sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A banalização do dolo:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A candidata do Partido Verde à Presidência da República, Marina Silva, tocou o dedo na ferida ontem, ao acusar o presidente Lula de não ter agido em benefício do cidadão brasileiro no caso dos sigilos fiscais quebrados sucessivamente em agências da Receita Federal em São Paulo e Minas

Ela se referia ao fato de que milhares de cidadãos comuns tiveram seus sigilos violados por funcionários da Receita, e que o governo, em vez de se desculpar com essas vítimas indefesas e tomar providências imediatas para restaurar a confiança pública naquele órgão, preocupou-se apenas em defender a candidata de seu partido à sucessão.

Marina se referiu a certa altura à banalização do dolo, usando uma expressão que ficou famosa na definição da filósofa Hannah Arendt ao se referir aos crimes do nazismo, com base no julgamento de Adolf Eichmann, como a banalização do mal.

O que preocupa a candidata do Partido Verde é que fatos graves como a violação de sigilos fiscais numa repartição do Estado brasileiro passam a ser tratados como meras futricas de campanha, com o estímulo do próprio presidente da República.

No corolário dessa preocupação de Marina vem uma dúvida, que ela não explicitou: quem pode confiar que a apuração dos fatos pela Receita Federal e Polícia Federal seja rigorosa e republicana, se o próprio presidente da República vai à televisão para garantir aos cidadãos brasileiros que nada aconteceu, que tudo não passa de uma armação política contra Dilma Rousseff, coisa da oposição que é do contra, não é patriota e tem preconceito contra as mulheres? Marina Silva está preocupada com o estado de apatia que se abate sobre a sociedade nesta eleição, não propiciando um debate mais aprofundado das questões nacionais.

Ela tem se dedicado a incutir a ideia de que é preciso haver um segundo turno na eleição presidencial para que os candidatos finalistas e ela espera estar entre eles possam confrontar suas ideias com tempos iguais na televisão e nos debates frente a frente nas televisões.

Com relação à participação do presidente Lula no programa eleitoral de Dilma Rousseff, a sensação entre os políticos, tanto do PV quanto do PSDB, é a de que o presidente fez uma ação preventiva, sentindo nas muitas análises do episódio que este tem potencial para interferir na aprovação de sua candidata, embora os índices das pesquisas de tracking telefônico não indiquem ainda uma mudança de tendência.

Além de ter se exposto a críticas pela sua participação extemporânea, explicitando uma tutela de sua candidata que expõe sua fragilidade, o presidente Lula usou símbolos nacionais em sua aparição, confundindo a posição institucional de presidente da República com a de cabo eleitoral do PT.

Quando se elegeu em 2002, Lula passou bons meses usando um broche com a estrela do PT na lapela e foi muito criticado por isso.

Exigia-se na ocasião que ele abandonasse a postura de líder partidário para colocar na lapela o broche com as armas da República, símbolo da Presidência da República de todos os brasileiros.

Também dona Marisa, a primeira-dama, fez um canteiro no Palácio da Alvorada em forma de estrela, com flores vermelhas, e foi muito criticada por enfeitar um prédio público com suas preferências partidárias.

Pois hoje o presidente Lula faz o contrário: usa símbolos da República para apoiar a candidata petista à sua sucessão.

Já havia usado a biblioteca do Palácio da Alvorada como cenário de um dos programas eleitorais de Dilma, e agora, justamente no dia 7 de setembro, o presidente vai à televisão, com o broche com a bandeira do Brasil na lapela, para fazer uma declaração pública em defesa da candidata que apoia, e não sobre o caso institucional envolvendo a Receita Federal e milhares de contribuintes.

E com o Hino Nacional como fundo musical.

Ainda sobre o papel de José Dirceu na origem da montagem de um aparelho de inteligência e informação no PT e no governo Lula.

As ligações do ex-ministro e deputado federal cassado José Dirceu com Cuba são do conhecimento de todos, e ele não esconde os profundos laços que o unem aos dirigentes cubanos.

Ele esteve asilado em Cuba, depois de ter sido trocado pelo embaixador dos Estados Unidos Charles Elbrick, em 1969.

Quando era o todo-poderoso chefe da Casa Civil, teve participação decisiva no envio de homens da Agência Brasileira de Informações (Abin) para treinar em Cuba.

Segundo justificou na época, e eu registrei na coluna em março de 2005, o serviço secreto cubano é dos melhores do mundo, junto com o de Israel e o da Rússia.

Dirceu explicou que, apesar de todo o bloqueio econômico e político, até mesmo a CIA trocava informações com o serviço secreto cubano em matérias de interesse comum, como o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro: Serviço secreto é assim mesmo, troca informações. Se você tem informação, recebe de volta. Aí não tem nada de política.

Dirceu deve saber do que fala. Segundo o relato de brasileiros que estiveram exilados com ele em Cuba, mantinha uma relação bastante próxima do comandante Manuel Piñeiro, o Barba Vermelha, chefe do serviço secreto cubano, o famoso G-2.

Um dos guerrilheiros que acompanharam Fidel Castro e Che Guevara na guerrilha de Sierra Maestra, Piñeiro depois se uniu a Guevara na Bolívia.

Nos anos 1970, passou a ser o responsável pela organização do apoio logístico, com armas, dinheiro e treinamento militar, para grupos guerrilheiros da América Latina, tendo estreitado a relação com o jovem líder estudantil José Dirceu.

Cala boca já morreu:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A intervenção radical do presidente Luiz Inácio da Silva no contra-ataque para transformar o candidato da oposição de vítima em algoz no caso das violações de sigilo fiscal pode ter sido motivada por algum sinal negativo nas pesquisas ou, então, foi uma tentativa do presidente de aplicar um corretivo no adversário a fim de calar as críticas.

A segunda hipótese parece a mais provável como medida preventiva à primeira.

Tendo sido isso mesmo - aqui e ali aparecem notícias de assessores do presidente dizendo que ele decidiu "dar um tranco" na oposição -, a participação de Lula no horário eleitoral para defender sua cidadela não atingiu o objetivo como em outras vezes.

A fala do presidente, por extremamente inadequada do ponto de vista institucional, suscitou reações de toda parte, Judiciário incluído. O candidato José Serra, que já havia delegado a função de falar a respeito ao presidente do PSDB, Sérgio Guerra (o equivalente a deixar morrer o assunto), pôde voltar ao tema.

Serra tem pouco a perder e, portanto, começou a jogar sem medo da derrota em busca de uma difícil vitória, enquanto o PT atua para não errar, tenso apesar da dianteira porque está não só obrigado a ganhar como a vencer no primeiro turno.

