terça-feira, 29 de junho de 2010

Reflexão do dia – Marco Aurélio Nogueira

Num debate que fizemos dias atrás pela internet (http://www.marcoanogueira.blogspot.com/), a cientista política Gisele Araújo observou corretamente que tudo o que se desconstrói também pode estar em reconstrução. Partidos são organismos em construção permanente, mas não são imortais. É provável que nossa época esteja desconstruindo os partidos para reconstruí-los como organismos especializados em arregimentar eleitores e conquistar governos. Pode ser que estejamos caminhando rumo a uma era de política menos ideológica, mais perfunctória e pragmática, que exigirá partidos mais frios e calculistas.


(Marco Aurélio Nogueira, no artigo, Partidos em transição, sábado (26/6/2010), em O Estado de S. Paulo)

O fator Palocci :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Uma das maiores incógnitas dessa campanha é qual será a função do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci num eventual governo Dilma Rousseff. Colocado como um dos coordenadores da campanha oficial pelo próprio presidente Lula, Palocci vem assumindo importância cada vez maior como avalista de posições ortodoxas na economia, especialmente no contato com empresários.

Palocci vai além de tentar convencer os indecisos, ou mesmo os que tendem a votar em Serra, dos compromissos de Dilma com o tripé que sustenta a política econômica que vem desde o segundo governo de Fernando Henrique: câmbio flutuante, equilíbrio fiscal (superávit primário) e metas de inflação, com um Banco Central operacionalmente independente.

O ex-ministro, com frequência, alerta os empresários para o que seria o "risco Serra" que estaria embutido no que classifica de visão intervencionista do candidato tucano - que não se cansa de insinuar que, em um governo seu, o Banco Central não terá uma autonomia tão grande quanto vem tendo nos últimos anos.

Também as críticas de Serra quanto ao câmbio, que agradam muito aos exportadores que sofrem com a valorização do real, levam os governistas a apontarem riscos de uma intervenção governamental no câmbio.

Em ambos os casos, Serra insiste em que não haverá intervenção de seu governo para criar situações artificiais, mas uma política econômica harmônica que levará a uma situação de equilíbrio que não obrigará o governo a pagar altos juros para o investidor.

Assim como o governo usa Palocci para sinalizar sua postura, Serra tem usado o nome do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga como exemplo de economista que gostaria de ter em sua equipe.

Essa é uma discussão técnica que não dá um voto na maioria da população, mas que é fundamental para um tipo de eleitor formador de opinião e a classe média, que sempre rejeitaram posturas heterodoxas petistas, a ponto de terem obrigado Lula, em 2002, a assinar a "Carta aos Brasileiros", assumindo o compromisso de manter a política econômica de Fernando Henrique.

Por outro lado, o candidato tucano, José Serra, tem fama de ser um grande gestor público, especialista em manter o equilíbrio fiscal com ganho de produtividade e corte do gasto público.

A decisão de Lula de colar Palocci na candidatura de Dilma se deveu justamente ao temor de que esse público rejeitasse a candidatura de Dilma por ela ter se colocado como o "contraponto" a Palocci quando este estava no Ministério da Fazenda e ela, no Gabinete Civil.

A famosa discussão entre os dois - quando Dilma, em uma entrevista ao "Estadão" em 2005, classificou de "rudimentar" a proposta que ele e o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento, faziam de limitar a longo prazo o crescimento do gasto público ao crescimento do PIB - marcou-a como defensora da gastança governamental: "Despesa corrente é vida", disse Dilma na ocasião.

O papel do Estado em um futuro governo Dilma também é uma definição importante, e tanto ela quanto o governo Lula têm sido criticados pela visão de que, com a crise financeira de 2008, o Estado tem que ter necessariamente seu papel aumentado.

A influente revista inglesa "The Economist" critica o "capitalismo de Estado" do governo Lula, reforçado na segunda metade de seu segundo mandato, e atribui a mudança à predominância da visão da ministra Dilma Rousseff com a saída de Palocci.

Como aluna disciplinada, a candidata oficial vem repetindo em palestras para empresários, especialmente estrangeiros, o que o ex-ministro Antonio Palocci lhe orienta.

Ela ainda não chegou ao ponto de dizer, como Palocci sempre disse em conversas informais, que seu antecessor na Fazenda, Pedro Malan, merecia uma estátua por duas medidas adotadas: a renegociação das dívidas dos estados e a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Mas, ao contrário de seu discurso para o público interno, quando insiste na tese da "herança maldita" deixada pelos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, no exterior ela é só elogios para a política econômica.

Recentemente, na festa que homenageou como Homem do Ano o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles - outro que Lula tentou colar em Dilma como seu vice - , ela atribuiu o sucesso econômico do país aos últimos 20 anos de continuidade das políticas.

E não é apenas em questões de macroeconomia que ela diz o que o interlocutor quer ouvir. Também com relação a questões políticas delicadas, que têm repercussão na economia, como a ação do MST, ela se desdiz em público.

Recentemente, em Uberlândia, Minas Gerais, ela se colocou contra "qualquer ilegalidade cometida pelo Movimento dos Sem Terra ou qualquer outro movimento".

E foi específica, referindo-se a problemas que os fazendeiros da região, importante para o agronegócio, enfrentam: "Invasão de terra, invasão de campo de pesquisa, invasão de prédio público é ilegalidade".

Mas não se passaram 24 horas e lá estava Dilma com um chapéu do MST na cabeça, fazendo um discurso para os "companheiros" em Sergipe.

A candidata oficial, portanto, vem sendo reconstruída em público não apenas fisicamente, mas, sobretudo, em termos ideológicos.

O economista da PUC do Rio Rogério Werneck, em artigo na página de Opinião do GLOBO, comparou o trabalho de transformação de Dilma ao do professor Henry Higgins na célebre peça "Pigmaleão", de Bernard Shaw, tentando transformar a florista Eliza Doolittle em uma grande dama. E duvidou que Palocci obtenha êxito.

A pergunta que não quer calar é qual a verdadeira Dilma que eventualmente assumirá a Presidência da República: a candidata-laranja de Lula que segue a orientação de Palocci, ou a integrante da ala radical do PT, intervencionista e estatizante?

Ficha Limpa e participação política :: Lourdes Sola

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A história das democracias modernas inclui transformações que, por serem incrementais e levadas a cabo sem uma escalada de conflitos, constituem "revoluções silenciosas". São gestadas por mudanças difusas nas preferências coletivas, culminam na formação de consensos abrangentes e em novos critérios de legitimação política. Assistimos a um ciclo desse tipo em nossa região em tempos de inflação.

No Brasil a estabilidade econômica foi adquirindo valor de um bem público para vários estratos sociais e visibilidade para gestores e políticos eleitos: na esteira de frustrações, de experimentações macroeconômicas e dos debates que se seguiam. Parte do sucesso deveu-se ao caráter transversal do impulso renovador, para além das fronteiras de classe. Mas sempre na contramão dos impulsos particularistas dos interesses organizados então dominantes, sindicais ou patronais - a nossa modalidade de "coalizão inflacionária".

O ciclo transformador culminou com a URV e o Plano Real, mas não se esgota em sua dimensão econômica. Primeiro, pelo método inédito de relacionamento com a cidadania. Além de dispensar sigilos e surpresas de choque, seus arquitetos se valeram da participação cooperativa da cidadania no novo experimento monetário. Sem a qual a incorporação da URV aos cálculos quotidianos da população e a passagem para o real não teriam ocorrido. Seguiram-se outros efeitos extraeconômicos. A Lei de Responsabilidade Fiscal instituiu novas modalidades de accountability (responsabilização e prestação de contas) por parte dos gestores. O modus operandi da classe política e os termos da concorrência eleitoral mudaram, graças às evidências de que o populismo econômico com forte viés corporativista deixara de render dividendos eleitorais. Em 2002, nenhum dos candidatos de oposição questionou as medidas disciplinadoras do velho tipo de gastança. A Carta ao Povo Brasileiro e as políticas do primeiro mandato do presidente Lula completaram o ciclo. O saldo líquido foi a ressocialização da classe política: candidatos de esquerda, direita ou centro, hoje, fazem seus cálculos políticos com um olho no poder de fogo dos mercados e outro no do eleitorado.

