domingo, 20 de junho de 2010

Reflexão do dia – Celso Lafer


O benevolente endosso à violência e à fraude do processo eleitoral no Irã contrapõe-se à "birra" (na terminologia do presidente) na intransigente defesa de Zelaya, dificultando o equacionamento da questão democrática em Honduras. É patente a incoerência com que se invoca o princípio da não-intervenção para favorecer a omissão quanto aos riscos para a democracia e os direitos humanos provenientes da atuação do presidente Chávez na Venezuela e o seu ostensivo desrespeito para benefício eleitoral do presidente Evo Morales na Bolívia.

É lamentável a insensibilidade em relação a valores com que a repressão do governo cubano a dissidentes em greve de fome foi desqualificada pelo presidente como uma ação de criminosos comuns. É um desrespeito ao princípio constitucional da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil a omissão perante o genocídio em Darfur.


(Celso Lafer, no artigo,
Diplomacia brasileira, novas variações críticas, em O Estado de S. Paulo, hoje)

Efeitos colaterais:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A aprovação da Lei da Ficha Limpa pode provocar uma reviravolta na eleição para governador do Rio de Janeiro, com o ex-governador Garotinho tendendo a não disputar mais a eleição, antecipando assim o segundo turno com o apoio à candidatura de Fernando Gabeira.

Esse apoio viria de maneira indireta, através da vereadora Clarisse Garotinho, uma liderança política jovem que tem bom trânsito em setores que os pais, Garotinho e Rosinha, não alcançam.

Condenado a uma inelegibilidade de três anos, a contar de 2008, pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio, por abuso de poder econômico, Garotinho tentava meios jurídicos para manter sua candidatura na convenção do PR no dia 27, até que um recurso seja julgado.

Com a aprovação da Lei da Ficha Limpa, ele terá mais uma frente de luta jurídica, o que o estaria desanimando.

A primeira alternativa que buscou foi montar uma chapa “evangélica”, com o apresentador da TV Record Wagner Montes , do PDT, — que já apareceu como candidato bem cotado nas primeiras pesquisas de opinião —, o bispo Marcelo Crivela para o Senado e ele próprio para deputado federal, uma candidatura que não exigiria grandes esforços de sua parte e que poderia ser mantida por recursos judiciais.

Mas o PDT está fechado com a candidatura à reeleição do governador Sérgio Cabral, com o apoio da sua direção nacional, e as negociações não evoluíram.

Restou ao clã Garotinho, que ainda mantém o controle de Campos, onde Rosinha é a prefeita também às voltas com a condenação à inelegibilidade, a alternativa de lutar juridicamente para manter a candidatura ao governo do estado, mesmo correndo o risco de se frustrar no meio do processo, ou apoiar a candidatura oposicionista de Fernando Gabeira, da coligação PVPSDBPPS.

Com a vantagem para Gabeira de que esse apoio viria naturalmente, sem compromissos que comprometessem sua candidatura ao governo do estado.

Até o momento a disposição do ex-governador é sair da disputa e levar o apoio de seu grupo político a Gabeira.

De uma coisa ele não abre mão: disputar a liderança política do estado com o governador Sérgio Cabral.

Mesmo fazendo parte da base aliada do governo federal, Garotinho não estaria disposto a apoiar a reeleição do governador.

Seu engajamento forçado na campanha da oposição pode levá-lo também a apoiar para presidente um dos dois candidatos da coligação de Gabeira, Marina Silva, do PV, ou José Serra, do PSDB.

A eleição do Rio, por sinal, está ganhando uma importância maior na definição da candidatura à Presidência dos tucanos, cuja coordenação nacional, por isso mesmo, queria mais destaque para o número 45 do partido na propaganda eleitoral, especialmente na televisão.

A tentativa de última hora de alterar os termos da coligação, lançando um candidato ao Senado em lugar do PPS, gerou uma crise interna que quase a inviabilizou.

Diante da possibilidade de perder um palanque fundamental no Rio, ainda mais com a perspectiva inicial de a candidatura oficial de Dilma Rousseff ter dois palanques fortes, o de Sérgio Cabral, favorito para vencer no primeiro turno, e o de Garotinho, que aparece em segundo lugar nas pesquisas com cerca de 20% da preferência do eleitorado, com força sobretudo no interior, o PSDB desistiu de mudar a formatação do consórcio partidário.

O que se busca agora é uma maneira de manter o número da legenda nas apresentações de todos os candidatos da coligação.

A coligação oposicionista já tivera uma primeira desavença também por causa da candidatura ao Senado.

O Partido Verde não queria se coligar com o DEM para apoiar a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia e lançou a vereadora Aspásia Camargo para o Senado.

O Tribunal Superior Eleitoral, no entanto, entendeu que a coligação só poderia lançar dois candidatos na chapa, não havendo possibilidade de uma candidatura avulsa fora da coligação.

Todos esses desencontros pareciam superados ontem, quando se realizaria a convenção do PV para lançar Gabeira ao governo do estado com a presença dos candidatos Marina Silva e José Serra.

Mas há por baixo dos panos um sentimento de que a confiança entre os membros da coligação tem que ser recuperada.

O PPS sentiu-se traído com a tentativa do PSDB de tirar-lhe a candidatura ao Senado, com o agravante de que o candidato do PPS é o ex-deputado Marcelo Cerqueira, amigo dos tempos da UNE de Serra.

Também o DEM sente-se desconfortável com a rejeição do PV, uma disputa particular entre o vereador Alfredo Sirkis, que foi secretário de Cesar Maia em sua primeira encarnação como prefeito do Rio, e depois romperam.

Com tudo isso, porém, o deputado Fernando Gabeira considera que a depuração do quadro de candidaturas está revelando a verdadeira tradição política do Estado do Rio, que teria que ter um forte candidato ao governo de oposição.

Também para o Partido Verde a eleição do Rio tem especial importância, pois há sinais em diversas pesquisas de que a candidatura de Marina Silva à Presidência pode ter aqui um destaque e a impulsione no resto do país.

Apesar de o prestígio do presidente Lula ser grande no Rio, a oposição considera que um dos dois candidatos oposicionistas à Presidência tem condições de superar Dilma Rousseff, justamente pela tendência política rebelde do eleitorado do estado.

Diplomacia brasileira, novas variações críticas :: Celso Lafer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A política externa do governo Lula tem sido objeto de crescentes críticas. São muitos os rumos que vêm sendo questionados. No plano mais geral, aponta-se que o Itamaraty não tem escolhido os campos de atuação que oferecem ao nosso país, que alcançou um novo patamar internacional em função das transformações internas iniciadas com a redemocratização, as melhores oportunidades para se beneficiar da nova multipolaridade do cenário mundial.