Depois da entrada no horário eleitoral, as críticas se voltaram contra a falta de senso de limite do presidente. Não que ele esteja muito preocupado com esse tipo de público que reclama. Mas é de se notar que até há pouco tempo quando Lula falava havia encolhimento ou consentimento.

No caso do mensalão, quando ele falou que "todo mundo" usava caixa 2, houve consenso de que o presidente havia dito algo impróprio, mas verdadeiro e, portanto, aceitável.

Agora há rejeição, estranheza ou silêncio, mas não apoio. E como se sabe foi a esse estrato que o PT conseguiu convencer primeiro sobre seus propósitos éticos e sua disposição de modernizar o Brasil.

Os pobres vieram depois, já na era do pragmatismo.

Cabeça fria. O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Cezar Peluso, assegura que o tribunal não deixará se prolongar a expectativa acerca da constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa: decidirá ainda antes da eleição se políticos condenados em julgamentos colegiados ou que tenham renunciado para fugir de processos de cassação de mandatos podem seguir na disputa.

Grosso modo o Judiciário vem se manifestando favoravelmente à vigência e aplicabilidade da lei para a eleição do próximo dia 3 de outubro. A maioria dos Tribunais Regionais Eleitorais assim se posicionou e também o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que a lei vale agora e alcança a todos.

Com base no fato de que não se trata de uma regra eleitoral, mas de uma condição de elegibilidade. Por isso não precisaria ter sido aprovada um ano antes das eleições. Da mesma forma não se pode alegar o preceito da não-retroatividade por não se tratar de uma pena, mas de um requisito para o candidato conseguir obter o registro para concorrer.

É assim que a coisa está e, por enquanto, vários candidatos fichas-sujas - segundo o enquadramento previsto na lei - ficam de fora.

O STF poderá mudar isso? Poderá e se o fizer não merecerá as diatribes que cairão sobre os magistrados. Se acontecer terá sido inépcia dos legisladores.

Nessa hora é que entra o cidadão e, no lugar de espernear de cabeça quente, faz a sua parte com a cabeça fria e não vota em quem não tenha vida pregressa apresentável.

Na muda. Não se ouve do PMDB uma só voz em defesa da tese de que a quebra de sigilo fiscal nas dependências da Receita é uma coisa, mas a conduta do PT é outra completamente diferente.
Já que se arvora ao papel de poder moderador, seria adequado que o PMDB nesta hora oferecesse ao País demonstração inequívoca de seus dotes de mediação republicana.

Totalitarismo em ação :: Ricardo Vélez Rodríguez

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Está sendo implantado pelo atual governo, no Brasil, agressivo modelo de Estado patrimonial, que privatiza ainda mais as instituições republicanas em benefício da militância partidária do PT e dos que se acolhem nessa sigla. Esta não seria senão mais uma etapa do nosso arcaico patrimonialismo, não fosse o viés totalitário que assoma por entre as frestas dos acontecimentos ao longo destes oito anos, manifestação que se torna mais translúcida em momentos de pugna eleitoral, como os que estamos vivendo.

Três aspectos na política do atual governo são preocupantes, porquanto conduzem diretamente a uma etapa, totalitária, do processo de hegemonia petista.

Primeiro, a tentativa de Lula de conseguir maioria no Senado, com a finalidade de ver aberta a porta para uma reforma, de tipo chavista, da Constituição.

Segundo, a progressiva tendência policial da militância, que, não contente com ter aparelhado Ministérios, secretarias e autarquias, monta, a partir desses espaços, políticas de caça às bruxas, colocando todos os cidadãos com a corda no pescoço. Após as repetidas quebras de sigilo dos dados de declarações de Imposto de Renda, pela Receita Federal, de cidadãos pertencentes à oposição ou próximos dela, todos os brasileiros viramos candidatos a Francenildos.

Em terceiro lugar, a costumeira desfaçatez do presidente Lula, pronto para dar cobertura aos contumazes "aloprados", neste episódio e nos anteriores, ocorridos ao ensejo das eleições de 2006, bem como no caso do "mensalão", rebatizado pela intelligentsia petista como um reles caso de "caixa 2", que todo mundo pratica.

A imprensa brasileira tem reagido à altura diante desses atentados à democracia. O editorial do Estadão O responsável pela bandidagem (3/9, A3) foi certeiro ao indicar para onde apontam as responsabilidades da quebra de sigilo: "O crime comum e o crime político se complementam. Agora, destampada a devassa nas declarações de Verônica Serra, vem o presidente Lula falar em "bandidagem". Se quiser saber quem é o responsável último por essa degenerescência, basta se olhar no espelho."

E o jornal O Globo, na mesma data, não fez por menos, também em editorial (Impunidade incentiva crime na política), destacando a causa do clima de "liberou geral" instalado no País: "É a impunidade existente no PT que incentiva a militância a agir como delinquentes, espiões. O partido estimula o crime quando dá tratamento de herói a mensaleiros (...)."

Como vários comentaristas têm destacado, caracteriza-se a atual onda de utilização criminosa dos mecanismos do Estado em benefício da candidata oficial pelo fato de se alicerçar em modelo de comportamento que, por sua vez, é caracterizado como de "ética totalitária", segundo a qual os fins justificam os meios. A pretensão não é nova na História. Após a formulação do modelo de "messianismo político" por Jean-Jacques Rousseau, estabeleceu-se agressiva doutrina que pode ser resumida rapidamente nos seguintes itens:

1) A finalidade da vida em sociedade consiste em garantir a felicidade dos indivíduos.

2) Somente será possível atingir a felicidade dos indivíduos em sociedade se estes renunciarem à defesa dos seus interesses individuais, a fim de que todos se identifiquem com o interesse ou o bem público.

3) Como os indivíduos se tornaram egoístas por força do individualismo materialista dominante na sociedade, torna-se necessário que uma minoria de puros, identificados com o bem público (definido por eles próprios), os submeta a um banho catártico que os limpe das impurezas do individualismo.

4) A comunidade dos indivíduos despidos dos seus interesses individuais constitui a vontade geral.

5) Nessa comunidade de homens puros vigora a unanimidade, sendo a dissidência considerada como um atentado à felicidade geral, devendo ser rigorosamente eliminada. Como ensinava Rousseau no seu Contrato Social, todos os meios seriam válidos para a elite de puros implantar a unanimidade.