A Lei da Ficha Limpa, como movimento social e como norma codificada, inaugura um ciclo transformador. Que pode ou não se completar. Minha hipótese, que defendo a seguir, é: por sua origem, lógica e dinâmica políticas, ela estabelece a exigência de um vínculo forte entre participação política e accountability, típica das democracias de qualidade. A ênfase exclusiva no primeiro termo dessa equação, sem o segundo, é a quintessência dos populismos com viés corporativista e autoritário.

Uma das características distintivas do Ficha Limpa enquanto modalidade de participação política é sua transversalidade: a mesma voz, de estratos sociais diversos, deu impulso à construção do consenso em torno do projeto. Além disso, é um movimento autônomo em relação aos atores políticos e ao modo de fazer política dominantes: impôs sua agenda à margem de um Executivo hiperativo e de um Congresso mais atento às suas prioridades e às do governo. Essa dinâmica perversa foi desarticulada (temporariamente), o projeto aprovado nas duas Casas, de olho no eleitorado. Mas é contra o pano de fundo do modo de fazer política dominante que a Lei da Ficha Limpa pode (ou não) operar uma revolução silenciosa. Primeiro, por sua autonomia e seu caráter apartidário. Contrasta, assim, com o destino de movimentos sociais que abdicaram de sua autonomia original, atraídos pela força gravitacional do Estado, manipulada eximiamente pelo governo como agente de redistribuição de recursos públicos. Atraídos, sobretudo, pelo privilégio da dispensa de prestação de contas e de responsabilização quanto ao uso desses recursos: caso das centrais sindicais, dos movimentos pela reforma agrária, das ONGs amigas.

Mas outro tipo de transversalidade dá alento a quem julga que a democracia brasileira pode mais. A codificação dos novos critérios de legitimação política continuará envolvendo também os atores do sistema de Justiça. O Tribunal Superior Eleitoral pronunciou-se, as ações contestatórias chegarão ao Supremo Tribunal Federal, sob o escrutínio do Ministério Público e dos meios de comunicação. O Tribunal de Contas da União lista os gestores sob suspeição. É essa dinâmica política que institui o que chamamos, no jargão da ciência política, a accountability horizontal ? entre as instituições e os Poderes. Para diferenciá-la da modalidade vertical de responsabilização, exercida pela cidadania em relação aos Poderes constituídos. A Ficha Lima é um avanço em termos das duas modalidades. Por isso leva em seu bojo a exigência de um vínculo forte entre participação política e prestação de contas, seja aos Poderes constituídos, seja à cidadania.

Por que inaugura um ciclo transformador? Porque rompe com a lógica política perversa de erigir a participação política em condição suficiente do avanço democrático ? típico do viés corporativista do nosso legado. Um viés que volta a ganhar corpo, com alma plebiscitária, em detrimento da representatividade do sistema partidário. Nos termos de Werneck Vianna, "as velhas formas de representação recuperaram viço, fortalecendo seus vínculos com o Estado e adotando uma perspectiva instrumental em relação aos partidos". Prevalecem as bancadas transpartidárias. O governo do PT aprofundou o viés, com os conselhos, como o de Desenvolvimento Econômico e Social, "de formatação inequivocamente corporativa, a fim de exercer funções de mediação direta entre o governo e a sociedade" (Eterno retorno, Valor Econômico, 21/6, pág. A6).


Professora da USP, doutora pela Universidade de Oxford, publicou "Ideias econômicas, decisões políticas" (Edusp), "Statecrafting monetary authority. Democracy and financial order in Brazil" (Center for Brazilian Studies, Oxford)

O caso histórico dos jornais de esquerda:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

As pessoas no Brasil não levam em conta a posição da imprensa ou não leem os jornais, afirma o cientista político Alain Rouquié (embaixador da França no Brasil, entre 2000/2003), a propósito da elevada popularidade do presidente Lula, em contraste frontal com o tratamento crítico que lhe é dado pela imprensa brasileira. A pergunta da jornalista Leneide Duarte-Plon – que o entrevistou para a revista Trópico– e as observações dele sobre as novas democracias na América Latina além do colapso dos jornais de esquerda estão na entrevista completa no site .

O pensador francês acaba de publicar o livro À sombra das ditaduras/ A democracia na América Latina, no qual examina as diferentes maneira como as novas democracias continentais lidam com a herança dos regimes militares nos anos 60 e 70 do século passado. Sobre o ocaso da imprensa de esquerda no Brasil, o pensador francês foi direto: “E você conhece um único jornal de esquerda na América Latina?”. A repórter citou Página 12, e a resposta veio pronta, “que ninguém lê”, “foi comprado pelo governo” e “não é mais o bom jornal que foi”. No Chile, também a imprensa é de direita, “mas durante 20 anos houve governos socialistas e democrata-cristãos”.

E, no Brasil, Alain Rouquié destacou faixas da classe média, empresários e mesmo militares, que não compartilham da visão crítica exacerbada em relação a Lula.

Quanto a haver na França espanto de intelectuais pela inexistência de jornais de esquerda no Brasil, Rouquié opinou que os intelectuais franceses são mais franceses do que intelectuais, e na França também já não há jornal de esquerda como no passado. Libération “está quase morrendo”, L’Humanité é “um jornal quase confidencial”, Le Monde “é lido por uma pequena elite”. Considera pouco o saldo francês que “não faz a diferença que pesa na evolução política, econômica e social de nosso país”. Por trás dessa cortina transparente que envolve o desmaio da imprensa de esquerda, há diferenças de fundo político a serem levadas em conta.

Na asfixiante prioridade da informação sobre a reflexão, com o advento da internet, dos jornais gratuitos e ONGs, torna-se indispensável acelerar o debate sobre a liberdade de imprensa no Brasil. A ideia de se propor controle social sobre a imprensa lançou o novo eufemismo de censura em nome da democracia.

Nada a ver com a questão do jornal político ou partidário, que sucumbiu aos custos industriais e tem limitações para sobreviver numa economia de mercado. O perigo ronda a liberdade de informar e opinar.

A entrevista de Alain Rouquié pede passagem para o presidente Lula, o jornalismo político e a América Latina como ponto de chegada, depois do círculo vicioso das ditaduras.
O novo nome da censura da imprensa é o controle social pela democracia


Wilson Figueiredo escreve nesta coluna aos domingos e terças-feiras.

Um desencontro histórico :: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Pesquisas internas do PSDB indicam que a crise na escolha do candidato a vice trata-se de um problema que interessa mais aos políticos que à população. É provável, sobretudo em época de Copa do Mundo. Mas deve-se registrar que esta é a segunda vez que José Serra recusa um companheiro de chapa identificado com a direita para a disputa presidencial.

A outra, como se recorda, foi na eleição de 2002, que José Serra perdeu para o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva.

Na realidade, o divórcio entre as duas siglas ocorrera um pouco antes, quando Aécio Neves se elegeu presidente da Câmara à revelia do entendimento PSDB-PFL que elegeu (1994) e reelegeu (1998) Fernando Henrique Cardoso.

A situação se agravou quando a Polícia Federal apreendeu R$ 1,2 milhão na sede da Lunus, empresa ligada à então governadora do Maranhão e candidata pefelista ao Palácio do Planalto, Roseana Sarney. Em vez de reconhecer que se tratava de dinheiro para a campanha, o PFL preferiu culpar Serra pela descoberta. Àquela altura, o ministro da Saúde de FHC já despontava como o candidato do PSDB às eleições de 2002.