É o caso da prioridade dada à busca de um reconhecimento protagônico na esfera da alta política da paz e da guerra no Oriente Médio (Irã), em detrimento da ênfase em resultados mais significativos em áreas mais próximas da influência real do Brasil. As tensões do contexto da nossa vizinhança (a animosidade Colômbia-Venezuela) e as que afetam nossas fronteiras e a vida nacional (trânsito de drogas da Bolívia) são minimizadas no dia a dia da condução diplomática. Interesses específicos do País e os seus interesses gerais, na boa dinâmica de funcionamento da ordem mundial, em síntese, não vêm sendo articulados de maneira eficiente em razão da obsessiva prevalência atribuída à paixão pelo prestígio.

Em contraste com as paixões, interesses são aspirações que levam em conta uma raciocinada avaliação do como efetivá-las. O como é fundamental, pois a realidade oferece resistência a aspirações que são apenas desejos. Daí a importância do bom juízo diplomático, que conjuga, com criatividade, o que se quer com o que se pode. É precisamente um exemplificativo rol de inadequados juízos diplomáticos do governo Lula o que listo a seguir.

As difíceis negociações na OMC não foram acompanhadas por concomitante interesse em buscar acordos comerciais regionais ou bilaterais propiciadores de acesso a mercados para os produtos brasileiros que carecem de preferências no continente e no mundo. A diluição crescente do significado econômico e político do projeto Mercosul não só está sendo passivamente aceita, mas viu-se agravada pelo empenho governamental em incorporar a Venezuela de Hugo Chávez, cuja visão de integração é apenas a de juntar forças para se opor aos EUA.

Sólidas iniciativas do governo FHC, como a Irsa, direcionadas para projetos de integração de infraestrutura regional sul-americana, ficam na penumbra e destaque é dado à criação de inócuos foros novos, como a União Sul Americana de Nações (Unasul). O Tratado de Cooperação da Amazônia, que reúne todos os países da Bacia Amazônica e poderia impulsionar a cooperação regional voltada para a preservação sustentável do bioma amazônico e, assim, contribuir para o encaminhamento de um dos grandes itens da agenda ambiental, dorme nos escaninhos do Itamaraty.

O benevolente endosso à violência e à fraude do processo eleitoral no Irã contrapõe-se à "birra" (na terminologia do presidente) na intransigente defesa de Zelaya, dificultando o equacionamento da questão democrática em Honduras. É patente a incoerência com que se invoca o princípio da não-intervenção para favorecer a omissão quanto aos riscos para a democracia e os direitos humanos provenientes da atuação do presidente Chávez na Venezuela e o seu ostensivo desrespeito para benefício eleitoral do presidente Evo Morales na Bolívia.

É lamentável a insensibilidade em relação a valores com que a repressão do governo cubano a dissidentes em greve de fome foi desqualificada pelo presidente como uma ação de criminosos comuns. É um desrespeito ao princípio constitucional da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil a omissão perante o genocídio em Darfur.

É altamente discutível se o princípio constitucional da eficiência da administração pública se vê atendido seja pela indiscriminada abertura de novas embaixadas e de consulados-gerais (mais de 40), seja pela exagerada ampliação das vagas de ingresso na carreira, que compromete o padrão de qualidade da formação profissional dos quadros diplomáticos.

O princípio constitucional da impessoalidade da administração pública é continuamente posto em questão pela sofreguidão com que os responsáveis pela diplomacia brasileira se dedicam a glorificar o impacto da presença do chefe de Estado no cenário mundial. Essa celebração do prestígio do presidente aponta para um personalismo populista que impede a construção de um consenso mínimo em torno da política externa como uma política pública de interesse nacional.

A partidarização da política externa, com seu viés ideológico, tem sido um caminho para obscurecer e colocar em segundo plano a sua dimensão de política de Estado que, levando em conta os fatores da persistência da inserção internacional do Brasil, contribui para assegurar a previsibilidade e a confiabilidade externa do País. Observo que para a contundência crítica à política externa do atual governo muito tem cooperado a postura partidária dos seus responsáveis, que, sem base histórica, configuram a presidência Lula como o marco zero da diplomacia brasileira. Quem semeia os ventos da desqualificação colhe as tempestades do dissenso.

Em síntese, o que os críticos da política externa do governo Lula apontam é que a diplomacia brasileira está optando pelo inefável do prestígio em detrimento da realidade dos resultados. Por isso não vem traduzindo apropriadamente necessidades internas em possibilidades externas; não identifica corretamente as prioridades nacionais a serem defendidas no plano internacional; não escolhe com discernimento nem os campos de atuação nos quais o Brasil pode colher os melhores frutos para a efetiva defesa dos seus reais interesses nem os parceiros mais compatíveis com o progresso democrático interno; desconsidera valores e, deste modo, descapitaliza o legado do soft power do nosso país.

É a expressão intransitiva da "glória de mandar", "desta vaidade a quem chamamos Fama", para concluir com Camões.


Professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, foi Ministro das Relações Exteriores/governo FHC

A vida dos outros:: Renato Lessa

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / ALIÁS

Autores aloprados de dossiês agem supondo que existam consumidores aloprados de dossiês ávidos por saber do caráter alheio

Guerra eleitoral. Onézimo teria sido sondado por petistas para espionar José Serra

Chappaquiddick entrou para os anais da história norte-americana como símbolo das relações entre reputação pessoal e vida pública. O acidente automobilístico que envolveu naquela localidade, em 1969, Edward Kennedy e Mary Joe Kopechne - membro do staff eleitoral do irmão de Edward, Robert, na campanha presidencial de 1968 -, vitimando-a fatalmente, arruinou, pelas suspeitas de extraconjugalidade e pela acusação de evasão do local do ocorrido, as chances eleitorais nas presidenciais de 1972 do então senador. A indicação democrata acabaria nas mãos de George McGovern. Massacrado por Richard Nixon, McGovern venceria apenas em Massachussets e no Distrito de Colúmbia. Conseguiu apenas macérrimos 17 votos no Colégio Eleitoral, contra 520 conferidos ao Tricky Dicky.

McGovern era bom sujeito, liberal americano das antigas. Sua plataforma incluía a imediata retirada dos americanos do Vietnã e a retomada dos valores e políticas da Great Society, iniciada no governo Johnson. O interessante é que sua campanha foi negativamente afetada, para além de seu "radicalismo", por um torpedo que atingiu a alma de seu candidato a vice - o senador Thomas Eagleton - "acusado" de maníaco-depressivo e de saúde mental duvidosa. Ele teria sido, ainda, a fonte da informação, disseminada pela direita, de que McGovern queria a legalização das drogas e do aborto. Haja dossiês.

