sábado, 7 de agosto de 2010

A primeira pedra ::Roberto Freire

DEU NO BRASIL ECONÔMICO

Ameaçada de uma morte brutal, a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani conta apenas com a solidariedade internacional e a pressão das sociedades democráticas para continuar viva.

A dificuldade é que o Irã, hoje, está cada vez mais isolado no cenário internacional. É um país que não tem amigos, apenas cúmplices.

A diplomacia brasileira, no atual governo, tem-se revelado destituída de quaisquer princípios que historicamente nortearam nossas relações com outros países, aderindo - de maneira prazerosa, o que é indecoroso - à lógica pura e simples do business.

O presidente e o Ministério das Relações Exteriores exibem desenvoltura no trânsito com governos que contrariam não apenas os princípios democráticos, mas também os mais comezinhos direitos humanos na África, América Latina, Oriente Médio, onde quer que seja...

No caso de Sakineh, uma prática punitiva, oriunda de tempos remotos e primitivos, foi atualizada pelo regime teocrático do Irã. É um inadmissível atentado às conquistas da dignidade humana nos últimos três séculos.

Desde que foi instalado o novo regime no Irã, a perseguição política tornou-se regra. Os primeiros alvos, como sempre, foram os comunistas e socialistas; depois, o Estado teocrático voltou-se contra opositores, todas as espécies de minorias (religiosas, sexuais etc.), culminando com uma implacável sanha para cassar as conquistas das mulheres, tanto nos centros urbanos quanto nas zonas rurais.

A covarde violência que sofre Sakineh Ashtiani, coberta com o manto de uma tradição cultural, conforme justificam os próceres dessa teocracia medieval, na verdade é uma agressão a todas as mulheres. E a todos os seres humanos.

Nossa chancelaria já patrocinou espetacular escárnio, ao apoiar o Irã nos fóruns internacionais na controversa questão de sua política de desenvolvimento de um arsenal nuclear longe do controle da agência internacional responsável para garantir que não surjam novas armas nucleares.

Não bastasse esse absurdo, o governo do Brasil está agora a defender, junto à ONU, que a organização evite censurar os países que violam os direitos humanos!

Foram justamente os órgãos que compõem a ONU que, ao longo de décadas, contribuíram para que os países adotassem a carta de princípios que reconhece e garante os direitos humanos como elemento distintivo das democracias.

Por exemplo: foi por conta do trabalho de apoio a entidades humanitárias que o Brasil, no período da ditadura militar, teve que prestar contas de presos políticos, de mortos e desaparecidos pelo regime.

Nesses organismos, também, as forças de oposição conseguiram apoio para conseguir a democratização do país.

É justamente o apoio internacional que garante, aos que lutam por direitos humanos e democracia em seus países, um mínimo de segurança e visibilidade nas lutas que travam.

Para os que sofrem perseguição, tortura e ameaça de morte, a omissão das pessoas e dos governos é a primeira pedra que se atira no rosto da dignidade humana.

Liberdade e respeito a Sakineh Mohammadi Ashtiani!


Roberto Freire é presidente do PPS

Por pontos :: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

O clima morno, quase anestesiante, imposto ao debate da TV Bandeirantes pelos dois principais concorrentes à Presidência da República, na noite gélida de quinta-feira em São Paulo, parece ter sido fruto de um acordo de bastidores, pois interessava aos dois lados.

O tucano José Serra, com maior domínio cênico pelo hábito de participar de debates televisivos e pela própria experiência em campanhas, saiu-se melhor, mas não se arriscou a procurar um nocaute da sua contendora, talvez contando que ela se enrolasse nos próprios erros - o que realmente aconteceu, mas não ao ponto de inviabilizá-la.

A candidata oficial Dilma Rousseff estava nervosa, dava para sentir na abertura do debate, mas terminou razoavelmente bem, com algum controle da situação que lhe permitiu até ser irônica a certa altura, quando disse que "não achava prudente" esquecer o passado, numa alusão ao governo FHC.

Mas houve quem cronometrasse: Dilma levou uma hora e meia para falar pela primeira vez em Lula. Nos bastidores, a questão era uma só: o que estava por trás desse aparente esquecimento?

A resposta era dada pelos próprios petistas. Dilma queria marcar uma imagem de independência.
Mas no encerramento, que pode ser considerado bom para seus objetivos, foi quando falou mais longamente da experiência de trabalhar com seu líder Lula, e chegou a demonstrar toda a veneração que nutre por aquele que está lhe dando a chance de uma vida.

Para seus seguidores, não deve ter sido constrangedor tamanha submissão.

A jornalista Olga Curado, responsável pelo media training de Dilma, tem o que comemorar: sua pupila está aprendendo.

Mas como ficou claro que ainda tem muito a aprender, Olga pode ficar tranquila que tem emprego garantido pelo resto da campanha.

A indecisão inicial de Dilma, e mais a radicalização do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, provocaram um comentário maldoso que o dirigente do Partido Verde Alfredo Sirkis atribuía a um presente não identificado, provavelmente para não assumi-lo diretamente: "O Plínio está gagá e a Dilma, gaga".

De fato, a candidata de Lula chegou a gaguejar em vários momentos do debate, principalmente no início, quando teve dificuldades de começar a falar, deixando um silêncio no ar que pareceu demorar vários minutos.

Já o candidato do PSOL resolveu assumir o papel de "macaco em casa de louças". Plínio quer se apresentar como alternativa, mas, com posições políticas mais à esquerda do que o PSTU, não parece uma possibilidade real de poder.

Plínio foi ao debate para afirmar sua posição socialista, e parecia ter entrado na máquina do tempo para voltar à época em que foi um dos fundadores do PT.

Atingiu o auge da dessintonia com a realidade quando, dirigindo-se às câmeras, chamou a atenção para algum fato "de você camponês que nos vê".

Passava da meia-noite, e nem mesmo o trabalhador paulistano que tem televisão devia estar sintonizado no debate da "Bandeirantes", que terminou com cerca de 2% de audiência.

Imagine o camponês do Plínio, a quem ele anunciava que seu projeto de impedir propriedades privadas de mais de mil hectares provocaria uma farta distribuição de terras para os pequenos lavradores.

O interessante é que todos os candidatos discordaram da proposta do PSOL, mas não houve nenhum que tivesse a coragem de explicitar que a medida destruiria o agronegócio brasileiro, o grande sustentáculo da economia do país.

Paradoxalmente, depois do debate Plínio aderiu ao Twitter, modernizando a maneira de divulgar suas ideias antigas. Virou uma febre no Twitter, e corre o risco de se transformar no Cacareco moderno.

A radicalização de Plínio favoreceu Dilma, que pode se colocar como uma moderada diante daquela série de propostas radicais anacrônicas, mas prejudicou a candidata verde Marina Silva, que não encontrou seu espaço entre PT e PSDB para se apresentar como uma alternativa viável.

Serra saiu-se bem, sem parecer arrogante ou querer sobressair-se muito, contido de maneira pensada. Em algumas ocasiões, no entanto, não conseguiu disfarçar o menosprezo pelo que diziam seus adversários.

Ficava de costas para eles, olhando para a plateia, mas para sua sorte as regras do debate não permitiam que as câmaras mostrassem a reação dos candidatos quando alguém estava falando.

Serra conseguiu defender o governo de Fernando Henrique Cardoso sem prejudicar sua intenção de falar mais do futuro do que do passado, e mesmo quando Dilma falou do número de empregos criados no governo Lula em comparação com os do governo FHC, não houve dano para o tucano, que conseguiu colocar os números dentro do contexto da economia internacional.

Dilma, no entanto, demonstrou claramente que encaixara um golpe ensaiado com o marqueteiro João Santana. Fora do alcance das câmeras, ela sorriu com malícia para seus assessores logo depois de citar os números.

Entre os assessores estava o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que acabou virando tema de uma das melhores intervenções de Serra, que lembrou que Palocci elogiava a política econômica tucana quando ministro.

Serra escorregou feio quando se referiu a propriedades de 80 hectares na reforma agrária do Chile como sendo, no Brasil, de "chácaras de fim de semana".

Em que mundo o candidato José Serra vive, em que as "chácaras de fim de semana" têm 800 mil metros quadrados?

Debate ainda é o melhor remédio :: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Quem se saiu melhor no debate - eis a questão, cuja resposta depende do critério usado para o julgamento.