Confirmada sua candidatura à sucessão de FHC, Serra não hesitou na escolha do partido que indicaria o vice na chapa: o PMDB. A escolhida foi a deputada Rita Camata, hoje no PSDB e candidata ao Senado pelo Espírito Santo. O deputado Michel Temer, que nesta eleição será o candidato a vice da candidata do PT, Dilma Rousseff, já presidia o PMDB.

A marca de partido fisiológico hoje exibida pelo PMDB era mais visível, à época, no PFL, partido que vencera a eleição com os tucanos e levou sua parte no butim eleitoral. Apesar de ter perdido o discurso após a Assembleia Constituinte, o PMDB ainda carregava algum charme de partido de centro-esquerda que combateu a ditadura militar.

A curta história libertária do PMDB era mais utilitária, em 2002, para um candidato com origem na esquerda, sobrevivente de duas ditaduras, ex-presidente da UNE e ex-asilado político como José Serra - condições, aliás, que o tucano ostenta também agora, na campanha eleitoral de 2010.

Serra e o PFL se reencontraram na eleição para a Prefeitura Municipal de São Paulo, em 2004.

Experiência que aproximou Serra de Jorge Bornhausen, ex-presidente pefelista que o renegara em 2002 ("Vou para casa pescar", dizia sobre seus planos para aquela eleição). Já em 2006, Bornhausen gostaria que o PSDB tivesse escolhido Serra para candidato a presidente no lugar de Geraldo Alckmin, um candidato que decepcionou os então pefelistas.

Aos poucos, Serra e o antigo PFL foram se entendendo, muito embora nem sempre o prefeito (2004) e depois governador de São Paulo (2006) tenha concordado com a oposição radical ao governo Lula conduzida pelos pefelistas no Congresso. O entendimento de Serra com o parceiro de oposição, no entanto, durou enquanto Bornhausen esteve no comando da sigla aliada. A relação começou a travar depois das mudanças ocorridas no PFL, que trocou de nome e passou a ser tocado por uma nova gerência.

Uma nova gerência, uma nova geração no comando. Serra manteve boas relações com César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, um dos caciques do antigo PFL e pai do presidente do DEM, Rodrigo Maia. Mas o mesmo não se pode dizer a mesma coisa da relação do candidato tucano a presidente com o filho de César.

É bobagem, no entanto, dizer que Serra ignorou o DEM, na escolha do vice, em virtude da relação pessoal difícil com Rodrigo Maia. Na realidade, Serra nunca achou que a escolha do vice pudesse resultar em ganho de votos expressivo para sua candidatura - com exceção, talvez, se Aécio Neves fosse o candidato (o ex-governador de Minas Gerais deixou o cargo com popularidade lulista, em alguns municípios).

A candidatura do senador Tasso Jereissati à reeleição é um bom exemplo sobre como Serra vê a questão da vice. Tasso foi cogitado no PSDB para companheiro de chapa de Serra. Mas é certo que o ex-governador de São Paulo considera que a decisão de Tasso em concorrer novamente ao Senado dará mais votos à chapa presidencial tucana no Ceará do que se ele fosse candidato a vice-presidente.

Para Serra, o senador seria favorito na disputa pelo governo do Ceará, caso decidisse disputar o posto. O senador é que preferiu tentar a reeleição a concorrer a um quarto mandato no governo estadual. Seja com candidatos aos governos estaduais ou ao Senado, Serra espera ganhar mais em comprometimento dos aliados com a campanha.

A vaga de candidato a vice-presidente, portanto, era moeda de troca para alguma composição efetiva, como para demolir o palanque de Dilma Rousseff no Paraná.

É provável que não tenha passado pela cabeça do candidato que o DEM fosse esticar a corda e exigir a vaga de vice. Até depois da convenção do PSDB que formalizou a indicação de Serra como candidato, realizada em Salvador (BA), território de tradição pefelista, a exigência demista do vice ainda era vista no PSDB como implicância de Rodrigo Maia. Com uma ou outra exceção.

Na realidade, o presidente do Democratas refletia apenas a média do que se dizia em seu partido: se o candidato a vice não seria Aécio, se a vaga não seria oferecida a um outro partido que somasse mais tempo no horário de televisão do candidato, não haveria motivo para o PSDB recusar a vaga ao DEM, companheiro de quase oito anos de oposição.

Rejeitado por José Serra, o futuro do Democratas está ameaçado, a menos que o tucano vença as eleições de 3 de outubro. Na hipótese de vitória de Dilma Rousseff, a tendência do antigo PFL é se dividir entre aqueles que vão aderir ao governo, talvez a maioria, e aqueles que vão se acomodar entre os tucanos ou no PPS.

Curiosa situação: o DEM fez a troca de geração no comando, saiu dos grotões governistas mas não se tornou um partido urbano, redutos em geral mais refratários ao governo e acessíveis ao discurso de oposição. Numa e noutra situação foi enjeitado por Serra para campanhas nacionais. Gilberto Kassab foi a exceção, na eleição de 2004 para a prefeitura de São Paulo.


Raymundo Costa é repórter especial de Política da sucursal de Brasília.

Novela, enfim, termina: Jungmann é candidato

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Deputado pelo PPS cede à pressão dos aliados e aceita entrar na disputa para o Senado na chapa encabeçada por Jarbas. Anúncio oficial só deve acontecer amanhã, na convenção das oposições


Cecília Ramos

O deputado federal Raul Jungmann (PPS) é o segundo nome ao Senado na chapa do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), candidato ao governo, que tem como integrantes a deputada Miriam Lacerda, na vice, e o senador Marco Maciel (ambos do DEM). A previsão é a de que o anúncio seja feito apenas amanhã, durante a convenção das oposiçõe(PMDB/PSDB/DEM/PPS/PMN), a partir das 13h, no Clube Atlético de Amadores, em Afogados. As principais lideranças só chegarão às 17h.

O “sim” de Jungmann foi dado ontem, após mais de um mês de cortejo, desgaste e expectativa para se fechar a vaga ao Senado – até então, da cota do PSDB. As negociações se encerraram pela manhã, antes de Jarbas partir para Brasília, de onde só retorna hoje à noite. Presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra disse que somente a Jarbas cabe comunicar. “Jungmann é o nome que eu sugeri. Tudo já foi conversado, agora dizer isso (anunciar) não é comigo. Ele e Jarbas ficaram de se falar. Estou em São Paulo (ontem) e não tive mais notícia. Eu levei ele (o deputado) lá para o Araripina”, frisou. No último sábado, o tucano surpreendeu ao prestigiar uma agenda política de Jarbas no interior, e com Jungmann a tira-colo.

Sérgio Guerra negou qualquer acordo com Jungmann visando as eleições para prefeito do Recife em 2012. “Não existe isso! Nós já temos problemas demais nesta eleição, para começar a discutir 2012 agora”, desconversou o tucano, que tem sido criticado por aliados de ter “largado” Jarbas à própria sorte.

O combinado na oposição, ontem, foi o silêncio. Jungmann, sempre solícito à imprensa, não retornou às ligações do JC. Porém, um e-mail enviado à redação, à tarde, pela assessoria da vereadora Vera Lopes (PPS), relatava que Jungmann “decidiu aceitar ser candidato a senador”. Vera informou que foi o deputado Bruno Araújo (PSDB) que “fez uma porção de ligações para informar a novidade”. A vereadora disse ter sido contactada às 11h50 de ontem. Araújo teria entrado no circuito para convencer Jungmann a pedido do deputado Raul Henry (PMDB). Os dois também não retornaram as ligações.

