quinta-feira, 3 de junho de 2010

Reflexão do dia – Ferreira Gullar


Tem que ter lucidez, resolver com a cabeça e com a inteligência. Quando me convidaram para participar da luta armada, eu disse a eles: mas nós vamos derrotar sozinhos o Exército, a Marinha e a Aeronáutica? Tem que ter lucidez. Eu não vou chamar o Mike Tyson para lutar boxe comigo. Eu o chamo para discutir poesia, que aí ele tá ferrado.


(Ferreira Gullar, ontem, na entrevista à Folha de S. Paulo/Ilustrada)

Por menos impostos:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Você acha que o brasileiro médio trabalhar 148 dias só para pagar os impostos para os três níveis de governo é um escândalo? Pois acredite: ainda tem gente que não acabou de pagar. Os que ganham até dois salários mínimos gastam exatos 197 dias.

Numa demonstração clara da injustiça do sistema implantado, quem ganha mais de 20 salários trabalha 102 dias para o governo, quase a metade.

O cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, é um especialista em destrinchar o comportamento do brasileiro comum através de pesquisas.

Foi assim que ele criou dois best-sellers, “A cabeça do brasileiro” e “A cabeça do eleitor”. Agora ele volta com o livro “Dedo na ferida: menos impostos, mais consumo”, com um tema muito atual e que, espera, seja o enfoque da campanha presidencial: a explosiva carga tributária brasileira, que se aproxima de 40% da remuneração do cidadão brasileiro.

E aí começa a injustiça. O sistema brasileiro pune com altas taxas o consumo, e não apenas a renda.

No dia em que o impostômetro, um relógio digital instalado em São Paulo, pela Associação Comercial, para acompanhar a marcha da arrecadação, assinalou a marca de R$ 500 bilhões pagos pelo contribuinte brasileiro em todos os níveis de governo — municipal, estadual e federal —, Alberto Carlos Almeida propôs que os políticos assumam a bandeira que suas pesquisas indicam ser o sonho do brasileiro comum: redução pura e simples dos impostos no consumo.

Ele classifica de “perversidade” a política do governo de reduzir o IPI para carros e eletrodomésticos em caráter provisório, durante a crise econômica: “O governo dá um docinho para o cidadão e depois tira”.

Para Almeida, o projeto da Associação Comercial de São Paulo, apoiado por uma iniciativa popular com mais de um milhão de assinaturas, que separa o preço do produto dos impostos pagos, para realçar ao consumidor quanto está pagando para o governo, pode ser um caminho, desde que o procedimento seja o mesmo em uso nos Estados Unidos: o preço da prateleira é um, e na caixa registradora vira outro.

O que ele chama de processo de “irritar o consumidor”, para que ele se conscientize da alta carga tributária embutida nos preços.

Se em cada estado um ou dois candidatos a deputado assumissem a bandeira da redução dos impostos no consumo, meio caminho estaria percorrido, sonha Alberto Carlos Almeida.

No seu livro, um dos pontos de destaque é a demonstração do caráter regressivo do nosso sistema de impostos, com os que ganham menos pagando proporcionalmente mais.

Pelos estudos do Ibope, quem ganha até dois salários mínimos tem uma carga tributária de 54%, enquanto quem ganha mais de 30 salários paga 29%.

Na época da disputa no Congresso que resultou no fim da CPMF, fez muito furor, e certamente teve influência na decisão final, um estudo da professora Maria Helena Zockun, da Fipe, que converteu o peso da contribuição em proporção da renda de cada bloco de família.

Aproveitando um trabalho dos economistas Nelson Paes e Mirta Noemi sobre quanto da CPMF incidia sobre o consumo das famílias brasileiras, divididas em dez classes de renda e por tipo de consumo, Zockun provou que os de renda mais baixa pagavam proporcionalmente mais, o que desmontou a tese governista de que a CPMF era um imposto socialmente justo.

Ao converter o peso da CPMF para cada renda familiar proporcionalmente, a professora chegou a um quadro de desigualdade flagrante.

Como quem ganha menos gasta uma parcela maior de sua renda com o consumo do que os que ganham mais, e os de renda mais baixa gastam muitas vezes tudo que ganham e até mais, o resultado é que, em proporção de renda, os pobres pagavam mais CPMF do que os ricos.

Para as famílias que ganhavam até dois salários mínimos por mês, o peso da CPMF era de 2,19% da renda total mensal, ao mesmo tempo em que para as famílias que ganhavam mais de 30 salários mínimos, esse índice era de 0,96% da renda total mensal.

Em improviso na noite de terça-feira durante a reunião da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), em Brasília, o presidente Lula fez o seguinte comentário sobre nossa carga tributária: “Tem muita gente que se orgulha de dizer: no meu país, a carga tributária é apenas 9%. No meu país, a carga tributária é apenas10%.
Quem tem carga tributária de 10% não tem Estado”.

Fora o fato de que não existe país que tenha carga tributária tão baixa, Alberto Carlos Almeida rebate o raciocínio do presidente com outra afirmativa: “Com 10% de carga tributária não existe Estado, mas com 40% não existe sociedade”.

Para o cientista político, a carga tributária excessiva está estrangulando a sociedade, e o próximo passo para o país se transformar em grande potência tem que ser a mudança do padrão de taxação.

Alberto Carlos Almeida atribui à alta carga tributária a falta de competitividade da economia brasileira, e sabe que a mudança só acontecerá a longo prazo, mas afirma que ela é imprescindível para que o país possa ter um desenvolvimento perene ao longo do tempo.

Almeida não se refere a uma reforma tributária nos moldes da que se discute eternamente sem chegar a uma conclusão: “No Brasil, quando não se quer mudar nada, se faz uma reforma”.

Ele defende uma decisão simples: a redução dos impostos no consumo, que seria viável com a redução proporcional do desperdício e da corrupção na máquina pública. Essa receita não é dele, mas do cidadão comum, revelada pelas pesquisas que realizou.

Deveres do ofício:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio da Silva já está no cargo há tempo suficiente para ter tido tempo de dar ao menos uma olhada na Constituição que jurou cumprir em duas cerimônias de posse.

Lá está escrito no artigo 37 que a ele e a qualquer agente público é vedado, sob pena de incorrer em ato de improbidade pública, desobedecer aos princípios da legalidade e da impessoalidade, entre outros.

Isso quer dizer que não pode ferir a lei e que está obrigado a pautar sua conduta pela objetividade e imparcialidade, sinônimos de impessoalidade, o termo inscrito na Carta.

Ao dicionário para que fique bem compreendido o significado da palavra imparcial: "Que se abstém de tomar partido."

Portanto, a declaração de Lula de que "não é proibido presidente da República fazer campanha quando a campanha começar" ou reflete um inadmissível desconhecimento a respeito do que diz a Constituição do país que preside há quase oito anos ou traduz uma deliberada intenção de descumprir a Carta.

"Quando a campanha começar" aí mesmo é que as restrições começam a valer de fato. E não o inverso como parece supor o presidente.

A insistência no tema justifica-se pela persistência com que o presidente persegue a via do desacato em gradação crescente.

Há alguns meses seus assessores e políticos mais próximos diziam que havia a hipótese da licença do cargo para uma dedicação exclusiva à campanha de Dilma Rousseff.

O próprio Lula chegou a falar sobre isso em público. Depois houve uma mudança de estratégia e o Palácio do Planalto entrou na fase do desafio explícito à Lei Eleitoral.

Aí vieram as negativas sobre a licença, por desnecessária, e o presidente comprometeu-se a fazer campanha fora do expediente de trabalho.

A etapa seguinte, a atual, está sendo marcada por uma série de punições aos atos eleitorais de Lula, caracterizando a ocorrência de ilícitos. Isso dá margem a dois tipos de processo: abuso de poder político na eleição e improbidade administrativa por infração ao princípio da legalidade no exercício do cargo.

Não satisfeito, Lula contesta o princípio da imparcialidade contido no caput do artigo 37 da Constituição.

Anuncia, já sem as ressalvas da separação de horários, para "depois que forem feitas as convenções partidárias", sua entrada definitiva no processo eleitoral, fazendo-se de inocente sobre as infrações cometidas até agora: "Havia uma outra visão sobre campanha, agora mudou."


Mudou o quê, se a lei é de 1997?

Acabou foi a paciência do Tribunal Superior Eleitoral diante de tantas provocações feitas pelo próprio Lula.

Mas admita-se que diga a verdade quando afirma que está imbuído do novo espírito e disposto a "dar o exemplo". Se bem entendido, significa um compromisso com a legalidade.

Nesse caso, Lula não poderá "fazer campanha quando a campanha começar". Não é demais repetir: não apenas o presidente, mas ministros e demais agentes públicos estão impedidos pelo princípio da impessoalidade de atuar como cabos eleitorais, bem como é proibido o uso da máquina administrativa para fins eleitorais.

