de refugiado de 3 membros do EPP

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

País teme que Brasil vire 'santuário' para integrantes da guerrilha esquerdista planejarem operações

Jamil Chade, de O Estado de S. Paulo

GENEBRA- O Paraguai teme que o Brasil se transforme em um "santuário" para membros do Exército do Povo Paraguaio (EPP) e quer que a ONU declare como ilegal o status de refugiado dado por Brasília a três supostos membros do grupo.

A diplomacia paraguaia levará o caso também à Organização dos Estados Americanos (OEA) e confirma que parte das informações de que o Paraguai dispõe hoje sobre o grupo acusado de sequestros e assassinatos foi passada pela própria Polícia Federal brasileira em uma ação de escuta no território vizinho.

A delegação paraguaia entregará hoje à ONU uma carta em que dirá que "o refúgio não pode ser sinônimo de impunidade". No fim de semana, o Congresso do Paraguai decretou estado de exceção em cinco departamentos diante da atuação do EPP. Na ONU, Assunção ainda mostrará documentos que ligam as atividades do grupo às Farc, na Colômbia.

O problema, segundo os paraguaios, é que o Brasil se recusa a rever a decisão que tomou há seis anos, concedendo status de refugiado político aos paraguaios Juan Arrom, Anuncio Martí e Víctor Colmán, supostos integrantes do EPP com posições de alto escalão na estrutura do grupo.

Ao Estado, a assessoria de imprensa da ONU confirmou que a entidade não tem o poder de cancelar o status de refugiado dado pelo Brasil. Mas poderá emitir um parecer.

Os paraguaios querem então usar o parecer para pressionar o Ministério da Justiça a levar em consideração seu pleito, já que alegam que os beneficiados do status de refugiados são membros chave do EPP e que usam o território brasileiro para coordenar a ação do grupo. A meta é a de conseguir a extradição dos acusados para que sejam levados à corte no Paraguai por "delitos comuns".

Polícia Federal

Segundo os paraguaios, a própria PF brasileira já constatou a atuação de caráter criminoso do EPP. O serviço de inteligência da Polícia Federal brasileira teria atuado no Paraguai para realizar escutas telefônicas por 45 dias. Seis oficiais brasileiros desembarcaram no país ainda em dezembro e usaram um avião da Força Aérea Brasileira, atuando em Assunção e Paso Barreto.

Três grupos de escuta foram estabelecidos, com meta de interceptar comunicações dos membros do EPP. A partir da informação coletada, a PF iniciou a busca por tentar localizar de onde vinham as chamadas, o que indicaria o local de acampamento do EPP. O resultado do trabalho indicou que o acampamento ficava na região de Puerto Casado. O serviço secreto colombiano também cooperou na operação.

Oposição se une contra Chávez

DEU EM O GLOBO

Primárias ocorridas ontem visam a indicar candidatos parlamentares únicos

Mariana Timóteo da Costa, Correspondente


CARACAS. A oposição estima que mais de um milhão de eleitores compareceram ontem às urnas em oito dos 24 estados da Venezuela que realizaram primárias para escolher candidatos à Assembléia Nacional nas eleições de 26 de setembro.

A votação, inédita no país, foi convocada depois que a oposição resolveu apresentar uma lista única de candidatos a vagas de deputado, numa tentativa de unir forças contra o governo de Hugo Chávez. Em um terço dos estados não houve consenso sobre a lista e, então, a população foi chamada para escolher os nomes em diversas zonas eleitorais.

— A votação foi um sucesso.

Estimamos que 10% ou mais dos 16 milhões de eleitores da Venezuela (numa população de 26 milhões) foram às urnas. E isso somente em um terço de nossos estados. Unir forças é a melhor maneira de combater a desigualdade que o chavismo impôs a nosso sistema eleitoral — disse ao GLOBO Delza Solórzano, dirigente do Um Novo Tempo, o maior partido de oposição do país.

Dezesseis partidos políticos e 42 outros movimentos compõem a chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), responsável pelas primárias. De acordo com uma lei aprovada em 2009 pelo Parlamento dominado por chavistas — já que a maior parte da oposição desistiu de participar do pleito em 2005 —, os partidos só podem apresentar 167 candidatos cada um; o número exato de cadeiras na assembleia. Para a oposição, isso tornou a votação extremamente desigual porque já dá, de antemão, vantagem ao PSUV (o partido de Chávez, que realizará suas primárias em 2 de maio).

— E enquanto nas nossas primárias qualquer um pode votar, nas do PSUV só votam filiados ao partido — lembra Solórzano, que foi nomeada candidata a uma das 13 vagas que a Venezuela tem direito no Parlamento Latino-americano, eleição que também será decidida em 26 de setembro.

Numa escola localizada no bairro de Altamira, em Caracas, o comerciante José Pita, de 54 anos, esperava pacientemente na fila há uma hora: — As primárias são um exemplo da democracia que desejamos para o nosso país. É verdade que as armas que temos são desiguais, mas espero que o voto vença. Se a oposição tivesse se unido antes, Chávez não estaria onde está.

Ontem, em seu programa dominical “Alô Presidente”, Chávez não fez mais comentários sobre a votação. O presidente mencionou a viagem que fará ao Brasil esta semana, para encontrar-se bilateralmente com o colega de cargo Luiz Inácio Lula da Silva, a quem se referiu como amigo.

A hora da decisão

DEU NO EXTRA (RJ)

O Prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira (PDT), reuniu seu secretariado para anunciar que seus candidatos na eleições de outubro serão Jorge Picciani (Senado), Sergio Zveiter (deputado federal) e Comte Bittencout (estadual).

O único que demonstrou algum descontentamento com o anúncio foi Moreira Leite (PP), secretário de Relações Institucionais. Ele disse que já firmou compromisso com o ex-secretário de Trabalho de Niterói Osvaldo Maneschy (PDT), para estadual.

O nome de Picciani foi consenso.

Canto a García Lorca:: Murilo Mendes


Não basta o sopro do vento
Nas oliveiras desertas,
O lamento de água oculta
Nos pátios da Andaluzia.

Trago-te o canto poroso,
O lamento consciente
Da palavra à outra palavra
Que fundaste com rigor.

O lamento substantivo
Sem ponto de exclamação:
Diverso do rito antigo,
Une a aridez ao fervor,

Recordando que soubeste
Defrontar a morte seca
Vinda no gume certeiro
Da espada silenciosa
Fazendo irromper o jacto

De vermelho: cor do mito
Criado com a força humana
Em que sonho e realidade
Ajustam seu contraponto.

Consolo-me da tua morte.
Que ela nos elucidou
Tua linguagem corporal
Onde el duende é alimentado
Pelo sal da inteligência,
Onde Espanha é calculada
Em número, peso e medida.

In: MENDES, Murilo. Antologia poética. Sel. João Cabral de Melo Neto. Introd. José Guilherme Merquior. Rio de Janeiro: Fontana; Brasília: INL, 1976