Jungmann foi o primeiro nome sugerido por Jarbas após Guerra desistir de tentar a reeleição. O peemedebista considera o deputado competitivo e com a postura ideal para “combater” o governador Eduardo Campos (PSB). Um contraponto ao estilo sóbrio de Marco Maciel. Jarbas anunciou que disputaria o governo em maio. De lá para cá, tentou solucionar a chapa. O maior impasse foi a falta de opções para a 2ª vaga ao Senado. Jarbas chegou a buscar nomes fora da política, “dois empresários”, disse, mas sem nominar. Foram, de fato, cotados o deputado Bruno Araújo e o cientista político André Régis (ambos do PSDB), o ex-secretário de Saúde Guilherme Robalinho (PPS) e o deputado Roberto Magalhães (DEM) – que teria a preferência de Jarbas, mas oficializou sua saída da política.

No 'Roda Viva', Dilma nega ser 'um poste'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Petista refuta tese de que seu nome surgiu à sombra de Lula e diz que a interferência do presidente, se for eleita, se limitará a aconselhamentos

Malu Delgado
A interferência de Luiz Inácio Lula da Silva num eventual governo de Dilma Rousseff se limitará ao aconselhamento de um ex-presidente, afirmou, categórica, a candidata do PT à Presidência, ontem, no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Sem o figurino vermelho que ostentou na convenção petista que a lançou oficialmente há poucas semanas, a candidata, vestida de azul, disse que o apadrinhamento de Lula à sua candidatura não a transforma "num poste". Se eleita, ela disse que espera a ajuda de Lula "para aprovar reformas importantes" - tendo destacado desonerações tributárias e a reforma política.

"Vou querer que ele (Lula) apresente seus conselhos. Agora, tenho clareza que ele participará como ex-presidente", disse.

Bastante enfática e tranquila ao negar que seu nome surgiu na política à sombra de Lula, ela citou que o presidente não tinha, no início do governo, a popularidade que atingiu hoje e se incluiu como ator político responsável pelos êxitos da gestão do petista. "O projeto que eu defendo", disse, "hoje sou eu que represento".

PSDB. Ao contrário da candidata do PV, Marina Silva, que reiteradas vezes defendeu a necessidade de governar "com os melhores do PT e os melhores do PSDB", Dilma foi refratária ao ser questionada sobre a possibilidade de entendimentos políticos com os tucanos e refutou ter alguma semelhança política com José Serra e o projeto do PSDB.

Vice. Descontraída, Dilma deu risadas ao ver a charge feita pelo cartunista Paulo Caruso, durante a entrevista, em que ela foi desenhada comentando que "eles não tinham nem vice" - e até interrompeu um raciocínio.
Admitiu, mais uma vez, não ter experiência política, mas listou suas experiências administrativas. "Não tenho experiência eleitoral. Fico pensando às vezes se isso não é uma vantagem num quadro onde há tanto desgaste da atuação política."

A candidata disse que se compromete com uma reforma tributária para desoneração de investimentos e dos encargos da folha de pagamento das empresas, mas não defendeu o imposto sobre grandes fortunas, bandeira do PT. "Para ser aprovado no Brasil, demandaria imensa energia política", comentou.

Questionada se a reforma promoveria queda da carga tributária, foi evasiva, dizendo que é contra aumento de alíquotas e que a arrecadação pode subir com aumento do consumo e da produção. Sobre a CPMF, não defendeu a volta do imposto. Afirmou que não se pode modificar o passado.

Dossiê. A petista repetiu que não partiu da campanha a articulação para produção de suposto dossiê contra políticos do PSDB. Afirmou que o comitê não pode ser responsabilizado pelas ações do jornalista Luiz Lanzetta, que se envolveu no episódio e se afastou em seguida do núcleo eleitoral do PT.

Sobre o debate do controle social dos meios de comunicação, defendido pelo PT, a candidata disse ser favorável à liberdade de imprensa.

Depois de sair do Roda Viva, Dilma foi participar de um jantar com artistas, acompanhada pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira. A assessoria da candidata não informou o local.

PSDB insiste na chapa puro-sangue e tenta acordo com o DEM

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PE), esteve nesta segunda, 28, em São Paulo para encontro com a cúpula democrata

Julia Duailibi, Marcelo de Moraes e Ana Paula Scinocca

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Mesmo diante da resistência de setores do DEM de acatar um vice tucano para José Serra, o comando do PSDB quer insistir na tese da chapa puro-sangue ao mesmo tempo em que busca uma reaproxiação entre os dois partidos aliados.

Ontem, o candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, esteve pessoalmente numa reunião com a cúpula do DEM a fim de encontrar uma saída para o impasse entre as duas legendas aliadas. "Estamos começando a superar o impasse", afirmou o coordenador da campanha e presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra."O DEM acha que o quadro pode ser deles, o PSDB acha que pode ser nosso, completou, ao sair da casa do prefeito paulistano Gilberto Kassab, onde foi feita a reunião com a cúpula das duas siglas.

"Nós trabalharemos para confirmar nosso candidato a vice. Isso é democrático e deve ser visto assim", afirmou Guerra. "Considero natural que o DEM tenha um ponto de vista diferente do nosso. Mas o que deve presidir o nosso roteiro é a preocupação com a vitória de Serra.", havia dito o senador tucano, antes da reunião que aconteceu em São Paulo com dirigentes do DEM, para tentar reverter a crise, deflagrada desde que os tucanos definiram o nome do senador Álvaro Dias (PR) para compor a chapa com o vice de Serra, na semana passada.

Pelo lado do DEM, que tem convenção marcada par a amanhã, o presidente da legenda, deputado Rodrigo Maia (RJ), recebeu carta branca para negociar uma solução política para a crise na aliança com o PSDB. Maia obteve aval até para romper a coligação com o PSDB em torno de Serra se considerar necessário. Apesar disso, dirigentes do partido reconhecem que seria pouco vantajoso para as duas legendas uma ruptura política.

Mesmo assim, o clima continuava tenso ontem. Maia rebateu uma declaração dada ontem por Guerra de que a reação negativa do DEM à indicação de Álvaro Dias para a vaga de vice poderia provocar a derrota de Serra. "Não é a nossa reação que pode provocar a derrota, mas sim a ação do PSDB e do candidato José Serra em fazer essa indicação. A origem do problema foi causada por eles", alegou o deputado.

O DEM espera reverter a indicação de Dias, mas poderá aceitar outro tipo de acordo se Serra fizer gestos positivos e públicos na direção do partido, como, por exemplo, pressionar o PSDB a ceder na montagem de palanques estaduais, como são os casos de Sergipe e Pará.

Guerra defende o diálogo entre os dois partidos para chegar a uma solução. "E fazer a escolha sensata do ponto de vista político, administrativo e eleitoral. É sobre isso que devemos conversar."

Álvaro Dias: 'Só falta o DEM concordar'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Álvaro Dias. Senador diz ser natural a resistência do DEM, mas ameaça: se não for vice, Osmar Dias vai disputar governo do Paraná

Eugênia Lopes

BRASÍLIA = Indicado para ocupar a vaga de vice-presidente na chapa tucana, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) garante que será um "coadjuvante obediente", caso José Serra seja eleito presidente da República. Dias considera naturais as resistências do DEM à sua escolha, mas alerta em tom de ameaça: se sua candidatura à vice-presidência não for homologada até amanhã, como determina a legislação, seu irmão e senador Osmar Dias (PDT) vai disputar o governo do Paraná. Um dos objetivos da indicação de Álvaro Dias foi retirar Osmar da corrida estadual paranaense, o que deverá criar dificuldades de palanque no Estado para a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

O senhor teme sequelas na campanha de José Serra depois de sua escolha para vice ter desencadeado uma crise entre PSDB e DEM?