6) Na organização do Estado deve ser levada em consideração a busca do modelo que melhor garanta a unanimidade, mediante a eliminação da oposição. Como consequência dessa proposta, a humanidade viveu, entre 1917 e 1989, o século do totalitarismo, com os milhões de vítimas que causou a implantação da vontade geral por minorias fanáticas, na Rússia, na Ásia e na Europa, ao ensejo das ditaduras nazi-fascista e comunista. A prévia desse filme de horror havia sido apresentada na Revolução Francesa e no ciclo denominado Terror Jacobino, com a maquininha infernal de eliminar dissidentes funcionando a pleno vapor pela França afora.

Neste início de milênio, consolidam-se experiências de populismo que se aproximam, na América Latina e alhures, dessa versão totalitária. Os dois mais importantes rebentos da nova realidade são a revolução bolivariana do presidente Hugo Chávez, na Venezuela, e o agressivo fundamentalismo islâmico praticado no Irã por Mahmoud Ahmadinejad e pelos aiatolás. Totalitarismos e populismos fundamentalistas seriam o reino da paz perpétua, não no sentido liberal que Kant conferiu a essa expressão, mas na acepção literal que o gênio de Königsberg viu inscrita na porta do cemitério da sua cidade, circunstância que o inspirou, aliás, na formulação da pergunta sobre se não haveria outra paz a que os seres humanos pudéssemos aspirar, diferente da dos túmulos.

É curioso observar a tendência do presidente Lula a confraternizar exatamente com esses regimes, louvando Chávez pelo fato de existir democracia "até demais" na Venezuela e defendendo os interesses nucleares do Irã, com sério risco para a paz mundial e arranhando a imagem da nossa diplomacia.


Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora

Constituinte Tabajara :: Nelson Motta

DEU EM O GLOBO

Todos dizem que as reformas política, tributária e previdenciária são urgentes e indispensáveis, que querem fazer, mas ninguém quer perder nada. Só uma Constituinte exclusiva teria independência e isenção para fazê-las, só ela acabaria com os nossos problemas.

Mas que forças e razões misteriosas levariam um constituinte exclusivo, petista, tucano, ou peemedebista, a fazer as reformas corretas que a sociedade exige, contra os interesses a curto e médio prazo de seu próprio partido? Por que o seu comportamento seria mais íntegro e democrático, diferente da maioria dos atuais congressistas de todos os partidos? Eles virão de Marte? Quem seria candidato? Políticos com mandato? Derrotados das últimas eleições? Personalidades populares fora da política? A elite sindical e empresarial? Os notáveis de araque bancados pelos financiadores de sempre? Os fregueses dos currais e dos grotões? Seria uma réplica do atual Congresso.

Uma Constituinte exclusiva seria isenta de fisiologismo e corrupção? O peso das decisões e o valor pessoal do constituinte e de seu voto serão ainda maiores proporcionais ao assédio dos lobbies e corporações. A exclusividade dará aos eleitos probidade, equilíbrio e independência? Por que os liderados de Renan, Sarney ou Zé Dirceu no Congresso se comportariam de forma diferente numa exclusiva? Se os 300 picaretas reconhecidos por Lula, inevitavelmente, serão maioria nessa assembleia, então por que fazê-la? O pior é que abriria caminho para outras, piores.

Não por acaso, essa proposta sempre vem de partidos no poder que têm maioria no Congresso, mas (ainda) não os 3/5 para mudar a Carta.

Hugo Chávez nem teve esse trabalho: a oposição boicotou as eleições e ele ficou com a maioria esmagadora do Congresso e mudou a Constituição à vontade, instituindo a reeleição ilimitada e usando a democracia para destruir a democracia e impor, à revelia de metade da população, um socialismo castrista em que nem Fidel acredita mais.

Quando a vontade das maiorias eventuais não respeita os direitos fundamentais das minorias, a democracia vira bolivarianismo.

Queda de desigualdade na década é lenda :: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Caiu o desequilíbrio entre assalariados, mas não a obscena diferença entre renda do trabalho e renda do capital

O artigo do economista Marcelo Neri, publicado ontem por esta Folha, ajuda a perpetuar, por omissão de um detalhe, a lenda da queda da desigualdade na presente década.

A omissão é de apenas uma expressão: quando Neri diz que houve queda da desigualdade de renda, está se referindo apenas à renda do trabalho, não à desigualdade, muito mais importante e muito mais brutal, entre a renda do trabalho e a renda do capital.

O próprio texto de Neri deixa claro que não houve redução da desigualdade. Afirma o economista que, entre 2003 e 2009, as "taxas de crescimento da renda do trabalho [se deram] em níveis equivalentes ao da renda de todas as fontes".

Se a renda do trabalho e a renda do capital ("todas as fontes") cresceram de uma maneira equivalente, é matematicamente impossível que tenha havido uma redução da desigualdade.

Que a desigualdade realmente relevante se dá entre renda do trabalho e outras rendas se verifica em texto de Marcio Pochmann, escrito quando trabalhava na Unicamp (atualmente ele é presidente do estatal Ipea, Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas).

"A parte da renda do conjunto dos verdadeiramente ricos afasta-se cada vez mais da condição do trabalho, para aliar-se a outras modalidades de renda, como aquelas provenientes da posse da propriedade (terra, ações, títulos financeiros, entre outras)", diz.

Outro economista do Ipea, João Sicsú, fez, também antes de ser contratado pelo instituto estatal, a seguinte comparação:

"Em 2006, o governo federal pagou R$ 163 bilhões de juros para os detentores da dívida pública federal. Aproximadamente 80% desse valor é apropriado por 20 mil famílias -que fazem parte da elite brasileira. Enquanto isso, em 2006, dezenas de milhões de pessoas pobres foram atendidas pelos programas de assistência social do governo federal com apenas R$ 21 bilhões."

Como é possível diminuir a desigualdade se 20 mil famílias recebem do governo seis vezes mais do que o que vai para as 12 milhões de famílias beneficiadas pelo Bolsa Família?

Mais: na mesma página do artigo de Marcelo Neri, saía informação (do IBGE) mostrando que a renda média do trabalho em 2009 ainda era inferior à de 1996.

Alguém acredita que a renda do capital no período tenha caído, como caiu a do trabalho, ou tenha ficado estagnada?

Sepultemos, pois, de vez a lenda e usemos as palavras certas: caiu a desigualdade entre assalariados, mas não caiu a obscena desigualdade entre renda do trabalho e renda do capital.