No quesito figura mais vistosa em cena Dilma Roussef venceu, bem como Plínio de Arruda Sampaio arrebatou primeiro lugar em matéria de desenvoltura, Marina Silva confirmou-se imbatível em elegância de expressão verbal, mas José Serra foi de longe o mais "presidente", com domínio absoluto sobre o conteúdo dos assuntos debatidos e a forma de apresentá-los.

Não há sequer termos de comparação, é a constatação do óbvio até pelas diferenças de carreira, trajetória e experiência entre os quatro concorrentes à Presidência da República.

Ocorre que para ganhar eleição não basta ser o melhor, é preciso conquistar o racional e tocar no emocional das pessoas para convencê-las de que será capaz de ser o melhor para elas. Isso nem sempre guarda relação com atributos de qualificação.

No último debate de 2002, por exemplo, era evidente a superioridade qualitativa de José Serra sobre Luiz Inácio da Silva. Mas o eleitor queria votar em Lula e dali a dois dias assim o fez de acordo com a percepção de que encarnava seus desejos naquele momento.

E agora, qual é essa demanda, continuidade? Serra não desmontou o atual governo, mas apontou falhas de procedimentos importantes, enquanto Dilma puxou para si as realizações entendidas como positivas. O problema é que para explicar isso usava termos como "oligopolizados" e "spread" sem explicar do que se tratava.

O importante no debate da Band foi que houve o encontro face a face entre os candidatos e isso se deu de maneira civilizada e até proveitosa não obstante as regras que buscam evitar a possibilidade de imprevistos.

O debate entre candidatos ainda é o que melhor há na campanha para o cotejo do eleitorado e a exclusão de nanicos sem representação no Congresso, indispensável ao andamento dos trabalhos.

Dilma sobreviveu e saiu com uma vantagem: nos próximos três até a eleição só pode melhorar, tantos foram os erros de desempenho.

Nervosa, insegura, começou olhando durante sete segundos para a câmera sem perceber que deveria começar a falar, ficou quase de costas para o telespectador, não conseguiu dizer o que precisava no tempo regulamentar, foi prolixa, "numérica" em excesso e o sorriso confiante que a abandonou no segundo bloco não voltou a aparecer. Bem vestida, penteada e maquiada, mas antipática, sobressaltada e fora d"água.

Plínio foi o tempero que dá gosto e Marina não tem bossa suficiente para fazer o papel de coqueluche. O candidato do PSOL pode tomar o lugar dela na preferência dos alternativos e, infelizmente para Lula, é mais duro com o governo que todos os caciques e índios da oposição juntos porque fala com autoridade _ "quem fez o programa de reforma agrária do Lula fui eu" _ de petista de raiz.

É colunista do "Estado"

Presente fictício, futuro estático :: Claudio Weber Abramo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Os candidatos são reacionariamente situacionistas; tanto faz quem seja eleito

Eleições têm a ver com o futuro. Plataformas eleitorais formulam-se em torno de visões sobre como a comunidade deve orientar-se na projeção do tempo. Para que alguém possa propor algo a respeito do futuro, é imprescindível que se baseie em alguma espécie de apreciação sobre o presente.

Qual é o presente que os candidatos "mainstream" à Presidência da República e aos governos estaduais têm em mente?

Seja porque acreditem, seja porque tenham receio de exprimir claramente o que pensam, para esses candidatos o Brasil seria mesmo aquele país pujante e cheio de gente otimista dos reclames publicitários oficiais e das grandes empresas.

Todos, ou quase todos, parecem entregues ao simbolismo fictício dos Brics, como se realmente fizesse algum sentido mencionar o Brasil na mesma frase em que aparecem China, Rússia ou Índia. Todos acham que sediar a Copa do Mundo de futebol em 2014 seja algo sensato. Ninguém tem alguma palavra crítica ao Bolsa Família.

É claro que deve haver quem seja capaz de apresentar argumentos em favor da Copa de 2014, do Bolsa Família e de outros temas (embora quanto às pretensas condições de desenvolvimento brasileiras isso seja missão impossível). O que espanta é inexistência de vozes discordantes.

Enquanto os candidatos jogam o jogo do contente, o país real convive com um poder Legislativo irrelevante, com partidos com escassa ou nenhuma representatividade política, com um poder Judiciário incapaz de proporcionar justiça, com agências reguladoras capturadas pelos interesses que deveriam vigiar, com um funcionalismo público que, com raras e notáveis exceções, varia de incompetente a aproveitador, com um setor privado avesso ao risco e à inventividade, com uma academia improdutiva... a lista das disfuncionalidades brasileiras é inesgotável.

No entanto, nenhuma dessas e outras ineficiências, incompetências e picaretagens aparece nas plataformas dos candidatos com alguma chance de sucesso eleitoral. Para eles, o presente está ótimo e nada há a mudar em relação ao futuro.

Na prática, portanto, e independentemente das siglas partidárias sob as quais se apresentam ou de seus eventuais apoiadores, os candidatos são todos reacionariamente situacionistas.

O que, ao fim e ao cabo, é natural e esperado. Num país que vive de ilusões, eleições representam apenas mais uma vertente ficcional. De modo que tanto faz quem venha a ser eleito. Mudarão apenas os personagens, os grupos beneficiados por privilégios e os aventureiros entre os quais o Estado será repartido.


Claudio Weber Abramo é diretor-executivo da Transparência Brasil

Infância democrática:: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - Terminado o primeiro debate entre candidatos a presidente da República, houve uma impressão mais ou menos consensual. Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) não tiveram um desempenho excepcional, mas se salvaram. Marina Silva (PV) foi pouco marcante. E Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) foi o franco atirador, ganhando uma mídia espontânea que nunca teve.

Plínio chamou Dilma de "dona Dilma", Marina de "ecocapitalista" e Serra de "hipocondríaco". Para usar uma terminologia do marxismo, o candidato do PSOL era no debate como a classe operária: não tinha nada a perder.

O encontro entre os quatro presidenciáveis na TV Bandeirantes na noite de quinta-feira foi morno como já era esperado. Nem foi novidade o fato de um dos candidatos com quase traço nas pesquisas chamar a atenção. O folclórico Enéas Carneiro (1938-2007) era sempre a estrela por onde passava com seus 15 segundos de fala.

É evidente que todos os candidatos devem ter espaço na mídia. Merecem ser entrevistados, ouvidos. Mas quem não desejaria hoje, antes do primeiro turno, assistir a um encontro apenas entre Dilma e Serra, mano a mano, olho no olho? Sem desmerecer nenhum dos outros postulantes, já está clara e irreversível a polarização entre PT e PSDB.

Marina e seu discurso da transversalidade e Plínio com sua franqueza perfurocortante são interessantes. Na prática, ajudam a proteger Dilma e Serra. O tempo poderia ter sido dividido por dois, entre a petista e o tucano. Por imposição legal, o horário do debate acabou fatiado em quatro.

A lei impede debates em TV ou rádio só com os dois mais bem colocados nas pesquisas. É outro traço da infância democrática do sistema eleitoral brasileiro. A pretexto de dar espaço a todos, reduz-se o nível de informação geral sobre quem realmente importa.

Regras precisam mudar para aprofundar temas:: João Bosco Rabello

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O debate da TV Bandeirantes sinalizou claramente para a necessidade de mudança em regras e conceitos. Sem sorteio prévio de temas, por blocos, para que seja possível aos candidatos um mínimo de tempo para abordagem mais profunda de problemas específicos do País, irá prevalecer a má lógica da superficialidade, que premia os menos preparados e submete o espectador/eleitor a uma análise estrita da performance de cada um.

Em tal contexto, acontece o que se viu na Bandeirantes, tarde da noite: o franco-atirador, Plínio de Arruda Sampaio, virou a grande sensação, não pela seriedade como candidato, mas pela galhofa com que tratou o próprio debate, caricaturando os adversários e propondo o impossível, como a ocupação simultânea das cidades e do campo.

Plínio, que se expôs todo o tempo como o candidato discriminado pelos demais, embora submetido às mesmas regras, mostrou nas suas intervenções que a injusta acusação aos colegas e entrevistadores fazia todo o sentido: ele não deveria mesmo ser levado a sério. Nem foi ali com esse objetivo. Saiu como o ente folclórico de um debate cujas regras e formato impedem que se conheça as ideias de cada candidato.

Não obstante, resta a performance dos outros três. Nesse aspecto, a realidade confirmou as expectativas: Dilma mostrou-se insegura, Serra desenvolto, e Marina sem rumo, ora flertando com Dilma, ora com Plínio e ora com Serra.