O DEM tem deixado claro que não é resistência ao meu nome. É natural que o partido postule o cargo; nada mais compreensível. Afinal, o DEM ocupou duas vezes a vice-presidência no governo de Fernando Henrique Cardoso e também, em 2006, quando o Geraldo Alckmin disputou a Presidência da República. Mas não entendo que isso possa deixar sequelas. Essa turbulência é passageira. O final será do entendimento.

Um dos argumentos usados pelo ex-governador Aécio Neves para não ser vice na chapa presidencial tucana foi o de que o nome dele não agregaria votos à candidatura de Serra. Seu nome vai aumentar o número de votos em Serra?

Acho que sou a pessoa menos indicada para falar sobre isso até porque não advogo em causa própria. Houve uma avaliação cuidadosa, que concluiu pelo meu convite. Agora, quem ganha eleição é o candidato a presidente. O vice é coadjuvante. Quero ser um coadjuvante eficiente e leal ao candidato. Quero ser um divulgador de suas qualidades e mostrar que ele é a melhor alternativa. Não posso fazer uma avaliação a respeito da dimensão do meu apoio. Mas, no Paraná, são 7,5 milhões de eleitores, o que pode ser decisivo na eleição.

O senador Osmar Dias, seu irmão, vai retirar a candidatura ao governo do Paraná?

Se a minha candidatura como vice-presidente for homologada, não há como nós dois nos confrontarmos. Ele anunciou que sairá candidato ao Senado. Ele avalia que o projeto nacional é prioritário. Se eventualmente no dia 30 a minha candidatura não for homologada, ele será candidato ao governo do Paraná. Para a homologação do meu nome como vice, só falta o DEM concordar. Quando isso ocorrer, eu vou ser anunciado oficialmente.

Essa vinculação entre sua indicação a vice-presidente e a retirada da candidatura de seu irmão ao governo paranaense não é chantagem?

Não existe essa vinculação. O senador Sérgio Guerra (presidente nacional do PSDB) deixou isso muito claro. Não era uma decisão do Paraná e sim uma decisão nacional. Não há essa vinculação. Nem eles colocaram isso como exigência, nem isso foi recebido de nossa parte dessa forma. Sempre estivemos juntos.

O Serra já disse que não queria um vice que "aporrinhasse". O senhor será um vice que não vai incomodar?

Acho que sou um colaborador leal e fiel. Serei um coadjuvante obediente sem criar problemas. O PSDB me convocou. Aceitei de forma irrevogável. Trata-se de uma missão do partido.

A divulgação de seu nome como vice no Twitter foi desastrosa para a campanha?

Não foi por desejo do senador Sérgio Guerra. Isso ocorre. É difícil não vazar uma notícia como essa.

Crise do vice será resolvida, afirma Serra

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

"Não se preocupem", diz tucano a jornalistas após reiterar que "algumas dificuldades" são normais em política

O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, fez apelo ao DEM em defesa da aliança: "A campanha precisa de PSDB e DEM"

BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A SANTOS (SP)
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que a polêmica sobre a escolha de seu vice é "normal" e será solucionada nos próximos dias.

No entanto, ele se recusou a comentar a reação do DEM à indicação do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), numa chapa tucana puro-sangue.

"Nós vamos ter um bom entendimento a respeito disso. É normal em política que, em certas situações, apareçam algumas dificuldades", disse, em visita a Santos.

"Não vai ter problema, não. A gente vai ter uma boa solução", afirmou ele.

Em tom de ironia, pediu aos repórteres que não se preocupassem com o futuro da aliança, rachada com as críticas à indicação de Dias.

"Não se preocupem", repetiu, avisando que só responderia sobre futebol.

Apesar das declarações de Serra, o racha preocupa o partido. O comando do PSDB fez ontem um apelo ao DEM, pois avalia que o impasse pela escolha do vice pode pôr em risco a candidatura."A perpetuação [desse embate] é um risco muito forte ao equilíbrio das forças que representamos. A campanha precisa do PSDB e do DEM", afirmou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra.Ele lembrou que os tucanos já apoiam os quatro candidatos do DEM ao governo (BA, SC, SE e RN).

"O que há de errado em o PSDB sugerir um nome e consultar os demais partidos [aliados]?", questionou.

Segundo Guerra, o partido considera "natural" o DEM ter um ponto de vista diferente, mas diz que, "acima de tudo, a preocupação tem que ser com a vitória". "Serra vai escolher o vice. É evidente que ele considera o nome do Alvaro Dias muito bom."

Após uma conversa com Serra, Roberto Freire, presidente do PPS, criticou o Democratas: "O DEM pode até não concordar com o vice, mas não faz parte da boa política impor veto ao nome".

Ontem à noite, líderes do DEM se reuniram em São Paulo, e a intenção era chamar os tucanos para negociar uma saída. Serra, no entanto, resistia a participar enquanto não houvesse solução. Seu medo, dizem tucanos, é colar o rosto ainda mais à crise.

SELEÇÃO

Serra falou no intervalo do jogo do Brasil, que acompanhou na Vila Belmiro, estádio do Santos. Torceu com o candidato ao governo paulista, Geraldo Alckmin, e os indicados ao Senado, Orestes Quércia (PMDB) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). Cerca de 300 pessoas foram convidadas pelo clube, que ofereceu lanche e refrigerante.

Serra diz crer 'numa boa solução' que acabe com crise em sua aliança

DEU EM O GLOBO

"É normal que apareça alguma dificuldade", diz o candidato do PSDB

Sérgio Roxo

SANTOS (SP). O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que acredita num bom entendimento entre os partidos que integram sua aliança na escolha do vice. O tucano foi evasivo ao comentar a crise criada com o DEM, após o anúncio de que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) deverá ser seu companheiro de chapa:

- Vamos ter bom entendimento a esse respeito. É normal em política, em certas situações, criar... que apareça alguma dificuldade. Mas não vai ter problema. Vamos ter uma boa solução - disse Serra, no intervalo do jogo entre Brasil e Chile.

Serra assistiu à partida no estádio do Santos Futebol Clube, no litoral de São Paulo, ao lado do candidato do PSDB ao governo do estado, Geraldo Alckmin.

Perguntado sobre como será contornada a crise, encerrou o assunto:

- É só o que vou falar. Eu quero falar de futebol. Vai resolver tudo, não se preocupem.

Um repórter perguntou se o seu vice seria decidido aos 45 minutos do segundo tempo. Serra ficou em silêncio; uma outra repórter repetiu a pergunta, mas pouco adiantou.

- Eu ouvi o que ele perguntou (o primeiro repórter). Eu não vou responder.

O presidente do PPS, Roberto Freire, também foi ao estádio do Santos para acompanhar a partida e afirmou crer que o problema será contornado:

- É normal, em alguns momentos na política, as pessoas tentaram marcar um gol contra. Mas isso não vai acontecer.

Tucano diz ter afeto pelo Chile: "mas Brasil é Brasil"

Desta vez, Serra chegou para ver o jogo antes do início. Na partida contra Portugal, semana passada, ele chegou aos dez minutos do segundo tempo. Novamente, ele se mostrou tenso nos lances de ataque brasileiros e levou as mãos à cabeça. Na hora dos gols, levantou-se para comemorar. No segundo gol, a mando de um homem, meninos de um time das categorias de base do Santos abraçaram o presidenciável.

Serra, que viveu no Chile durante o exílio, nos anos 60 e 70, disse que tem um carinho especial pelo país. Sua mulher é chilena e seu filho, Luciano, nasceu lá.

- O Chile é um país pelo qual tenho muito afeto. Até quando tocou o hino do Chile foi um momento significativo, mas Brasil é Brasil.

