terça-feira, 18 de maio de 2010

Reflexão do dia – Karl Marx



É este o fundamento da crítica irreligiosa: o homem faz a religião a religião não faz o homem. E a religião é de fato a autoconsciência e o sentimento de si do homem, que ou não se encontrou ainda ou voltou a se perder. Mas o homem não é um ser abstrato, acocorado fora do mundo. O homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Este Estado e esta sociedade produzem a religião, uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido. A religião é a teoria geral deste mundo, o seu resumo enciclopédico, a sua lógica em forma popular, o seu point d’honneur espiritualista, o seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua base geral de consolação e de justificação. É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana não possui verdadeira realidade. Por conseguinte, a luta contra a religião e, indiretamente, a luta contra aquele mundo cujo aroma espiritual é a religião.

(Karl Marx, “Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”, Introdução, 1843, Pag. 145 – Boitempo Editorial, São Paulo, 2005)

Bons ventos para Lula:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Os últimos dias trouxeram boas notícias para o presidente Lula em ambos os fronts em que atua com disposição inusitada para quem está em fim de mandato.

No front interno, seu esforço acima da lei teve a recompensa de levar pela primeira vez sua candidata à liderança de duas pesquisas eleitorais. Seria a comprovação de que o crime compensa.

No plano externo, o governo brasileiro saiu-se bem de uma empreitada arriscada ao fechar um acordo tripartite com Irã e Turquia sobre enriquecimento de urânio. Os dois assuntos se entrelaçam em ano eleitoral, com a política externa ganhando um destaque nunca anteriormente registrado em campanhas presidenciais.

Este não é um fenômeno apenas brasileiro, mas recorrente no novo mundo multipolar, especialmente em países que surgem como lideranças emergentes.

O fato de que Lula tem sido destacado pelos meios de comunicação internacionais como dos principais líderes mundiais ganha especial relevo na campanha petista, que, paradoxalmente, tenta desqualificar a importância da mídia nacional.

Nem as pesquisas, porém, indicam que a vitória de Dilma Rousseff são favas contadas, nem o acordo resolve o impasse sobre o programa nuclear iraniano.

Os dois fatos, no entanto, demonstram a capacidade operacional de Lula, que se transformou em um respeitável líder de atuação global, mesmo que não tenha chegado a uma solução definitiva como tentam fazer crer o governo brasileiro e os militantes petistas.

O fato de ter alcançado um acordo, mesmo parcial e de efeito altamente questionável, é louvável pela intenção de substituir pela negociação medidas mais drásticas por parte da comunidade internacional.

Mas, para que o acordo fosse eficaz, teria que ser seguido de gestos concretos do Irã, o que não aconteceu até o momento.

Por tudo isso, querer fazer de Lula o novo grande líder mundial é tão precipitado quanto arriscado, pois é possível que o acordo que obteve no Irã se transforme em motivo de chacota, ou de repúdio, internacional.

A vitória da diplomacia, como classificou Lula, pode em poucos dias se transformar na demonstração de que os iranianos conseguiram passar a perna em dois políticos ambiciosos e desejosos de poder (Lula e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan), e com isso ganhar tempo para continuar no seu projeto nuclear paralelo.

Desde que não fique posteriormente demonstrado que Brasil e Turquia não foram enganados, mas cúmplices do Irã em mais uma manobra destinada a dificultar as sanções internacionais. Ou que o Brasil aceitou participar de mais uma farsa iraniana para se contrapor aos Estados Unidos no plano internacional.

Das hipóteses que estão nas discussões internacionais, a melhor para o Brasil, e a que considero correta, é a de que tentou sinceramente levar o Irã de volta ao convívio internacional, embora sem sucesso.

Não é preciso nem mesmo pedir uma só razão para que se acredite que o governo de Teerã irá cumprir o mesmo acordo que firmou com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e depois rompeu, em outubro do ano passado.

O fato de o governo do Irã ter anunciado horas após a divulgação do acordo que continuará a enriquecer urânio a 20% sem a fiscalização dos organismos internacionais já demonstra que a disposição de descumprir o espírito do acordo esteve presente desde sempre.

A única razão para a AIEA exigir que o urânio seja enriquecido fora do Irã é impedir que o governo teocrático de Teerã tenha o controle do programa nuclear fora das vistas do resto do mundo.

Se ele anuncia a disposição de continuar a enriquecer o urânio sem a supervisão da AIEA, o resultado do acordo conseguido pelo Brasil é nulo.

O mínimo que poderá acontecer é a AIEA exigir que seja aumentada a quantidade de urânio pouco enriquecido a ser enviada para a Turquia, já que desde o fracassado acordo do ano passado, o Irã continuou a enriquecer urânio, e hoje seu estoque deve estar bem maior do que era naquela ocasião.

Esse acordo internacional, mesmo que apenas simbólico, terá porém efeito na campanha presidencial, alavancando ainda mais a popularidade de Lula e sua capacidade de tentar influir no resultado da eleição a favor da candidatura oficial de Dilma Rousseff.

As lideranças petistas já passaram a cantar as glórias internacionais de Nosso Guia, transformado na retórica governista no novo líder mundial, potencial candidato a Nobel da Paz. Lula, de fato, é um possível vencedor do Nobel, mas se vencer será menos pela política de aproximação com o Irã, e sim como campeão mundial contra a fome, título que ganhou recentemente da ONU.

Aliás, a relação do governo Lula com países que desrespeitam os direitos humanos, como Irã e Cuba, só faz tirar-lhe pontos na cotação internacional.

O Nobel da Paz é anunciado no início de outubro ano passado foi no dia 9 , justamente entre o primeiro turno da eleição presidencial, a 3 de outubro, e um eventual segundo turno, a 31 de outubro.

Mesmo que não seja o vencedor, certamente o programa da candidata oficial tentará tirar proveito do prestígio internacional de Lula.

A liderança nas pesquisas do Vox Populi e do Sensus, na verdade um empate técnico, mesmo se for confirmada pelos dois institutos de opinião mais tradicionais, o Ibope e o Datafolha, chega mais tarde do que estava previsto pelos governistas, e com maiores dificuldades.

O fato de que essa liderança foi conseguida pela primeira vez após esforço pessoal de Lula, que transgrediu a legislação eleitoral em duas ocasiões, no programa do 1ode maio e no do PT, só demonstra a dificuldade da empreitada.

O fato é que este é o melhor momento da campanha da candidata oficial até as convenções de junho, e ajudará a manter os palanques regionais e as coligações para garantir o tempo de televisão.