Serra cobra saída de Cartaxo

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Com uma postura ofensiva contra Lula e Dilma, candidato tucano à Presidência criticou trabalho de superintendente da Receita e pediu a sua demissão

SÃO PAULO - Mantendo o tom beligerante contra o governo federal e integrantes do PT, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, pediu ontem a demissão do superintendente da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, acusando-o de trabalhar em conjunto com os adversários petistas para protelar a investigação sobre a quebra de sigilo fiscal de tucanos, inclusive de sua filha, Verônica Serra, e seu genro Alexandre Bourgeois. Mesmo com a estratégia do partido em deixar as críticas na esfera institucional, o tucano assumiu mais uma vez o papel de porta-voz das críticas ao partido de Dilma Rousseff, reforçando mentiras levadas adiante na crise já apelidada de Receitagate.

Tem que demitir o superintendente da Receita para que as investigações sejam agilizadas. Primeiro a Receita diz que havia uma procuração, e a procuração é falsa. Depois, a pessoa que apresentou a procuração não era do PT, e é. Eles estão protelando, estão enrolando, disse Serra, em São José do Rio Preto, onde fez campanha ao lado do candidato ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Depois, saiu em defesa de sua filha e do genro. O tucano disse ainda não ter informações exatas sobre o conteúdo devassado nos documentos de Imposto de Renda de seus familiares, mas disparou: Daqui a pouco pode aparecer até meu sigilo violado. Em seguida, acrescentou: Quebraram o sigilo de um casal que não tem nada a ver com política e com governo e que trabalha duro para criar três crianças, afirmou Serra, indignado.

O candidato tucano voltou a dizer que houve um malfeito na quebra dos sigilos fiscais e as autoridades, ao invés de darem explicações sobre o caso, ficam debochando das vítimas. Se a gente não for amigo do dono do poder, então a gente está sujeito a arbitrariedades, protestou o candidato tucano.

Para Serra, o presidente Lula não vem se comportando como o presidente da República, mas como presidente de um partido. O tucano voltou a atacar a forma como a candidata Dilma Rousseff (PT) vem fazendo campanha. Ela tem dificuldades para explicar o que pensa. Fala uma coisa, depois fala outra. Ou então delega aos outros, disse ele, para quem a petista tranca seu passado num cofre.

Em ninho tucano, surgiu ontem a preocupação quanto a eventuais novas investidas dos adversários, agora na área bancária. Aliados já estão se mobilizando para verificar denuncias que teriam sido feitas em blogs ligados ao presidente Lula e à candidatura do PT, que indicariam possíveis quebras de sigilo bancário de tucanos, podendo alcançar até mesmo José Serra.

Marina: Lula defende Dilma, mas esquece os cidadãos

DEU EM O GLOBO

A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, disse que o Brasil vive certa prosperidade econômica e alguns avanços sociais, mas um retrocesso na politica. Sabatinada por colunistas e leitores do GLOBO, ela disse que o presidente Lula "banalizou o dolo" na violação de dados sigilosos de pessoas ligadas a José Serra (PSDB) e só veio a público para defender Dilma Rousseff (PT). "Vejo a manifestação do presidente. Lamentavelmente, na forma da defesa da sua candidata, e não dos milhares de brasileiros que tiveram seus sigilos fiscais quebrados", afirmou.

Marina critica Lula e Dilma

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

RIO - A candidata do PV à Presidência da República, senadora Marina Silva (AC), conclamou ontem os contribuintes a perguntar oficialmente e por escrito à Receita Federal se também tiveram violado ilegalmente seu sigilo fiscal, como ocorreu com familiares e pessoas próximas ao postulante tucano ao Planalto, José Serra.

Mantendo contra o governo federal pressão semelhante à exercida pelo PSDB nos últimos dias, Marina também criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (por se solidarizar à candidata petista, Dilma Rousseff), o ministro da Fazenda, Guido Mantega (a quem acusou de banalizar o dolo) e o secretário da Receita, Otacílio Cartaxo (que taxou de incompetente). Acho que os brasileiros deveriam começar a peticionar à Receita Federal para saber se foi (sic) também violado em seu sigilo. Acho que é a única alternativa que resta depois do que estamos vendo: uma ausência daqueles que são responsáveis por passar tranquilidade, firmeza, afirmou Marina, após participar de sabatina promovida pelo jornal O Globo.

Segundo ela, a postura inicial de Mantega foi de omissão e depois de banalização de um crime. As críticas mais duras da senadora, porém, foram focadas no presidente, por ter aparecido no programa eleitoral do PT defendendo Dilma das acusações de Serra de responsabilidade pelas violações ocorridas em 2009, antes do início oficial da campanha eleitoral de 2010.

Para Marina, a atitude do presidente gerou uma sensação de desamparo, porque ele se solidarizou com alguém que não teve o sigilo violado diferentemente das mais de 2 mil pessoas vítimas do mesmo esquema que teria repassado do IR de familiares de Serra e tucanos a arapongas, com fins políticos. No caso do presidente Lula, o que criou foi uma sensação de desamparo, disse. Porque neste momento os milhares de brasileiros que foram violados em seus sigilos querem uma atitude por parte do Estado.

Versões conflitantes

DEU EM O GLOBO

Office-boy nega versão de Atella sobre procuração falsa e polícia planeja acareação

Sérgio Roxo

SÃO PAULO - O office-boy Ademir Estevam Cabral negou ontem, em depoimento à Polícia Civil de São Paulo, que tenha participado da falsificação da procuração apresentada pelo suposto contador Antonio Carlos Atella Ferreira para obter os dados fiscais de Verônica Serra, filha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. A divergência deverá levar a uma acareação entre os dois. Ontem, a polícia pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico tanto de Atella quanto de Ademir. O objetivo é saber para quem eles ligavam na época em que foram acessados os dados de Verônica.

Protegidos por sigilo, os dados fiscais da filha de Serra foram parar num suposto dossiê que estava em poder de integrantes da campanha da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Além de Verônica e do marido dela, outras quatro pessoas ligadas a Serra também tiveram os dados vasculhados na Receita.

No último dia 2, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, Atella, filiado ao PT de Mauá (SP), disse que recebera a procuração de Ademir, filiado ao PV de Francisco Morato (SP). Afirmou ainda que Ademir o contratara para ir à Receita levantar informações sobre a filha de Serra: Ele tem contato com advogados e tem a reputação profissional de ser uma pessoa que agiliza os documentos dos órgãos disse Atella sobre Ademir.

Se Atella mantiver a afirmação, em seu depoimento previsto para hoje, a polícia deverá confrontar as versões.

Em depoimento prestado ontem de manhã na Delegacia Seccional de Santo André, na Região Metropolitana de São Paulo, ao qual O GLOBO teve acesso, Ademir disse conhecer Atella há cerca de cinco anos. Contou que não tem ocupação fixa e trabalha de forma autônoma, como despachante: dá entrada em documentos em órgãos como a Junta Comercial e a própria Receita Federal. Também declarou não conhecer Verônica e políticos de destaque no cenário nacional.