Líder tucano diz que crise com DEM pode 'comprometer a nossa vitória'

DEU EM O GLOBO

PSDB insiste em chapa puro-sangue; sigla aliada mantém rejeição a Álvaro Dias

Adriana Vasconcelos, Flávio Freire e Sílvia Amorim

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Apesar dos esforços de parte a parte para tentar contornar a crise deflagrada entre PSDB e DEM - por causa da vaga de vice na chapa do candidato tucano à Presidência, José Serra -, o clima entre representantes dos dois partidos continuou tenso ontem. Políticos dos dois lados entraram em campo ontem para tentar diminuir a tensão, mas setores do DEM insistem em não aceitar a escolha do senador tucano Álvaro Dias (PR) - e ameaçam nos bastidores deixar a coligação.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), fez ontem um alerta, em entrevista à Rádio CBN. Disse que a vitória da oposição nas eleições presidenciais deste ano pode ser comprometida se continuar o impasse.

- Temo que tenhamos, neste episódio, atuado para comprometer a nossa vitória. Não é a questão de um partido ter o apoio do outro. Já votamos com o Democratas, e o Democratas vota conosco há muitos anos. O problema é ter unidade, tranquilidade, e uma solução construtiva para a luta que enfrentaremos - disse Guerra.

Numa resposta indireta ao ultimato que o DEM prometia dar aos tucanos ontem, ameaçando não formalizar a aliança na convenção nacional marcada para amanhã, Sérgio Guerra disse que o PSDB fez só uma sugestão ao indicar o nome de Álvaro Dias:

- Não houve anúncio de vice. Houve sugestão de um nome. Porque o senador tem uma liderança de qualidade, é um dos senadores mais bem aprovados do Brasil, tem uma presença no Congresso que todo mundo valoriza. É um excelente candidato a vice-presidente, porque fala bem, explica bem e conhece bem. Além do mais, significaria a consolidação de uma vitória grande que esperamos ter no Sul do país, de uma maneira geral, e no Paraná, em particular.

Guerra : "solução é manter Álvaro"

No PSDB, a substituição de Álvaro Dias era considerada impossível até ontem à noite. Mas os tucanos admitem rever a situação de alguns palanques estaduais ainda conflagrados, como Pará e Goiás.

- A solução é manter o Álvaro Dias e discutir uma consolidada concessão nos estados - afirmou Guerra.

O PSDB avalia que uma saída do DEM da coligação também traria danos ao aliado, que perderia o apoio dos tucanos em Santa Catarina, Bahia e Sergipe. Os tucanos veem esse cenário como a grande moeda de troca para convencer o DEM a ficar na aliança, mesmo com a oficialização da chapa puro-sangue.

O DEM, porém, continuava irredutível até o início da noite de ontem, quando estava previsto um encontro entre o presidente nacional do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), e Serra. Essa reunião só aconteceria se os dirigentes de DEM e PSDB chegassem antes a um acordo.

Em nota, o líder do DEM, José Agripino (RN), atuou como bombeiro para amenizar o clima de confronto com os tucanos: "Na relação entre o DEM e o PSDB não pode haver ultimatos nem fatos consumados. A história de parcerias e reciprocidades entre os dois partidos recomenda a superação das divergências pelo diálogo e pela determinada busca do entendimento".

Rodrigo Maia procurou mostrar empenho na busca por um entendimento. Mas disse que teria "um diálogo firme" com os tucanos, para mostrar a insatisfação de seus liderados.

Guerra diz que impasse com DEM pode 'comprometer' campanha de Serra



Carolina Freitas - Agência Estado

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse nesta segunda-feira, 28, que o impasse em torno da definição do vice na chapa tucana pode comprometer a eleição do candidato à Presidência pelo partido, José Serra. "Temo que nós tenhamos, nesse episódio, atuado para comprometer a nossa vitória", afirmou Guerra em entrevista à Rádio CBN.

O PSDB indicou na sexta-feira o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) para a vaga de vice na chapa encabeçada por Serra. Os aliados PPS e PTB aprovaram a escolha, mas o DEM se rebelou e agora pressiona para indicar um quadro do partido.

Guerra disse ver "exagero" na reação do presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). "Nós já votamos com o Democratas e os Democratas já votam conosco há muitos anos. Não é esse o problema. O problema é de ter unidade, tranquilidade e uma noção construtiva da luta que nós enfrentamos."

Em uma tentativa de melhorar a relação com o DEM, Guerra colocou a indicação de Dias como "sugestão" e não "anúncio", mas defendeu o senador. "Alvaro Dias é uma liderança de qualidade, um dos senadores mais bem aprovados do Brasil, um excelente candidato a vice-presidente. Significaria a consolidação de uma vitória grande que nós esperamos ter no Sul do País e no Paraná." Guerra está em São Paulo e vai procurar Rodrigo Maia para conversar sobre o vice.


Os homens criaram este Haiti aqui:: Arnaldo Jabor

DEU EM O GLOBO

Com a tragédia consumada, só resta a solidariedade

Não adianta mais analisar p... nenhuma no Brasil de hoje. Tudo voltará ao início como cobra mordendo o próprio rabo, tudo continuará sob anestesia mas sem cirurgia, como disse uma vez Mario Henrique Simonsen. Tudo era previsível neste súbito Haiti que brotou no Nordeste, variando do deserto para o "tsunami" de lama, das "vidas secas" para o afogamento, sempre atingindo os mesmos pobres-diabos sem voz, sem rosto, sem destino, que vagam nas cidades desgraçadas que o subfeudalismo dos barões nordestinos cultiva.

A análise tradicional não serve; só resta oferecer-me como testemunha inútil deste crime secular sem autores visíveis.

O autor não é Deus, não é a natureza; os homens teceram esta desgraça de agora, não por seus atos malignos apenas, mas por uma distribuição de causalidades inexplicáveis que cria o crime sem sujeito - uma difusa culpa que acaba inocentando todos.

No entanto, a verdade brasileira aparece nestas tragédias visíveis - soterramentos, alagamentos, bebês morrendo em berçários de hospitais assaltados.

Por outro lado, a verdade sempre esteve ali, silenciosa, dissimulada nos miseráveis vilarejos de Alagoas e Pernambuco, na paz trágica do nada, na mansidão da ignorância, no silêncio da miséria seca, aquela paz vazia que tranquiliza ladrões e demagogos, a paz da ignorância de vassalos toscos e obedientes.

Mas, de repente, jorrou a verdade com as águas das represas e açudes arrebentados. Tudo que não queríamos ver bate em nossos olhos grudados na TV, vendo o Maradona de terninho ou o Dunga com sua cara espessa e dura. A verdade aponta os responsáveis pela tragédia que certamente vão esconder que 57% das verbas para prevenção de catástrofes desse tipo foram gastos na Bahia, para favorecer o candidato do governo para governador. Também não vão explicar por que só 14% das verbas preventivas (R$ 71 milhões apenas) foram destinados aos Estados de Alagoas e Pernambuco.

Agora, com Lula e sua clone correndo para aparecer no teatro de lama, para impedir perda de votos, o governo vai gastar mais de R$ 2 bilhões para consertar o que era evitável (ah... e que bons negócios se farão...)

A catástrofe estava encravada nas fazendas fantasmas, nos municípios controlados por barões, na indústria da seca ? não só a seca do solo, mas a seca mental - onde a estupidez e a miséria são cultivadas para criar bons serviçais para a burguesia boçal. A catástrofe estava se armando enquanto soavam as doces camaradagens corruptas em halls de hotel, os almoços gordurosos, as cervejadas de bermudão, as gargalhadas, as "carteiradas" autoritárias, os subornos e as chaves de galão. As catástrofes estavam se armando durante os jantares domingueiros, na humilhação das esposas de botox, no respeito cretino dos filhos psicopatas, na obediência dos peões, dos capatazes analfabetos. A catástrofe se armava no sarapatel de ideias que vão desde um leninismo tardio até este "revival" de um sindicalismo getulista a que assistimos.