Nesse contexto, a realidade eleitoral leva o espectador a se fixar em dois candidatos: Serra e Dilma. O primeiro surpreendeu a adversária em dois momentos: quando a flagrou desinformada sobre o governo do qual participou - no erro do governo Lula em tirar recursos dos deficientes físicos -, e quando rechaçou definitivamente a tentativa de recorrer à desconstrução do governo Fernando Henrique para afirmar o de Lula. ""Na platéia você (Dilma) tem o seu principal assessor, Antonio Palocci, que no Ministério da Fazenda elogiava Fernando Henrique todos os dias"".

Serra esteve bem, mas não brilhante. Dilma conseguiu se superar sem o Lexotan que sugerira a seu oponente. Acabou bem avaliada por não ter uma performance desastrosa. Marina fez jus aos 8% que a mantém na campanha desde o início.

Em síntese, performances televisivas levam a um debate insatisfatório no conteúdo e conspiram para uma decisão baseada em superficialidades.

O depoimento de um adolescente, de 16 anos, que assistiu a todo o debate resume ao que leva esse tipo de formato: ""A Dilma é muito sem sal; o ""coroa (Plínio) é sensacional; o Serra é sério demais, e a Marina parece uma filha de Maria"".

É diretor da sucursal de Brasília

Molho dos debates:: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

Serra venceu o debate da Band. Por pontos. Não foi a vitória forte que poderia ter sido, pela experiência que tem. Foi simpático, o que raramente tinha conseguido.

Dilma administrou o risco, evitou o escorregão temido, atacou pontos fracos do adversário, mas passou insegurança. Marina perdeu a chance de se diferenciar, por excesso de bom mocismo. Plínio ganhou pontos com seu estilo de radical manso.

Dilma Rousseff tinha insegurança no tom de voz, na hesitação das respostas, em expressões que não significam nada, como temos que ter garantias de sensibilidade, e estourou o tempo quase sempre. Apesar disso, cresceu quando confrontou Serra na questão dos empregos criados. Serra desconversou, num dos seus piores momentos.

Algumas análises são de que ela ganhou porque não teve um grande deslize. Discordo da ideia de que evitar o pior seja ganhar. Mas ela tem chances de vir mais forte nos próximos debates. Dilma estava bem fisicamente. Escolheu a roupa certa. A plástica, o botox, o novo visual do cabelo e a recuperação da saúde a deixaram com expressão mais suave, bonita e elegante, tirando o ar sempre carrancudo de quando era ministra, que reforçava a fama criada pelo temperamento difícil. Mas poucas vezes assumiu postura presidencial.

Frequentemente se colocava como interposta pessoa: a que representa o outro, o ausente presidente Lula.

José Serra tentou amenizar a fama de temperamento também difícil exibindo mais simpatia do que consegue naturalmente.

Teve um grande momento: quando encurralou Dilma na questão da Apae.

A pergunta foi fácil de entender por qualquer telespectador, a entidade é conhecida e atrai empatia. Serra perguntou por que o governo Lula estava discriminando as Apaes. Dilma pareceu desconhecer a que ele se referia.

Ficou à deriva, deu resposta fraca como: não é muito correto dizer que nós não olhamos para essa questão. Serra acusou o governo de ter cortado o auxílio de transporte para as entidades, disse que era uma crueldade, sugeriu que ela perguntasse ao ministro Fernando Haddad e acrescentou que o governo estava proibindo as Apaes de ensinar. Dilma disse que não podia concordar com a acusação e respondeu de forma genérica a uma pergunta que tinha acusações concretas.

Serra não soube o que dizer quando foi perguntado sobre as privatizações, ou quando perguntado sobre o saldo favorável ao governo Lula na criação de emprego. Essas perguntas seriam feitas, ele já sabia, e deveria ter estudado boas respostas. Para um país em que no período da telefonia privatizada o número de celulares pulou de um milhão para quase 200 milhões, ele poderia ter dito algo que não o colocasse na mesma situação de desconforto e escapismo que Geraldo Alckmin, em 2006. O que reduziu sua perda nessa pergunta foi o ataque aos Correios, ataque que vem fazendo desde o começo da campanha, e que ganha ar de veracidade porque o governo Lula acaba de trocar a direção da empresa.

Marina Silva, também bonita e elegante, respondeu bem à questão de que as crianças hospitalizadas atrairiam menos atenção do que as árvores. Mostrou com clareza que se trata de uma mesma luta ambiental: por preservação do meio ambiente e saneamento. O problema é que ela repetiu várias vezes a ideia de que houve avanços em ambos os governos, foi suave demais com Dilma, pareceu amiga de Serra e em nenhum momento conseguiu estabelecer uma diferença entre ela e os outros. Só conseguiria isso se atacasse diretamente.

Ela sabe o quanto Dilma nas brigas internas do governo optou por decisões que ferem diretamente o meio ambiente. Sabe que Serra apresentou discurso ambiental de último momento.

Era hora de mostrar o que na prática quer dizer quando afirma que só ela tem uma proposta de desenvolvimento para o século XXI. Quem está estagnado em terceiro lugar tem que ousar mais, atacar mais. Ela deixou Dilma falar impunemente frases como sou contra qualquer medida que flexibilize o desmatamento, quando o governo foi o inspirador da proposta que anistia os desmatadores.

Seu melhor momento foi quando respondeu à pergunta sobre o crack, feita por Dilma. Provavelmente, Dilma fez a pergunta na suposição de que Marina fosse dizer generalidades, e ela, Dilma, poderia falar do programa que o governo apresentou recentemente. Marina reagiu e disse que o programa tinha sido apresentado pelo seu coordenador de segurança pública, Luiz Eduardo Soares, ao ministro Tarso Genro, e que a proposta dormiu na gaveta até as vésperas das eleições.

Dilma não negou que tivesse sido assim.

Plínio de Arruda Sampaio, com fala mansa, se dirigindo diretamente ao telespectador, foi o inesperado. Passou a mensagem quando disse que os três candidatos eram gradações da mesma proposta e só ele era diferente. Mas não conseguiu dizer que ideias de fato tinha. Alguns refrãos sempre repetidos não tinham significado para além do gueto dele. De qualquer maneira, seu estilo franco sem agressividade atrai simpatias.

Ser o melhor em um debate ou ter tido alguns escorregões não definem uma eleição.

É preciso uma hecatombe para fazer diferença. Mas os debates são um molho da democracia. E o da Band foi uma boa mistura de ingredientes indispensáveis ao processo de escolha.

A crise de 2011:: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Já é consensual que o ano de 2011 não será parecido com o ano eleitoral de 2010. A favor do atual governo, lembre-se o governo anterior em 1998, ano de eleição. Nos dois casos, cenas explícitas de populismo cambial e populismo fiscal.

Essa combinação do real sobrevalorizado, juros reais baixos, deficit externo explosivo, deficit público nominal crescente e dívida pública bruta em relação ao PIB em nível recorde não é sustentável. A conta terá que ser paga, claro, com menor crescimento da economia em 2011 e maior desemprego.

O vetor resultante é um só: vença quem vencer a eleição, haverá um freio de arrumação por parte do governo, em 2011. Pode-se pensar em seus desdobramentos econômicos. Mas há outros que exigiriam que o atual governo e os candidatos a presidente assumissem ainda em campanha.

Trata-se da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. O calendário desses grandes eventos avança. O tempo efetivo para as obras chega ao limite. Das 12 subsedes da Copa de 2014, as obras só começaram para valer em um estádio. E, em maio de 2013, pelo menos cinco deverão estar prontos para a Copa das Confederações.

O Maracanã, imprescindível para 2013, ainda se encontra em fase de licitação. O estádio de SP nem se sabe onde será ou se será. Um estádio desses num país com previsibilidade de obras e financeira não leva menos de dois anos e meio. Começando em 2011, o limite já está alcançado para 2013. E sem garantia de fluxo financeiro.

Aqui, os recursos serão públicos federais. E o freio de arrumação exigirá um fluxo muito mais complexo de liberações. Ou os Estados têm como adiantar os recursos para garantir o cronograma ou esse não será cumprido. Entre a medição de uma etapa de obra e a liberação por um banco estatal, lá se vão 45 dias.

Mais grave a Olimpíada de 2016, pois para esta não há jeitinho. Nenhuma obra urbana imprescindível começou.