Em entrevista ao Jornal Nacional, Ademir explicou ontem por que ficou uma semana longe de sua casa, em Francisco Morato, e do escritório no Centro de São Paulo: Sou caipira. Não gosto de aparecer.

Estou sendo chamado de bandido, mas não sou bandido.

Sou pai de família e trabalhador.

Ademir também forneceu material para exame grafotécnico. O objetivo é verificar de quem é a letra na falsa procuração.

Atella e Ademir dividiam escritório

O delegado José Emílio Pescarmona, que ouviu Ademir, disse que ele deu uma versão oposta à de Atella: Alega o Ademir que ele nunca passou serviço ao Antonio Carlos (Atella). Ao contrário, o Antonio Carlos é que se prestava a dar serviço ao Ademir. Alega também que não conhece Verônica Serra e desconhece o documento (a procuração).

Ademir contou à polícia que, por um mês em 2009, dividiu com Atella o escritório localizado no Centro da capital paulista. Segundo ele, essa sociedade foi anterior ao período em que houve a quebra do sigilo fiscal de Verônica.

Contou que, por motivos pessoais, o suposto contador teria deixado de atender no local.

Ainda no depoimento, o officeboy contou que teve contato com Atella, pela última vez, uma semana antes de o nome do suposto contador aparecer como responsável pela falsa procuração.

Na TV, Serra diz que Dilma se 'esconde' atrás de Lula

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Em resposta ao presidente Lula, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, usou seu programa na TV para criticar o governo federal e dizer que a adversária Dilma Rousseff (PT) "se esconde atrás de ministros e do presidente da República". Foi referência ao caso da quebra de sigilo fiscal de seus familiares. 0 tucano, no entanto, evitou bater boca diretamente com Lula.

Na TV, Serra reage a Lula e cobra de Dilma explicação sobre quebra de sigilo

Ivan Fávero e Julia Duailibi

Em resposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, usou seu programa no horário eleitoral gratuito de ontem para criticar o governo federal e dizer que a adversária Dilma Rousseff (PT) "se esconde atrás de ministros e do presidente da República", no episódio sobre a quebra de sigilo fiscal de seus familiares.

O tucano, no entanto, evitou bater boca diretamente com Lula, função delegada internamente a outros integrantes da campanha. Não mencionou o nome do presidente, mas atacou explicitamente o PT. Candidatos a deputado pelo PSDB foram convocados no começo da semana para gravar no estúdio da campanha de Serra comentários sobre o caso, levados ao ar também ontem.

"A pessoa que deve explicações ao Brasil se esconde atrás de ministros e até do presidente da República", disse o tucano, referindo-se a Dilma, sem mencionar o nome da adversária. Serra gravou o programa na madrugada de ontem, depois de deixar o debate promovido pelo Estado e pela TV Gazeta. Ainda não há consenso na campanha se ele deve usar o programa para criticar Lula de forma mais incisiva.

Políticos do PSDB foram escalados para rebater as declarações feitas pelo presidente na terça-feira, quando apareceu no programa de Dilma para atacar o tucano por relacionar as quebras de sigilo com a campanha petista. Painel com foto de Serra no local onde o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), concedeu entrevistas para comentar o episódio chegou a ser coberto por integrantes da campanha.

Na TV, Serra retomou o termo "indignado", desta vez a respeito da quebra de sigilo fiscal do genro, Alexandre Bourgeois. "Ninguém pode achar natural os abusos que estão ocorrendo nesta eleição", disse. "Esses crimes no fundo não são contra mim ou minha campanha, não. São contra o Brasil, contra a Constituição e os eleitores."

O presidenciável afirmou que os suspeitos de cometer os crimes são ligados ao PT e o que se viu até agora foram "deboches", tanto por parte da campanha petista quanto do governo. Cerca de 38% do tempo da propaganda vespertina de Serra foi destinado a rebater as críticas feitas por Lula. À noite, o tucano preferiu usar somente 14% de seu tempo para essa finalidade. Repetiu apenas a parte em que se diz "indignado" com as violações fiscais de seu genro e que Dilma se esconde.

No programa da tarde, o candidato disse que, se for eleito, não permitirá a quebra de sigilo dos cidadãos e aproveitou para atacar as ações tomadas pelo governo federal na política externa.

"O meu governo não vai ficar de amores com países que não respeitam a liberdade, a democracia, os direitos da mulheres, os direitos humanos e nem com os que fazem corpo mole com o contrabando de drogas e de crack", disse. A pouco menos de um mês da eleição, Serra afirmou que "vai correr muita água por debaixo da ponte" e que "tem gente sentando na cadeira" antes do resultado das urnas. Dos oito candidatos a deputado que apareceram no programa tucano da tarde, metade mencionou diretamente as violações fiscais.

O COMUNISTA E O LIBERAL.

DEU EM O GLOBO – Panorama Político

O arquiteto Oscar Niemeyer apareceu na propaganda na TV do senador Marco Maciel (DEM/PE), candidato à reeleição. Eu conheço Marco Maciel há muito tempo, quando ele era governador de Pernambuco. (...) Ele é inteligente, discreto, honesto, honestíssimo. (...) Ele é candidato a senador, e eu estou certo de que o povo de Pernambuco vai pensar nisso tudo, disse Niemeyer.

Lula já viajou o equivalente a três anos nos dois mandatos

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Embalado pelos compromissos que aliam agendas oficiais e de campanha (pa­ra a própria reeleição e ago­ra com Dilma Rousseff), o presidente Lula completou 1.103 dias de viagens, o equivalente a pouco mais de três anos em dois mandatos.

No período de janeiro a agosto, o presidente passou 61 dias em viagens oficiais, mesma marca de 2006, ano da reeleição.

3 anos fora de casa

Embalado por compromissos que aliam agendas oficiais e de campanha, Lula atinge 1.103 dias em viagens

Eduardo Scolese
Editor-assistente de Poder

No ritmo das agendas oficiais casadas com eventos da campanha petista de Dilma Rousseff, o presidente Lula completou três anos de seu mandato em viagens.

A marca foi atingida duas semanas atrás, quando a aeronave da Presidência decolou de Brasília com destino a Mato Grosso do Sul.

Naquele dia, Lula cumpriu agendas oficiais em Dourados e Campo Grande e, à noite, discursou ao lado de Dilma num comício na capital sul-mato-grossense.

Essas agendas casadas têm sido comuns na atual campanha. Lula marca eventos oficiais num determinado Estado e, à noite, sobe num palanque com sua candidata.