Em um período de poucos anos, as chances eleitorais de dois importantes políticos norte-americanos foi arruinada por fatores ligados a condutas pessoais. No caso de Ted Kennedy, sua tentativa de retorno à corrida presidencial nos anos 80 foi impiedosamente marcada por alusões tais como: "Ontem nevou em Chappaquiddick". A simples declinação da toponímia, pela imprensa de direita, servia de passagem para uma aversão que escamoteava as razões políticas do veto, em incursão pura e dura pelo campo da moralidade. O pobre senador Eagleton retirou-se da política, na mesma década de 80, após "acusações" de bissexualismo.

Paro por aqui, mas essa história continua. Que o digam Clinton, nos anos 90, e, há pouco, um candidato derrotado nas primárias democratas vencidas por Barack Obama, o senador John Edwards. Há um muito de tudo a operar como fundamento dessas histórias: invenções, indícios e evidências. De resto, a vida não se espalha em compartimentos discretos e incomunicáveis, de forma que suposições ou evidências sobre a moralidade pessoal não possam aparecer como componentes do nosso juízo político. Não é esse o problema, mas sim o que ganhamos, em termos de politização e de qualidade de reflexão sobre a vida pública, se os nossos marcadores cognitivos são configurados, prioritária e exclusivamente, por impressões de natureza moral? Não se trata, digo logo, de promover um elogio da delinqüência ou um encorajamento à entrada de celerados na vida pública. A aversão a isso é sadia, tal como o demonstra o episódio Ficha Limpa. De passagem, é importante que se diga sobre ele: trata-se menos de um avanço na qualidade da vida pública do que uma tentativa de interdição de que ela venha a piorar cada vez mais. Mas, como a vida mede-se por grandezas relacionais, é natural que tomemos a segunda alternativa como sendo a primeira.

Assim como, segundo o dr. Johnson, o patriotismo é o último refúgio dos canalhas, a afirmação - da própria - e a negação - da alheia - da honra pessoal, como formas privilegiadas de ação no mundo público, são o abismo da política. Nesse sentido, elas são um refúgio de republicidas. Nos EUA, o apelo à moralidade, e à reencenação de um contínuo potlatch da pureza, esteve sempre a serviço de causas reacionárias. Entre nós, a coisa é mais confusa e disseminada. A obsessão à repetição dos mecanismos sombrios que envolvem o termo "dossiê" parece ser sintoma de uma cultura política assentada na desconfiança e na crença na eficácia da chantagem e da intimidação.


No limite, não há conflito de natureza política, mas entre maquinações criminosas que procuram se apropriar da vida pública. Não nasci ontem e reconheço plausibilidade da suspeita. Por vezes, tenho mais do que suspeitas, mas isso não nos condena ao abismo da guerra moral.

Não foi por capricho que o filósofo político Thomas Hobbes, no não tão longínquo século 17, enumerou entre as condições necessárias para a paz civil uma regra que chamou de "anticontumélia", que dizia respeito a uma cláusula de não difamação. Trata-se de afirmar a incompatibilidade entre a prática da difamação e a qualificação da vida pública. É disso que se trata. Na última aparição, entre nós, dessa patologia, das duas uma: ou há difamadores que elaboraram um dossiê ou há difamadores que acusam inocentes de ter elaborado difamações. De qualquer forma, alguém está a difamar. Todos possuem boas razões para a desconfiança mútua.

Já não nos distinguimos pela faceta pública do que queremos e imaginamos, mas pelo que, com tal faceta, pretendemos esconder. Supomos que intenções inconfessáveis devem sempre estar presentes como configuradoras das motivações para a política. São elas, portanto, que devem ser exploradas, tanto como exigência de sentido quanto como forma de neutralização dos inimigos.


Não deixa de haver, ainda, cinismo e curiosidade mórbida na coisa. Por mais odiosa que seja a prática dos dossiês, ela alimenta a curiosidade pública e define um padrão de informação a respeito da política. Em outros termos, autores aloprados de dossiês agem na suposição de que existam consumidores aloprados de dossiês, ávidos por informações a respeito do que verdadeiramente interessa: o caráter moral, o fundamento último da vida dos outros.


* Renato Lessa é professor titular de Teoria e Filosofia Política do Iuperj e da Universidade Federal Fluminense

Silêncio ensurdecedor:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Não dá para justificar, mas dá para entender porque Dilma Rousseff está fugindo por enquanto de sabatina (na Folha) e debate (na Confederação Nacional da Agricultura).

Para entender, bastaria ter visto o "Jornal Nacional" da quinta-feira: Dilma falava após encontro com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, sobre a relação Brasil/União Europeia. De súbito, parou procurando uma palavra. Foram alguns segundos apenas, mas, na televisão, um "branco" mesmo de segundos pode compor um silêncio ensurdecedor - e potencialmente devastador.

Dava a nítida sensação de aluna que não decorara direito a lição para o exame oral sem "cola".

Para piorar, o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo, atrás da candidata, passava a mão espalmada no rosto, como se estivesse sofrendo com a situação. Mera coincidência, imagino. Mas cena idêntica, em um debate/sabatina, tem potencial para mudar o quadro do momento, que mostra Dilma Rousseff e José Serra empatados, mas com a curva de intenções de voto a favor da petista.

É por isso que candidatos líderes nas pesquisas tendem a fugir do improviso, necessariamente parte do espetáculo quando se trata de debate/sabatina. Por mais que os candidatos sejam exaustivamente treinados para essas situações, há espaço para o escorregão.

Até hoje, há quem atribua a derrota de Lula para Fernando Collor, em 1989, ao fraco desempenho do petista no último debate, ainda mais que a TV Globo manipulou a edição para apequenar Lula e engrandecer Collor .

No restante da campanha, não há espaço para erro porque é tudo embalado para apresentar a candidata (ou candidato) como a maior estadista dos últimos cinco séculos, no horário gratuito eleitoral.

Neste, não vale o bordão do Faustão ("quem sabe faz ao vivo").

Pela mão do destino:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Finalmente, o presidente Lula já se pode dar ao luxo de variar de opinião sobre a atividade de que deverá se ocupar, pela mão do destino, depois de tudo que fez e, sobretudo, do que deixou de fazer. É inevitável que sairá na data prevista. Terá mais a considerar quando puder ver, de fora do poder, o Brasil que ele teve em mente e o que fez dele. Ou, quando chegar a oportunidade, o que o Brasil tiver em mente em relação a ele. Tanto quanto possível, sem pisar nos calos de quem ocupar o seu lugar pela vontade popular. O presidente se considera aprovado tanto no governo quanto na posição de princípios que aplicou, sem muita preocupação de coerência, tanto no mandato que desempenhou quanto no que deixou por fazer.

Lula se encontrou mesmo foi no segundo mandato, quando descobriu que podia mais do que supunha. Descartou o mensalão, com a ênfase na negativa de que nunca tinha ouvido falar a respeito.