O trecho do metrô da zona sul já não ficará pronto até maio de 2016. O corredor Barra-Zona Norte, uma obra de quatro anos e meio, da mesma forma. E ambos contam com parte substancial de recursos federais.

Da mesma forma, o parque olímpico onde serão construídos novos equipamentos esportivos só estará liberado após a relocalização do autódromo. As vilas, olímpica, de jornalistas e do COI, que no total abrigarão cinco vezes mais que a Vila do Pan, nem sequer têm localizações definidas, menos ainda a modelagem.

Exigirão, mais uma vez, recursos federais. Ou as autoridades estaduais, esportivas e federais incluem o ano atípico de 2011 em seus planos, ou poderemos todos, ter surpresas desagradáveis.



Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.

Social-democrata, mas nem tanto :: Ricardo Vélez Rodríguez

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Afirma o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista sobre o seu mais recente livro (No poder, o PT virou social-democrata - O Globo, 1.º de agosto de 2010), que falta debate político nestas eleições. Considera ele que os candidatos ficaram presos aos marqueteiros e, portanto, aos índices oscilantes de Ibope. Concordo. A atual campanha sofre de um marasmo de bom comportamento, imposto em parte pela esdrúxula legislação eleitoral para as comunicações, que impede que críticas se façam, pela mídia, aos políticos de plantão e aos candidatos.

O marasmo decorre, de outro lado, do excessivo pudor do candidato da oposição à Presidência para pôr o dedo na ferida dos descaminhos do governo Lula. Felizmente, após a indicação do deputado federal Índio da Costa para vice na chapa oposicionista, explicações começaram a ser cobradas da candidata oficial e o discurso de José Serra revestiu-se de caráter mais incisivo.

Os partidos da base aliada e o governo têm sabido explorar, por sua vez, os obstáculos que a Lei Eleitoral coloca ao debate livre das ideias, usando e abusando da ampla gama de recursos para impedir que ele ocorra. É tanto o melindre com o cipoal de disposições que uma espécie de censura prévia se instalou na mídia, como mecanismo autoimposto pelos comunicadores que não querem ter problemas com a Justiça. Apesar de tudo isso, jornais continuam a informar, corajosamente, à sociedade. Lembremos que O Estado de S. Paulo está já há mais de um ano sob censura, pelo fato de ter informado sobre as non sanctas atuações de um filho do presidente do Senado.

Na entrevista, o ex-presidente exagerou na sua benevolência para com o PT, considerado por ele um partido social-democrata. Ora, aqui começam as minhas discrepâncias com o autor. Em primeiro lugar, lembremos que a essência da social-democracia (segundo os pensadores que definiram os seus contornos, notadamente Edward Bernstein, Norberto Bobbio e Anthony Giddens) consiste em três pontos: reconhecimento da economia de mercado, reconhecimento das instituições do governo representativo e valorização do papel do Estado como incentivador da economia e das políticas públicas na área social.

Se levarmos em consideração os programas de governo emanados dos quadros petistas, bem como as decisões tomadas pelos gestores oficiais da economia brasileira, poderemos perceber, claramente, os seus preconceitos com relação à economia de mercado, passando a defender um patrimonialismo econômico puxado pelo Estado empresário. O cerne da questão consiste no conjunto de medidas tomadas para fazer do BNDES a grande locomotiva do desenvolvimento financiado com recursos públicos, que são aplicados sem controle da sociedade e favorecendo setores empresariais amigos do rei, fato que levou a jornalista Miriam Leitão (Lendo o passado, O Globo, 1.º de agosto de 2010) a prever tempos difíceis de volta da corrente inflacionária, de forma semelhante a como ela emergiu do último ciclo autoritário, puxada pela locomotiva sem controle da gastança oficial.

De outro lado, a falta de claridade em face da utilização de recursos da Caixa Econômica Federal na capitalização da Petrobrás, fato noticiado amplamente pelos jornais, deixa um rastro de sombras sobre a lisura na utilização desses recursos. Tudo foi feito de afogadilho, para garantir as obras do pré-sal, sem que tivesse mediado um debate aberto no Congresso Nacional a esse respeito.

Isso para não falar da escancarada generosidade do atual governo com as organizações sindicais e os mal chamados "movimentos sociais", com repasses milionários de recursos públicos para todos eles, sem que tivesse sido garantida a prestação de contas à sociedade, por meio do Tribunal de Contas da União. E isso para não falar, também, da compulsão estatizante que anima a criação de mais empresas pelo governo.

Ora, cabe indagar se essas medidas são típicas políticas públicas de uma agremiação social-democrata ou se não estamos em face de um socialismo predatório como os do século 20, que instaura a burocracia estatal como gestora da economia, de costas para a defesa dos interesses dos cidadãos, beneficiando apenas uma minoria de empresários espertos e de amigos que se chegaram à sombra do Estado, e deixando ao relento o grosso da sociedade. Esses fatos revelam um típico empreendimento de índole patrimonialista, que põe os recursos públicos a serviço do enriquecimento de uma parcela da população, com feroz punição tributária e inflacionária sobre a restante.

No que tange às instituições do governo representativo, se analisarmos a atuação do presidente da República e dos seus partidos da base aliada, notadamente do PT, veremos que tudo tem sido feito para descaracterizar a representação, desvalorizando sistematicamente o Congresso, bem como o livre funcionamento da oposição e a legislação eleitoral. Começando por esta última, impressiona a desfaçatez com que o presidente atual faz campanha em prol da sua candidata, utilizando claramente a maquinaria oficial e alegando que o faz apenas "nas horas vagas". O Legislativo, por seu lado, durante o longo consulado lulista ficou literalmente emperrado com a discussão de medidas provisórias com que o Executivo o entulhou.

Longe estamos, com certeza, do ideário social-democrata, que preza as instituições do governo representativo e o respeito, pelo Executivo, à legislação vigente. O PT, em conclusão, contrariando a opinião de Fernando Henrique Cardoso, não é tão social-democrata como o ex-presidente acha.

É mais uma agremiação a serviço do velho socialismo estatizante e patrimonialista.



Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora

PE: Serra faz ofensiva surpresa no estado

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Presidenciável tucano reforça ainda mais sua vinculação com Jarbas e, em crítica aos governos Lula e Eduardo, promete, se eleito, tirar do papel a Refinaria Abreu e Lima e a ferrovia Transnordestina

Ayrton Maciel e Sérgio Montenegro Filho

O ex-ministro da Saúde e candidato à Presidência da República pela aliança Brasil pode Mais (PSDB/DEM/PPS), José Serra, afirmou, ontem à noite, no Recife, que vai tirar do papel a Refinaria Abreu e Lima e a ferrovia Transnordestina, reforçando o mote das oposições de que os governos Lula (PT) e Eduardo Campos (PSB) anunciam, começam, mas não concluem as obras. Vou fazer acontecer. Fazer a refinaria, que não sai do chão, e a Transnordestina que só teve início, prometeu. Depois, durante entrevista, retirou-se abruptamente ao ser perguntado sobre o que achava da opinião do candidato a governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), que o considerou travado no debate entre presidenciáveis da TV Bandeirantes.

Serra desembarcou no começo da noite para dois compromissos com Jarbas, Marco Maciel (DEM) e Raul Jungmann (PPS), da chapa Pernambuco pode Mais, numa agenda improvisada pelo próprio tucano. Ele esteve na inauguração do comitê do deputado Antônio Moraes (PSDB), no Pina, e depois seguiu a Vitória de Santo Antão, a 50 km do Recife, para participar da abertura do comitê da coligação oposicionista.

O tucano negou-se avaliar a pesquisa Ibope divulgada à noite, onde Dilma Rousseff (PT) continua à frente (39% a 34%). Serra respondeu secamente que não comenta pesquisa. O tucano tinha agenda em Salvador e ligou de manhã para o coordenador nacional da campanha, Sérgio Guerra (PSDB), querendo saber se havia algum evento em Pernambuco e pediu para incluí-lo na pauta. Eu tinha 4 horas em aberto e vim retomar contato com Pernambuco, disse, negando ter vindo compensar agenda anterior desmarcada.

No discurso, Serra declarou que a campanha está começando agora, que está com quatro vezes mais energia que a média, que vai agilizar as obras no Estado caso eleito presidente e colou sua candidatura à de Jarbas. Esse governo (Lula) teve rapidez em licitação e pedra fundamental, mas não em tirar (projeto) do papel e transformar em obras. O Jarbas está por trás das obras iniciadas. Quem está comigo está com Jarbas, quem está com Jarbas está comigo.