O sal da terra:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Pesquisas eleitorais, dizem os especialistas, nessa altura não retratam intenções consolidadas de votos. Não convém, no entanto, desprezar seus resultados.

Por mais que, para efeito externo, partidos e candidatos prefiram simular certa indiferença, os índices das pesquisas podem servir como indicadores para o cotejo entre as ações de campanha e a percepção que o eleitorado tem desses atos.

Nesta semana começaram a ser divulgadas as pesquisas da primeira rodada desde o lançamento, digamos, oficioso, das candidaturas presidenciais.

Faltam ainda os institutos Ibope a Datafolha, cujos trabalhos serão publicados nos próximos dias.

Vox Populi e Sensus apontam uma novidade: situação de empate técnico com vantagem para Dilma Rousseff sobre José Serra. No primeiro, a petista tem 38% contra 35% do tucano e, no segundo, a diferença é de 35% a 33%.

Há variadas versões correntes na praça para explicar a esperada ? pelo PT ? "ultrapassagem" de Dilma sobre Serra. Uma, governista, se sustenta em teorias eleitorais do presidente Luiz Inácio da Silva, cuja comprovação levaria necessariamente à conclusão de que a eleição já está decidida.

A outra, oposicionista, decorre de argumento conhecido: a superexposição da pré-candidata, ajudada pela ausência de escrúpulos de seu padrinho, o presidente Lula, em usar todos os instrumentos de governo e até da afronta à Lei Eleitoral para ocupar espaços de propaganda.

Mesmo sem ter a confirmação dos dados do crescimento dos índices da adversária nem concordar com os números registrados, o PSDB não contesta os resultados do Vox Populi e do Sensus. Diz que José Serra continua na frente, mas que a diferença se reduziu para dois ou três pontos.

O que houve? Segundo os tucanos, resultado do pronunciamento de caráter eleitoral de Lula em rede nacional no 1.º de Maio, da presença de Dilma nas festas do Dia do Trabalhador, do uso das inserções de 30 segundos do PT para propaganda eleitoral na TV do já notório programa do partido de quinta-feira passada.

Tudo verdade. Menos o argumento de que Lula e Dilma falaram sozinhos durante o tempo todo.
Falaram, e indevidamente, por ocasião dos espaços reservados ao presidente e ao partido.

Mas no restante do tempo o pré-candidato José Serra esteve todos os dias presente no noticiário.
E, segundo avaliação preponderante, em situação muito mais favorável que a candidata do PT.

Do dia 10 de abril para cá a situação de desigualdade já não ficou mais tão desigual quanto era até então.

Na realidade, quando Serra e Dilma saíram a campo na condição de pré-candidatos a desigualdade se deu ao contrário: ele mais bem preparado para lidar com a situação de candidato e ela, novata, perdida em busca de uma personagem.

A campanha da oposição estruturada, enquanto do lado do governo ocorria justamente o oposto.

Se se confirmarem os dados nas pesquisas Ibope e Datafolha, nada disso teve reflexo na percepção do eleitorado. Ou o efeito será sentido mais à frente? Essas pesquisas refletem então o que, o patrimônio da superexposição antecipada de Dilma?

Ou será que apontam um equívoco na estratégia do candidato José Serra de conferir a Lula a condição de sal da terra?

Não dá para saber ao certo. Pesquisa é isso: não se pode desprezá-las nem tampouco pretender que a cada mês elas nos antecipem de forma clara e definitiva o que as urnas vão produzir daqui a cinco meses.

Plebiscito forçado. O Instituto Sensus inclui em seus questionários as consultas que bem convierem aos seus clientes. Agora, há de haver um mínimo de lógica para que os raciocínios façam sentido.

Onde a lógica da consulta sobre a capacidade de transferência de votos de Fernando Henrique Cardoso em comparação à capacidade de transferência de votos do presidente Lula?

Lula está em campanha por Dilma, quer fazer dela sucessora, luta para transferir votos. FH deixou o poder há oito anos e quer no máximo votar em Serra e torcer para que se eleja presidente. Transferir votos de onde para aonde?

Ai, que medo! :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - De um lado, o general Maynard Santa Rosa, que atingiu a última patente das Forças Armadas e o Alto Comando do Exército, declara à Folha que o governo Lula está articulando "uma ditadura totalitária comunista".

Segundo ele, tudo começa com essa história de direitos humanos, com a união civil gay e outras violações das bases morais da sociedade. Daí a impor o mais puro totalitarismo do tipo bolivariano é um pulo.

Ai, que medo!

De outro lado, a direção do PT patrocina o jornal "Movimentos", que no seu segundo número vê risco de um novo golpe militar: "O ovo da serpente está intacto e as mesmas elaborações teóricas, sentimentos de superioridade e defesa de privilégios que animaram os golpistas de 64 estão presentes nos corações e mentes das elites".

Que elites? As "encasteladas" na mídia, nas entidades patronais, no Legislativo, no Judiciário e até na burocracia dos Executivos...

Ai, que medo!

Quem tem menos de 40 anos não deve estar nada interessado nessas ameaças cruzadas, nem entende a linguagem -ou morre de rir das construções anacrônicas.

Então, os que ainda veem fantasmas e golpes devem fazer o favor de andar no tempo, olhar em volta e ver que o mundo evoluiu, o Brasil é outro. Fernando Henrique não é um "gorila", Lula nem faz questão de ser "de esquerda", Serra não é um baluarte da direita, Dilma não é guerrilheira bolivariana, Marina não ameaça uma mosca.

O general tem direito de expor sua opinião, mas será que "95% do Exército" pensa assim, como diz? E textos sobre "conluios das elites" são admissíveis enquanto manifestações isoladas, mas mudam de figura se patrocinados pelo PT.

Há algo de folclórico nos dois lados, que existem, falam e circulam justamente porque isto aqui é uma democracia. Mas, quando ganham ares ou verbas institucionais, a brincadeira não tem a menor graça.

Marcos Nobre: Paradoxos eleitorais

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Já se disse que Serra tem muito azar como candidato à Presidência. Em 2002, foi o candidato da continuidade quando a maré era de mudança. Agora, é o candidato de oposição quando a maré é de continuidade.

É verdade que, em 2002, o truque de ser "oposição dentro da continuidade" não colou. Mas, em 2010, o truque de ser "continuidade dentro da oposição" está colando. E muito bem. Serra virou lulista de carteirinha.

Promete mais do mesmo, só que com um figurino bem mais conservador da autoridade presidencial.