Foi assim anteontem, em Minas Gerais, por exemplo.

Até ontem, foram 1.103 dias dentro de um avião ou em agendas oficiais no Brasil ou no exterior, em sete anos e oito meses de governo.

As viagens lhe tomaram 40% dos dias de governo.

Na Presidência, Lula usou as viagens tanto para aproximação política e econômica com outros países como para fugir de crises no Planalto.

Foi assim no segundo semestre de 2005, por exemplo, quando buscou no interior do país a retomada da popularidade, abalada com o estouro da crise do mensalão.

Nos oito primeiros meses deste ano, Lula passou 61 dias em viagens oficiais, exatamente a mesma marca em igual intervalo de 2006, quando disputou a reeleição.

Comitê do PT recebeu dossiê sobre Veronica

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Dados foram coletados em cartórios e na Junta Comercial pela bancada estadual do partido

Papéis fizeram parte de pedido da liderança do PT para investigação sobre empresa da filha e do genro de José Serra

DE BRASÍLIA - O comitê da pré-campanha da candidata à Presidência Dilma Rousseff teve em mãos um dossiê sobre a filha do adversário José Serra (PSDB) com documentos reunidos pelo PT paulista.

Tal papelada havia sido utilizada pelo partido em 2005 para solicitar ao Ministério Público a abertura de inquérito sobre uma empresa de Veronica Serra e do marido, Alexandre Bourgeois.

O nome de Veronica voltou ao noticiário da campanha presidencial na semana passada. A Receita admitiu que a filha do candidato tucano teve as declarações de bens e de renda violadas, a partir de procuração falsa.

Serra tem responsabilizado Dilma pela quebra de sigilo, o que a petista nega.

A Folha teve acesso a cerca de cem páginas do dossiê do PT paulista sobre Veronica. É o resultado de pesquisa em cartórios de registros de documentos, na Junta Comercial de São Paulo e em sites na internet.

Não há nesse lote de papéis indício de quebra de sigilo bancário ou fiscal.

A papelada circulou no "grupo de inteligência" que no início do ano trabalhava para o comitê de Dilma -equipe que foi desmantelada quando a imprensa noticiou sua existência e as tratativas de contratar "arapongas" para espionar oponentes e até mesmo aliados.

ORIGEM PAULISTA

O material é idêntico ao que o partido havia encaminhado cinco anos antes ao Ministério Público estadual e à Procuradoria da República de São Paulo.

O pedido de abertura de inquérito foi uma iniciativa do então líder da bancada petista na Assembleia Legislativa, Cândido Vaccarezza. Hoje ele é deputado federal, líder do governo na Câmara e apontado como um dos favoritos a ocupar a presidência da Casa a partir de 2011.

Em junho de 2005, Vaccarezza chegou a propor uma CPI na Assembleia para investigar uma suspeita levantada pelo PT de que a empresa de Veronica e do marido havia sido favorecida em leilões na CPTM (companhia de trens), no Metrô e na Sabesp (empresa de saneamento).

As apurações do PT a respeito de Veronica começaram logo após o primeiro turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, em 2004. Serra era o candidato do PSDB e viria a ganhar a disputa contra a então prefeita Marta Suplicy (PT).

Em 2005, a Procuradoria da República paulista abriu procedimento administrativo (investigação prévia presidida por um procurador) para averiguar "crimes contra a ordem tributária e fraude em licitação" desses leilões.

O procedimento deu origem a uma ação judicial, que passou a tramitar na 8ª Vara Federal Criminal paulista.

Contudo, em 2006, o próprio procurador responsável pelo caso pediu o arquivamento da ação. Veronica e seu marido não chegaram a ser chamados nem acusados de nenhuma irregularidade.

O caso foi arquivado na Justiça Federal e no Ministério Público em 2008.

OUTRO LADO

A liderança do PT na Assembleia disse à Folha que agiu dentro da lei e com o propósito de fiscalizar o uso de dinheiro público, tarefa do Legislativo.

Em notas à imprensa e declarações de seu presidente, José Eduardo Dutra, o PT tem afirmado que o partido e a coordenação da campanha de Dilma "não autorizaram, orientaram, encomendaram, solicitaram ou tomaram conhecimento" de dossiês.

Procurada para comentar as investigações realizadas pelo PT-SP acerca da empresa de Veronica, a assessoria da campanha de Serra soltou uma nota: "As especulações da reportagem dão curso às tentativas do PT de jogar lama na campanha na família do candidato José Serra".

"Trata-se da prática de construir dossiês fajutos com informações falsas e insinuações criminosas. Não cabe nenhum comentário a não ser veemente repúdio a quem fez e a quem está divulgando baixarias", diz o texto.

Marina prega consulta popular à Receita

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Wilson Tosta

A candidata do PV à Presidência, Marina Silva, conclamou ontem os contribuintes a perguntar oficialmente e por escrito à Receita se também tiveram violado ilegalmente seu sigilo fiscal, como ocorreu com familiares e pessoas próximas ao presidenciável José Serra (PSDB). Mantendo contra o governo federal pressão semelhante à exercida pelo PSDB nos últimos dias, Marina também criticou o presidente Lula, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, chamado de incompetente.

"Acho que os brasileiros deveriam começar a peticionar à Receita Federal para saber se foi (sic) também violado em seu sigilo. É a única alternativa que resta depois do que estamos vendo: uma ausência daqueles que são responsáveis por passar tranquilidade, firmeza", afirmou, após participar de sabatina promovida pelo jornal O Globo.

Segundo ela, a postura inicial de Mantega foi de omissão e depois de "banalização de um crime". As críticas mais duras, porém, foram focadas em Lula, por ter aparecido no programa eleitoral do PT defendendo Dilma Rousseff das acusações de Serra de responsabilidade pelas violações. Para Marina, a atitude do presidente gerou uma "sensação de desamparo".

"Neste momento os milhares de brasileiros que foram violados em seus sigilos querem uma atitude por parte do Estado", disse. "O presidente, investido simbolicamente, inclusive, da aparência do cargo, da instituição, veio na defesa de uma única pessoa, que foi a sua candidata. Tem uma sensação, sim, de impotência, de todos os brasileiros. E uma certa decepção. A defesa deveria ser de todos os brasileiros."

Para ela, a "banalização do dolo leva as pessoas a não se importarem mais".

''Lula delinquiu institucionalmente''

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

ENTREVISTA:: Demétrio Magnoli, sociólogo

Roldão Arruda


O sociólogo e professor Demétrio Magnoli acredita que a possibilidade de reeleição para cargos executivos acentuou no Brasil o uso da máquina do Estado como máquina eleitoral. Uma das provas disso estaria na eleição presidencial deste ano, com o uso da máquina para espionar um candidato e favorecer outro.

Ainda segundo Magnoli, Lula entrou nessa eleição como se estivesse disputando sua segunda reeleição, disposto a ultrapassar repetidamente os limites que separam a militância a favor de uma facção e o respeito às instituições. No recente episódio de violação de dados fiscais, avalia, o presidente "delinquiu institucionalmente".


Acha que o presidente Lula se excedeu quando foi à TV, no horário eleitoral gratuito, defender a candidata do PT das acusações de que sua campanha estaria envolvida com o escândalo da violação de dados Receita?

A resposta a essa questão deve ser dividida em duas partes. A primeira é que o instituto da reeleição tem uma consequência ruim no Brasil e na América Latina, em decorrência das tradições políticas da região, que é a utilização da máquina do Estado como máquina eleitoral. O presidente Lula, que já afirmou que Dilma não passa de um pseudônimo do Lula, vem tratando essa eleição como uma reeleição, como se estivesse tentando o terceiro mandato.

Está dizendo que o governo Dilma, caso ela vença, será o terceiro governo Lula?

Não estou dizendo nem desdizendo. Essa é uma questão para o futuro. O que digo é que o governo encara esta campanha como se fosse a campanha da reeleição para o terceiro mandato.

A segunda parte da resposta à pergunta inicial é que, mesmo levando em conta que o instituto da reeleição tende a fazer da máquina do Estado uma máquina eleitoral, Lula passa de todos os limites aceitáveis. O presidente da República nunca será duas pessoas - o presidente e o líder partidário. No regime presidencialista, ele é presidente 24 horas por dia. Não basta a ele definir um evento como solenidade oficial presidencial e outro, como evento de campanha, porque em todos continua a ser presidente.

Se é assim, como pode fazer campanha pelo seu candidato?

Precisaria, para respeitar a ideia de que o Estado é publico, se autolimitar e renunciar a fazer discursos de campanha típicos de um líder partidário.

Fernando Henrique Cardoso conseguiu isso em 2002?

Basta retomar os pronunciamentos de Fernando Henrique na campanha de 2002 para ver que ele sempre se reprimia para não ultrapassar a fronteira do respeito às instituições. Nas campanhas, líderes partidários ultrapassam a fronteira do respeito às instituições. Isso pode ter um preço político, mas é tolerado, porque falam como chefe de facção - o partido. O presidente não pode ultrapassar o limite, mas Lula é useiro e vezeiro em desrespeitar instituições e leis. No caso atual, pouca diferença faz se ele estava falando num ambiente que simulava o ambiente presidencial, como se viu, ou num comício. O que importa no episódio é que ele, como presidente da República, disse que as violações comprovadas de sigilos não têm importância e não passam de futricas da oposição. Ao dizer isso, independentemente do ambiente e do rótulo que vestia, de presidente ou líder petista, porque é sempre presidente, ele delinquiu institucionalmente.

Ao falar em delinquência, o senhor se refere a qual aspecto: ético ou legal?

Falo em termos políticos e legais. Crimes de violação de sigilo estão previstos na lei.

Lula não estaria apenas criticando o uso eleitoral do episódio? A tentativa do PSDB de criar um factoide para empurrar a eleição para o segundo turno?

Se fosse mesmo um factoide, ele poderia ter dito que não houve crime e criticar o uso eleitoral do episódio. Mas está provado que os sigilos foram violados e que os dados foram parar nas mãos de gente da campanha de Dilma e em blogs eleitorais sustentados com o dinheiro de empresas do governo. Se o Estado viola sigilos com objetivos eleitorais, se a Receita acoberta o crime, usando uma procuração que ela já sabia que era falsa, como criticar o candidato da oposição que apresenta esses fatos na campanha? Ele tem o dever de apresentar.

Ao dizer que tudo não passa de futrica, o presidente pode influenciar as investigações? Isso afetaria as instituições encarregadas de apurar os fatos?

É evidente que isso pode ter influência nos órgãos ligados ao Executivo e subordinados ao presidente, como a Receita e a Polícia Federal. Quando o presidente diz que não houve crime, que é futrica, está estimulando os órgãos a não investigarem. É a palavra do chefe.

O senhor iniciou a entrevista falando dos problemas da reeleição no Brasil e América Latina. Mas os países desenvolvidos também têm reeleição.

A ênfase na América Latina foi pelo fato de termos aqui uma longa tradição de caudilhos, para os quais o Estado não se ergue acima das facções políticas, mas se torna instrumento de uma facção - a que detém o poder. Essa tradição faz com que o instituto da reeleição acentue o processo de captura do Estado por uma facção política. Lula adorou tanto o instituto da reeleição que imagina estar se reelegendo pela segunda vez.

QUEM É

Sociólogo e doutor em geografia humana pela Universidade de São Paulo (USP) é autor de Uma Gota de Sangue - História do Pensamento Racial, O novo mapa do mundo, História das Guerras e História da Paz, entre outros.

A simbiose do presidente

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Lula não conseguiu separar o petista do estadista durante todo o mandato

Nunca foi demarcada a fronteira entre o Lula-petista e o Lula-presidente. Mesmo no cargo, sempre mostrou uma "conduta política flex": ora dirigida ao partido, ora institucional.

Em dezembro de 2002, Lula reuniu-se com o então presidente dos Estados Unidos, George Bush, envergando uma estrelinha vermelha brilhante, na gola de seu paletó. No encontro, Bush usou um pequeno broche com a bandeira norte-americana. Na época, a imagem de Lula com o símbolo do PT causou controvérsias e foi considerada um deslize no protocolo.

Esta não foi, no entanto, a única vez em que houve uma espécie de simbiose entre a estrela vermelha do PT e instituições públicas. Numa mistura entre o que é público e privado, a primeira-dama Marisa Letícia mandou fazer, em 2004, uma gigantesca estrela com flores vermelhas (sálvias) nos jardins do Palácio da Alvorada e na Granja do Torto, residências oficiais do presidente Lula.

O jardim do Palácio da Alvorada, cujo projeto foi doado ao ex-presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) pelo imperador japonês Hiroito, ostentou por cerca de seis meses o canteiro de flores com a estrela de quatro metros de diâmetro.

Na Granja do Torto, onde Lula e a família costumam a passar os finais de semana, a estrela era um pouco maior: tinha cinco metros de diâmetro.

O símbolo petista foi retirado tempos depois dos jardins das duas residências.

Estrela a bordo. A utilização da estrela do PT em bens públicos não é um privilégio do governo federal. Em setembro do ano passado, o Ministério Público determinou ao governo do Acre a retirada da estrela vermelha do helicóptero usado pelo Estado em operações de segurança pública.

Nesta semana, na condição de cabo eleitoral mais proeminente da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, Lula assumiu a bandeira do Brasil na lapela de seu terno, no dia 7 de setembro, para defender a petista das acusações de quebra de sigilo fiscal de tucanos em agências da Receita Federal.

Numa aparição de mais de dois minutos, Lula partiu para o ataque direto ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Diante da pompa e circunstância da imagem, ele deu a impressão de fazer um pronunciamento oficial à Nação.

A logomarca do PT que, no passado foi um dos símbolos mais populares da política nacional, agora aparece de forma discreta na campanha da candidata petista, resumindo-se ao pingo no "i" do nome Dilma.

Ausente, Dilma vira alvo de adversários

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Daniel Bramatti

Ausente no debate Estadão/TV Gazeta, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, se transformou em alvo principal dos três adversários que participaram do evento - José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Dilma foi atacada, entre outros motivos, por evitar debater a violação do sigilo fiscal da filha de Serra e de integrantes do PSDB.

Serra afirmou que o PT atua "com truculência" e adotou "a estratégia da ocultação" em relação a Dilma. "O presidente da República e o presidente do partido falam por ela", acusou. Foi uma referência indireta ao fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter ido à televisão para atacar o próprio Serra.

Marina acusou Dilma de desrespeitar os demais candidatos ao não comparecer ao debate. Sobre a violação de sigilo, ela afirmou que a sociedade "vive imenso desconforto com os desmandos na Receita Federal". Marina criticou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por não tomar atitudes em relação ao escândalo na Receita, e o próprio Lula, por sair em defesa "apenas de sua candidata", e não das vítimas das quebras ilegais de sigilo.

Partiram de Plínio os ataques mais fortes à candidata de Lula. Referindo-se a Dilma como "essa moça", disse que ela "não é do ramo" e "foi inventada". Mais adiante, afirmou que a petista é "um blefe" e "uma invenção marqueteira". Também houve ataques entre os presentes. Marina aproveitou uma pergunta de Serra sobre saneamento para afirmar que o governo Fernando Henrique Cardoso, do qual o tucano participou, aplicou no setor menos que 20% dos recursos necessários. Plínio acusou Serra de "esconder" FHC em seu programa eleitoral e de procurar associar sua imagem à de Lula.

Debate é comentado nas redes sociais

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Internautas e militantes não pouparam a candidata petista de ausência no confronto

Ricardo Chapola

SÃO PAULO - A ausência da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, no debate de ontem promovido pelo Estado e pela TV Gazeta adquiriu destaque nos comentários que circularam pelas mídias sociais antes, durante e depois do programa.

Primeira colocada nas pesquisas de intenção de voto, a candidata alegou incompatibilidade de agenda e, por isso, não compareceu. Foi a segunda vez que Dilma se ausentou de um debate na TV.

Antes mesmo de o debate começar, vários internautas se manifestaram em relação à falta da petista ao encontro - o quarto embate entre os presidenciáveis.

CríticasOs candidatos José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) e Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) não deixaram de desferir críticas sobre ausência de Dilma. O candidato do PSOL foi o que mais alvejou a petista com provocações sobre tal atitude. Elas serviram de endosso para que os internautas intensificassem as tuitadas e rendessem ao debate #estadaogazeta uma posição no Trending Topics do Brasil, onde são elencados os assuntos mais mencionados no Twitter em âmbito nacional.

Outra menção feita por meio da hashtag do debate Estadão/Gazeta foi de Marcelo Tas, jornalista do programa CQC da Rede Bandeirantes. O jornalista elogiou o encontro entre os presidenciáveis Serra, Marina e Plínio.

Militantes dos debatedores também teceram seus comentários na rede, abordando os pontos altos de seus respectivos candidatos, além de criticarem o não comparecimento da petista no debate Estadão/Gazeta.

O candidato à vice de Serra, Índio da Costa (DEM), não poupou a principal adversária dos tucanos, Dilma Rousseff, quanto à ausência, criticando-a via Twitter no decorrer do embate. O mesmo fez a equipe de campanha do candidato do PSOL.

Em 2006, cadeira vazia deu prejuízo nas urnas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Adriana Moreira

SÃO PAULO - Em 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também apresentava, como Dilma Rousseff hoje, ampla margem de vantagem sobre o segundo colocado nas pesquisas - na época, Geraldo Alckmin (PSDB). Com 47% das intenções de voto, frente a 21% do tucano, Lula preferiu ausentar-se dos debates a tratar de temas polêmicos da época, como o escândalo dos "aloprados".

Ainda assim, o presidente era esperado no último debate antes do primeiro turno, realizado pela TV Globo. Lula só informou que não compareceria três horas antes do programa. A emissora, então, manteve a cadeira vazia do candidato e permitiu que os outros adversários fizessem perguntas que seriam dirigidas a ele em todos os blocos.

Lula, que disputava a reeleição, virou alvo e deu espaço para os adversários. No dia seguinte, declarou que tomara "a decisão certa". A resposta, no entanto, veio nas urnas: com 49,28% dos votos válidos frente a 40,95% de Alckmin, a eleição foi para o segundo turno.

Para muitos, a ausência de Lula no debate foi crucial. Na época, o vice-presidente José Alencar declarou que ele deveria ter comparecido. "Fui voto vencido." No segundo turno, Lula não arriscou: foi em quatro dos cinco debates agendados. Venceu com 60,8% dos votos válidos.

República "socialista" do PT :: Graziela Melo


Pensando, olhando, sentindo e analisando a total falta de escrúpulo, o vale-tudo do Lula que sempre acusa as "elites" de, por inveja, intolerância e etc, por ele ter vindo "de baixo", tentarem sabotar o seu governo, acho até oportuna a fala de Fidel, dando aquele recado de que o modelo econômico cubano já não funciona.

Aliás, faz um tempão que eu sei disso. Mas parece que só agora que o Fidel descobriu. Então, até que o Lula poderia relaxar um pouco e tirar o chapéu de "esquerda" da cabeça, já que a única política de "esquerda" que ele praticou foi aparelhar quase todos os serviços de Estado de "companheiros" petistas, sindicalistas, cutistas e etc.

Fora isso, o cara deu um lucro bastante sossegado aos banqueiros, quer dizer, às tais "elites" que ele tanto malha.

SONETO DO DESMANTELO AZUL:: Carlos Pena Filho



Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas,

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.