Jarbas e Guerra chegaram no mesmo carro ao comitê no Pina. Serra chegou quando Jarbas discursava, chegando a elogiar o governo Lula diante do tucano. O Lula fez bom governo porque não mexeu na estrutura. Foi muito mais ortodoxo na economia do que o anterior (FHC). Serra vai conduzir o País sem o risco de levá-lo à bancarrota e à aventura, disparou contra Dilma. O senador concluiu a fala explicando que tinha que se retirar para outro compromisso.

VITÓRIA

Em Vitória, Jarbas e Serra foram recebidos pelo prefeito Elias Lira (DEM), um dos poucos da oposição que ainda não aderiram à candidatura Eduardo Campos (PSB), diante do largo em frente ao comitê lotado. Jarbas e eu temos uma só cara. Este é o palanque de uma cara só. Jarbas faz acontecer, e aqui tem o exemplo da BR-232, discursou Serra. Novamente provocado, afirmou que não se sentiu travado no debate da TV, como Jarbas avaliou, e que as regras não deram espaço para aprofundar as ideias.

Serra participa em eventos na Bahia

DEU EM A TARDE (BA)

José Serra, candidato do PSDB-DEM-PPS à presidência da República está de volta à Bahia, desta vez para participar de eventos de campanha na região oeste, mais precisamente em Barreiras e, tudo indica, deverá dar uma passada em Bom Jesus da Lapa para aproveitar, nesta sexta-feira, a presença de milhares de fiéis da tradicional romaria.

Desde que começou a parte oficial da campanha, Serra foi o candidato que mais esteve em terras baianas, o que é explicável pela sua baixa performance, mostrada pelas pesquisas, na região Nordeste. Seria uma tentativa de reverter o quadro hoje inteiramente favorável a Dilma Rousseff, beneficiária direta da imbatível popularidade do presidente Lula entre os nordestinos.

Mas isto também poderia ser justificado pela preocupação que o comando da oposição tem demonstrado com a frieza com que os seus aliados nordestinos estão tratando a campanha do tucano. Em alguns estados, a ausência do nome de Serra nos eventos dos candidatos estaduais tem sido tão flagrante que está sendo tratada como uma demonstração de “corpo mole” e já estão sendo tomadas providências para reforçar a marca do candidato junto às equipes de comunicação.

Na Bahia, não ouso dizer que esteja havendo “corpo mole”, mas que não se tem visto badalações nos arraiais do DEM e do PSDB em torno da candidatura presidencial lá isto é verdade. O que, numa campanha difícil como esta, é mesmo para acabar com o resto de cabelo que o candidato possui.

Tucanos dizem que a disputa será apertada

DEU EM O GLOBO

Deputado do DEM minimiza o resultado da pesquisa do Ibope

O líder do DEM na Câmara, deputado Paulo Bornhausen (SC), minimizou a importância do resultado do Ibope. Segundo ele, a diferença de cinco pontos entre Dilma e Serra é natural numa disputa tão apertada como tem sido a campanha desde o início do ano. O DEM indicou o vice, Indio da Costa, para compor a chapa com Serra.

É um resultado normal de uma eleição apertada. Vai ser uma disputa equilibrada disse Bornhausen.

O deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) também não vê motivo para preocupação.

A pesquisa mostrou ainda que, num eventual segundo turno, Dilma venceria Serra também por uma diferença de cinco pontos. Pelo levantamento, a candidata petista teria 44% dos votos contra 39% do tucano. Na pesquisa espontânea, quando não são mostrados ao eleitor os nomes dos candidatos, Dilma mantém a dianteira, com 25% dos votos, seguida por Serra, com 17%; e Marina, com 4%.

A pesquisa foi feita em todo país entre os dias 2 e 5 de agosto, dia do debate na TV Bandeirantes. Foram entrevistadas 2.506 pessoas em 173 municípios das cinco regiões.

A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. A pesquisa foi registrada no TSE sob o número 21.697/2010.

Candidatos escorregam em números

DEU EM O GLOBO

Dilma, mais confrontada por ser governo, errou até o aumento real do salário mínimo

O aumento real do salário mínimo foi de 53,6% em oito anos de governo Lula, e não de 74%, como afirmou Dilma Rousseff no debate de anteontem, na Bandeirantes, o primeiro entre os candidatos à Presidência. O Ministério da Educação realmente retirou das Apaes o poder de dar cursos para crianças com deficiência, obrigando-as a frequentar escolas regulares, como acusou o tucano José Serra. Os temas levantados pelos candidatos no embate - que incluiu também Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) - dão um bom panorama da estratégia de cada um e também da realidade do país, em números.


Mínimo teve alta de 53% e não de 74%, como citou Dilma

Dados oficiais mostram que maior aumento real, de 13%, foi em 2006

Cristiane Jungblut


BRASÍLIA. A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, inflou os números sobre o aumento real (acima da inflação) do salário mínimo nos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o debate da TV Bandeirantes. Anteontem, Dilma disse que o reajuste tinha sido de 74% acima da inflação: "Não é verdade que o salário mínimo caiu. Ele ficou 74% acima da inflação (foi um aumento real)". No entanto, o aumento real no período, entre 2003 e 2010, foi de 53,67%, segundo dados oficiais do Dieese.

Esse percentual inclui o reajuste concedido em janeiro último de 9,68% ao salário mínimo, que passou para R$510, o que significou um aumento real de 6,02%, segundo o Dieese - foi o segundo maior reajuste acima da inflação do período Lula. Em 2006, outro ano eleitoral, Lula implementou o maior aumento real de seu governo: 13,04%.

Nos oito anos do governo de Fernando Henrique Cardoso, o aumento real do salário mínimo foi de 44,71%, também de acordo com o Dieese. O aumento real médio por ano na gestão tucana foi de 4,73%. Na do petista, de 5,81%.

Outro indicador do reajuste do salário mínimo é o poder de compra. Em dezembro de 2002, o mínimo de R$200 comprava 1,42 cesta básica. Em janeiro deste ano, o poder era de 2,23 cestas.

Atualmente, o governo aplica uma regra para calcular o mínimo, definida em acordo com as centrais sindicais: é a aplicação da inflação mais a variação do PIB de dois anos anteriores. Essa regra foi transformada em projeto de lei, enviado ao Congresso em 2007, juntamente com o pacote de medidas do Programa de Aceleração do Crescimento.

O projeto fala da política de valorização do salário mínimo, fixando que a atual regra valeria até 2023. Embora essa proposta não tenha sido ainda aprovada pelo Congresso, vem sendo adotada desde 2007. Além da política de aumento real, a data de vigência do salário mínimo, que era tradicionalmente reajustado em maio, vem mudando ao longo dos anos: em 2010, pela primeira vez, o novo mínimo já entrou em vigor em janeiro.

O salário mínimo, segundo dados do Ministério do Planejamento, é pago a 27,5 milhões de trabalhadores formais e informais que recebem até um salário mínimo. Além disso, outros 18,4 milhões de pessoas que recebem benefícios previdenciários iguais ao salário mínimo são favorecidas pelos reajustes reais.

Ao editar a medida provisória 474, fixando o mínimo para 2010, o governo estimou o impacto, apenas nas contas da Previdência, em R$9,87 bilhões, incluindo aposentadorias e benefícios assistenciais. O relator da MP 474, deputado Pepe Vargas (PT-RS), disse que o governo Lula praticou uma política muito mais agressiva de reajuste do que o governo Fernando Henrique:

- Pelas minhas contas, o aumento real foi de mais de 54%. O aumento total, incluindo a inflação, foi mais de 100%. A política de valorização começou em 2006.

No debate da Band, Dilma Rousseff também citou várias vezes o número de empregos formais criados no Brasil durante o governo Lula, citando a Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Entre contratações e demissões,incluindo todo setor público, houve um saldo de 13,9 milhões de empregos entre 2003 e junho último. Pelos números do Cadastro Geral de Empregos (Caged), que não inclui o setor público, o número de empregos com carteira assinada foi de 9,9 milhões.

Dilma apresenta números inflados sobre reforma agrária

DEU EM O GLOBO

Estudo da Unesp contesta meta divulgada por petista durante debate na TV

Silvia Amorim

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Para defender a política de reforma agrária executada pelo governo Lula, no debate de anteontem, na TV Bandeirantes, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, usou números inflados de assentamentos, alvo de polêmica há anos. O dado usado por Dilma inclui na conta da reforma agrária casos de famílias beneficiadas por programas de regularização fundiária e assentamentos feitos pelos governos estaduais.

Ao responder a uma pergunta do candidato Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), a petista disse que 574.609 famílias foram assentadas em 46,7 milhões de hectares de terra, de 2003 a 2009, pelo governo federal.

- Considero que o nosso país foi um dos países que fez a maior e mais profunda reforma agrária dos últimos tempos - comentou ela.

Os números foram confirmados pelo Incra. Entretanto, trabalho publicado neste ano pelo coordenador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária da Universidade Estadual Paulista (Unesp), professor Bernardo Mançano Fernandes, questiona os dados. Ele diz que 57% dos assentamentos realizados, entre 1985 e 2009, são resultado de políticas de regularização de terras e não desapropriação, como estabelece o conceito clássico de reforma agrária. Só 31% dos casos se referem a terras desapropriadas.

- Essa não é uma prática de agora, mas de vários governos. É uma forma de ampliar os números da reforma agrária. Eles pegam casos de pessoas que estão na terra há anos e que, pelo programa de regularização, receberam o título de posse, e incluem na conta da reforma agrária - explicou Fernandes.

No debate, Plínio criticou os dados apresentados por Dilma:

- Pelo amor de Deus. Quem fez o programa de reforma agrária do Lula fui eu. Vocês cortaram pela metade a meta que eu pus e fizeram menos que o Fernando Henrique. Um horror - reagiu ele, referindo-se à meta inicial de assentar um milhão de famílias em quatro anos.

Ministro: governo assentou 60% de todas as famílias

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel defendeu a gestão do governo Lula e afirmou que quase 60% das famílias assentadas atualmente, o foram no atual governo. Para ele, a grande diferença da reforma agrária do governo Lula foi a inclusão de outros setores antes não contemplados, como extrativistas e ribeirinhos - o que teria rompido a dicotomia entre "ou é ruralista, ou é MST".

Sobre Plínio, Cassel disse que ele foi contratado para ajudar na elaboração do Plano Nacional de Reforma Agrária e que, na época, apresentou metas que não eram exequíveis. Cassel disse que Plínio tem direito de fazer luta política.

Plínio voltou ontem a questionar os números e acusou Dilma de "maquiar" dados:

- Durante o debate, a Dilma foi me dar os numerozinhos da reforma agrária do PT. Tudo maquiado. Sabe como ela faz? O cara, um posseiro, entrou na terra há cinco, oito, dez anos, aí o Incra legaliza aquela terra e diz que é um assentamento. Não é essa a ideia. Isso é titulação, regularização fundiária, não é reforma agrária - disse.

Um outro número mencionado por Dilma no debate contraria dados oficiais.

- Conseguimos fazer no nosso governo 60% a mais de reassentamentos do que em todo o período anterior - disse.

Segundo o Incra, a vantagem do governo Lula sobre o do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é de 6,3% ou 574.609 assentados pelo PT contra 540.704 durante o governo tucano. Em termos de área destinada a assentamentos, Lula fechou 2009 com 46,7 milhões de hectares; FH destinou 21,1 milhões de hectares.

Ibope mantém a vantagem de 5 pontos para Dilma sobre Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Daniel Bramatti

Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo encerrada horas antes do primeiro debate entre os candidatos aponta vantagem de cinco pontos porcentuais para a petista Dilma Rousseff (39%)nas intenções de voto para a Presidência sobre o tucano José Serra (34%).

Os índices dos dois principais concorrentes são exatamente os mesmos da pesquisa Ibope feita uma semana antes. A candidata do PV, Marina Silva, é a preferida de 8% dos eleitores.

Os adversários de Dilma, somados, têm 42%das preferências - nenhum dos chamados "nanicos" chegou a 1% das menções dos entrevistados. Para vencer no primeiro turno, um candidato precisa ter mais votos do que a soma dos obtidos pelos adversários.

Em um eventual segundo turno entre Dilma e Serra, a ex-ministra da Casa Civil venceria por 44% a 39% se a eleição fosse realizada hoje.

A vantagem da candidata petista é de oito pontos porcentuais na pesquisa espontânea ( 25% a 17%)- aquela em que os entrevistados manifestam sua intenção de voto antes de ler a lista de candidatos. O universo de indecisos ainda alcança 44% na pesquisa espontânea.

Geografia do voto. A pesquisa confirma que Serra perdeu a vantagem que tinha em junho no eleitorado feminino. Agora, os dois principais candidatos estão empatados entre as mulheres (35% para Dilma e 34% para Serra). No segmento masculino, a candidata do PT está 10 pontos à frente (43% a 33%).

Na divisão do eleitorado por regiões, os candidatos tiveram apenas variações na margem de erro desde a pesquisa anterior. Dilma tem 46% no Nordeste, contra 27% de Serra, No Norte, ela vence por 40% a 33%.

O candidato do PSDB e ex-governador de São Paulo vai melhor no Sul, onde lidera por 42% a 34%. No Sudeste, há um empate - ambos têm 35% das intenções de voto.

Os cruzamentos do Ibope por faixa de renda mostram que Dilma alcança seu melhor índice no eleitorado mais pobre - 44% de preferências entre os que têm renda familiar mensal de até um salário mínimo. Já Serra alcança o resultado mais alto entre os que ganham acima de cinco salários mínimos (40%).

Programas sociais. No quesito rejeição, o ex-governador de São Paulo aparece com 25%. Outros 18% dizem que não votariam na candidata do PT de jeito nenhum. Marina tem índice de rejeição menor: 12%, próximo ao dos "nanicos" Plíni0 de Arruda Sampaio (PSOL), Zé Maria (PSTU), Rui Costa Pimenta (PCO), Ivan Pinheiro (PCB) e José Maria Eymael (PSDC).

A rejeição a Dilma é menor no Nordeste, onde 13% descartam a possibilidade de votar nela. Serra é menos rejeitado no Sul, onde 16% afirmam que não votariam nele de jeito nenhum.

No eleitorado beneficiado pelo principal programa social do governo, o Bolsa-Família, a ex-ministra da Casa Civil tem vantagem superior à de sua média nacional. Ela aparece com 44% nesse segmento.

Serra, por sua vez, conquista 31% das preferências na parcela que recebe o benefício governamental.

Os atendidos direta ou indiretamente pelo Bolsa-Família são 27% dos entrevistados pelo Ibope. A pesquisa revela que cerca de um terço da população é beneficiado por algum programa do governo, entre eles o Luz Para Todos, o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Minha Casa, Minha Vida.

Se podem influenciar o voto para presidente, não há evidência de que os programas sociais elevem a simpatia pelo partido governante. Entre os eleitores que recebem o Bolsa-Família, a parcela de simpatizantes é a mesma que no restante da população.

Preferência partidária. A pesquisa revela que o PT é o partido preferido de pouco mais de um quarto dos brasileiros. Em segundo lugar no ranking de simpatizantes aparecem, empatados, PSDB e PMDB, com 6%.

O PSB, que governa Estados importantes como Ceará e Pernambuco, é a legenda preferida de apenas 1% dos brasileiros - mesmo índice alcançado por PC do B, DEM e PDT.

Os eleitores sem preferência partidária são maioria absoluta: 53% do total.

Dilmistas e serristas alardeiam 'dividendos'

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Para seus aliados, tucano venceu debate; entre petistas, candidata se recuperou no final

No dia seguinte ao primeiro debate dos presidenciáveis, petistas comemoravam o fato de Dilma Rousseff não ter se saído tão mal, enquanto os tucanos destacavam que a adversária de José Serra caiu nas armadilhas jogadas pelo candidato.

Em São Paulo, Dilma rebateu a fala do adversário, segundo quem não se pode fazer campanha "olhando pelo retrovisor". "Acho extremamente confortável e estranho, porque a pessoa alega experiência. Foi ministro por duas vezes, inclusive poderoso ministro da área econômica."

A petista deixou claro que não abrirá mão de citar o nome do presidente Lula na campanha. Durante o debate, usou o termo "nosso governo" e praticamente não falou no nome de Lula. "Falei "nosso governo", posto que não sou presidente, mas não vi mudança nenhuma. Não pensem que vou abrir mão disso."

A candidata do PV, Marina Silva, lamentou, em São Paulo, que o debate tenha sido polarizado entre Serra e Dilma. "Na prática, o que ficou claro ali foi o confronto", avaliou. Ela lamentou ironias do candidato do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, que a chamou de "ecocapitalista" e de "Pollyana". "Isso não me atinge. Não me preocupo com rótulos e sim com o mérito das questões."

Tanto os tucanos quanto os petistas fizeram medições com grupos de eleitores para diagnosticar o desempenho dos candidatos. No cinco grupos feitos pelo PSDB, Serra saiu-se melhor. O PT disse que em suas qualitativas captou resultado neutro. Serra se sobressaiu em alguns pontos, mas Dilma recuperou nos dois últimos blocos.

O candidato tucano havia treinado perguntas, seguiu a orientação dos marqueteiros no começo do debate, mas depois alçou voo próprio. Resolveu, por exemplo, falar das Apaes depois de visita a entidade em Minas.

"Serra se saiu muito bem no debate. Pôde expor seus planos e seu programa. Mostrou preparo", disse o candidato ao governo paulista Geraldo Alckmin. Para o ex-governador mineiro Aécio Neves "Serra demonstrou de forma muito clara que está mais preparado". "Dilma fez a tentativa de trazer o debate para o passado, que naturalmente não interessa a ninguém."

No principal aliado do PSDB, o DEM, a avaliação é de que não houve "nocaute" por parte de Serra. O presidente do DEM, Rodrigo Maia, disse que "o resultado do debate é nulo". Maia não compareceu ao encontro, o que alimentou os rumores da má fase na relação entre ele e Serra.

"Fui convidado, mas não podia ir", disse, alegando reunião de trabalho. Para o deputado, "o desempenho da Dilma não foi desastroso e Serra foi melhor que ela". Segundo o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), "a candidata do PT não consegue ter sequência, muda de assunto sem que haja concordância entre pergunta e respostas".

O prefeito paulistano, Gilberto Kassab, elogiou o tucano. "Serra pôde demonstrar mais uma vez que é diferenciado em relação aos demais candidatos."

Já os petistas comemoraram o desempenho. "Dilma estreou com vitória. Ela demonstrou sinceridade e conhecimento", disse o presidente do PT e coordenador da campanha, José Eduardo Dutra. Na visão dele, Serra fugiu de temas importantes. "Quem passou meses dizendo que ia ganhar de goleada voltou pra casa derrotado, porque fugiu das questões centrais do debate".

O PT não admite abertamente, mas a estratégia de Dilma de evitar citar o nome de Lula foi discutida. O líder do governo na Câmara, Candido Vaccarezza (PT), afirmou, ao fim do debate: "O Lula era a Dilma aqui no debate. A Dilma era o Lula e o governo. O Serra era a oposição." Segundo ele, caso a petista citasse Lula muito Serra certamente aproveitaria para criticá-la por não caminhar sozinha.

Um dirigente disse: "Ela não é uma oradora brilhante, não empolga, mas mostrou que é um quadro político consistente."

Band fica atrás de Globo, Record e SBT no Ibope

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ana Paula Garrido

Com a transmissão da semifinal da Taça Libertadores entre São Paulo e Internacional na noite de quinta-feira, a TV Globo superou a audiência da Bandeirantes, que realizou o primeiro debate dos presidenciáveis no mesmo horário. De acordo com o Ibope, a média da Globo ficou em 33 pontos, em medição feita na Grande São Paulo.

A Band registrou apenas 3 pontos, ficando atrás também da Record - com 11 pontos durante a exibição da novela Ribeirão do Tempo - e do SBT - com 9 pontos na transmissão do programa Boletim de Ocorrências e da novela Ana Raia e Zé Trovão.

Foi a pior marca dos últimos três debates presidenciais realizados pela Bandeirantes. Em 2002, a emissora atingiu 8,7 pontos e, em 2006, a média ficou em 3,3.

Como cada ponto significa cerca de 55 mil domicílios, ao todo mais de 1,8 milhão de tevês estavam sintonizadas no jogo de futebol, enquanto somente 165 mil assistiam ao debate entre os candidatos à Presidência.

Sakineh emociona ao falar de corredor da morte

DEU EM O GLOBO

Iraniana condenada ao apedrejamento pede que seu filho não assista à execução. Advogado é libertado na Turquia

Graça Magalhães-Ruether Correspondente

BERLIM. O possível apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani é uma dor que vem corroendo lentamente a iraniana desde que tomou conhecimento sobre a sua sentença de morte. Em uma entrevista publicada ontem pelo jornal britânico The Guardian através de uma fonte não identificada , a mulher condenada por adultério conseguiu transmitir, em palavras, o sentimento diário no corredor da morte.

Acusando os guardas de maustratos, afirma que se sente apedrejada diariamente.

Suas palavras, a forma como me veem uma adúltera que deveria ser apedrejada à morte é como se eu fosse apedrejada todos os dias, afirmou a iraniana ao jornal.

Esperança para Sakineh resta apenas a dada através da campanha internacional por seu caso, além da pressão sobre Teerã. Mas mesmo assim, ela já pensa no pior. E faz um apelo de mãe: Não deixem que me apedrejem na frente do meu filho.

Advogado é libertado após prisão na Turquia
Menos de uma semana após a ampla divulgação de sua prisão, o advogado Mohammad Mostafei foi libertado ontem de uma prisão na Turquia, para onde fugira depois de ser interrogado no Irã. Mostafei, que defendeu Sakineh enquanto esteve em seu país, está hospedado num hotel em Istambul e deverá embarcar para a Noruega nos próximos dias. Autoridades de Oslo ofereceram esta semana asilo político ao advogado, que teve de se refugiar na Turquia depois de sua mulher e sogro serem presos.

O iraniano recebeu também proteção diplomática da União Europeia (UE), depois que funcionários do bloco se dirigiram à prisão sob o argumento de que a segurança do advogado estava em risco.

Depois de seis dias, estou tão cansado que só quero ir para o meu hotel e tomar um banho.

Eu sinto como se estivesse ainda numa prisão disse à emissora americana CNN.

Fereshteh Halimi, a mulher do advogado, continua presa no Irã. O governo norueguês estaria tentando negociar a sua libertação para que ela possa se juntar ao marido e à filha de 7 anos no país europeu.

Mostafei, que com o seu blog ajudou a divulgar ao mundo o destino de Sakineh, teve a sua residência vasculhada ontem por autoridades iranianas. A polícia disse que confiscou garrafas de bebidas alcoólicas, proibidas no país muçulmano, e documentos supostamente falsificados.

Estou extremamente preocupado com a minha segurança, a da minha mulher e a da minha filha.

Protestos um dia antes de possível execução na quarta
A notícia sobre a libertação do advogado gerou alívio, porém, as buscas em sua casa iraniana provocaram revolta.

A imprensa iraniana procura agora divulgar a imagem de Mostafei como se ele fosse um bandido comenta Mina Ahadi, líder da Comissão Internacional contra a Pena de Morte e o Apedrejamento, que coordena a campanha internacional para salvar a vida de Sakineh.

Na entrevista concedida ao jornal britânico, Sakineh afirmou que havia uma razão para que Mostafei desaparecesse.

Eles (governo) queriam se livrar do meu advogado para que pudessem me acusar facilmente de qualquer coisa que quisessem sem denúncias. Não fosse pelo seu esforço, eu já teria sido apedrejada, disse ela.

A iraniana também revelou que, quando recebeu a sua sentença de morte, não entendeu o significado do termo jurídico rajam.

Sakineh não sabia que se tratava de apedrejamento e assinou o documento.

Quando o juiz me deu a sentença, não me toquei que seria apedrejada porque não sabia o que queria dizer rajam. Eles pediram para eu assinar a sentença, o que fiz. Depois, voltei para a prisão, minhas companheiras de cela disseram que eu seria apedrejada à morte, e desmaiei no mesmo momento. Ativistas e exilados iranianos na Europa convocaram manifestação internacional para terça-feira.

Segundo Mina Ahadi, a corrida contra o tempo para salvar a iraniana fica cada vez mais dramática.

A manifestação de terça ocorrerá um dia antes da quarta-feira negra, a data mais provável para a execução, caso seja confirmada.

Em crise, Venezuela compra mais alimentos brasileiros

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O governo da Venezuela aumentou a compra de alimentos brasileiros para conter o desabastecimento no país, a pouco mais de um mês da eleição. Só a venda de açúcar subiu 700% no primeiro semestre ante igual período de 2009. Nos mercados subsidiados pelo governo, costuma faltar todo tipo de produto básico.