Defende a ideia de que os últimos 25 anos de redemocratização representam um contínuo e progressivo processo de aprendizagem coletiva. Dilui o que há de específico do governo Lula. Como todo mundo colaborou, o jogo político estaria zerado. E a eleição deixa de ser um plebiscito do governo.

Contra todas as expectativas, a estratégia Serra até agora tem sido bem-sucedida.

Conseguiu reduzir a eleição a uma comparação de biografias. E o problema não é só que a campanha de Dilma aceitou esse terreno de disputa limitado. É que até para isso seria preciso se descolar de Lula. Como esse descolamento não está previsto por enquanto, surgem patetadas como a comparação de Dilma com Nelson Mandela feita pelo próprio Lula.

O paradoxo maior da eleição está no apoio do presidente. Como estão as coisas hoje, a maior ameaça à candidatura de Dilma é não conseguir se distinguir o suficiente de Lula.

Porque, no fundo, o que a figura de Lula podia fazer, já fez. Colocou a sua candidata além do patamar histórico de votação do PT. Ou seja, fez dela uma candidata competitiva. Esperar que Dilma seja eleita apenas com base no apoio de Lula simplesmente não é realista.

Não bastasse isso, também no campo da articulação de alianças Serra está na frente há já algum tempo. Desde cedo, soube manejar muito melhor os arranjos estaduais. A tal ponto que até Aécio Neves parece estar reconsiderando seriamente a ideia de ser candidato a vice.

Já o apoio à candidatura Dilma está gravemente ameaçado. Nem mesmo uma aliança efetiva com o PMDB pode ser hoje dada como certa. O caso de Minas Gerais é paradigmático. O PT mineiro não quer ir para o sacrifício quando inúmeras seções estaduais do partido já resolveram ir contra a aliança nacional. E o próprio PMDB mineiro já não acredita em uma aliança para valer com o PT.

A única saída para Dilma é mostrar sua cara, é arriscar. O que talvez salve a eleição, já que, hoje, arriscar significa politizar a campanha. Ao contrário do que seria de se esperar, a inércia está do lado de Serra.

Apostas no futuro:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

O dia da inauguração de Brasília foi também o do lançamento da candidatura do presidente JK à eleição seguinte, cinco anos depois, quando nada indicava que em 1965 já não haveria eleição direta. A indireta a substituiria por tempo imprevisível. Brasília pouco teve a ver com o retrocesso embutido no deslocamento da capital para o interior do território brasileiro. De um jeito ou de outro, ocorreria.

Dia 21 de abril de 1960, a nova capital amanheceu coberta de cartazes que, por toda parte onde os olhos batessem, avisava: JK 65. Não era propagando fora de hora, nem precisava. Àquela altura, a democracia já não dava preocupação, o desenvolvimento econômico apressava a era do consumo que modelava as expectativas da cidadania. O brasileiro se sentia americano do Sul. O futebol brasileiro ostentava o primeiro título de campeão mundial. A aposta na eleição futura autorizava o presidente Kubitschek a fazer aquele lance. Desde que tudo continuasse como vinha.

Meio século depois, a comemoração da data redonda em Brasília repetiu, mas com sentido oculto, a mesma aposta feita pelo presidente Lula no futuro, mediante empréstimo de sua fortuna em votos a Dilma Rousseff, e o pressuposto de que a beneficiária abra mão da reeleição. Dilma, apenas 2010. Não se fala no risco implícito. Um mandato é suficiente na mão ou dois voando? Ainda que mal comparando, JK também deixou o poder no ponto presumivelmente mais alto (não havia ainda pesquisas) dos cinco anos em que modernizou o estilo brasileiro de governar.

O presidente Lula mede em pesquisas a oscilação pouco animadora dos cidadãos em relação a Dilma, e se orienta entre riscos calculados. A eleição de 2014 subentende para quem é do ramo que a candidatura dele se segura apenas na renúncia da candidata ao segundo mandato. Mutatis mudandis, está longe mas pode ficar mais perto do que ocorreu a JK, considerando a precariedade do período constitucional entre o Estado Novo e o ciclo ditatorial de 64 a 85. Nas duas vezes, fez-se de conta que os perigos institucionais estavam afastados. Com a política praticada como se fosse apenas a arte do possível, todo cuidado acaba insuficiente para garantir mais de um vencedor. Surpresas não perdem oportunidade de mostrar que fazem parte do grande jogo.

A candidatura Dilma Rousseff rompeu a inferioridade que as pesquisas lhe reservaram. Para mais ou para menos, a disputa se apresenta sem favoritos, mas não afasta senão riscos por conta de surpresas. Dilma conta com a orientação do escultor da sua candidatura em 2010. O resto não passa de suposição. Mas Lula pensa num plano C (de cautela): a política tem razões que mudam com as circunstâncias, ou até sem elas. E reeleição é tentação com ética exclusiva.

A sucessão presidencial vai ter oportunidade de esclarecer o motivo real da associação entre as candidaturas Dilma Rousseff e general Lott. Com JK-65, o próprio lavou as mãos na sucessão em que Jânio Quadros tinha a preferência ostensiva. Lula fez o oposto e, com espírito esportivo de Nero, espicaçou o contendor com provocações no nível de meio-fio.

No fundo, a aproximação entre Dilma e Lott, no ideário popular, é exercício de sobrenaturalismo que impregna a política brasileira. No começo foi apenas a ideia de eleger um poste e, com o tempo, a esperança de ser uma luz para todos. A resistência ao nome da candidata no PT e adjacências pode se dissipar ou fechar para a decolagem de hipóteses que parecem sem sentido, mas no final se materializam. Afinal, Dilma e Lott têm o mesmo vício de origem: carreiras feitas fora da política e premiadas com mandatos ocasionais. Não deixa de ser preconceito que a democracia se permite. A semelhança com Lott não é de bom augúrio para Dilma: ele era inflexível, ela tem fama de autoritária. Imagem não se compra: é o que é. Não há muita diferença entre eles.

Campanha de Serra incomoda Lula:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A campanha de José Serra (PSDB) aos poucos deixa irritado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele diz que o tucano engana o eleitorado quando dá a entender que tanto faz a eleição de Dilma Rousseff (PT) como a dele próprio para a continuidade de programas de governo. Lula até acha que é uma jogada inteligente de Serra, mas o presidente está sendo apenas "institucional" quando afirma que o país estará bem servido com a eleição de um ou do outro candidato à sucessão de 2010.

No dia a dia da política, Lula trata pelo menos como "um equívoco" a interpretação segundo a qual a eleição de Serra ou Dilma terá na prática o mesmo resultado. O presidente aguarda apenas uma oportunidade para dizer que Serra é oposição, e que o PSDB desde o início esteve contra tudo o que o governo do PT fez desde que o partido da estrela assumiu o Palácio do Planalto, em 2003. Ele tem na ponta da língua os exemplos para citar na campanha.