Entre outros motivos porque governo é poder delegado e ninguém pode fazer dele o que quer.

Jogo duro. Não tem só a ver com futebol. Em um mundo de marias-vão-com-as-outras Dunga se diferencia. No bom sentido.

Pode até ficar devendo no quesito fidalguia, mas não se deixar levar. Evidente que não precisava ter cumprimentado o presidente Lula com a mão no bolso.

Mas de alguma forma era justo que manifestasse sua contrariedade com a CBF por obrigar a seleção a desviar sua rota para fazer uma foto em Brasília. Não basta sucumbir, é preciso fazê-lo sorrindo?

Critica-se a carranca de Dunga, mas aceitam-se as politicagens de Ricardo Teixeira, embora não seja necessário entender coisa alguma do ramo para notar quem é o mais confiável.

Agora, já na África, o ditador do Zimbábue quis faturar politicamente a presença da seleção brasileira, mas Dunga vetou proximidades com Robert Mugabe.

Só nos faltava essa:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O governo jura que não tem nada a ver com isso, mas o abraço da seleção brasileira com o ditador de Zimbábue, Robert Mugabe, é dessas cenas que entram para a história e nos matam de vergonha. E num quesito em que o Brasil não anda muito bem ultimamente.

Enquanto o mundo ocidental quer impor sanções ao Irã e vive de condenação em condenação a regimes como os do Sudão, do Congo, da Coreia do Norte e do Zimbábue, onde se perseguem adversários políticos e se matam pessoas a rodo, o Brasil tenta contemporizar, por exemplo, no Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Sem contar os episódios recentes envolvendo Cuba. Quem se esquece dos boxeadores dissidentes sendo despachados do Brasil para Havana num avião do governo venezuelano? E da foto de Lula às gargalhadas com os irmãos Fidel e Raúl Castro, na ilha, justamente no dia da morte de um opositor do regime em greve de fome?

Com esse passivo do tamanho de um elefante, sob o argumento de que é menos perigoso conversar do que isolar, tudo o que o governo não quer é, a esta altura do campeonato -e da própria Copa do Mundo-, aparecer com a nossa seleção nessa foto com Mugabe.

É por isso que, enquanto Dunga e seus homens se aqueciam legitimando o ditador lá, Planalto e Itamaraty saíam de campo cá: não foi uma operação diplomática, o governo não teve nenhuma influência, não temos nada a ver com isso, a CBF é que se explique...

Se a seleção está no ataque, o governo está na defesa. Diz que Lula irá pela 11ª vez à África em julho e em nenhuma delas pisou no Zimbábue. E a recíproca é verdadeira: Mugabe também nunca visitou o Brasil nestes oito anos de Lula.

Aliás -olhaí a pimenta diplomática-, o que se lembra é que a última vez que ele veio ao Brasil foi em 1999, no governo tucano de Fernando Henrique. De lá para cá, parece que piorou muito.

Tão pobres e tão contentes:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Era uma vez a inauguração do pavilhão brasileiro na feira de Hannover (Alemanha), presente o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Para animar a festa, foi arrebanhado um grupo de frevo, naturalmente pernambucano. Enquanto esperavam a vez de atuar, tiritavam de frio nos bastidores, vestidos com as roupas relativamente sumárias exigidas para o espetáculo.

Quando entraram em ação, mostraram a alegria de praxe. Pensei comigo, sinceramente condoído: tão pobrezinhos, mas tão alegres.

Não consegui impedir que a memória voltasse a essa cena ao ler anteontem a reportagem em que Larissa Guimarães relata que, mesmo com os benefícios do Bolsa Família, a renda das famílias no Norte e no Nordeste não consegue ultrapassar a linha de pobreza.Linha, aliás, estabelecida em R$ 70, o que torna mais justo chamá-la de linha da miséria.

Não obstante tal nudez de rendimento, as famílias do Norte e do Nordeste estão tão alegrinhas que transformaram Luiz Inácio Lula da Silva, cuja imagem está colada ao Bolsa Família, em uma espécie de Padim Ciço dos novos tempos.

Repito, porque os hidrófobos e debiloides do lulo-petismo não conseguem pensar, que não se trata de ser contra o Bolsa Família. Trata-se, pura e simplesmente, de reconhecer o óbvio, como o faz a reportagem de Larissa: por muito necessário que seja, por avanços que de fato traz, não basta nem para tirar os beneficiários da pobreza quanto mais para proporcionar uma mudança estrutural.

Ah, essa situação torna ainda mais patética a afirmação que gente do governo faz -e analistas distraídos ou de má-fé reproduzem mecanicamente- de que está havendo queda da desigualdade no Brasil. Como, se o Bolsa Família leva algo em torno de 0,4% do PIB e o pagamento dos juros ao andar de cima consome oito vezes isso (3,3% do PIB)?

Garotinho : o X da questão no Rio

DEU NO JORNAL DO BRASIL

RIO - Os 43% dos votos que o Governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), levaria se as eleições fossem hoje, conforme indicou pesquisa Ibope/ Sindicato dos Condutores da Marinha Mercante, divulgada terça-feira no Informe JB foram comemorados pelos articulistas da pré-campanha do governador. Contudo, especialistas afirmam que Cabral ainda não tem o quê comemorar. Se Garotinho (PR) conseguir reverter a decisão do TRE-RJ que o tornou inelegível nos próximos três anos, a reeleição do governador, sobretudo no primeiro turno, pode estar ameaçada.

Para Paulo Baía, sociólogo e cientista político professor da UFRJ, a boa avaliação de Cabral é mais mérito do presidente Lula do que do desempenho do peemedebista. Baía ressalta que, em 2006, o governador só conseguiu vencer a então adversária Denise Frossard (PPS) porque contou com o apoio do casal Garotinho.

– E ainda hoje Garotinho tem os votos das zonas Norte e Oeste do Rio, da Baixada, e do interior – avalia. – Se o TSE permitir que ele fique na disputa, Garotinho certamente teria o apoio de 50 dos 92 prefeitos do estado. Haveria segundo turno. Com o próprio Garotinho ou com Gabeira.

O sociólogo, professor da Uerj, e diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu Monteiro, acredita que o bom desempenho de Cabral nas pesquisas indica que ele tem chance de vencer sem obstáculos no primeiro turno. Mas reconhece que com Garotinho na disputa o cenário muda.

– O crescimento do Cabral tem sido constante – conclui. – Tem muito a ver com a melhoria da situação da segurança no estado. Mas a presença Garotinho provoca segundo turno, seja com ele, seja com Gabeira. A possibilidade de impugnação da candidatura dele se tornou o xis do cenário eleitoral aqui no estado.

Céu de brigadeiro

Nas trincheiras do PMDB o resultado da pesquisa foi comemorado. Paulo Mello, líder do governo na Alerj e secretário geral do partido no estado, já fala em vitória no primeiro turno.

– Acho que tem chances. O governador acertou o estado, conseguiu um equilíbrio fiscal que eu nunca vi aqui no Rio – comemora – O estado recebe obras de infraestrutura importantíssimas. A saúde vai bem, as UPAs 24h são um sucesso. E tem a questão da segurança, as UPPS conquistaram o respeito e o apoio da população.

Já o vice-prefeito do Rio, e 2º vice-presidente do PMDB no estado, Carlos Alberto Muniz, preferiu a cautela, sem disfarçar a empolgação.

– Eleição se ganha voto a voto, é assim que estamos encarando esse pleito – diz – Mas, inegavelmente, essa pesquisa reflete o belo desempenho do governo. As UPPs e as UPAs são realizações de sucesso. E a parceria entre o governo federal, o governo do Rio, e a prefeitura da capital tem trazido obras estruturantes para o estado.

Melo e Muniz também afirmam, que a vantagem de 17 pontos que a pré-candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT) abriu no estado sobre seu principal adversário, José Serra (PSDB), se deve ao apoio de Sérgio Cabral .

– O bom desempenho da Dilma no Rio é fruto da determinação do governador de levar o nome dela onde quer que ele esteja – ressalta Mello.

Tempo fechado

No PV e no PR, porém, a pesquisa não agradou. Presidente estadual do Partido Verde no Rio, desconfia do resultado que apontou a presidenciável Marina Silva com apenas 10% das intenções de voto entre os eleitores fluminenses.

– Acho estranho. Pelo levantamento que fazemos, Marina deveria ter, pelo menos, 15%. E o Gabeira já apareceu com 21%, agora tem 12%? – reclama. – Estamos certos de que no Rio ela terá a segunda melhor votação no país. A primeira, será no Acre. Ela vai crescer aqui.

No PR, o resultado também desagradou. Adroaldo Peixoto reclamou do universo da pesquisa, de 812 eleitores.

– Mas uma coisa achei positiva. O Garotinho aparece muito bem posicionado nas classes C e D, que são as que têm o maior número de eleitores – conforta-se. – E olha que ele nem começou a campanha. Certamente ele vai reverter a situação no TSE e vai poder se dedicar ao pleito, aí, deslancha. O Cabral quer ser único, porque sabe que o Garotinho o ameaça.