Os indícios desse desastre se veem na recente frase irada que Lula lançou: "Os impostos no Brasil têm de ser altos sim, do contrário não temos Estado." Esqueceu-se de dizer que os impostos que recolhe são gastos para pagar a folha de milhares de pelegos empregados, nos desvios de verbas públicas, esqueceu de dizer que a catástrofe se armava nos últimos sete anos quando gastaram R$ 8 bilhões em propaganda oficial, sem contar os gastos de empresas estatais.

A catástrofe também se armou aos poucos com a frente unida da Utopia, que permite que todos os erros sejam cobertos por um manto de "fins justificados" - a frente unida dos três tipos de radicais: os radicais de cervejaria, os radicais de enfermaria e os radicais de estrebaria. Os frívolos, os loucos e os burros. Uns bebem e falam em revolução; outros alucinam e os terceiros zurram, todos atacando o "capitalismo do mal", quando justamente esse mal (que também existe) é a única bomba capaz de arrebentar nosso estamento patrimonialista de pedra.

A catástrofe se arma para futuras tragédias, com a má utilização dos bilhões de dólares que entram em nossa economia, canalizados para países emergentes, pois estão sendo sugados pelo Estado inchado e inchando.

A realidade (se é que isso ainda existe no País) é que a tragédia fixa, silenciosa, invisível se transformou numa tragédia bruta e retumbante. Só isso aconteceu no Nordeste.

E para nós restam o horror e a pena, porque os fatos estão muito além da piedade. Ninguém tem palavras para exprimir indignação, ou melhor, ninguém tem mais indignação para exprimir em palavras.

Resta-nos a impotência diante do fato consumado e um sentimento nobre, mas que chega sempre depois da desgraça: a solidariedade.

O que é a solidariedade? Como sentir a dor dos outros? Sou solidário aqui ou apenas faço meu artigo semanal? Por que me comovo? Será que me comovo mesmo, será que me imagino ali na lama, procurando pedaços de comida no lixo e aí me purifico com minha indignação impotente? Como posso saber o que sente um homem-gabiru, faminto, analfabeto, que só é procurado pelos poderosos sacanas para ser "laranja" em roubalheiras para a cumbuca das oligarquias? Como posso saber da alma de um desgraçado limpando um pedaço de pão no lodo para dar para o filho bebê, com seu sofrimento mudo, enquanto os culpados dizem "que horror" nos prédios de luxo nas praias de Pajuçara e Boa Viagem ou se escondem nos cabides de emprego de Brasília? Como se sentem os homens sofridos que vemos chorando na TV, sob o som de gritos da Copa do Mundo, uivos de vuvuzelas e patetas pulando de alegria patriótica?

Os diques e os açudes que se romperam são os diques rompidos da mentira política sistemática. Então, pode ser que a história se mova um pouco e que a consciência de nosso absurdo aumente. Mas, isso... só por um tempo... Depois, novas catástrofes voltarão a se armar...

Cada um por si :: Celso Ming

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A reunião de cúpula do Grupo dos 20 (G-20) que se realizou nesse fim de semana em Toronto, Canadá, mostrou que já não há mais a mesma unanimidade entre os chefes de Estado demonstrada em 2008 e 2009, quando se tratou de apagar o incêndio da crise e acabar com o alastramento do pânico.

Cada país ou subconjunto de países tem agora sua prioridade, diferente das dos demais, e não abre mão delas em benefício de um esquema conjugado de governanças.

Apesar das pressões do governo dos Estados Unidos, a União Europeia conseguiu o reconhecimento do seu ponto de vista, o de que o momento não é de despejo de recursos públicos, mas de volta à austeridade e ao equilíbrio das finanças públicas.

Domingo, o presidente do Bank for International Settlements (BIS), Jaime Caruana, resumiu tudo com uma frase: "Não podemos esperar a retomada de um crescimento econômico forte para dar início ao processo de correção da política."

A principal consequência da decisão foi a de que a recuperação da economia global vai demorar mais ou, até mesmo, os países ricos poderão mergulhar num período adicional de recessão. Em compensação, o processo fica mais confiável, porque liberta as economias mais maduras do poder de chantagem dos credores.

Falta saber se haverá condições políticas para reduzir os atuais rombos orçamentários à metade em apenas três anos. Em todo o caso, a decisão de deixar a cada país a escolha da intensidade e do timing das medidas parece ter sido a saída encontrada para garantir flexibilidade para enfrentar os principais focos de resistência.

As pressões para criar impostos novos sobre os bancos e, dessa maneira, obter uma espécie de indenização pelas despesas que bancos centrais e Tesouros foram obrigados a fazer para salvar os bancos também não obtiveram consenso, apesar da maré favorável a castigar o segmento que provocou o desastre. E, se a taxação dos bancos não for universalizada, muito provavelmente não funcionarão os impostos onde forem instituídos. Os grandes bancos são instituições globais. Eles saberão se defender das taxações por meio da arbitragem regulatória, ou seja, por meio da transferência da titularidade de ativos para países não sujeitos a tais impostos. E o Brasil é um deles.

E, se nem a taxação dos bancos consegue sinal verde, muito menos conseguirá a adoção de uma contribuição global sobre transferências de valores financeiros (conhecida como Taxa Tobin), que se transformou em bandeira de luta do movimento social-democrata internacional.

A China obteve também sua vitória ao conseguir evitar o debate e, mais do que isso, a inclusão no documento final de qualquer nova pressão para valorizar a sua moeda, o yuan. Foi mais uma vitória da política faça-o-seu-jogo.

No mais, foi incompreensível a ausência do presidente Lula. A alegação era a de que sua presença no Brasil ficou necessária por conta dos estragos provocados no Nordeste pelas enchentes. Como Lula não fez nada de muito novo nesse final de semana pelos flagelados, essa ausência foi interpretada como um jeito de fugir das interpelações a que se submeteria por defender a política nuclear do Irã.

Cobrança
Alguns analistas internacionais, entre os quais o Prêmio Nobel Paul Krugman e o articulista do Financial Times Martin Wolf, insistem em que não há solução para a economia global enquanto a Alemanha não aumentar seu consumo e a China não promover a valorização de sua moeda, o yuan.

Barriga cheia
O problema é que as necessidades de consumo na Alemanha estão rigorosamente atendidas. Obrigar a Alemanha a consumir mais é enfiar uma feijoada goela abaixo depois do jantar terminado. E impor a valorização do yuan é exigir que a China faça, de graça, o jogo cambial que hoje mais convém aos Estados Unidos.

Questão de soberania
Nessa reunião de cúpula do G-20, a China conseguiu eliminar do documento final os textos que pediam o fim da desvalorização artificial do yuan. O argumento esgrimido pelos representantes chineses foi o de que a política cambial é prerrogativa de soberania nacional.

Ainda o teatro do G20 :: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Passado o pior da crise, palavras do G20 perdem força; grupo não tem poder real de mudar políticas

Alguém ainda se lembra da cúpula do G20 de abril de 2009? Foi a cúpula que prometeu um pacote de US$ 1,1 trilhão contra a crise, que ainda fervia. Não havia trilhão na época, e jamais haveria. De mais relevante houve uma promessa de evitar a falência de países do Leste Europeu, que poderia reinflamar a crise bancária europeia, o que foi útil.

Quem se lembra da cúpula de novembro de 2008? Foi aquela em que Lula disse uma das frases mais ridículas da política externa brasileira. "Saiu a regulação", disse a respeito de supostas novas normas de controle do sistema financeiro. Não saiu nada claro, e Lula tratava o assunto como se tivesse acabado de sair de uma assembleia de estudantes.