Cabe um parêntese: o desempenho de Lula no último programa partidário do PT não é exceção, será a regra. Lula testa a paciência e os limites da Justiça Eleitoral como nunca antes...

Não importa que Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006, tenham prometido que, uma vez no governo, a oposição não acabaria com o programa Bolsa Família. O que o presidente diz é que a oposição sempre foi contrária ao programa e ele pretende deixar isso claro na campanha eleitoral.

Também não adianta a oposição dizer que fez o programa Luz no Campo para fazer um contraponto ao Luz para Todos. Na visão do presidente da República são programas efetivamente de natureza distinta. O tucano, elitista; o petista, voltado sim para as populações de renda mais baixa do país. Essa é a diferença que o presidente pretende demarcar no território da campanha eleitoral, mais quente quanto mais renhida fica a disputa, conforme indicam as pesquisas de opinião.

Outro exemplo a que costuma recorrer sua excelência diz respeito ao aumento real do salário mínimo, que o presidente implantou com a ajuda de seu ex-ministro do Trabalho e hoje prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho. O argumento do PSDB era que programas do tipo implicavam aumento do gasto público - algo que segundo o entendimento de Lula sempre causou urticária na tucanagem.

O PT voltou a sorrir com os números das pesquisas Vox Populi e CNT Sensus, mas já não calça de manhã, à tarde e à noite o salto alto que usava quando Dilma começou a escalar degraus nas pesquisas. A eleição, avalia-se, segue mais ou menos o mesmo padrão de outras disputas passadas. PT/Lula entram com um terço do eleitorado, o PSDB com o outro terço e a definição fica para os 45 dias de campanha do horário eleitoral gratuito. É quando Lula espera "transbordar" sua popularidade recorde e fazer a diferença na reta final. Já há "transbordamento", na opinião do presidente e auxiliares, mas ele deve aumentar depois do mundial de futebol na África.

No último mês, a campanha de Dilma passou por correções tópicas de curso. Em vez de lançar a candidata na linha de frente das composições estaduais, o PT passou a trabalhar mais cuidadosamente a imagem de Dilma. O raciocínio é que é preciso construir a imagem da presidenciável tanto dentro quanto fora do PT, algo que Lula tem de sobra, Serra também tem no PSDB e na sociedade, mas de que Dilma ainda é carente - ela não é uma antiga militante, mas uma oriundi do brizolismo do PDT gaúcho.

A preocupação petista é com a imagem que será consolidada por Dilma na campanha propriamente dita, quando ela começar de fato, a partir da segunda quinzena de agosto. O PT avalia que não pode se dar ao luxo de permitir que venha a ser fixada a imagem da candidata autoritária, prolixa e centralista. E isso tem que ser cuidado agora. Dilma não pode levar esses estereótipos até a campanha, porque bastará um descuido para que eles sejam fixados em sua pele de candidata como uma indelével tatuagem.

Já aconteceu antes. Todos se lembram de que Ciro Gomes, na campanha de 2002, tinha a fama de destemperado. Não foi coisa que apareceu quando ele se tornou candidato a presidente. Devia-se a performances anteriores do ex-governador do Ceará sobretudo como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco. Ainda assim ele decolou na campanha. No mês de julho, estava a quatro pontos de Lula nas pesquisas (32% a 28%). A ultrapassagem parecia uma questão de tempo.

Dois episódios ocorreram então. No primeiro, Ciro não gostou da forma de uma pergunta de um eleitor em entrevista a uma estação de rádio da Bahia. Ele se descontrolou e chamou o ouvinte de burro - gravação que seus adversários trataram de difundir imediatamente. O outro foi quando respondeu que o papel da atriz Patrícia Pilar em sua campanha eleitoral era o de "dormir" com ele. Foi o que bastou para que se fixasse no então candidato do PPS, de maneira irremediável, a imagem do político "destemperado". Ciro logo despencou nas pesquisas.

Autoritária, centralista e prolixa são qualificações com as quais a ex-ministra Dilma Rousseff chegou na campanha. O que se teme no PT, sobretudo agora quando algumas pesquisas indicam que ela ultrapassou José Serra nas intenções de voto do eleitorado, é que a ex-ministra caia numa provocação ou tenha uma reação pública que comprove o que sempre se disse dela. Ciro virou "case" de campanha: ele ajudou a confirmar que era verdade tudo o que diziam dele.

Dilma peca pelas suas virtudes, diz-se no PT. São essas virtudes que precisam ser agora fixadas no eleitorado: Dilma conduz, não é conduzida; às vezes fala demais não por ser prolixa, mas porque entende profundamente do que fala, e por querer explicar o que pensa acaba às vezes se confundindo e cometendo gafes. A sugestão aqui é "falar pouco para errar menos". Se conseguir atravessar a campanha sem tropeços que confirmem as coisas negativas que são ditas dela, Lula está convencido que vai "transbordar" sua popularidade e botar Dilma no Planalto. É mão de gente, claro.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

Serra recebe apoio de prefeitos do Cariri cearense que apoiavam Ciro

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raquel Ulhôa, de Juazeiro do Norte (CE)

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, está desde ontem no Ceará, onde seus aliados buscam uma estratégia para conquistar os votos do eleitorado que ficou órfão de candidatura presidencial desde o afastamento do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) da disputa.


A primeira parada de Serra ontem, em Juazeiro do Norte, foi na estátua de Padre Cícero, líder político e religioso do Estado e primeiro prefeito do segundo mais importante município do Estado. Ao pé do monumento ? ponto obrigatório de visitação de políticos ? Serra anunciou que, se eleito, irá construir no Ceará a siderúrgica e a refinaria planejadas em gestão do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) como governador.


Também comprometeu-se a concluir a ferrovia Transnordestina ? que não saiu do papel, disse. Serra ainda defendeu a transposição e revitalização do rio São Francisco. O presidenciável tucano disse que as obras são necessárias para gerar emprego, renda e consumo. Fez questão de manifestar-se a favor de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, mas afirmou que a população quer ?futuro? para seus jovens, o que é garantido por emprego.


Ao ser perguntado sobre a possibilidade de herdar os votos que iriam para Ciro Gomes, Serra disse esperar ?o voto dos cearenses?. Em 2002, quando concorreu à Presidência da República pelo PPS, Ciro teve 44,4% dos votos no Ceará, no primeiro turno. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 39,3% e Serra, em sua primeira eleição presidencial, ficou com apenas 8,5%. O tucano e o petista foram para o segundo turno ficando com, respectivamente, 28% e 71,7% dos votos.