Comte Bittencourt apresentará emendas para reformas no Cap/Uerj



A Comissão de Educação da Assembleia Legislastiva do Estado do Rio de Janeiro, presidida pelo deputado Comte Bittencourt (PPS), vai apresentar emendas à Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2011 para melhorias na estrutura física do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira, conhecido como Cap/Uerj, localizado no Rio Comprido, zona norte da cidade. A decisão foi tomada após audiência pública realizada hoje (2/6), na Alerj, para tratar alguns problemas que o colégio vem enfrentando. “A comissão visitará a escola em breve e apresentará as emendas ao orçamento para priorizar a questão física do CAP. Vamos cobrar também para que o dinheiro chegue à Uerj e seja aplicado na escola. Só assim os alunos poderão estudar em melhores condições”, afirmou Comte Bittencourt.

A falta de um refeitório para alunos de tempo integral, as péssimas condições das salas de aula e a falta de espaço físico e de um biblioteca foram apenas alguns dos problemas apresentados durante a reunião. O número reduzido de profissionais foi outra questão que vem criando dificuldades para o Cap/Uerj.

“Esses problemas limitam o crescimento da unidade. Não temos condições adequadas para a convivência na instituição, que se dedica à educação de horário integral e que sequer tem um refeitório. Precisamos também da recomposição do quadro de funcionários administrativos e docentes e, para isso, temos que realizar concurso público urgentemente”, disse o diretor do instituto, Miguel Tavares Mathias.

Para a representantes da Associação de Docentes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Asduerj), Inalda Pimentel, a realização do concurso público também é essencial. “Alguns departamentos contam apenas com um docente efetivo e, o restante, é de contratados temporários. Outra questão é a perda de professores para as universidades federais pela diferença entre as remunerações. Um professor com doutorado na Uerj chega a R$ 4.800 mil mas, na UFRJ, é mais de R$ 6 mil”, disse Inalda.

A presidente da Associação de Pais e Professores do Cap/Uerj, Cristina Tardin, lembrou ainda que os problemas do espaço físico levam à impossibilidade de separar as crianças dos jovens, já que a escola atende alunos dos 6 aos 18 anos. “Muitas salas são sem janela, sem ventilação. Graças a um grupo de pais, compramos aparelhos de ar condicionado para as salas de aula”, contou Cristina.

Para Comte Bittencourt, essa situação é inadmissível. “Um governo em que a secretaria de Educação que tem como um dos grandes projetos o Climatizar, com o objetivo de instalar ar condicionado em todas as salas de aula da rede pública estadual, não poderia deixar que os pais tivessem que comprar os aparelhos. Isso é um absurdo”, complementou o presidente da Comissão de Educação.

Membro da comissão, o deputado Alessandro Molon (PT) ressaltou a necessidade de melhoria salarial dos profissionais do estado. “É urgente garantir melhores salários e abrir vagas para a realização de concurso público”, frisou Molon. Os deputados Paulo Ramos (PDT) e Rodrigo Dantas (DEM), também participaram da audiência.

Eduardo e Jarbas no interior

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Governador cumpre agenda hoje pela manhã em Limoeiro e Machados. Já o senador participa de ato à noite em Carpina

Adversários nesta eleição, o governador Eduardo Campos (PSB) e o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) viajam ao interior de Pernambuco, hoje. Por pouco, não estariam na mesma região, a Zona da Mata. Eduardo – que ontem à noite esteve no Forró da AACD – reduziu o roteiro, que acabou restrito a Limoeiro e Machados, no Agreste. Jarbas, por sua vez, vai a Carpina, Mata Norte, às 19h30, para um encontro com lideranças das oposições, entre elas, os companheiros de chapa, o senador e candidato à reeleição Marco Maciel (DEM) e a candidata a vice, a deputada Mirim Lacerda (DEM).

O prefeito de Carpina, Manoel Botafogo (PSDB), que passou para o lado de Eduardo, não estará presente, mas o vice, Antônio Coelho (PMDB), conhecido por Lebre, permanece aliado de Jarbas e prestigiará o ato. A prefeita de Lagoa do Carro, Judite Botafogo (PSDB), irmã do prefeito de Carpina, também não irá. Embora ela tenha participado do lançamento da pré-candidatura de José Serra (PSDB) a presidente, em Brasília, em abril, Judite também passou a integrar a base de Eduardo Campos.

A viagem do governador começa cedo. Às 7h30, ele inaugura a Escola Estadual Sebastião Galvão, um investimento de R$ 1,3 milhão. Pelas contas do Palácio, a escola beneficia 378 alunos matriculados no ensino integral e no ensino médio regular, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e Travessia. Às 9h30, visita as obras da PE-90, trecho de 30 quilômetros que liga Limoeiro a Umari. A conclusão da obra, que custará cerca de R$ 18,5 milhões, está prevista para setembro. Às 11h30, Eduardo inaugura, em Machados, a Academia das Cidades e assina convênio para a ampliação do Hospital Edson Álvares.

Jarbas, por sua vez, participará de evento à noite organizado pelo deputado estadual Antônio Moraes (PSDB), na casa de recepção Bom Gosto, em Carpina. O tucano confirmou ontem a participação de Marco Maciel e Miriam Lacerda, além de prefeitos e vereadores aliados da Mata Norte. O anfitrião e Jarbas discursarão, assim como Maciel e Miriam. Também terão direito à fala o vice-prefeito de Carpina, Antônio Coelho (PMDB), o prefeito de Condado, Ediberto Quental (DEM), o vereador Paulo da Água (PPS). A presença do senador Sérgio Guerra (PSDB), que concorrerá a um mandato de deputado federal, não foi confirmada. Ex-governador por dois mandatos, Jarbas falará, no encontro, das realizações da sua gestão. O senador tem em mãos uma relação detalhada com todas as obras e ações que levam sua assinatura no município – entre elas, a reforma da Unidade Mista de Carpina, visitada por Eduardo recentemente.

Eduardo e Jarbas já têm próximas viagens previstas. A previsão é que o governador já viaje amanhã mesmo. Desta vez, para municípios da Mata Sul.

Eduardo acelera a agenda pois a Justiça Eleitoral determina que políticos-candidatos só podem participar de inaugurações até o dia 2 de julho. O senador já marcou para o dia 13 novo roteiro, desta vez no Agreste.

Osmar Dias mais perto do PSDB

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

PARANÁ- Pré-candidato do PDT ao governo, Osmar Dias desistiu da aliança com o PT. Tende a apoiar o tucano Beto Richa, como sugeriu José Serra em conversas com Dias nas últimas duas semanas.

O pedetista reclama da insistência do PT em lançar Gleisi Hoffmann ao Senado e do que considera indiferença de Dilma Rousseff. A eleição foi tema de um almoço indigesto que reuniu ontem Dias, o ministro petista Paulo Bernardo e o governador Orlando Pessuti (PMDB).

Simon desafia Temer e lança Requião

DEU NO ZERO HORA (RS)

Apesar dos esforços da cúpula do PMDB de mostrar unidade em torno do nome do deputado Michel Temer (SP) como candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff (PT), dissidentes do partido lançaram a candidatura de Roberto Requião à Presidência.

Coube ao senador Pedro Simon registrar ontem, na executiva do partido, a candidatura do ex-governador do Paraná.

A proposta do senador é que o PMDB, em vez de firmar aliança com o PT, tenha candidato próprio à Presidência. A questão deve ser colocada em votação no dia 12, quando o PMDB realiza, em Brasília, a convenção nacional marcada para içar o nome de Temer como indicado do partido a vice de Dilma.

PSDB quer definir vice em uma semana

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Frustrado o projeto de chapa puro-sangue, nome do deputado baiano José Carlos Aleluia, do DEM, ganha força dentro do tucanato

Adriana Carranca, Ana Paula Scinocca, Julia Duailibi

O PSDB espera que o pré-candidato José Serra invista no processo de definição da escolha do vice até a semana que vem. A expectativa é ir para a convenção do partido, no dia 12, já com um nome definido.

Uma reunião com os líderes dos principais partidos aliados - DEM e PPS - está marcada para discutir a composição política da aliança com o PSDB, passado o feriado de Corpus Christi. Ontem, a cúpula tucana se reuniu por, pelo menos, três horas no Instituto Fernando Henrique Cardoso para tratar do assunto e pedir "brevidade" na decisão.

Durante o encontro, tucanos defenderam mais "descentralização" e "discussão" sobre decisões cruciais da campanha. Também falaram sobre os palanques estaduais e decidiram ser necessário mais empenho em alguns Estados, como o Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do País, onde Dilma Rousseff (PT) abriu 17 pontos de vantagem, segundo o Ibope.