Deram-lhe crédito e, muito mais tarde, quando a justiça o ouviu, confirmou que fora informado em tempo. Ficou por isso mesmo. A oposição não atou, para efeito político, o que ele confirmou mais tarde ao que negou no começo do mensalão. O rastro leva ao cemitério das oportunidades perdidas. No primeiro mandato, cercado de figuras históricas (por terem fundado o PT), quase foi despejado quando o escândalo do mensalão ficou desproporcional aos costumes que não mudam, nem por bem nem por mal.

Governos mudam, mas os hábitos têm vida própria, não dependem de mandatos. Grandes projetos enchem não só os olhos dos cidadãos como também bolsos e contas na margem de custos desses projetos. Ninguém sai perdendo, exceto o cidadão, reverenciado apenas eleitoralmente. Entra governo, sai governo, a democracia não dá conta do recado, sem fazer valer que a representação política não existe para intermediar relações entre negócios e o poder público, por um orçamento invisível. Mandato parlamentar não existe para viabilizar enriquecimento pessoal.

O problema de Lula já deixou de ser a eleição do seu sucessor, convertido em sucessora com mão pesada e resultado político atestado nas pesquisas.

Fez mais do que a parte que lhe competia, pois indicou, impôs, acompanhou e se afastou um pouco para testar o risco de ser esquecido ou ficar inconveniente, se continuar a fazer sombra sobre a candidata depois da campanha. E, pelo hábito adquirido, insistir em ser o descontraído porta-voz do governo que acabou. Sem considerar que a retribuição dela, ao aceitar o papel de boi de piranha (salvo seja), enquanto ele atravessava o rio com água pelas canelas, melhorou sua biografia comprometida pela mal contada história de reeleição por via de plebiscitos. Ainda bem que o Brasil é gato escaldado e água fria o arrepia.

A bagunça decide :: Janio de Freitas

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A desordem partidária e eleitoral desce a um nível sem precedente, mal começada a corrida

A relação dos partidos que não se satisfazem com uns quantos pretendentes a vereador e deputado, e lançam candidatos à Presidência da República, passa de cômica a indicadora do desatino que é o processo eleitoral, e com ele o sistema partidário, no Brasil. Entre os cem milhões de eleitores, quantos saberemos o que representam, ou sequer que existam, o PTC, o PSDC, PRTB, PHS, PSTU, PSL, PCO?

A presença de 13 candidatos a presidente não indica oportunidades eleitorais democráticas. Decorre, isto sim, da falta de um sistema partidário seletivo que encaminhe ao eleitorado um número racional de opções, sem deixar aos eleitores a tarefa impossível de conhecer os candidatos para decidir com qual, de fato, se identifica.

O resultado do desregramento é que a seleção dos candidatos com chances se faz por métodos antidemocráticos: mais dinheiro disponível, transações espúrias entre partidos, condições de maior exposição favorável nos meios de comunicação, recursos assim fabricando bases mais negociais do que eleitorais. Tudo depois refletido no governo, pelo vencedor, como retribuição. Ou pagamento.

Neste ano, a desordem partidária e eleitoral desce a um nível sem precedente, mal começada a corrida de candidatos. Está instalada a bagunça. Anulados todos os resquícios de identidade e de conexão a segmentos de eleitores, os partidos entregaram-se ao vale tudo desabrido. Em alguns estados o PMDB é aliado do PSDB, em outros é do DEM, em mais outros é do PT, no Rio Grande do Sul não tem aliança.

Em Minas recebeu de Lula o apoio forçado dos petistas mas não contará com eles nas urnas. Ainda em Minas, propagam-se os acertos para o voto embaralhado: para presidente, no candidato de um lado; para governador, no de oposição àquele. Os comunistas durões do PCdoB negociam seu enlace com os neoliberais do PSDB no Maranhão. No Paraná, o vale tudo vale nada. Em Santa Catarina, as traições e a mixórdia fazem a regra. Assim está todo o Brasil eleitoral. Nenhum partido tem cara. Logo, é muito difícil que seus candidatos aos cargos estaduais possam tê-la. Como ocorre aos candidatos à Presidência pré-fabricados pela bagunça das transações partidárias e pelos marqueteiros que os tratam como produtos de supermercado.

E desse modo estamos a caminho, mas não caminhando, de um novo presidente da República e de novos governadores.

GANHO ZERO

A propósito de marqueteiros: ininteligível a ideia que levou Dilma Rousseff à Europa, com uma delegação de câmeras, maquiadora, repórter, secretaria e assessores diversos. Tudo para posar em encontros com um o outro dirigente europeu, ela e eles obviamente sem ter o que se dizerem.Se alguém supôs que mostraria Dilma como prosseguidora de Lula no plano internacional, mostrou-a apenas em situações de um ridículo oneroso. Ganho, nenhum.

A CARA


Não há dúvida: sucesso onde quer que vá, quem faz é Marina Silva.

Jarbas quer Magalhães no Senado

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Durante encontro em Caruaru, pré-candidato peemedebista faz apelo ao deputado para que não desista da vida pública e entre na disputa majoritária

Jorge Cavalcanti

CARUARU – O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) fez um apelo público, ontem, para o deputado federal Roberto Magalhães (DEM) desistir da ideia de abandonar a vida pública este ano e se candidatar à segunda vaga ao Senado na sua chapa, ao lado do senador Marco Maciel (DEM). O gesto faz parte da operação para montar um palanque com três ex-governadores contra a tentativa de reeleição do governador Eduardo Campos (PSB). “Tenho certeza que, pela minha vontade e de todos presentes aqui, você não deixa a vida pública”, pediu Jarbas, diante de uma plateia formada por cerca de 1.300 pessoas, assegurando falar do “fundo da alma e do coração” sobre um homem que tem um passado e um presente “que todos se orgulham”. Para o peemedebista, o aliado faria falta no momento atual de mediocridade política. Todos aplaudiram Magalhães de pé.

No evento – organizado pela deputada estadual Miriam Lacerda (DEM), indicada vice na chapa das oposições – todos os mimos e agrados foram direcionados para Magalhães, que chegou junto com Jarbas e Maciel. Ao entrar na casa de shows onde o ato foi realizado, o parlamentar foi o primeiro a ter o nome citado pelo locutor. Magalhães se acomodou em uma cadeira de plástico branca, na primeira fila da área reservada. Mas logo foi chamado para subir ao palco. Sentou-se ao lado de Maciel e foi o único a usar o microfone, além dos três integrantes da chapa.

O deputado não acenou de forma positiva a uma possível disputa pelo Senado, mas também não reiterou que não disputará mais eleições – o que elevou ainda mais a expectativa dos presentes. Após o ato, Magalhães evitou falar sobre o tema. No discurso, fez questão de dizer que havia se programado para passar o final de semana em Brasília, mas alterou a agenda para ir a Caruaru, município mais importante do Agreste, a 140 quilômetros da capital. Destacou a “coragem” de Jarbas em ser candidato contra três máquinas administrativas – federal, estadual e do Recife.