?Os votos do Ciro vão naturalmente para o Serra, porque a raiz dos dois é a mesma, o PSDB?, avalia Tasso Jereissati, candidato à reeleição e responsável pelo palanque de Serra no Estado. Em 2002, então candidato ao Senado pela primeira vez, o ex-governador cearense (por três vezes) apoiou Ciro, em detrimento do candidato do seu partido.


Segundo Tasso, as lideranças do interior do Estado têm origem no PSDB e rivalidade histórica com o PT. Ele não desconhece a altíssima popularidade de Lula no Ceará, mas diz que Dilma Rousseff tem um ?ar prepotente e autoritário que não causa simpatia?.


A transferência dos votos de Ciro para Serra também é esperada pelo prefeito de Crato, Samuel Araripe (PSDB), um dos coordenadores da campanha de Serra na região do Cariri - que tem 27 municípios e por onde o tucano iniciou sua pré-campanha no Estado.

-A maneira como Ciro foi alijado faz com que o cearense fique com desejo de votar em Serra. A maneira traumática com que ele foi tirado da disputa fez com que as lideranças que apoiariam Ciro queiram fazer campanha para Serra -, diz Araripe, que em 2002 estava no PPS, ao lado do deputado.

Também designado por Tasso coordenador da campanha de Serra em 15 municípios do Cariri, Romell Feijó (PTB), ex-prefeito de Barbalha, acredita que, - se Ciro ficar quieto na campanha -, 70% dos votos que ele teria no Estado serão transferidos ao candidato tucano. - - O eleitorado que vota no Ciro gosta do Tasso e do PSDB. O Ciro nasceu no PSDB- .

A meta dos tucanos e aliados é, ao menos, reduzir a vantagem de Dilma no Nordeste, resultado da popularidade de Lula na região. Na opinião de Feijó, se Dilma tiver 60% dos votos nos Estados do Nordeste e Serra 40%, ele ganhará a eleição presidencial, por causa de seu bom posicionamento nas outras regiões.

As duas pesquisas recentemente divulgadas - institutos Vox Populi e Sensus -, mostrando Dilma à frente do tucano na corrida presidencial, não abateram as lideranças cearenses envolvidas na campanha. Reunidas ontem em torno de Tasso, elas não mostraram preocupação. A avaliação é que o eleitorado ainda não está voltado para a eleição, o que deve acontecer somente após a Copa do Mundo.

Até lá, a ordem é mobilizar lideranças, organizar palanques e mostrar o que Serra fez pelo Nordeste quando ministro de FHC. Com esse objetivo, Tasso incluiu na agenda de hoje de Serra visita ao Porto de Pecém, no município de São Gonçalo do Amarante. A obra foi concluída na terceira gestão de Tasso como governador (1999-2002) e os recursos iniciais foram repassados por Serra, quando ministro do Planejamento.

O ex-governador paulista chegou com duas horas de atraso a Juazeiro do Norte, causando certa frustração nas lideranças do Cariri, que tiveram de manter a militância mobilizada, para reunião marcada para às 17h40, no município do Crato.

O dia ontem foi de pré-campanha nos três municípios mais importantes da região do Cariri, estratégica para o desenvolvimento do interior do Nordeste, por ser um polo comercial localizado, em média, a 600km das principais capitais da região.

Em Barbalha, a terceira cidade do triângulo central do Cariri, Serra visitou o Hospital São Vicente de Paula, que ele ajudou a construir como ministro da Saúde. Na entrevista concedida ao pé da estátua de Padre Cícero, o tucano prometeu resolver o problema das filas das consultas médicas no país.

Serra não quis comentar as pesquisas de intenção de voto, que o colocam atrás da concorrente petista, Dilma Rousseff, nem a possibilidade de o ex-governador Aécio Neves rever sua decisão e aceitar ser o candidato a vice-presidente em sua chapa. - Estou acompanhando pelos jornais-, disse.

O tucano foi a evento com cerca de 2 mil pessoas, no tênis clube do Crato, onde foi recepcionado com jingle criado pelo repentista Luizinho de Iriauçuba, que, num trecho, fez referência a Ciro Gomes. " Até o Ciro falou: o Serra é o mais preparado " , cantou. O próprio presidenciável cantarolou músicas de Luiz Gonzaga. E Tasso fez uma forte convocação para a militância trabalhar pela candidatura tucana, por um "país sem corrupção e sem roubalheira ".

Serra terminou a noite com uma visita ao túmulo do Padre Cícero.

Tasso recebe Serra e promete 'corpo e alma'

DEU EM O GLOBO

Pré-candidato tucano à Presidência diz que vai continuar obras do PAC paralisadas no Nordeste: ‘Vou fazer e acontecer’

Isabela Martin e Letícia Lins

ELEIÇÕES 2010: PSDB deverá apoiar a reeleição do governador Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, aliado do PT

FORTALEZA e JUAZEIRO DO NORTE (CE). Oito anos depois de trocar o apoio à candidatura presidencial de José Serra pela do amigo Ciro Gomes, o senador Tasso Jereissati (PSDB) agora assume no Ceará o papel de principal cabo eleitoral do précandidato tucano à Presidência.

Ele está sendo o anfitrião e cicerone dos dois dias da visita de Serra ao estado, iniciada ontem pelo Cariri, e que prossegue hoje, em Fortaleza. Sem candidato ao governo pelo PSDB, Tasso emprestará a Serra seu palanque para o Senado. E diz que eleger Serra é até mais importante que sua própria reeleição: Estou empenhado de corpo e alma na campanha do Serra.

Não só por mim, mas pelo futuro do Brasil. Acho que mais oito anos de Dilma (Rousseff, do PT) para o país será uma tragédia.

Em primeiro lugar, porque a Dilma não controla o PT. É o Lula quem controla disse Tasso, dobrando o tempo em que Dilma governará, caso eleita.

Tasso já montou a estratégia para engordar a preferência dos cearenses por Serra: aproximar o tucano cada vez mais das lideranças políticas do interior, desmistificar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e atrair o que ele chamou de descontentes e magoados do PSB, após o alijamento do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) da disputa pela Presidência.

O senador pretende alegar que o PAC não saiu do papel na região, diferentemente das obras que foram iniciadas durante a gestão de Serra como ministro, tanto na Saúde quanto no Planejamento. Por isso, na programação de ontem foi incluída uma visita do tucano ao Hospital São Vicente, em Barbalha, próximo a Juazeiro. Segundo Tasso, o hospital foi iniciado na gestão de Serra no Ministério da Saúde, e é um dos melhores da rede pública no Ceará.