"Precisamos de uma campanha mais robusta, com maior otimização do tempo", declarou o ex-governador Aécio Neves ao deixar o encontro, do qual também participaram o senador Tasso Jereissati (CE), o ex-presidente do partido Pimenta da Veiga (MG), além de FHC e o presidente da legenda, Sergio Guerra.

Diante das negativas de Aécio sobre aceitar a candidatura a vice, aumentou no partido a ideia de que o cargo deve ser dado para o DEM. O nome do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) está em discussão, assim como o do senador José Agripino Maia (DEM-RN). Como o senador tem uma reeleição praticamente certa, tucanos ponderam que seria ruim perder a cadeira para adversários e que o melhor talvez fosse mantê-lo no Senado.

Os dois parlamentares têm bom relacionamento com Serra - condição fundamental para a escolha - e são do Nordeste, onde o PSDB tem seu pior desempenho nas pesquisas eleitorais.

Guerra, cujo nome também chegou a ser cotado em caso de chapa puro-sangue, deu pistas de que um vice do DEM é o caminho mais provável a ser adotado. "Vamos esperar o feriado passar e discutir o assunto. Eu defendo uma solução rápida", disse ontem. O senador faz parte do grupo favorável a que o PSDB tenha o vice escolhido e anunciado até a convenção do dia 12.

Dentro do PSDB, porém, há quem defenda a tese de que a escolha não precisa ser feita com pressa, podendo deixar a decisão para 30 de junho, data limite prevista pela Lei Eleitoral.

Se o nome não for do PSDB, o ex-presidente Itamar Franco (PPS-MG) tem contado com entusiastas, principalmente os mineiros - ele deixaria de entrar na corrida ao Senado, vaga que Aécio também quer disputar.

Na reunião, os tucanos foram uníssonos ao dizer que a decisão final ficará para Serra. A ala favorável à puro-sangue cogitou também o nome de Tasso. O próprio Fernando Henrique, no entanto, ponderou que o senador, de temperamento forte, não tem perfil para ocupar a vice.

Outro nome cotado no caso da puro-sangue é o da senadora Marisa Serrano (MS). A indicação de uma mulher para vice de Serra poderia neutralizar o "efeito gênero" das candidaturas de Dilma e Marina Silva (PV).

Marisa tem viajado a São Paulo, sempre às segundas, para se reunir com Serra. É ela quem coordena a agenda dele e, na ausência de Guerra, assume a coordenação da campanha.

Dilma e Serra discordam de Lula sobre carga tributária

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula justificou a alta carga tributária do Brasil, uma das mais altas do mundo, dizendo que ela é necessária para que o Estado seja forte e atenda os mais pobres. "Tem muita gente que se orgulha de dizer: "No meu país, a carga tributária é de apenas 9%"; "No meu país, é (de) apenas 10%". Quem tem carga tributária de 10% não tem Estado! O Estado não pode fazer nada", discursou Lula. A carga de impostos no Brasil atinge cerca de 36% do PIB, e no ano, só até ontem, os brasileiros pagaram R$ 500 bilhões de tributos. Os pré-candidatos presidenciais José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) criticaram o sistema tributário e a alta carga de impostos e defenderam a redução. Para Serra, a carga de tributos no Brasil é perversa porque penaliza os mais pobres. "Quem tem carga de 10% faz um país do tamanho da China", reagiu a Lula o economista Paulo Rabello de Castro.

O Estado só é forte com alta carga de impostos?

Lula afirma que sim, mas Serra e Dilma discordam e defendem redução

Maria Lima e Sérgio Roxo

BRASÍLIA, SÃO PAULO e GOIÂNIA - Apesar de o Brasil ter a mais alta carga tributária da América Latina e uma das maiores do mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o alto volume de impostos registrado hoje no país — em torno de 36,5% do PIB — como forma de garantir um Estado presente e forte. O discurso de Lula foi feito na noite de anteontem, no encerramento do Seminário de Alto Nível da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), em Brasília.

Ontem, os dois pré-candidatos que lideram a disputa presidencial, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT), foram em outra direção, atacando a alta carga tributária e defendendo redução.

Ao fazer um histórico sobre avanços socioeconômicos do país nos últimos anos, sobretudo em seu governo, Lula disse, em tom de desafio, que país com carga tributária baixa não tem um Estado presente na vida da população: — Penso que estamos construindo um mundo mais verdadeiro, com defeitos e com virtudes. Tem muita gente que se orgulha de dizer: “No meu país, a carga tributária é de apenas 9%”; “No meu país, a carga tributária é (de) apenas 10%”. Quem tem carga tributária de 10% não tem Estado! O Estado não pode fazer absolutamente nada. Está aí, cheio de exemplos para a gente ver — discursou Lula. — É só percorrer o mundo para a gente perceber que exatamente os Estados que têm as melhores políticas sociais são os que têm a carga tributária mais elevada.

Vide Estados Unidos, Alemanha, França, Suécia, Dinamarca. E os que têm a carga tributária menor não têm condições de fazer absolutamente nada de política social.

No contexto do seu discurso, de que o Estado precisa cobrar impostos para ajudar os pobres — apesar de eles serem duramente penalizados pelos tributos —, Lula disse que não foi apenas o acerto da política macroeconômica que fez o Brasil chegar à situação em que está hoje: — É importante lembrar que foi a quantidade de políticas sociais que colocamos neste país. Devemos, sim, ter orgulho de nossas recentes conquistas nas áreas social e econômica, mas não podemos nos esquecer de que os desafios futuros ainda são imensos.

Serra: nunca se pagou tanto imposto

Já o tucano José Serra acusou ontem o governo federal de elevar a carga tributária da população mais pobre e de gastar mal os recursos que arrecada.

As críticas foram feitas após o tucano acompanhar o painel do “impostômetro” — equipamento instalado na capital paulista pela Associação Comercial de São Paulo para contabilizar uma estimativa dos impostos pagos pelo brasileiro no ano — atingir, ontem cedo, a marca de R$ 500 bilhões.

Serra destacou que a cifra foi alcançada 20 dias antes do que no ano passado.

— Nunca se pagou tanto imposto no Brasil. Aí tem várias questões: quem paga mais imposto são os que ganham menos de três salários mínimos.

Quanto mais pobre, mais paga, porque os impostos estão embutidos nos preços das coisas que se compra, inclusive alimentos. Nos últimos anos, essa evolução foi perversa. Manteiga paga 53% de impostos; arroz e feijão, cerca de 19%; e por aí vai. O peso dessa carga tributária recai proporcionalmente mais para os que menos têm.

Essa que é a verdade, e isso tem se agravado nos últimos anos.

Ao falar da forma como os recursos são usados, Serra fez ataques duros à gestão de Lula, principal cabo eleitoral da ex-ministra Dilma Rousseff: — O uso (do dinheiro arrecadado) é tão distorcido que agora, a seis meses do fim do ano, o governo está cortando gastos na saúde, que é o setor mais carente dos serviços públicos, ao lado da segurança. Mais ainda: há cortes de gastos também na educação. Apesar de toda essa arrecadação, o gasto é tão mal feito que o governo acaba cortando em áreas como saúde pública.

Ainda para criticar os gastos, Serra disse que o governo federal estaria distribuindo nas escolas propaganda da gestão Lula: — Estão distribuindo nas escolas material de propaganda do governo federal, nas escolas estaduais (de São Paulo) inclusive. Isso está constando como despesa da educação, porque entra no item da educação (do orçamento).

Perguntado sobre detalhes do material distribuído, disse se tratar de “um calhamaço de propaganda pura” e afirmou ter certeza que a impressão coube ao governo federal: — Suponho que não é o município de Tirica (cidade que não existe) que vai imprimir uma propaganda do governo federal, concorda? Mas Serra não soube citar o nome de escolas que receberam o material: — Chegou no estado.

O Ministério da Educação informou que não pode, por lei, fazer propaganda, a não ser destinada à prestação de serviço. A assessoria de imprensa do órgão disse ainda que Serra deveria dar mais detalhes do material a que se referia.

As críticas do tucano ao governo federal não pararam por aí. Serra acusou a gestão Lula de aumentar o imposto sobre saneamento e, indiretamente, obrigar os governos estaduais e prefeituras a tomarem empréstimos a juros na Caixa Econômica Federal para poder fazer obras de ampliação da rede de saneamento: — A voracidade é tanta que se arrecada como imposto para depois devolver como empréstimo. Há uma distorção grande nessa área, e acho que tudo isso tem de ser corrigido. Ou pelo menos começar a ser corrigido em vez de continuar piorando, como tem ocorrido nos últimos anos.

A solução da questão tributária brasileira, na avaliação de Serra, não passa apenas pela reforma: — Muitas coisas não são um problema de reforma na Constituição.

Muitas vezes é de lei, de atitude. A questão do gasto público não está engessada na Constituição. Alíquotas de impostos não estão fixadas na Constituição.

Acho que se cria um mito de sempre falar: é a reforma tributária.