O raciocínio de Jarbas e de aliados, principalmente os do DEM, segue a lógica de que a ausência de um segundo nome competitivo seria ruim para o desempenho da chapa como um todo. Embora seja líder nas pesquisas, Marco Maciel poderia ter a reeleição comprometida em função do eleitor votar, em grande parte dos casos, em nomes “casados”. Ou seja, de um mesmo palanque, como ocorreu em 2002, com a vitória de Jarbas ao governo e de Maciel e Sérgio Guerra (PSDB) ao Senado.

O próprio Maciel está envolvido na tarefa de convencer Magalhães, de quem é amigo há mais de 50 anos. “Nesse momento é fundamental que nós tenhamos dois políticos que possam bem representar Pernambuco”, limitou-se a dizer. Sempre discreto, Maciel lembrou que foi o responsável pela entrada do companheiro na política. “Fiz um apelo para que fosse nosso candidato a vice-governador (em 1978) e, posteriormente, voltei a fazer um apelo para que fosse candidato a governador (1982)”, disse, reconhecendo que falta motivação pessoal a Magalhães.

Presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra faltou, mais uma vez, a um ato em favor de Jarbas. Este é o quinto evento desde que o peemedebista aceitou concorrer ao governo pela quarta vez. Até a última sexta, os aliados evitavam confirmar a ausência do tucano. Mas ontem, antes do início do evento, havia sete cadeiras posicionadas em cima do tablado. Em cada uma, uma pequena etiqueta branca indicava quem deveria ocupá-la. O nome dele não constava em nenhuma delas, indicando que todos já tinham ciência da ausência. Dos oito deputados estaduais do PSDB, só três compareceram – Edson Vieira, Eduardo Porto e Terezinha Nunes, mais jarbista do que tucana.

PSDB quer ouvir secretário da Receita Federal

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A bancada do PSDB no Senado vai pedir aconvocação do secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, para explicar o vazamento de dados fiscais de Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice presidente do partido.

A Folha revelou na edição de ontem que saíram diretamente dos sistemas da Receita as declarações de bens e renda de Eduardo Jorge que fazem parte do dossiê levantado pelo "grupo de inteligência" da pré campanha de Dilma Rousseff (PT) contra tucanos.

"Vamos buscar a responsabilização sobre esse vazamento", declarou o senador Alvaro Dias (PSDB-PR).

O requerimento será encaminhado amanhã.

Dossiê: Serra volta a dizer que Dilma é responsável

DEU EM O GLOBO

Petistas acusam adversário de adotar discurso truculento e anti-Lula; tucano cobra atitude firme da candidata

BRASÍLIA. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, voltou a acusar sua adversária do PT, Dilma Rousseff, de ser responsável pelo episódio envolvendo a montagem de um dossiê contra ele. Em entrevista à revista “Veja” desta semana, Serra ainda disse que o PT fez o loteamento da máquina pública, “turbinando a corrupção”. As declarações do tucano provocaram reação imediata do PT. Integrantes do comando de campanha de Dilma afirmaram que Serra está adotando um discurso anti-Lula e que pode sair perdendo com essa estratégia.

Na entrevista, o tucano também lamentou a elaboração de um dossiê contra o secretárioexecutivo do PSDB, Eduardo Jorge. O documento teria partido de pessoas ligadas a uma empresa contratada pelo comando da campanha de Dilma, a Lanza Comunicação. O PT nega a autoria, mas afastou da campanha o jornalista Jorge Lanzetta, dono da empresa. Ele havia se reunido com o delegado aposentado Onézimo Sousa, que diz ter recebido proposta para espionar os tucanos.

Segundo Serra, “a candidata (Dilma) disse que não aprova esse tipo de atitude, mas não a repudiou, não pediu desculpas públicas nem afastou exemplarmente os responsáveis.

Essa reação tímida e a tentativa de culpar as vítimas fazem dela, a meu ver, responsável pelos episódios”. Para ele, “é coisa de gente que rejeita a democracia”.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), chamou de truculenta a postura de Serra. Vaccarezza voltou a negar que o PT tenha mandado elaborar dossiês e disse que o partido pediu à Polícia Federal para investigar de onde saíram os dados de Eduardo Jorge que integrariam o dossiê.

— Dizer que o PT aparelhou o Estado mostra a sua total distância do povo brasileiro e do sucesso do Brasil. Ele agora assumiu a face anti-Lula. É a truculência da direita.

Para o deputado José Genoino (PT-SP), o ataque de Serra evidencia os problemas da campanha tucana: — Eles estão sem discurso, sem projeto e ficam fazendo campanha na base do ataque pessoal e da futrica. Com esse discurso, a campanha dele não vai tão longe.

Ontem, a “Folha de S. Paulo” publicou reportagem com documentos que comprovariam que os dados fiscais de Eduardo Jorge saíram diretamente da Receita Federal. No documento há a declaração: “Estes dados são cópia fiel dos constantes em nossos arquivos. Informações protegidas por sigilo fiscal“.

Ontem, no Rio, Serra disse não ter ficado surpreso com a informação: — Não seria a primeira vez que usam métodos subterrâneos em campanha eleitoral. Infelizmente o filme está se repetindo.

Espero que seja interrompido, que acabe antes do final.

A bancada do PSDB no Senado vai pedir a convocação do secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, para explicar o vazamento das informações.

Adversários não são inimigos, afirma Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Quanto mais mentiras disserem a nosso respeito, mais verdades diremos a respeito deles", diz candidato do PSDB durante a convenção do PTB

Fausto Macedo

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, foi contundente ontem, no encerramento da convenção nacional do PTB, em São Paulo, ao definir o estilo de seus adversários.

"Às vezes tem gente que pensa que você se comporta como eles se comportariam em determinadas circunstâncias. Às vezes te acusam de coisas que você nunca fez, não porque eles tenham provas. Porque eles pensariam: "não, se eu estivesse no lugar dele, estaria fazendo isso, estaria passando a mão aqui, estaria fazendo aquilo, estaria perseguindo aqueles que estiveram no governo". Nós não. Nós não tratamos adversários como inimigos, nós tratamos como competidores. Não encaramos como inimigos que têm de ser destruídos".

Ao apontar para o caso do suposto dossiê que integrantes da equipe de sua oponente, a candidata do PT à Presidência Dilma Rousseff, teriam preparado contra ele, Serra foi enfático: "Eu já disse. Quanto mais mentiras disserem a nosso respeito, mais verdades nós diremos a respeito deles. Quando eles querem nos destruir, nós nos defendemos."