No fim de semana que passou houve outra cúpula do G20. Lê-se e ouve-se que o G20 chegou a um "acordo de consenso" que "permite" aos europeus hiperendividados controlarem seus deficit, o que era alvo de críticas de Estados Unidos e Brasil em particular. Mas o G20 nem permite ou controla coisa alguma.

É melhor que as lideranças das maiores economias conversem do que entrem em guerra comercial e, depois, guerra de fato, como ocorreu até os anos 1930, 1940. Mas convém circunstanciar essa por ora bobagem de "governança global" -que é bobagem por não existir governança alguma afora um ou outro acordo entre países maiores.

Considere-se o caso dos deficit e das dívidas públicas. Não há nenhuma instância transnacional que controle tal coisa. A União Europeia pretendeu punir seus membros que extrapolassem o endividamento.

Mas até a Alemanha estourou os limites legais de deficit; parte da Europa ainda está sob risco de falir.

Além do mais, o tamanho de deficit e dívidas públicos depende de situações políticas e econômicas muito específicas de cada país. Por fim, depende do eleitor, que escolhe governo mais ou menos gastador.

Considere-se então o caso da regulamentação financeira, da discussão sobre a quantidade e a qualidade de capital dos bancos e sobre os limites de empréstimos e extravagâncias bancárias. O G20 disse que a coisa vai ficar para depois de 2012.

O assunto é mesmo muito enrolado, mas está sendo na verdade discutido por bancos e banqueiros centrais no Comitê de Basileia, no Comitê de Estabilidade Financeira etc. Além do mais, há dissenso entre os governos sobre a taxação de bancos. Enfim, tal legislação será decidida em parlamentos nacionais.

Talvez o BIS, uma espécie de associação e câmara de compensação de bancos centrais, e a Febraban mundial, o IIF, tenham mais influência no debate que o G20. Por falar nisso, essas associações financeiras mundiais têm feito lobby pesado contra os juros baixos e os deficit altos, que podem provocar novas crises. É verdade, em parte, mas também um modo de se eximir das catástrofes que provocam. Tais associações são, obviamente, enviesadas: apenas governos são responsáveis pela lambança financeira.

De fato é muito difícil chegar a acordos internacionais sobre temas tão difíceis como finança, política fiscal, bancos. Reconheça-se que algumas diretrizes gerais não foram esquecidas -, por exemplo, a ideia de que é preciso colocar uma coleira na finança mundial. Mas são parlamentos e governos de cada país de peso, sob o lobby da grande finança, que decidem a mudança.

Desafio da hora :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

A primeira linha do comunicado do G-20 é animadora. Diz que é o primeiro encontro de cúpula do grupo na sua nova capacidade de ser o mais importante fórum de cooperação econômica global. É um atestado de superação do G-8. O presidente Lula não estava lá. O Brasil perdeu peso político na conversa dos grandes e deu mais um sinal de como é errática sua política externa.

Os líderes mundiais, na reunião em que o Brasil se fez representar pelo ministro Guido Mantega, discutiram a decisiva questão de o que fazer nesta etapa da crise. De um lado, alguns países começam a retomar o crescimento, de outro, países estão ameaçados pelo crescimento exponencial dos déficits e das dívidas do setor público. O que eleva mais o risco de um crise em W, ou seja, com nova recaída mais adiante? O descontrole dos gastos públicos ou a retirada dos estímulos?

Alemanha e Inglaterra, em campos opostos no futebol no exato fim de semana, estiveram unidos na visão de que é preciso ser rigoroso com o corte de gastos e essa foi a posição vitoriosa: o comunicado final se comprometeu a reduzir à metade o déficit até 2013. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos não chegaram a ser eliminados. O presidente Barack Obama entrou em campo dizendo que era preciso manter os estímulos econômicos pela recuperação porque o fortalecimento da economia virá da criação de empregos. Esta posição, que o Brasil apoiou, está no comunicado final. Mas o espectro que ronda a Europa é o de que o peso dos déficits extravagantes mantenha a onda de desconfiança em relação às dívidas que acabe pondo em crise os bancos que carregam estes títulos.

O FMI defendeu que o corte de déficit vai fortalecer a economia. Apresentou até números: a economia mundial cresceria 2,5% mais rapidamente se os Estados Unidos e os países mais ricos cortarem seus déficits mais fundo do que estão planejando. Na TV online do "Wall Street Journal", o âncora Paul Vigna disse que o resumo da reunião do G-20 é uma palavra: austeridade.

O dilema do G-20 foi respondido de forma diferente do que o Ministério da Fazenda queria. O sinal mais forte foi de aperto fiscal, apesar de ter sido também contemplada no documento a preocupação com os estímulos. Não é trivial esse pós-choque de 2008. Como uma pedra jogada no lago, a crise continua provocando ondas sequenciais.

O Brasil não está fora dos riscos, mesmo vivendo momento muito bom. A Europa é um grande parceiro comercial-econômico do Brasil, um grande investidor. Os números divulgados pelo Banco Central mostraram o efeito da crise europeia nas contas externas: queda dos investimentos diretos e aumento das remessas das multinacionais europeias para melhorar suas matrizes estão aprofundando o déficit em transações correntes do Brasil. A confortável situação das reservas nos protege de piores perigos, mas de qualquer maneira o Brasil não está imune. Nenhum país está.

O xadrez é complexo e não há uma solução simples. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na reunião do fim de semana na Basiléia, ressaltou a necessidade de controle dos déficits públicos para tentar evitar novos problemas com os bancos dos países desenvolvidos que poderiam levar à nova crise. Guido Mantega em Toronto falou com jornalistas brasileiros sobre a necessidade de manter os estímulos econômicos e deixar o corte do déficits para depois. É o time do Brasil jogando de forma desencontrada, como joga aqui dentro.

Até por isso a palavra do presidente Lula em Toronto seria importante. Em momentos diplomáticos como a cúpula do G-20, os líderes dos países se reúnem nas reuniões formais e em encontros paralelos. Ao sair de um desses com o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, o presidente Barack Obama disse que quando o primeiro-ministro indiano fala, o mundo ouve, pela sua liderança e influência crescentes.

A China fez mais uma das suas. Disse antes que iria valorizar o yuan e assim livrou sua política cambial de ser um dos pontos de controvérsia da reunião. Deixou uma referência a esse compromisso até a penúltima versão, mas na última versão retirou o trecho dizendo que a política cambial é soberana. Assunto interno chinês. Falso. O tema afeta o mundo inteiro.

Outra questão decisiva ficou para a próxima reunião: a regulação bancária. Os grandes bancos terão que se adaptar à nova regulação americana e terão que enfrentar novas exigências de capital e de medidas contra riscos numa regulação global. O que ganharam agora foi apenas o adiamento de discussões detalhadas para novembro.

Há momentos em que a diplomacia brasileira faz esforços fortes no que não é tão decisivo, e outros momentos em que não aparece. O motivo apresentado foi que o presidente precisava coordenar as ações de ajuda ao Nordeste. A tragédia das chuvas foi grave, mas é o governo todo que precisa estar envolvido e o presidente poderia ter se ausentado, sem que isso significasse evidentemente interromper a ajuda às vítimas.

A próxima reunião será em Seul, em novembro, quando o governo Lula estará chegando ao fim.

Mundo (poema) :: Graziela Melo



Enquanto
se está
no mundo,

do mundo
se deve
gostar...

a vida,
se deve
curtir!!!

Depois
que se vai
do mundo,

quem sabe
para onde ir???
Nem as lendas
da eternidade
Me fazem
crer no "além"...
Só resta
curtir
a saudade

De quem
Para sempre
se foi
naquele
ultimo trem!!!

Ai!
Saudades
que me
atormentam!!!

qualquer hora
já me vou,
deixando
meus entes
queridos,


Vou nas asas
do condor!!!!





Rio de Janeiro, 28/06/10