(...) O governo precisa conhecer o assunto, ter uma proposta e fazer um trabalho político em todo o Brasil. Quando o mesmo governo que aumenta imposto em saneamento propõe uma reforma tributária, isso fica muito enfraquecido.

Cobrada por cerca de 400 integrantes do Fórum Empresarial de Goiás sobre a urgência de uma reforma tributária adiada pelo governo Lula, Dilma adotou ontem um tom mais crítico sobre o que ela própria chamou de confusão e falta de transparência do atual modelo arrecadatório brasileiro, que já rendeu aos cofres públicos nos primeiros cinco meses deste ano R$ 500 bilhões. Ciente das dificuldades de consenso para alterar a Constituição e promover uma redistribuição de encargos entre União, estados e municípios, Dilma defendeu a redução de impostos de produtos e serviços que vão dos remédios à energia elétrica.

— Por que ninguém fez a reforma tributária até hoje? Porque é muito difícil. Primeiro, porque tem que alterar a Constituição — disse Dilma, criticando: — O sistema tributário é caótico? É. É confuso e pouco transparente, e ninguém sabe o que está pagando? Também é .

Dilma fala também em redução de juros

Segundo Dilma, entretanto, já se criaram condições para uma estratégia dupla: enquanto não se faz a reforma tributária, reduzem-se impostos.

E citou os setores em que poderia haver desoneração, segundo ela: investimentos; reduzir a zero imposto sobre exportações; reduzir tributação sobre folha de salários mediante aporte de recursos do Tesouro para não quebrar a Previdência; remédios; e redução bastante significativa sobre energia elétrica.

Em entrevista à Rádio Terra, de Goiânia, Dilma também prometeu que, se eleita, o governo vai caminhar para uma redução drástica na taxa de juros, a ponto de atingir níveis de taxas internacionais. Ela disse que a meta é a redução da dívida liquida do governo em 28% do PIB até 2014, o que geraria “uma taxa de juros mínima”.

Além de falar para os empresários do setor de agronegócio e indústria na Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), Dilma e o presidente do PT, José Eduardo Dutra, tiveram encontros políticos e explicitaram apoio à candidatura do ex-prefeito Íris Rezende para o governo de Goiás.

Serra: responsabilidade por dossiê é de Dilma

DEU EM O GLOBO

Pré-candidata do PT reage dizendo que é "uma falsidade" e Dutra afirma que tucano sofre de "pesquisite aguda"

Sérgio Roxo e Maria Lima*

SÃO PAULO e GOIÂNIA. O précandidato do PSDB à Presidência, José Serra, acusou ontem sua adversária Dilma Rousseff (PT) de ter responsabilidade pelo suposto dossiê preparado pela campanha petista para atingir a filha do tucano, Verônica. Serra cobrou explicação de Dilma e acusou os petistas de sempre recorrerem a esse artifício em disputas eleitorais: — A principal responsabilidade por esse novo dossiê é da candidata Dilma Rousseff, disso eu não tenho dúvida. Como a principal responsabilidade pelo dossiê dos aloprados foi do Aloizio Mercadante, como a principal responsabilidade dos dossiês de 2002 foi do Ricardo Berzoini.

O PT tem longa tradição nesta matéria. Então, caberá a eles explicar o que aconteceu.

Serra não quis comentar, porém, a possibilidade de o episódio dar novo tom à campanha.

Na disputa pelo governo de São Paulo, em 2006, petistas ligados à campanha de Mercadante, chamados depois pelo presidente Lula de aloprados, foram presos comprando dossiê contra Serra. Berzoini trabalhou na campanha de Lula em 2002, mas não chegou a ser confirmada sua participação em dossiês.

O suposto dossiê acirrou os ânimos entre petistas e tucanos, com troca de ofensas. Um dia após o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, desafiar Dilma a responder sobre as acusações, o comando do PT blindou a candidata, e o presidente do partido, José Eduardo Dutra, chamou para si a resposta ao que chamou de patifaria. Disse que Serra está com “pesquisite aguda” — alusão ao resultado de pesquisas desfavoráveis ao tucano — e responsabilizou o jornalista Luiz Lanzetta por conversas que tenham levado à confusão dos dossiês.

Dilma passou o dia em Goiânia e teve uma coletiva cancelada para evitar perguntas. Dutra disse cuidaria “da parte da baixaria”.

Mas, após evitar os jornalistas, Dilma acabou falando: — Isso é uma falsidade! Não vou ficar batendo boca sobre isso. É uma falsidade! Dutra disse que estava ansioso para ouvir perguntas sobre as declarações de Serra: — Lamento profundamente esse tipo de declaração. Só posso atribuir isso ao fato de o Serra estar enfrentando um grau de estresse acima do suportável, ou que esteja com pesquisite aguda — ironizou o petista.

Ao ser informado de que o PPS pediu à Procuradoria da República investigação sobre a denúncia, Dutra disse que não está preocupado com a menção de dossiê “que o comando da campanha não encomendou nem autorizou ninguém a fazer”.

— Já respondi ao Sérgio Guerra que isso é uma patifaria. Serra, infelizmente, está indo para o mesmo caminho do presidente do partido dele. E o nome disso só pode ser desespero. Nunca responsabilizamos o Serra sobre as baixarias que aparecem na internet, contra a Dilma. Seria absurdo se o fizéssemos.

PPS pede à Procuradoria da República que investigue

DEU EM O GLOBO

BRASÍLIA. O PPS protocolou ontem pedido para que a Procuradoria Geral da República (PGR) investigue a campanha da petista Dilma Rousseff pela suposta elaboração de dossiê contra o tucano José Serra. O documento, assinado pelo deputado Raul Jungmann (PE), diz que pode ter havido utilização da máquina pública para fins espúrios. O assunto provocou troca de acusações entre governistas e a oposição no Congresso.

— Trata-se de um tema criminal de extrema gravidade. Lugar de criminoso, de aloprado, de chantagista e araponga não é na política. É na cadeia! — disse Jungmann.

Petistas acusaram o deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ) de produzir dossiês contra o PT. Itagiba usou a tribuna da Câmara para negar, e pediu que a Câmara tome providências sobre o suposto dossiê petista. Líder da minoria na Câmara, o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) lembrou a quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo, que derrubou o ministro Palocci. Para Fruet, mais uma vez pessoas ligadas à campanha do PT fazem coisas que petistas chamam de “atos de aloprados”.

No Twitter, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), voltou a cobrar explicações de Dilma e lembrou outros casos: “Uma campanha organizando dossiê contra outra, algo secreto, muito vergonhoso. Isso não pode continuar”.

O “mensaleiro” Dirceu tenta contornar crise na campanha do PT

DEU EM O GLOBO

Deputado cassado no caso do mensalão se reúne com Dilma e com a coordenação da equipe da pré-candidata

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Com a crise do dossiê instalada dentro da campanha de Dilma Rousseff, o PT recorreu ao ex-ministro José Dirceu para que ele ajude a pacificar o partido. O ex-chefe da Casa Civil, que teve o mandato de deputado cassado por envolvimento no mensalão, ficou dois dias em Brasília. Terça-feira, Dirceu teve longa conversa com Dilma. Ontem, participou da reunião de coordenação da campanha. Com grande influência na máquina partidária, Dirceu atuou intensamente nos bastidores para tentar solucionar os problemas internos.

No Palácio do Planalto, há preocupação com o elevado grau de disputa que tomou conta do comitê eleitoral de Dilma.

Como revelou O GLOBO, a parte mais visível dessa disputa foi explicitada entre o grupo próximo a Dilma, liderado pelo exprefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, e o grupo do deputado estadual Rui Falcão (PT-SP), que tem ligações históricas com a máquina petista.

— Quando há um problema desse tamanho, chamam Zé Dirceu para resolver. Só ele tem influência em setores do partido — contou um dirigente do PT.

As consequências mais visíveis dessa queda de braço interna são o fortalecimento da burocracia interna do partido e a perda de espaço dos mais próximos a Dilma. Os integrantes do partido que tinham sido excluídos do comando da campanha viram no episódio a oportunidade de tentar retomar a influência.

Nesses últimos dias, houve forte movimentação, tanto do Planalto como no próprio PT, para enfraquecer Fernando Pimentel.

Já se trabalha por um afastamento discreto de Pimentel do núcleo da campanha. A justificativa oficial seria sua provável candidatura ao Senado por Minas, o que dificultaria sua presença na equipe. Mas Dilma resiste à pressão para afastar Pimentel, seu amigo desde o período de combate à ditadura.

Ontem, Pimentel não participou da reunião de coordenação, que teve a presença de Dirceu.

Os petistas juram que a crise do dossiê não foi citada. A estratégia é minimizar o episódio para evitar essa agenda negativa num momento em que Dilma cresce nas pesquisas. Pimentel tem sido criticado nos bastidores. Há o reconhecimento, até mesmo de aliados do mineiro, de que ele fez uma trapalhada ao escolher o jornalista Luiz Lanzetta para a comunicação da campanha.

Proprietário da Lanza Comunicações, Lanzetta é apontado como o responsável pela montagem do grupo de arapongas que teria feito o suposto dossiê contra Verônica Serra, filha do tucano José Serra. Também teriam sido alvo de investigação o secretárioexecutivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, e o deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), ex-delegado da PF, que trabalhou em parceria com Serra quando este foi ministro da Saúde.

Os ataques a Pimentel não se resumem apenas ao episódio do dossiê. Já havia incômodo pelo fato de ele ter dificultado a aliança com o PMDB em Minas.

DEM e PSDB estudam ações contra centrais

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Representantes dos partidos veem uso indevido do imposto sindical na assembleia da Conclat de anteontem, em São Paulo

Roberto Almeida

DEM e PSDB devem entrar com representação na Justiça Eleitoral contra as cinco centrais sindicais - Força, CUT, CGTB, CTB e Nova Central -, que realizaram anteontem a assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), no Estádio do Pacaembu, em São Paulo.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), afirmou que o caso já está sob análise do departamento jurídico da legenda. "Se é para cumprir nosso papel, nós vamos cumprir, mesmo que para eles não faça a menor diferença", disse, sobre os dirigentes sindicais que discursaram na Conclat.

"O desrespeito é diário e permanente", afirmou Maia. "Se voltaram a fazer dossiê (referência ao suposto dossiê contra o pré-candidato tucano José Serra), são capazes de fazer de tudo."

Na Conclat, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, baixou o tom durante sua fala, temendo represálias da Justiça Eleitoral. No dia anterior, em evento com movimentos sociais, havia chamado Serra de "um sujeito" capaz de gerar "conflito social" e tirar o direito dos trabalhadores.

Artur Henrique, presidente da CUT, que também havia atacado Serra um dia antes, falou na Conclat em "não permitir o retrocesso", referindo-se ao pré-candidato tucano. Em seguida, citou nominalmente Fernando Henrique Cardoso, com críticas à sua gestão na Presidência.

Além dos discursos dos presidentes, o evento todo, com quatro horas de duração e dezenas de pronunciamentos de dirigentes sindicais, foi permeado por falas incisivas em favor da petista Dilma Rousseff e rasgados elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em um vídeo, apresentado no telão do estádio, a menção à exploração do petróleo do pré-sal foi coberta por uma imagem de Lula.

Imposto sindical. O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), classificou a assembleia da Conclat no Pacaembu como "mais um capítulo de uma lamentável novela de uso do dinheiro público em favor da estrutura governista".

O senador se refere ao uso do dinheiro arrecadado pelas centrais com o imposto sindical ? valor de um dia de trabalho ao ano de todo trabalhador com carteira assinada ? para custear o evento.

Segundo Paulinho, as cinco centrais sindicais empenharam R$ 800 mil para pagar o aluguel do Estádio do Pacaembu, para coordenar o trânsito em São Paulo, para o transporte e os lanches oferecidos a militantes, delegados e dirigentes, além da montagem da infraestrutura de palco e som.

No entanto, o valor pode ser ainda maior, já que os gastos dos sindicatos, especialmente com transporte, estão pulverizados e não foram contabilizados.

"Eles escancararam totalmente, perderam e cerimônia. É o dinheiro público em uma movimentação política fora de época", observou Agripino.

Para o líder tucano no Senado, Arthur Virgílio (AM), é "natural e desejável" que o PSDB entre com representação contra as cinco centrais sindicais, especialmente pelo uso de verba do imposto sindical. "É dinheiro público", sublinhou.

Sobre o fato de os dirigentes já terem sido multados anteriormente, no evento do 1.º de Maio, Virgílio anotou: "Eles estão em uma escalada, testando a Lei Eleitoral e transgredindo em troca de multas irrisórias e achando que vale tudo."

Sindicalismo de Estado

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Editorial

No que foi, para todos os efeitos, o maior comício até aqui da campanha que oficialmente ainda não começou para fazer da ex-ministra Dilma Rousseff a sucessora do presidente Lula, 5 das 6 centrais sindicais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho reuniram terça-feira, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, perto de 15 mil pessoas - metade do esperado, por sinal. O pretexto para o evento - a assembleia da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) - era aprovar uma agenda de 290 propostas a ser entregue aos presidenciáveis.

Na realidade, foi uma escancarada mobilização eleitoral pela "continuidade" do governo lulista, para "impedir o retrocesso". Os nomes Dilma Rousseff e José Serra não foram pronunciados, nem seria preciso, embora um espectador menos avisado ? e havia muitos entre os homens e mulheres trazidos pelas centrais com as despesas pagas e mais algum ? pudesse achar que estava sendo convocado a votar em Lula. O disfarce era roto. "Para não ser tachado de fazer campanha", entoou o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, do PDT paulista, "quero cantar o Hino à Bandeira."

Na véspera, o notório Paulinho da Força tinha sido mais autêntico. Fez pouco da Justiça Eleitoral ao dizer que não adiantaria processá-lo (pela quinta vez), pois "continuaria a falar". E investiu contra "esse sujeito", José Serra, que irá "tirar os direitos dos trabalhadores", caso se eleja. De uma forma ou de outra, os dirigentes da Força, da CUT e outras centrais alinhadas com os interesses do governo que as acolheu no seu bojo montaram uma linha de produção em série de ilícitos. Proibidas de fazê-lo, engajam-se ostensivamente em campanhas eleitorais, desrespeitando, além disso, as restrições legais que se aplicam ao chamado período de pré-campanha.

E tudo com dinheiro do imposto sindical instituído pelo Estado Novo de Getúlio Vargas ? o dia de salário que os trabalhadores, sindicalizados ou não, têm descontado uma vez por ano. A bolada vai para os sindicatos únicos (no Brasil, como se sabe, apenas uma entidade pode representar determinada categoria profissional em determinada base territorial) e daí para as centrais. Graças a esse arranjo perverso, as oligarquias sindicais têm meios de sobra para fazer política ? corajosamente a favor, como se diz, do governo com o qual vivem em mancebia, arquivados os antagonismos não raro ferozes entre elas.

Apenas no mês passado, por exemplo, a União repassou para as 5 centrais que promoveram o comício do Pacaembu um total de R$ 70,2 milhões. Perto disso, a conta do evento ? R$ 800 mil, entre aluguel do estádio, infraestrutura do espetáculo, custeio dos participantes e gastos com a coordenação do trânsito ? chega a parecer uns trocados. Há mais, muito mais, proporcionado por esse modelo contra o qual outrora Lula, o metalúrgico, se insurgia.

O imposto sindical é o que torna possível o novo pelegato, a cooptação dos controladores das máquinas sindicais pelo lulismo, fazendo lembrar a Era Vargas e o peronismo na Argentina. É o sindicalismo de Estado.

A eleição de Lula produziu na estrutura do setor público federal uma troca de guarda como não se via desde a Revolução de 1930. A nova elite do poder vem dos quadros do PT - muitos de origem sindicalista - e dos cristãos-novos do lulismo, entre os quais se destacam as corriolas do sindicalismo de resultados. "Uma vez que a Força Sindical e a CUT foram adversários históricos, a aproximação entre elas não tem nada de programático ou ideológico", observa o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, professor titular aposentado da USP e da Unicamp, estudioso do sindicalismo.

A convergência oportunista não se limita, evidentemente, às duas maiores centrais. Também as outras, com exceção da pequena UGT, sob influência do PPS, entraram na roda. "É visível o esforço dos seus dirigentes para se legitimar perante o PT e serem bem aceitos pelos cutistas", aponta o especialista. Nessa geleia geral, não é descabida a sua hipótese da formação de "uma só entidade sindical gigante", que seria conduzida por ninguém menos do que o futuro ex-presidente Lula.

Cooptação deslavada :: Blog do Pitacos



Nos últimos oito anos, o sindicalismo brasileiro foi cooptado pelo governo Lula, tornando-se mera correia de transmissão do lulo-petismo e de seu projeto de poder. A cooptação foi tão deslavada que as centrais sindicais travam um campeonato particular, para definir qual delas é a mais governista.

Reconheça-se que o presidente da Força Sindical, Paulinho da Força, tem saído na frente, em matéria de fazer o jogo sujo na disputa presidencial e deve ganhar o prêmio de pelego do ano. Recomendamos a quem queira entender a transmutação do presidente da Força (outrora ferrenho opositor de Lula) a leitura da coluna de Dora Kramer, intitulada “Sindicato da Boquinha”.

Deixemos o rapaz de lado e vamos ao que interessa: a inteira domesticação do movimento sindical, que deu mais uma demonstração de sua subordinação ao promover um ato de campanha eleitoral em favor da Dilma, disfarçado sob a capa de aprovar uma “agenda dos trabalhadores” a serem apresentadas a todos os candidatos a presidente.

Isto é conversa para boi dormir, como deixaram claros os discursos dos presidentes das centrais, todos eles pregando a necessidade da “continuidade do governo Lula” e de se “evitar o retrocesso.” E o que eles entendem por retrocesso? A eleição de Serra, claro.

Como os fins justificam os meios, vale tudo. Vale a mentira do presidente da Força de dizer que Serra irá acabar com a licença-maternidade, as férias dos trabalhadores e o 13º salário. E vale a falsificação da história feita pelo presidente da CUT, ao dizer que “o mensalão foi um golpe da direita contra Lula”. Os dois ensandecidos deram estas declarações um dia antes do convescote realizado no Pacaembu.

A que se deve tamanho atrelamento das centrais, que não largam as tetas do Estado? Em primeiro lugar à vivacidade de Lula de ter permitido a elas a participação no butim do imposto sindical. Diga-se de passagem que, no seu nascedouro, a CUT e a Força pregavam o fim deste imposto. Mas hoje têm este imposto como uma importante fonte de renda, ao lado do acesso a outras benesses governamentais.

Outro componente para a cooptação foi a nomeação de sindicalistas para cargos públicos, particularmente nos fundos de pensão, onde a “companheirada” da CUT dá as cartas em muitos deles. Mas a turma da Força Sindical não tem do que se queixar, pois, no loteamento político do governo, Lula cedeu o Ministério do Trabalho ao PDT, que é o partido de Paulinho da Força. Para completar a domesticação, Lula faz concessões de cima para baixo, para que os sindicalistas mantenham suas bases sob controle.

É um expediente que Getúlio manipulou à exaustão e que Lula vem operando com sucesso. As centrais participam das “negociações” do salário mínimo e do aumento dos aposentados. O governo cede aqui e ali, nada de significativo. Em troca, o movimento sindical comporta-se como bom menino e faz o jogo sujo contra os adversários do lulo-petismo.

Nos estados onde o PSDB é governo, tome combatividade e radicalização de greves de funcionários. Já na esfera federal, tome peleguismo. Nada de inédito. Afinal de contas, o gangsterismo sindical de Chicago tinha também o seu lado “combativo”. Nas terras de Al Capone, "sindicalistas" promoviam greves selvagens, algumas delas com o interesse de quebrar uma empresa para beneficiar outra.

Este processo perverso de constituição de um sindicalismo chapa-branca – fenômeno tipo do corporativismo fascista e do “socialismo real” - tem sido motivo de preocupação por parte de especialistas e não é possível ainda saber onde ele pode desembocar.

Lêoncio Martins Rodrigues, em entrevista ao “Estadão”, mostra que a aproximação entre a CUT e a Força, outrora inimigos que iam às vias de fato nas eleições sindicais, não tem nada programático ou ideológico.

Segundo ele, a “forte distribuição proporcional dos recurso para elas (as centrais) e a ideia da recriação da Conclat fazem pensar num amplo movimento que poderia ir mais além da “simples” eleição de Dilma e que terminaria n a formação de uma só entidade sindical gigante. Lula, já fora da Presidência da Republica, seria o grande chefe, mais poderoso do que nunca, capaz de cortar qualquer pretensão de independência que sua candidata possa imaginar que teria, caso seja eleita. Seria uma espécie de Perón vindo das classes baixas.”

Peleguismo em ação

DEU EM O GLOBO

NÃO É preciso ser especialista para saber da ilegalidade do encontro promovido por centrais sindicais em São Paulo para apoiar a candidatura Dilma Rousseff e execrar a do tucano José Serra. Mesmo se fosse com objetivo oposto.

AFINAL, SINDICATOS funcionam com dinheiro público, arrecadado via imposto, e por isso não podem atuar desta forma em campanhas eleitorais. Dinheiro do contribuinte ajudou a financiar o comício.

A PAJELANÇA indica a que ponto chegou a subordinação das centrais aos cofres do governo. Nunca este novo peleguismo, instituído no governo Lula, ficou tão visível.

Bancos, amor e ódio :: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O último relatório do Banco Central Europeu avisa que, só na área do euro, os bancos terão de enfrentar até 2011 a inadimplência de quase US$ 240 bilhões em títulos que não serão honrados.

Esses ativos são obrigações privadas, que vêm da crise anterior, que começou com o afundamento do mercado de hipotecas (segmento subprime) nos Estados Unidos. Mas a esses poderá somar-se outra porção de títulos emitidos pelos países da área do euro que quase certamente os terão de submeter à renegociação, com perdas para os credores.

Há quase mil anos, as elites da Europa mantêm uma relação de amor e ódio com os bancos e, nessa dubiedade, vão se afundando em perplexidades e contradições.

Na Idade Média, a cobrança, ainda que disfarçada, de um jurinho qualquer devido por um empréstimo de dinheiro era severamente punida com prisão e banimento. O desenvolvimento do comércio e das atividades produtivas e a necessidade de sustentação financeira das guerras dos príncipes fortaleceram o papel dos banqueiros e pediram um mercado financeiro vigoroso com todas as suas implicações. Hoje até mesmo a Santa Sé tem lá seus bancos e suas finanças regadas a juros e rendimentos e autoridade religiosa nenhuma impõe a excomunhão dessa gente endinheirada. Mas ficou latente o vezo antigo.

Os políticos adoram gastar porque sabem que o seu sucesso depende diretamente das realizações, e realizações custam dinheiro. A maioria dos países-membros da área do euro submeteu-se a fortes contrações orçamentárias para ganhar o direito de entrar no clube, mas, uma vez dentro dele, entregou-se à gastança e, para financiá-la, aos banqueiros.

O resultado desse jogo são enormes e insustentáveis rombos nas finanças públicas que, em parte, aparecem na tabela acima. Mais do que insustentáveis, alguns desses rombos são impagáveis.

Cada vez mais, os analistas se convencem de que os casos mais graves exigirão reestruturação de dívidas soberanas, eufemismo que implica a imposição de algum calote. Ora, se haverá calote, ainda que negociado, haverá título podre na carteira dos bancos.

Uma das reações à deterioração dos balanços das instituições financeiras é esfregar as mãos e dizer: "Bem feito para esses banqueiros sem coração e sem espírito público." Mas, em seguida, vem o efeito já conhecido, o colapso no crédito, pois, nessa situação, os próprios banqueiros deixam de acreditar em banqueiros e se fecham para as operações de empréstimo.

As finanças públicas tendem a ficar ainda mais prejudicadas, de duas maneiras. Primeiramente, porque terão de reforçar sua assistência aos bancos e, depois, porque não poderão mais rolar as dívidas, já que os guichês dos bancos estarão fechados. Quando isso acontecer, os políticos voltarão a atacar os bancos e os especuladores, porque os juros das dívidas soberanas subirão e, com eles, a dívida.

Se esse cenário se confirmar, ficará difícil evitar a recessão de duplo mergulho (double dip) na Europa, com redução do comércio e aumento do desemprego, que hoje já é recorde. O aprofundamento da recessão, por sua vez, tende a reduzir a arrecadação e, com isso, enfraquecer ainda mais as finanças públicas. Mas, então, os Estados nacionais estarão mais empenhados em salvar os bancos de cuja saúde depende sua própria salvação.

CONFIRA

Chegou lá

O volume de reservas passou dia 1º dos US$ 250 bilhões. As autoridades do Banco Central jamais admitiram que compram dólares para evitar a excessiva valorização do real. Sempre sustentaram que fazem isso ou para evitar a volatilidade (flutuações indesejadas) ou para blindar a economia contra crises.

Mais para quê?

Se o Brasil passou pelo pior com menos reservas fica difícil justificar a necessidade de mais reservas apenas para melhorar a resistência da economia à crise.

Tempo perdido:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O Zimbábue que a seleção visitou ontem, e derrotou no jogo amistoso, vive uma longa tragédia.

Nunca vou esquecer o ambiente de esperança dos países que haviam se libertado do colonialismo e dos governos racistas. Era o início dos anos 1980, e a comitiva do Brasil evitou a África do Sul. Foi a Tanzânia, Zâmbia, Angola, Moçambique e Zimbábue.

O roteiro foi desenhado pelo Itamaraty, na política externa independente da época, sob o comando do ministro Ramiro Saraiva Guerreiro, para visitar todos os países que eles chamavam “a linha de frente”.

A comitiva, que incluía toda a cúpula do Itamaraty e funcionários de diversos órgãos do governo brasileiro, visitou todos os vizinhos da África do Sul, mas evitou o país do apartheid, regime que o Brasil repudiava.

A política externa fez da viagem um pronunciamento político. O Brasil que havia sido o primeiro a reconhecer o governo do Movimento Popular de Libertação de Angola, em 1974, que reconheceu o governo da Frente de Libertação de Moçambique, estava lá para dizer que a África com a qual o país queria se relacionar, fazer negócios, e acalentar raízes comuns, era a África que renascia do combate ao racismo e ao colonialismo.