O tucano destacou que "não é de fazer picuinhas, de fazer pinimbas, de brincar com o interesse público". Ao criticar opositores, que espalham entre os eleitores que eventual governo do PSDB vai acabar com o Bolsa-Família, Serra enfatizou: "Ninguém destrói coisas feitas, que podem ser melhoradas. Se não estão funcionando bem, podem ser melhoradas. A gente toca para a frente, a gente revoga as besteiras feitas, as coisas erradas. O que está feito, mesmo que não esteja muito bem feito, a gente conserta, aperfeiçoa, não muda de nome e toca para frente".

Serra anunciou metas de governo e citou um episódio da campanha à Prefeitura de São Paulo, em 2004, em que ele venceu a candidata do PT Marta Suplicy, que buscava a reeleição. Contou que sua opositora, na ocasião, havia criado o bilhete único e que, durante a campanha, os petistas sustentavam que ele iria acabar com esse sistema. "Eu ganhei a eleição. O que nós fizemos? Cheguei ao governo, criamos o bilhete único para ônibus, metrô e trens urbanos."

Serra ajusta a campanha:: João Bosco Rabello

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Não tem dimensão de crise, mas a campanha de José Serra passa por ajuste interno em busca de método e organização. O grau de visibilidade do candidato, aquém do que estimou, acendeu a luz amarela e impôs à equipe uma avaliação crítica. O diagnóstico indica que Serra trabalha, desde o início, com base no tripé Segurança, Saúde e Educação, mas o discurso fragmentado não estabelece relação de causa e efeito entre esses temas.

Serra propôs a criação do Ministério da Segurança, bem recebido por especialistas, mas desdenhado pelos adversários, que nele viram um lance de oportunismo eleitoral. Não era, mas a falta de continuidade respaldou a acusação.

Com intervalos em que abordou temas econômicos pouco acessíveis ao eleitor médio, voltou a chamar a atenção ao criticar o governo boliviano, por sua leniência em relação ao tráfico de cocaína para o Brasil. Soou como fragmento de um discurso errático.

Na sequência criticou as políticas externa, de Saúde e Educação, novamente passando a impressão de atirar a esmo.

Juntando-se as peças, no entanto, constata-se que o candidato investe num universo de problemas que pesquisa recente do Ibope indica como prioritários aos brasileiros: Saúde, Segurança, Educação e drogas - as três últimas crescendo na percepção do eleitor na razão direta dos índices de criminalidade.

Dados da ONU informam que o crime organizado mata cerca de 50 mil brasileiros por ano, o equivalente, segundo a equipe de Serra, a cem vezes o de mortos, de ambos os lados, nos 21 anos da ditadura militar no País.

O desafio é mostrar que a negligência na política de segurança produz efeitos nefastos na Educação, na Saúde e na economia. O crime organizado sustenta-se no tráfico de drogas, incapacitando parcela crescente de jovens, criminalizando escolas da periferia, anulando esforços por um ensino fundamental eficiente e aumentando custos com a Saúde e com o sistema penitenciário.

A ideia é mostrar que o combate a essa perversa cadeia sinérgica encontra obstáculos no governo Lula, pelos vínculos ideológicos com movimentos originalmente políticos, mas hoje associados ao tráfico de drogas - caso das Farcs -, com ramificações em organizações criminosas como o PCC e o Comando Vermelho.

A rede é uma só e a campanha estuda como associá-la ao compromisso do candidato com Saúde e Educação.

PSDB recua e confirma apoio a Gabeira

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Moacyr Lopes Jr./Folhapress

RIO, SÃO PAULO - Após o recuo do Diretório Nacional do PSDB, o deputado Fernando Gabeira (PV) recebeu ontem o apoio formal dos tucanos, bem como de DEM e PPS, à sua candidatura ao governo do Rio.

Solucionado o impasse, o verde teve de conciliar o apoio público dos presidenciáveis Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB). Gabeira participou de duas entrevistas coletivas, uma com cada candidato, que evitaram se encontrar. Ouviu reivindicação de apoio dos dois lados.

"Gabeira não ficaria triste se eu fosse eleito", disse Serra, sob consentimento tímido do verde.

Na entrevista anterior, Marina afirmou que os eleitores saberão ligar seu nome a Gabeira. "Não podemos subestimar a inteligência das pessoas. Não tenho dúvida que [o eleitor] vai entender que Gabeira está intimamente ligado ao meu projeto."

O deputado afirma que fará campanha para Marina no primeiro turno, mas planeja aparecer ao lado de Serra em eventos temáticos.

Em seu discurso, Gabeira conciliou elogios aos dois candidatos. Em relação a Marina, citou "a transformação pela educação". Sobre Serra, afirmou que vai seguir a proposta do tucano de realizar "mutirões de exames".

No salão do clube em Niterói onde foi realizada a convenção, havia faixas de Gabeira ao lado de Serra.

A solução para o impasse criado entre os diretórios nacional e fluminense do PSDB saiu anteontem às 23h50.

Orientado por marqueteiros, o Diretório Nacional tucano queria um candidato próprio ao Senado no Estado para poder expor o número do partido e ajudar Serra.

Para tal, pleiteava a desistência de Marcelo Cerqueira (PPS), candidato a senador da aliança. Ele foi confirmado como candidato, ao lado de Cesar Maia (DEM), ex-prefeito do Rio.

PTB

Na manhã de ontem, Serra foi à convenção nacional do PTB, que formalizou o apoio à sua candidatura.

Com a entrada da sigla presidida por Roberto Jefferson, o programa eleitoral de Serra na televisão e no rádio terá cerca de sete minutos.

O PTB quer entrar na briga pelo vice na candidatura.

Serra e Marina evitam encontro


DEU NO JORNAL DO BRASIL

Lira Fraga

Os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Marina da Silva (PV) estiveram ontem na convenção da aliança que apoia a candidatura de Fernando Gabeira (PV) ao Governo do Estado do Rio, realizada no clube Canto do Rio, em Niterói. Entretanto, justificando atrasos em seus respectivos voos, os dois candidatos à presidência não se encontraram e muito menos apareceram no palanque, onde Gabeira oficializou sua candidatura, além de anunciar o ex-deputado federal Márcio Fortes (PSDB) como o seu vice.

O encontro entre Marina e Serra não se deu por questões de minutos. Ao chegarem, ambos foram saudar Gabeira, além de participarem de coletiva com a imprensa atrás do palco.

Acompanhada do candidato de seu partido ao governo do Rio, Marina diz que não está preocupada em dividir com o adversário do PSDB, o apoio de Gabeira.

– Em vez de olhar o que divide, eu olho o que une, que é o Gabeira – afirmou a presidenciável, que falou também sobre sua intenção de incentivar a educação pública.