Perto de eleição, Chávez recorre ao Brasil para conter falta de comida

Dependência. Único país da América Latina sob o risco de enfrentar retração econômica este ano, Venezuela aumenta importações de produtos básicos do Brasil para frear desabastecimento; projeções indicam que a inflação pode chegar à casa dos 40% em 2010

Renato Andrade e Patrícia Campos Mello

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, vem aumentando a compra de alimentos do Brasil para evitar uma escalada do desabastecimento no país. Faltando 50 dias para as eleições parlamentares de 26 de setembro, a pauta de exportações brasileiras para o vizinho evidencia, em números, a estratégia adotada por Caracas e reforça os sinais de deterioração da economia venezuelana.

Os "Mercales", mercados comunitários instalados por Chávez, estão tomados por produtos brasileiros. O frango, por exemplo, é quase todo importado do Brasil. Todos os produtos são subsidiados e há enormes filas nos dias em que chega carne e frango. "As duas coisas acabam assim que chegam", disse a atendente de um Mercal da favela de Antímano.

De janeiro a junho, a venda de produtos, como carnes congeladas, animais vivos, açúcar e café, lideraram a lista de exportações brasileiras para a Venezuela. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, esses produtos responderam por 37% de tudo o que o Brasil exportou para os venezuelanos no primeiro semestre.

A venda de gado vivo subiu 84% na comparação entre o que foi vendido nos primeiros seis meses de 2010 e o volume comercializado na primeira metade do ano passado. No caso do açúcar, o aumento é ainda mais impressionante. O volume exportado cresceu quase 700% no período.

Único país da América Latina que pode amargar uma retração econômica este ano, a Venezuela tem enfrentado uma diminuição nos investimentos e na produção de petróleo - sua principal fonte de receita -, além de uma disparada dos preços. Projeções indicam que a inflação pode chegar este ano à casa dos 40%, depois de registrar 27% em 2009.

Tradicional importadora de alimentos, a situação venezuelana se agravou ao longo dos últimos anos em razão das constantes intervenções do governo chavista. Um levantamento feito pelo Estado sobre o comportamento das exportações brasileiras para a Venezuela, de 2007 até o primeiro semestre de 2010, revela um movimento claro de aumento da venda de alimentos em detrimento de produtos manufaturados, como automóveis e aparelhos de telefonia celular.

Disparada. Os dados sobre as exportações de café e milho em grão são dois bons exemplos dessa trajetória. Em 2007 e 2008, o Brasil não vendeu um grão sequer de café para os venezuelanos. No ano passado, o produto já apareceu em 15.º lugar na pauta de exportações, respondendo por 1,01% do total vendido para Caracas. Na primeira metade deste ano, ele ocupava a quinta posição, o equivalente a 2,82% da pauta.

No caso do milho em grão, o comportamento é ainda mais simbólico. Não há registro de venda do produto entre 2007 e 2009. Este ano, entretanto, o milho em grão já ocupa a nona posição. Em termos de volume, isto representa 117,8 mil toneladas embarcadas para a Venezuela.

Ao mesmo tempo, a venda de automóveis e celulares desapareceu. No topo da lista em 2007, com vendas respondendo por 19,4% do total exportado para a Venezuela naquele ano, estes dois produtos simplesmente sumiram da pauta na primeira metade de 2010.

Nos mercados subsidiados montados pelo governo venezuelano, costuma faltar todos os tipos de produtos básicos: manteiga, margarina, óleo, papel higiênico e maionese. Uma das indústrias locais fabricantes de óleo, a Empresas Diana, foi nacionalizada por Chávez e, agora, suas fábricas têm faixas com os dizeres "Feito no socialismo", na entrada.

Eleições. A escassez e a alta dos preços de alimentos são perigosas para Chávez por causa da proximidade das eleições. Quem mais sofre com o problema é a população mais pobre, base eleitoral do líder venezuelano. Segundo a Câmara de Comércio e Indústria Venezuelano-Brasileira, os exportadores brasileiros de produtos básicos têm recebido até pagamento adiantado, enquanto outros setores enfrentam atrasos. Tudo para que não falte frango em ano eleitoral.

Com Chávez, Lula agradece a empresários

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente diz que brasileiros "confiaram" em seu convite para negociar com a Venezuela, que vive grave crise

Líderes assinam 27 acordos bilaterais envolvendo uma petroquímica e três construtoras brasileiras

Flávia Marreiro

DE CARACAS - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva agradeceu aos empresários brasileiros ontem em Caracas por "confiarem" em suas propostas para fazer negócios com a Venezuela de Hugo Chávez, que acelera a agenda parlamentar de "transição ao socialismo" e atravessa o segundo ano consecutivo de recessão.

"Quero agradecer aos empresários brasileiros porque, apesar da preocupação com algumas notícias de que a Venezuela vai estatizar as empresas brasileiras, de que não paga as empresas brasileiras, quero dizer da confiança [deles] cada vez que os convido [ao país]", disse.

Lula assinou com o colega venezuelano 27 acordos bilaterais envolvendo as grandes construtoras brasileiras (OAS, Andrade Gutiérrez, Queiroz Galvão), concentrados nas áreas de infraestrutura e energia, e com a petroquímica Braskem, para importação de nafta.

Quando mencionou "preocupação" empresarial, o presidente brasileiro fazia referência a reportagem de ontem de "O Estado de S. Paulo" que afirmara que a petroquímica Braskem reduziu planos de investimento no país, entre outros motivos, pelo não cumprimento por parte da Venezuela de aporte de fundos conjunto em outro projeto.

Na plateia, Sérgio Thiesen, superintendente da Braskem no país, disse que a crise venezuelana -o risco-país alcançou o da Grécia- é um fator considerado, mas que a empresa seguirá no país de quem comprará, com um acordo assinado ontem, ainda mais nafta.

A crise afeta empresas, construtoras e exportadores brasileiros. As vendas de alimentos -maior parte do US$ 1,7 bilhão vendido ao país no primeiro semestre- não sofrem com a rigidez do controle cambial, intensificado neste ano, porque têm tratamento preferencial.

Mas importações como as de cosméticos e produtos naturais sofrem com o sumiço do mercado permuta -único acesso livre ao dólar, ainda que bem mais alto que o oficial. "Esse setor, que deve compor US$ 40 milhões da pauta, está em "stand-by"", diz Fernando Portela, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Venezuela.

Diz que investimentos em agricultura e energia também estão em "stand-by". A Assembleia Nacional da Venezuela, chavista, passou há pouco uma nova lei de terras que abre mais brechas para expropriações.

MISSÃO PARA LULA

Num clima descontraído de programa de auditório, com piadas dos dois mandatários e direito a link ao vivo de um bairro pobre, Lula e Chávez trocaram elogios.
Ele voltou a dizer que confia que a candidata governista Dilma Rousseff ganhará as eleições brasileiras. Mandou um beijo a ela.

Disse ainda ter dado uma "missão" a Lula, que participa hoje da posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. Considera-se "otimista" quanto ao futuro das relações com Bogotá, hoje rompidas. A primeira parte da missão, disse o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, é "atenuar a tensão" e gerar "confiança".

Galo Galo :: Ferreira Gullar


O galo
no salão quieto.

Galo galo
de alarmante crista, guerreiro,
medieval.

De córneo bico e
esporões, armado
contra a morte,
passeia.

Mede os passos. Pára.
Inclina a cabeça coroada
dentro do silêncio:

—— que faço entre coisas ?
—— de que me defendo ?

Anda.
No saguão.
O cimento esquece
o seu último passo.

Galo: as penas que
florescem da carne silenciosa
e duro bico e as unhas e o olho
sem amor. Grave
solidez.
Em que se apóia
tal arquitetura ?

Saberá que, no centro
de seu corpo, um grito
se elabora ?
Como, porém, conter,
uma vez concluído,
o canto obrigatório ?

Eis que bate as asas, vai
morrer, encurva o vertiginoso pescoço
donde o canto rubro escoa

Mas a pedra, a tarde,
o próprio feroz galo
subsistem ao grito.

Vê-se: o canto é inútil.

O galo permanece — apesar
de todo o seu porte marcial —
só, desamparado,
num saguão do mundo.
Pobre ave gurreeira!

Outro grito cresce
agora no sigilo
de seu corpo; grito
que, sem essas penas
e esporões e crista
e sobretudo sem esse olhar
de ódio,
não seria tão rouco
e sangrento

Grito, fruto obscuro
e extremo dessa árvore: galo.
Mas que, fora dele,
é mero complemento de auroras.