Na Tanzânia, vi o encontro do ministro Guerreiro com o líder da libertação Julius Nyerere; em Moçambique, vi o inusitado, o jovem presidente Samora Machel chegando de moto para o trabalho. Joaquim Chissano que, anos depois, o sucedeu no governo, era o ministro das Relações Exteriores. Angola era o caso mais triste porque ainda estava em violenta guerra civil e com toque de recolher. Zimbábue parecia o mais organizado e mais promissor de todos os países. O primeiroministro era Robert Mugabe, um homem que tinha lutado contra o regime racista da antiga Rodésia, também tinha ido para prisão e fazia parte de um governo da frente contra de libertação. Exatamente como anos depois aconteceu na África do Sul sob a liderança de Nelson Mandela.

A história do que se passou nas décadas seguintes mostra que a qualidade de uma liderança determina, às vezes, o destino de um país, para o bem ou para o mal. Mandela, libertado em 1990, se transformou no líder da conciliação e tolerância, unificou o país, consolidou a economia, saiu do poder e se transformou no maior ícone vivo dos tempos atuais. O país evidentemente tem inúmeros problemas e o atual presidente está bem longe do modelo, mas Mandela deixou um inegável saldo positivo.

No Zimbábue, Robert Mugabe de primeiro-ministro foi para a presidência, em 1984, e do cargo jamais saiu. Perseguiu e expulsou as lideranças brancas, e depois perseguiu os líderes políticos negros que não faziam parte do seu grupo.

Como a produção agrícola e industrial do país estava sob o comando dos beneficiários do antigo regime, ele acabou demolindo a estrutura produtiva. Conduziu eleições fraudulentas e comanda um governo corrupto.

É uma antítese de Mandela. Fez muito bem o Dunga de recusar-se a ir visitar seu palácio.

O país não apenas regrediu.

Ele entrou num processo prolongado de recessão, que pode ser definido como depressão. Nos últimos 10 anos, o PIB encolheu em todos e em alguns momentos chegou a diminuir 7% num ano. Como se não bastasse, o país entrou num processo de hiperinflação aberta que devastou o que restava da economia.

Os números da hiperinflação zimbabuana ainda são confusos, alguns especialistas dizem que ela se tornou a maior da história, outros, que ela foi a segunda maior, perdendo para a hiperinflação húngara, em 1946. Mas certamente superou a mais famosa das hiperinflações, que foi a alemã, de 1922-1923. Veja no quadro abaixo do professor Steve Hanke.

Em julho de 2008, 10 zeros foram cortados da moeda, o país chegou a imprimir uma nota de 100 bilhões de dólares zimbabuanos.

No final de 2008, o Banco Central parou de divulgar dados da inflação, em janeiro do ano passado, num estágio final de abandono da moeda local, o país oficializou o uso de várias moedas estrangeiras, entre elas, o dólar.

O Zimbábue que viveu esse horror econômico paga hoje um trágico preço: 80% da população está abaixo da linha da pobreza, o desemprego é devastador e o país perdeu seu futuro. E perdeu também os anos de forte crescimento da África, de 2002 a 2008, quando Angola chegou a crescer 23% num único ano. A reconstrução do Zimbábue só tem chances de acontecer apenas na era pós-Mugabe.

A frota de Gaza e os limites da força:: AMÓS OZ



Por 2.000 anos, os judeus só conheciam a força da força em forma das chibatadas que lhes eram aplicadas. Há algumas décadas, porém, nos tornamos capazes de também exercer a força. Seu poder, no entanto, nos embriagou incontáveis vezes. Incontáveis vezes imaginamos que é possível resolver todo grande problema que encontramos por meio da força.

Como diz um provérbio, para o homem que carrega um grande martelo, todo problema tem jeito de prego. No período anterior à fundação do Estado, larga proporção da população judaica na Palestina não compreendia os limites da força e imaginava que fosse possível usá-la para atingir qualquer objetivo.

Por sorte, durante os primeiros anos de Israel, líderes como David Ben Gurion e Levi Eskhol sabiam muito bem que a força tem seus limites e cuidavam em não ultrapassar essas fronteiras.

Mas, desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel sofre de uma fixação pela força militar. O lema é: aquilo que não pode ser realizado pela força pode ser realizado por uma força ainda maior. O cerco de Israel à faixa de Gaza é um dos fétidos produtos dessa visão. Origina-se da errônea suposição de que o Hamas pode ser derrotado pela força das armas, ou, em termos mais gerais, que o problema palestino pode ser esmagado em lugar de resolvido.

O HAMAS É UMA IDEIA

Mas o Hamas não é apenas uma organização terrorista. O Hamas é uma ideia. Uma ideia desesperada e fanática nascida da desolação e da frustração de muitos palestinos.

E ideia alguma jamais foi derrotada pela força nem por bloqueios, nem por bombardeios, nem soterrada sob as esteiras dos tanques de guerra ou atacada por forças especiais da Marinha. Para derrotar uma ideia é preciso oferecer uma ideia melhor, mais atraente e mais aceitável.

A única maneira de remover o Hamas é que Israel chegue rapidamente a um acordo com os palestinos para o estabelecimento de um Estado independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, tais como definidas pelas fronteiras de 1967, com capital em Jerusalém Oriental. Israel precisa assinar um acordo de paz com Mahmoud Abbas e seu governo e, com isso, reduzir o conflito entre Israel e os palestinos a um conflito entre Israel e a faixa de Gaza.

E o último só poderá ser resolvido, em última análise, pela integração entre o Fatah, de Abbas, e o Hamas. Mesmo que Israel capture uma centena de outros navios rumo a Gaza, mesmo que envie soldados para ocupar Gaza mais uma centena de vezes, não importa quantas vezes Israel use suas Forças Armadas, polícia e forças clandestinas, não haverá como resolver o problema.

NÃO ESTAMOS SÓS

O problema é que não estamos sós nesta terra, e os palestinos não estão sós nesta terra. Não estamos sós em Jerusalém, e os palestinos não estão sós em Jerusalém. Até que nós, israelenses e palestinos, reconheçamos as consequências lógicas desse simples fato, viveremos todos em permanente estado de sítio: Gaza sob sítio israelense, e Israel sob sítio árabe e internacional.

Não desconsidero a importância da força. A força militar é vital para Israel. Sem ela não seríamos capazes de sobreviver nem por um dia. Ai do país que desconsidere a eficácia da força. Mas não podemos nos permitir esquecer nem por um momento que a força só é efetiva de modo preventivo para impedir a destruição de Israel, proteger nossas vidas e nossa liberdade.

Cada tentativa de usar a força não para fins preventivos, ou de autodefesa, e sim como forma de esmagar problemas e esmagar ideias conduzirá a novos desastres, como aquele que causamos para nós mesmos em águas internacionais, no alto-mar, ao largo das costas de Gaza.

Nascido em Jerusalém em 1939, Amós Oz é escritor e jornalista. Publicou 18 livros, traduzidos para cerca de 30 idiomas. Um dos fundadores do Movimento "Paz Agora", representa a chamada esquerda engajada, favorável à criação do Estado palestino. Ensina literatura hebraica na Universidade Ben Gurion

Silvio Tendler: Carta ao governo israelense


Senhores que me envergonham:

Judeu identificado com as melhores tradições humanistas de nossa cultura, sinto-me profundamente envergonhado com o que sucessivos governos israelenses vêm fazendo com a paz no Oriente Médio.

As iniciativas contra a paz tomadas pelo governo de Israel vêm tornando cotidianamente a sobrevivência em Israel e na Palestina cada vez mais insuportável.

Já faz tempo que sinto vergonha das ocupações indecentes praticadas por colonos judeus em território palestino. Que dizer agora do bombardeio do navio com bandeira turca que levava alimentos para nossos irmãos palestinos? Vergonha, três vezes vergonha!

Proponho que Simon Peres devolva seu prêmio Nobel da Paz e peça desculpas por tê-lo aceito mesmo depois de ter armado a África do Sul do apartheid.

Considero o atual governo, todos seus membros, sem exceção, merecedores por consenso universal do Prêmio Jim Jones por estarem conduzindo todo um pais para o suicídio coletivo.

A continuar com a política genocida do atual governo, nem os bons sobreviverão e Israel perecerá baixo o desprezo de todo o mundo...

O sr. Lieberman, que trouxe da sua Moldávia natal vasta experiência com pogroms, está firmemente empenhado em aplicá-la contra nossos irmãos palestinos. Este merece só para ele um tribunal de Nuremberg.

Digo tudo isso porque um judeu humanista não pode assistir calado e indiferente ao que está acontecendo no Oriente Médio. Precisamos de força e coragem para, unidos aos bons, lutar pela convivência fraterna entre dois povos irmãos.

Abaixo o fascismo!
Paz Já!

Sílvio Tendler
Cineasta

Poema do jornal:: Carlos Drummond de Andrade


O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensanguentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A polícia dissolve o meeting.
A pena escreve.

Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.