Pouco depois, foi a vez de Serra falar com a imprensa, quando chegou a perder a paciência com um questionamento de um repórter que perguntou se o fato de o PSDB não ter um candidato ao Senado pelo Rio teria alguma relevância.

– Se eu achasse que sim, acha que eu diria? – ironizou o tucano.

No final da coletiva, o candidato cometeu um deslize ao errar a coligação e incluir o PSC nos partidos pró-Gabeira no Rio. O presidenciável tentou escapar de polêmicas ao ser confrontado sobre qual seria o palanque dele no Rio e ressaltou que o palanque é o da convenção de ontem, além de ressaltar que Gabeira sempre estará ao seu lado.

– Garanto para você que se eu for eleito, Gabeira não vai ficar triste.

Enquanto citava alguns pontos de seu futuro programa de governo, Serra se comparou a Marina, dizendo que também é ambientalista, garantindo que não enfrentará nenhuma saia-justa ao dividir o palanque com a adversária do PV.

ENTREVISTA José Serra: "Ouvir, argumentar, decidir"

DEU NA REVISTA VEJA

O candidato do PSDB à Presidência da República diz que o loteamento de cargos no governo do PT turbinou a corrupção e dá sua receita de governabilidade sem clientelismo

Eurípedes Alcântara e Fábio Portela

"A manutenção da estabilidadeé inegociável. Isso significa manter a inflação baixa"

Nenhum outro político brasileiro tem no currículo uma vida pública como a de José Serra, 68 anos, candidato do PSDB à sucessão de Lula. Jovem, presidia a União Nacional dos Estudantes (UNE) quando veio o golpe de 64, que o levou ao exílio, expatriação que duraria até 1978. De volta ao Brasil com diploma de economia no bolso, foi secretário do Planejamento, deputado constituinte, senador, ministro do Planejamento e da Saúde, prefeito e governador. Sobre Dilma Rousseff, ele diz: "Hoje me choca ver gente que sofreu sob a ditadura no Brasil cortejando ditadores que querem a bomba atômica, que encarceram, torturam e matam adversários políticos, fraudam eleições, perseguem a imprensa livre, manipulam e intervêm no Legislativo e no Judiciário. Isso é incompatível com a crença na democracia e o respeito aos direitos humanos".

O senhor já enfrentou todo tipo de adversário em eleições, mas, desta vez, a se fiar nas palavras do presidente Lula, vai concorrer com um "vazio na cédula", preenchido com o nome de Dilma Rousseff. Afinal, quem é seu adversário nesta eleição?

Só tenho a certeza de que não vai ser Lula, cujo mandato termina no próximo dia 31 de dezembro. Adversários são todos os demais candidatos à Presidência da República. Por trás dos nomes na tela da urna eletrônica há a história, as propostas e a credibilidade de cada um. Minha obrigação é me apresentar aos brasileiros sem subestimar nem superestimar os demais. Deixemos que os eleitores julguem. É muito bom que os candidatos sejam diferentes entre si e também em relação aos presidentes que já deram sua contribuição ao Brasil. A beleza da vida está justamente em cada um ter seus próprios atributos.

Depois que os repórteres da sucursal de VEJA em Brasília desvendaram uma tentativa de aloprados do PT de, uma vez mais, montar uma central de bisbilhotagem de adversários, as operações foram desautorizadas pela cúpula da campanha. O senhor responsabiliza a candidata Dilma Rousseff diretamente pelas malfeitorias ali planejadas?

Só cabe lamentar e repudiar as tentativas de difusão de mentiras, de espionagem, às vezes usando dinheiro público, às vezes usando dinheiro de origem desconhecida, como em 2006. São ofensas graves e crimes que ferem até mesmo direitos básicos assegurados pela Constituição brasileira. Isso não é honesto com o eleitor. É coisa de gente que rejeita a democracia. A candidata disse que não aprova esse tipo de atitude, mas não a repudiou, não pediu desculpas públicas nem afastou exemplarmente os responsáveis. Essa reação tímida e a tentativa de culpar as vítimas fazem dela, a meu ver, responsável pelos episódios.

Por que para a democracia brasileira é positivo experimentar uma alternância de poder depois de oito anos de governo Lula?

Querer se pendurar no passado é um erro, não de campanha, mas em relação ao país. Eleição diz respeito ao futuro. Por isso, a questão que se coloca agora aos eleitores é escolher o melhor candidato, aquele que tem mais condições de presidir o Brasil até 2014. Eu ofereço aos brasileiros a minha história de vida e as minhas realizações como político e administrador público. Ofereço as minhas ideias e propostas. Espero que os demais candidatos façam o mesmo, para que os brasileiros possam comparar.

Como o senhor conseguiu governar a cidade e o estado de São Paulo sem nunca ter tido uma única derrota importante nas casas legislativas e sem que se tenha ouvido falar que lançou mão de "mensalões" ou outras formas de coerção sobre vereadores e deputados estaduais?

Em primeiro lugar, é preciso ter princípios firmes, não substituir a ética permanente pela conveniência de momento. É vital ter e manifestar respeito à oposição, ao Judiciário, à imprensa e aos órgãos controladores. Exerci mandatos de deputado e senador durante onze anos. Todos os que conviveram comigo no Congresso sabem que minhas moedas de troca são o trabalho, a defesa de ideias e propostas, o empenho em persuadir os colegas de todos os partidos e regiões. O segredo está em três palavras: ouvir, argumentar, decidir. Há o mito de que emendas de deputado são sempre ruins. Não são. Na maioria das vezes, elas visam a resolver ou aliviar problemas reais que afligem as pessoas de sua região. Portanto, atender os deputados segundo critérios técnicos é atender seus eleitores. Outra coisa fundamentalmente diferente é distribuir verbas ou cargos em troca de votos. Isso eu nunca fiz e nunca farei.

O PT fez?

Fez. Cito como exemplo as agências que criei quando fui ministro da Saúde, a Anvisa e a ANS. Sabendo como eu atuo, nenhum parlamentar, nem mesmo os do meu partido, sequer me procurou em busca de alguma indicação. Eles sabiam que não teriam êxito. E qual é a situação agora? O atual governo loteou totalmente as agências entre partidos, fatiando-as entre grupos de parlamentares e facções de um mesmo partido. A mesma partilha se abateu sobre os Correios e sobre a maioria se não todos dos órgãos públicos. O loteamento foi liberado e se generalizou. Essa prática é uma praga que destrói a capacidade de gestão governamental e turbinou como nunca a corrupção. Mais ainda, a justificativa oferecida foi a de que se tratava de "um mal necessário" para garantir a governabilidade. Se eleito, vou acabar com isso à base de um tratamento de choque.

Por que criar um Ministério da Segurança Pública e como ele atuaria exatamente no combate ao crime, que, no atual regime federativo, é uma atribuição estadual?