Serra visitou ontem o Nordeste pela sexta vez desde que se lançou pré-candidato. Percorreu cidades do Ceará em ritmo de festa. A passagem dele por Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha teve direito a carreata, apitaço, desfile de motos, foguetório e até homens com pernas de pau. O tucano desembarcou no aeroporto do Cariri, em Juazeiro do Norte, a 550 quilômetros de Fortaleza, com duas horas de atraso, e foi saudado por uma banda de frevo. Depois, Serra seguiu para o santuário de Padre Cícero, acompanhado por 80 motociclistas.

Lá, ele subiu a escadaria e contou ter feito três pedidos.

Orei para que a região do Cariri possa progredir do ponto de vista econômico e social.

Rezei para meus netos e pela eleição disse o tucano.

Serra terminou a noite no município de Crato, em uma festa que reuniu mais de três mil pessoas. Ele disse querer um Brasil unido para todos e sem ódios, em que a gente reconheça a oposição como adversária e não como inimiga.

Disse ainda que quer governar com espírito de cooperação nacional, para o país inteiro.

Na festa, Serra prometeu que vai fazer as obras do PAC que estão paralisadas no Nordeste.

Vou fazer e acontecer prometeu o tucano.

Serra teve a companhia de Tasso durante o evento. O senador desafiou os presentes a levantar as mãos se conhecessem uma obra do PAC concluída no Ceará. Ninguém levantou. Tasso, então, desafiou Dilma a voltar ao Nordeste para mostrar uma obra do PAC concluída. Os dois cantaram músicas nordestinas.

Em entrevista, Serra também falou sobre o fim da CPMF. Lembrou ter elaborado uma emenda constitucional que garantiria mais verbas para a saúde: Fiz a emenda constitucional que, na prática, garantia piso mínimo para a saúde, no começo de 2000. O governo federal tinha que mandar projeto ao Congresso até 2004 regulamentando, o que permitiria trazer mais recursos, inclusive estabelecendo o que é gasto em saúde. O governo não cumpriu até hoje.

ficha limpa:: Marcelo Cerqueira

E no oitavo dia Deus fez o milagre brasileiro: um país todo de jogadores e técnicos de futebol. (Millôr Fernandes)

A presunção de inocência, norma sensível, entrou no Direito Constitucional na Constituição Federal de 1988, o que implica dizer que as diversas Constituições anteriores não a contemplaram. Dizem os autores que a “vontade do legislador” é para ser interpretada por psicólogos e não por juristas. É certo. É como um pássaro que voa e se liberta do seu cativeiro. Entretanto, à toda evidência, tal norma foi criada para proteger os inocentes do arbítrio judicial tão comum nos anos de chumbo. Sem embargo disso, a Constituição é um conjunto harmônico de normas. Não pode ser interpretada em tiras.

Assim, aquela norma deve corresponder, para ter eficácia plena, a outras da mesma Constituição e com o mesmo valor normativo. Assim, o disposto no art. 37 da CF que cuida da legalidade, da impessoabilidade e da moralidade. A lei que se está a votar é um insignificante avanço, embora seja recebida como tal. Qualquer ato que modifique a questão eleitoral como norma penal strito senso é um avanço. Entretanto, não se cuida de norma penal e sim condições de elegibilidade. A Constituição, fácil de ver-se, não se quer refúgio de delinquentes.

Veja que para se habilitar a qualquer função pública, o candidato tem de apresentar folha corrida “limpa”. Por que na habilitação a cargo político de representação deveria ser diferente? Entretanto, a norma constitucional parece sombrear a questão eleitoral.

Então, a proposta que formulo, ouvidos colegas mais doutos que eu na matéria, propõe uma cláusula simples e de fácil curso constitucional e legal (infra-constitucional).

Condenado na 1ª Instância, o eventual eleito teria sua posse sobrestada. Se absolvido no órgão colegiado (exclusive o Tribunal do Júri que é de 1ª Instância, mas é colegiado) então tomaria posse regularmente. Basta, para tal, introduzir tal conceito-norma na lei de inelegibilidades.

Sua defesa (a do condenado) funcionaria ao contrário do que é hoje: longe de alargar os prazos com recursos meramente protelatórios, diligenciaria para abreviar o processo e satisfazer o “eleito” com uma solução rápida, abrindo mão de “agravos?. Além da força punitiva da norma-conceito, sua simples enunciação bastaria para inibir aqueles que buscam um mandato como refúgio. O custo-benefício, linguagem corrente nos amantes de vinho, afastaria os aventureiros do voto.

É o que me parece.



Marcelo Cerqueira, advogado, ex-deputado federal e pré-candidato ao Senado pelo PPS/RJ

Cesar compara Gabeira a d. Pedro II

DEU EM O GLOBO

Pré-candidato a governador reafirma aliança e critica atuação de Sirkis

Ludmilla de Lima

Na tentativa de fortalecer a coligação, que chegou a ser ameaçada por sucessivos impasses, o pré-candidato ao governo do Rio pelo PV, Fernando Gabeira, participou ontem à noite de um ato com a presença do ex-prefeito Cesar Maia, pré-candidato ao Senado pelo DEM, e de outros líderes do PSDB e do PPS. O presidente regional do PV, Alfredo Sirkis, que vem medindo forças com Gabeira no partido, não compareceu ao evento, que reuniu cerca de 400 pessoas a maioria, pré-candidatos a deputado do PPS e do PSDB na Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

A vereadora Aspásia Camargo, do PV, pivô da crise interna e que insiste na sua pré-candidatura ao Senado, também não foi ao encontro. Gabeira, ao falar sobre a polêmica no PV, demonstrou, mais uma vez, estar descontente com Sirkis: Sei que ele tem sido o meu maior adversário disse o verde, confirmando que o objetivo de Sirkis ao tentar manter a pré-candidatura de Aspásia possa ser desestabilizar a coligação. O desejo talvez seja esse (criar instabilidade), mas não vai conseguir porque já estamos definidos, e a coligação está seguindo. A própria Marina sabe disso e respalda.

O pré-candidato voltou a pedir que o PV não inicie uma campanha eleitoral contestando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que decidiu sobre a impossibilidade de uma coligação lançar mais de dois nomes ao Senado.

Durante o ato, foi reafirmada a pré-candidatura ao Senado de Marcelo Cerqueira, do PPS, que estava presente. O grupo de Sirkis chegou a cogitar a substituição de Cerqueira por Aspásia.

Ao discursar, Cesar Maia rasgou elogios a Gabeira, e contou uma conversa que teve com o filho, Rodrigo Maia (presidente nacional do DEM), sobre o verde. Segundo o exprefeito, o político do PV é comparável a Pedro II e ao expresidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB): Talvez (Gabeira) seja o único político brasileiro, palavras do Rodrigo, que reúne ao mesmo tempo competência, experiência politica e consciência.

Aí eu disse para ele: será que eu posso citar o Pedro II também? E ele disse: pai, não esquece o Fernando Henrique, raro na política brasileira.

Cesar disse ainda que o filho pediu que ele fosse mais incisivo em relação à aliança. O ato marcou o primeiro encontro público dos dois após o PV tentar barrar Cesar na coligação.

Como posso fazer para as pessoas acreditarem (no apoio)? Eu fiz o seguinte: vesti a camisa do Gabeira. Eu vesti a camisa do nosso candidato a governador disse, tirando o blazer e mostrando a roupa, apenas listrada de verde.

Também no evento, o ex-governador Marcello Alencar, do PSDB, chamou Gabeira de celebridade e revelou que, mais de uma vez, convidou Gabeira a entrar no PSDB.

O ato reuniu ainda o vice de Gabeira, Márcio Fortes, o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha, os deputados federais Solange Amaral e Índio da Costa, do DEM, e o presidente regional do PPS, Comte Bittencourt.

No Rio, PSDB reitera apoio a Fernando Gabeira

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Pamella Lima

A executiva do PSDB do Rio de Janeiro se reuniu na manhã de ontem para fechar alianças nas eleições de outubro. Na ocasião, os parlamentares e representantes dos poderes executivos da legenda no estado confirmaram a aliança entre PV, PSDB, DEM e PPS em torno do pré-candidato à governador Fernando Gabeira.

Após o encontro, que durou cerca de três horas, o prefeito de Duque de Caxias e presidente do partido no Rio, José Camilo Zito, endossou seu apoio às candidaturas de José Serra à Presidência da República e de Gabeira, em resposta a rumores de que ele poderia se manter neutra ou mesmo apoiar o governador Sérgio Cabral (PMDB).

Sempre demonstrei que sou Serra fervoroso. Não só aliado, como apaixonado pela campanha.

Também torço para que o Aécio esteja neste contexto. disse Zito. Não podemos misturar o prefeito que defende a cidade e os interesses da sua população com o presidente do partido, que sabe o que é melhor para o país e para o Rio.

Gabeira diz que Marta ainda lhe pedirá desculpas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

DA REPORTAGEM LOCAL

O pré-candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira, disse ontem que a pré-candidata ao Senado por São Paulo Marta Suplicy (PT) ainda lhe pedirá desculpas por suas declarações sobre o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969.

"Daqui a alguns anos a Marta vai me pedir desculpas, e eu certamente vou aceitar", disse Gabeira no Facebook.

Anteontem, em São Paulo, Marta disse que a mídia tem dois pesos e duas medidas ao tratar do passado guerrilheiro da ex-ministra Dilma Rousseff.

"Notaram (...) que do Gabeira ninguém fala? Esse sim sequestrou. Eu não estou desrespeitando ele, ao contrário, mas ele sequestrou. Ele era o escolhido para matar o embaixador. Ninguém fala porque o Gabeira é candidato ao governo do Rio e se aliou com o PSDB", disse.

No Rio, Gabeira disse que iria ignorar a acusação: "Já faz muitos anos que ignoro as coisas que a Marta diz". Ele acrescentou que "não é verdade" que tenha sido escalado para matar Elbrick: "Tenho uma visão bastante clara do sequestro. Hoje o condeno como forma de luta".

As declarações de Marta foram criticadas por um envolvido no sequestro, o historiador Daniel Aarão Reis Filho, e por Vladimir Palmeira, um dos presos soltos em troca de Elbrick.

"Isso aí é uma bobeira. Gabeira não participou da captura do embaixador, ele era um elemento auxiliar. Tinha alugado a casa para onde foi levado o embaixador e por isso ele foi envolvido", diz Reis Filho, que nega que Gabeira tenha sido indicado para matar Elbrick: "Gabeira de jeito nenhum estava escalado para fazer [isso]".

Palmeira também disse que a versão de Marta é "altamente discutível": "O Gabeira era simpatizante. Não tinha atividades armadas àquela altura".

Em ritmo de marchinha forçada :: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Economia começa a soltar fumaça quando se deixa PIB acelerar para 6%. O que exige paulada no juro. E é irracional

Dilma Rousseff poderá dizer nas semanas finais da campanha que, em 2010, a economia cresceu como nunca antes no último quarto ou terço de século. As estimativas ainda são divergentes, mas as mais precisas entre menos otimistas projetam um crescimento só menor que o de 1986, ano de PIB alucinadamente irreal, fruto da enganação do Plano Cruzado.

Em termos de PIB per capita, pode ser que tenhamos o maior crescimento desde o final dos anos 1970, quando a economia crescia já em marcha forçada, o que nos levou ao infarto do início dos anos 1980.

Não, o país não vai infartar tão cedo, se é que vai. Mas eis que vivemos em 2010 mais um episódio de marchinha forçada. Isto é, um crescimento de um pouco mais de 5% ao ano aciona os alarmes das nossas insuficiências produtivas e logísticas.

Na marchinha, a inflação logo supera 5%; há grita sobre falta de mão de obra -dois aspectos do mesmo problema. Daqui a pouco faltarão máquinas, espaço em estradas, haverá filas na boca dos portos. O trânsito nas cidades maiores começa a parecer o dia em que a Terra parou.

Trata-se da evidência concreta do que os economistas chamam de limite do "PIB potencial", grosso modo a taxa de crescimento a partir da qual a economia começa a soltar fumaça inflacionária, entre outras.

Há vasta polêmica e besteira nos cálculos de PIB potencial. Mas o teste do pudim é comê-lo. Mastigando os dados dos miniciclos da economia no governo Lula, a gente vê que alguma coisa acontece quando o PIB aperta o ritmo de 5% para 6%.

Não se trata de maldição. "Reformas", mudanças em normas e políticas econômicas podem azeitar a máquina, permitir crescimento maior.

Mas faz anos vivemos da mão para a boca. Não há mudança institucional relevante para a economia desde o início do governo Lula 1.

Também não houve erro irreparável de política econômica. Mas nem governo nem mercado notaram que a alta de gastos públicos e juros historicamente baixos levariam o PIB a crescer 8,5% ou até 12% no primeiro trimestre (taxa anualizada).

Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, observa que o superavit primário do setor público era de 4% nos 12 meses até setembro de 2008, quando houve o pico de crescimento de 7,1%, antes da crise. Agora em março, estava em 1,95% do PIB. A taxa de juros já subia desde abril de 2008. Nesse ciclo de marchinha forçada, começou a subir só em abril.

Isto é, o caldo do crescimento excessivo já entornou bastante.

Vale notar ainda que o corte de despesas prometido pelo governo federal equivale a apenas 1,6% dos gastos do governo nos 12 meses contados até março. Ou seja, vai fazer apenas coceira na taxa de inflação.

Em suma, as taxas de juros vão subir muito. A MB estima que a Selic chegue a 13% no final do ano. Um desperdício enorme de dinheiro.

Temos um limite evidente de crescimento. Evitamos desarranjos econômicos maiores ao custo altíssimo de pauladas nos juros. Isso é muito irracional. O ruído carnavalesco da marchinha forçada abafa o debate sobre o assunto, mesmo em ano eleitoral, e até na oposição: o comércio cresce 11%, haverá mais 2 milhões de empregos formais, a venda de imóveis e carros é recorde.

À meia-bomba:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O acordo que o Brasil e a Turquia acabaram de fechar com o Irã tem os mesmos termos do acordo fechado com as Nações Unidas, em outubro, e do qual o Irã recuou. Mesmo se o presidente Mahmoud Ahmadinejad cumprir todas as cláusulas, restará saber que respostas ele dará para as inúmeras dúvidas das Nações Unidas sobre o programa militar nuclear do país.

Existem dois problemas mais graves, entre muitos, nas relações entre o Irã e a comunidade internacional na área nuclear. O primeiro é o que o presidente Lula tratou nas negociações: um acordo para que ele entregue o urânio enriquecido entre 3% a 5% para armazenamento em outro país, em troca do direito de importar urânio enriquecido a 20% para seu programa nuclear para fins pacíficos.

Outro é que o Irã tem um programa nuclear militar com cinco centrais, algumas delas foram instaladas às escondidas, e não permite a supervisão internacional adequada. O urânio que o país está entregando seria apenas a metade do que já tem em estoque. Por isso, o mundo recebeu com dúvidas e reservas a iniciativa diplomática de estreia do Brasil na tentativa de resolver uma parte do conflito mais intratável do planeta: o Oriente Médio.

O Irã tem ambições claras, explícitas, de se tornar uma potência atômica. É um objetivo nacional do país, porque ele se sente cercado de inimigos. Toda a sua relação com a fiscalização internacional tem sido de negativa e hostilidade. O mundo não desconfia de Ahmadinejad à toa. Está coberto de razão para imaginar que um país que já escondeu a verdade possa escondê-la de novo; e que um país que se nega a cumprir os pedidos da ONU esteja querendo apenas ganhar tempo.

Em conversa que tive ontem com três embaixadores com larga experiência internacional o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, Rubens Barbosa, que foi embaixador em Londres e Washington, e Sérgio Amaral, que chefiou a missão brasileira em Londres e Paris, firmei a convicção de que esse assunto é bem mais complexo do que tem sido apresentado em certas análises.

Não há quem não queira para o Brasil um papel de maior protagonismo no cenário internacional. A convicção entre veteranos da diplomacia brasileira é que é normal, e esperável, que o país tenha cada vez mais influência. Mas há dúvidas sobre se esse movimento trará os dividendos esperados pelo governo brasileiro.

De qualquer maneira, a iniciativa criou chances de que seja derrotada a proposta de sanções contra o governo iraniano no Conselho de Segurança da ONU, porque a maioria a favor das sanções está se estreitando.

Se as sanções não forem aprovadas, isso será uma derrota americana, mas não necessariamente uma vantagem para o Brasil.

É muito difícil saber exatamente o que o Brasil tem a ganhar com tudo isso. Do aspecto puramente comercial, o Irã representa 0,59% do comércio brasileiro. Do ponto de vista político, o Brasil está avalizando um governo que está neste exato momento matando os seus opositores, condenandoos ao enforcamento. Nada mais primitivo do ponto de vista institucional do que um governo que sufoca, literalmente, seus dissidentes.

Isso é coerente com o apoio brasileiro ao regime cubano. Não é coerente com a rejeição ao governo de Honduras, que é justificada pelo argumento de que a eleição presidencial daquele país foi precedida de um golpe de Estado. Se temos como princípio não apoiar governos que tenham relação com golpes, como diz o governo brasileiro sobre Honduras, então o Brasil não deveria fazer a defesa do regime repressor cubano. Mas a diplomacia brasileira fica mais desengonçada quando o Brasil exige, como fez, que a Espanha desconvide Honduras como condição para participar de um encontro ibero-americano.

Apoiar Ahmadinejad em si, que reassumiu o governo numa eleição fraudulenta e tem calado a oposição de forma truculenta, não é coerente com os valores que o Brasil defende. A grande dúvida de todo o processo é o que leva o presidente Lula a usar todo o seu capital político acumulado em todos esses anos em defesa de um regime, de um presidente e de um programa nuclear que estão cercados de dúvidas inteiramente procedentes por parte da comunidade internacional.

A diplomacia do presidente Lula gosta de cantar vitórias que não teve. Ela perdeu sucessivas apostas.

Apostou em Doha contra a Alca ou acordos bilaterais.

Ficou sem Alca, sem Doha e fez poucos acordos bilaterais.

Apostou em ampliação do Mercosul, ele não se ampliou e tem andado para trás. Concentrou esforços na luta para ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e ainda não tem. O governo acha agora que, com essa jogada de altíssimo risco, poderá se credenciar como uma força diferenciada na busca da paz mundial. Pode ter bombardeado suas possibilidades de conseguir o objetivo almejado.

A característica da diplomacia brasileira é vender-se com um bom marketing aqui dentro. Por isso, vai aproveitar para faturar o acordo de Teerã. Para um governo que só pensa na eleição, é uma excelente chance para propaganda.

Pensamentos Nocturnos :: Goethe


Lastimo-vos, ó estrelas infelizes,
Que sois belas e brilhais tão radiosas,
Guiando de bom grado o marinheiro aflito,
Sem recompensa dos deuses ou dos homens:
Pois não amais, nunca conhecestes o amor!
Continuamente horas eternas levam
As vossas rondas pelo vasto céu.
Que viagem levastes já a cabo!,
Enquanto eu, entre os braços da amada,
De vós me esqueço e da meia-noite.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Canções" Tradução de Paulo Quintela