A segurança é um problema em todos os estados. Portanto, é um problema nacional. O governo federal e o presidente, que é o chefe do governo, não podem mais fingir que o problema da segurança está equacionado. Não está. Segurança é um dos três grandes problemas do Brasil. Temos de enfrentá-lo. O Brasil não pode continuar a ter 50 000 homicídios por ano. É um número escandaloso. Apenas o crescimento econômico não arrefece os criminosos. O Nordeste é um exemplo disso. A região experimentou um crescimento expressivo, mas a população sofre com a explosão da criminalidade. Só a Presidência da República reúne as condições para coordenar uma ação nacional da magnitude que o problema exige. Precisamos criar um SUS da segurança. O Ministério da Segurança será o símbolo e a ferramenta dessa prioridade. Com ele, estou dizendo o seguinte: brasileiros, vamos encarar o desafio para valer, vamos resolver essa situação. Esse será meu compromisso como presidente.

Falando em federação, como concertar com os governadores uma reforma tributária em que ninguém se sinta lesado ou pagando a conta?

É menos complicado do que parece, e nem é necessário mexer na Constituição. Para começar, é preciso aprovar uma lei que preveja que os impostos sejam explicitados nos preços das mercadorias. Isso aumentará a consciência das pessoas a respeito da carga tributária. Em São Paulo, fizemos uma lei para criar a Nota Fiscal Paulista, um instrumento de grande sucesso através do qual 30% do imposto estadual sobre o varejo é devolvido aos contribuintes, com crédito direto na conta bancária. Vamos criar a Nota Fiscal Brasileira, para devolver parte dos tributos federais. A reforma que farei vai aliviar a carga tributária incidente sobre os indivíduos, desonerar os investimentos, simplificar a formidavelmente complexa estrutura de tributos atuais. Além disso, restabeleceremos a neutralidade em relação à distribuição de recursos. É uma proposta coerente.

Segundo o folclore, o senhor seria seu próprio ministro da Fazenda, seu ministro do Planejamento, seu presidente do Banco Central e seu ministro da Saúde...

Nossa! É folclore mesmo. Quem trabalha ou trabalhou comigo sabe que não centralizo a administração, que dou grande autonomia às diferentes áreas. Fixo metas, objetivos, acompanho, cobro, mas nunca imponho nada exótico ou irrealista. E mais: tenho grande capacidade de ouvir.

Como seria a política econômica em um eventual governo Serra? Qual é o perfil ideal para o cargo de ministro da Fazenda?

A manutenção da estabilidade é inegociável. Isso significa manter a inflação baixa. Com a combinação dos regimes fiscal, monetário e cambial, caminharíamos sem rupturas para um ambiente macroeconômico cujo resultado inevitável seria a trajetória descendente dos juros. Uma taxa de juros menor é, aliás, condição para atrair mais investimentos privados destinados à infraestrutura, sem ter de dar os subsídios que hoje distorcem o processo. Quanto mais alta a taxa real de juros, maior é a taxa interna de retorno exigida pelos investidores privados em infraestrutura. Para compensar o juro alto, o governo é obrigado a dar subsídios.

E o perfil do seu ministro da Fazenda?

É preciso ganhar a eleição primeiro. Mas sempre cuidei de reunir à minha volta, na administração e no Congresso, pessoas preparadas, prudentes, com reconhecido espírito público. Escolho gente experiente, com senso prático e desapegada de doutrinas ou que, pelo menos, prefere acertar abandonando suas convicções acadêmicas a errar por fidelidade a elas. No governo federal, será desse mesmo jeito. Precisarei ter comigo auxiliares que entendam que a política econômica é um processo político também. Na política, para fazer com que as coisas aconteçam, você tem de se equilibrar sobre o fio da navalha. É uma eterna balança entre paralisar-se por se aferrar a certas concepções ou abandoná-las de vez e se perder no caminho. Isso fica claro na negociação política. É menos evidente mas tão válido quanto na condução da política econômica.

Dê o exemplo de um economista que preencha os requisitos acima, a quem o senhor admire e com quem ainda não trabalhou.

Olhe lá! Não estou fazendo nenhuma nomeação antecipada. Mas teria muitos exemplos. Um deles? O Arminio Fraga, como perfil. Sabe economia, é pragmático, não doutrinário. Soube navegar em mar revolto e deu enorme contribuição à estabilidade econômica do país ao instituir o regime de metas de inflação.

Por que no Brasil, apesar do enorme destaque atual no cenário da economia mundial, a discussão de política econômica é sempre revestida de ansiedade, como se vivêssemos em um estado permanente de emergência?

O instantâneo da economia brasileira é realmente bastante satisfatório. Não diria o mesmo sobre o filme. Ou seja, se não forem corrigidas a tempo, as distorções atuais podem se desenvolver de maneira desfavorável. Essa é uma questão complexa que, infelizmente, talvez não possa ser tratada da maneira que merece em um clima de campanha, muito menos no escopo de uma entrevista. Mas, a título de fazer refletir, sugiro que se comece por responder a certas questões. A saber, por que razão o Brasil tem a maior taxa real de juros do mundo, a maior carga tributária do mundo em desenvolvimento e é lanterninha nas taxas de investimento governamental do planeta? Por que o suado dinheiro dos contribuintes brasileiros não está sendo bem aplicado em investimentos na infraestrutura econômica e social que garantam o crescimento sustentado da economia? É evidente que há um problema com esse modelo. É essa a discussão que precisa ser feita no Brasil.

O que o senhor faria para consertar esse modelo?

Tenho experiência para equacionar as principais questões, a partir do primeiro dia de trabalho, caso eleito. Não existe uma bala mágica, um golpe que bem aplicado resolva todos os problemas. Isso exige um leque de ações coordenadas e bem planejadas, muitas das quais citei aqui e tenho exposto em fóruns e seminários. Minhas passagens pelo Executivo federal, estadual e municipal me permitem afirmar que, para começar, na saúde, mesmo sem gastar muito mais do que é gasto hoje, seria possível fazer uma revolução com resultados positivos a curto prazo. Na educação, logo no início do governo, trabalharia para atingir a meta de abrir 1 milhão de novas vagas em escolas técnicas de nível médio em todo o país, com cursos de duração variada e vinculados à vocação econômica de cada região e localidade. O Brasil tem pressa e precisa aproveitar o ciclo da economia mundial altamente favorável aos países emergentes. Temos de aproveitar o empuxo desse ciclo e emergir dele com uma economia moderna, exportadora de produtos de alto valor agregado, produzidos aqui por uma mão de obra sadia, preparada e consciente de que para ela o futuro chegou.

Modinha do empregado de banco:: Murilo Mendes


Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.

Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos para não fazerem nada com eles.

Também se o diretor tivesse a minha imaginação
o Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar.