sábado, 11 de setembro de 2010

Reflexão do dia- Salvador Allende

Amigos míos:

Seguramente esta es la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Portales y Radio Corporación.

Mis palabras no tienen amargura, sino decepción, y serán ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron... soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino que se ha autodesignado, más el señor Mendoza, general rastrero ... que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al gobierno, también se ha nominado director general de Carabineros.

Ante estos hechos, sólo me cabe decirle a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar! Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que entregáramos a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente.

Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen... ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.

Trabajadores de mi patria: Quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley y así lo hizo. En este

momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes,. quiero que aprovechen la lección. El capital foráneo, el imperialismo, unido a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara Schneider y que reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas, esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.

Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros; a la obrera que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la patria, a los profesionales patriotas, a los que hace días estuvieron trabajando contra la sedición auspiciada por los Colegios profesionales, colegios de clase para defender también las ventajas que una sociedad capitalista da a unos pocos. Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron, entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos... porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando la línea férrea, destruyendo los oleoductos y los gasoductos, frente al silencio de los que tenían la obligación de proceder: estaban comprometidos. La historia los juzgará.

Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz no llegará a ustedes. No importa, lo seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos, mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal a la lealtad de los trabajadores.El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.

Trabajadores de mi patria: tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo, donde la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor.

¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!

Éstas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, habrá una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.

(Salvador Allende, último discurso em 11 de setembro de 1973)

Envelope fechado:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

Para quem está prestes a ser derrotado no primeiro turno, o candidato tucano à Presidência da República está bastante animado. José Serra não apenas diz acreditar que vai para o segundo turno como age como tal, tamanho o ânimo que encontra para fazer uma campanha que, a olhos leigos, parece já perdida. Ontem, na sabatina do GLOBO, depois de um começo claudicante devido ao seu já folclórico mau humor pela manhã - e olha que a sabatina, marcada para as 11 horas, começou meia hora mais tarde, pela também já conhecida impontualidade do candidato -, ele se mostrou bastante bem-humorado, e não perdeu oportunidade para alfinetar sua adversária petista, Dilma Rousseff, como, aliás, nunca havia feito antes.

A comparação de Dilma com o ex-prefeito Celso Pitta, candidato inventado por Paulo Maluf e que depois protagonizou um governo desastroso em São Paulo, prejudicando o futuro político de seu padrinho, foi o auge de uma série de críticas.

"Só falta o Lula dizer para não votarem mais nele se a Dilma fizer um mau governo, como Maluf fez com o Pitta", ironizou Serra, que se disse incomodado de não poder debater diretamente com Dilma.

O fato de a candidata oficial "se esconder" atrás do partido ou do próprio Lula, segundo os marqueteiros da campanha do PSDB, estaria já incomodando os eleitores, percepção que está sendo retirada de diversas pesquisas qualitativas, quando um grupo de eleitores faz considerações sobre a campanha eleitoral sem saber que candidato está buscando suas opiniões.

Mesmo que os números não se mexam neste momento, a sensação (ou esperança) dos tucanos é que esse sentimento de decepção com a candidata de Lula se cristalize a ponto de inverter alguns votos, o suficiente para levar a eleição para o segundo turno.

Mas como Serra quer vencer a eleição presidencial se não consegue vencer nem mesmo em São Paulo, estado que governou até o início do ano e onde o candidato do PSDB ao governo, Geraldo Alckmin, aparece como o favorito da disputa?

Os candidatos do PSDB à Presidência da República sempre venceram a eleição em São Paulo - Fernando Henrique em 94 e 98, com uma diferença que chegou a cinco milhões de votos, e Geraldo Alckmin por 3,8 milhões, ambos derrotando Lula.

O único que perdeu para Lula foi o próprio Serra, em 2002, e agora vai perdendo para Dilma. A força que Alckmin poderia dar fica neutralizada pela arrancada que Lula está conseguindo promover para o candidato petista ao governo, Aloizio Mercadante, que, segundo as pesquisas mais recentes, estaria conseguindo reduzir a vantagem de Alckmin, embora o tucano continue em condições de vencer no primeiro turno.

A situação de Serra é distinta: as pesquisas mostram uma estabilidade de Dilma, e nenhuma reação expressiva nem de Serra nem de Marina Silva.

Serra diz que ao final vencerá em São Paulo, o que pode fazer a diferença na ida para um segundo turno, já que o colégio eleitoral paulista é o maior do país.

O caso dos sigilos fiscais quebrados serialmente envolvendo pessoas do PSDB e parentes de José Serra não teve a capacidade, até agora, de mexer com a decisão dos eleitores, embora a reação imediata de Lula, indo à televisão para desqualificar as denúncias, indique que o seu potencial de estrago é grande.

O que pode ser insuficiente é o tempo que ainda resta de campanha até o dia 3 de outubro para uma reversão de ânimos, embora os marqueteiros de Serra considerem que os 20 dias que restam, com quatro debates entre eles, podem ser bastantes não para virar o jogo, mas para garantir um segundo turno, onde os dois candidatos poderão disputar em igualdade de condições no tempo de propaganda eleitoral e nos debates frente a frente.

Tanto Serra quanto Marina apostam suas fichas nessa possibilidade, mas ambos têm que subir tirando votos de Dilma, o que parece não estar ocorrendo, pelo menos no momento.

Devido à dificuldade para que a gravidade da quebra dos sigilos fiscais seja compreendida pela média da população, a campanha tucana não está muito esperançosa de que esse tema possa mexer com o eleitorado como o caso dos "aloprados" de 2006, que tinha elementos mais impactantes, como uma montanha de dinheiro vivo e vários nomes ligados diretamente ao Palácio do Planalto.

O que poderia levar o eleitor a mudar de opinião, avaliam os estrategistas da campanha do PSDB, seria a percepção de que a candidata Dilma não tem voo próprio e que precisa de Lula para se defender e, mais adiante, para governar.

Por isso, Serra começou ontem a afirmar que um eventual governo Dilma seria um fracasso, pela inexperiência da candidata e pela impossibilidade de controlar o PT, partido que é maior que ela e do qual dependerá.

Seria, como disse expressamente ontem Serra, uma maneira de levar Lula à Presidência pela terceira vez seguida.

O que, na previsão de Serra, provocaria uma crise institucional no país, pois o presidente da República é muito forte, e Dilma acabará não aceitando a ingerência de Lula.

A tecla em que o candidato Serra passará a bater é a de que não é possível escolher um "envelope fechado", que ninguém sabe o que contém.

O problema é que, até o momento, tudo indica que o que a ampla maioria do eleitorado quer - ou acha que quer, o que dá no mesmo - é reeleger Lula pela terceira vez, mesmo de maneira indireta.

Muitos, achando mesmo que Lula estará por trás, puxando os cordéis. O que a campanha tucana vê como uma fragilidade da candidatura Dilma, o eleitorado pode estar vendo como uma vantagem.

Mesmo que esteja certo, o candidato tucano estaria dessintonizado com os anseios da população. Que pode estar enganada, mas só saberá depois de escolher o "envelope fechado" a pedido de Lula.

Dois pontos e uma dúvida :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

As duas propostas de oposição foram discutidas no GLOBO nas sabatinas da candidata Marina Silva, do PV, e do candidato José Serra, do PSDB. Elas são diferentes. Serra acha que o país corre risco de desindustrialização. Marina teme o desenvolvimento que não veja a urgência da questão climática. A ausência da candidata Dilma Rousseff é um espantoso desrespeito ao debate democrático.

Em duas horas de conversa com cada um dos candidatos de oposição deu para falar de vários pontos de suas ideias e projetos, mas um fato inevitavelmente dominou a conversa: o escândalo da quebra sequencial de sigilos de contribuintes em geral, e de pessoas ligadas ao candidato José Serra, em particular.

Marina foi até mais direta e assertiva sobre o tema: a sociedade ficou desamparada pelo presidente da República, que, quando vem a público falar do assunto, não defende as vítimas, apenas a sua candidata, disse ela. Pelo fato de ser mulher, Marina tem até mais naturalidade para desmanchar a tese de machismo defendido pelo presidente Lula. De acordo com o tortuoso pensamento, que Lula defendeu em palanque, exigir esclarecimento do assunto é um ataque à mulher. O que o assunto encerra é outro tipo de questão: agressão aos direitos dos cidadãos.

- No primeiro momento foi indignação, e agora o sentimento é de impotência. O secretário, o ministro e o presidente da República esqueceram que temos duas mil pessoas com sigilo violado e ele saiu em defesa de quem não teve o sigilo violado - disse Marina, defendendo em seguida sua tese da "banalização do dolo".

Serra ao falar do assunto elabora menos e fala mais do fato em si que o atingiu diretamente. Repetiu que avisou ao presidente Lula, quando disse a ele que seria candidato, que informações que constavam apenas das declarações de renda da sua filha estavam circulando por blogs ligados ao governo. Rechaçou a tese presente em algumas declarações de autoridades de que se "quebrou de todo mundo" então "não tem importância".

A candidata Dilma Rousseff, se tivesse vindo, poderia ter explicado melhor todo esse nebuloso episódio. De preferência, se saísse do script que tem repetido que é se apresentar como vítima no episódio, quando as vítimas são, obviamente, as pessoas espionadas.

José Serra usou a expressão "envelope fechado" para se referir ao pensamento de Dilma Rousseff. O país não a conhece, na opinião dele, e votar nela é como escolher um envelope fechado. Marina acha que Dilma aposentou o eleitor e só se preocupa com o "anfitrião".

O país, de fato, vive uma anomalia nesta eleição: o mais empenhado dos políticos em campanha não é candidato, está no cargo da Presidência, usa todos os poderes, facilidades e simbologia do cargo para defender uma candidatura. A candidata mais bem posicionada nas pesquisas é pouco conhecida, foge, sempre que pode, de debates, entrevistas e sabatinas. Desta forma, realimenta o problema de ser a interposta pessoa em sua própria candidatura.

Para piorar, Marina passou a maior parte de sua vida política no partido do governo e carrega ainda as marcas dessa ambiguidade de ser e não ser do grupo que controla o governo atualmente; Serra, de oposição, não defende os feitos do seu próprio partido quando estava no poder e ainda usou a foto do presidente Lula em sua campanha. Estão todos amedrontados diante do tamanho da popularidade do presidente e achando que qualquer palavra em falso pode tirar votos.

Marina acha que Dilma e Serra são muito parecidos na visão de mundo, no estilo e na proposta de se oferecerem como gerentes. No que se refere ao assunto que lhe é mais caro, o da sustentabilidade, Marina afirma que os dois representam risco ambiental para o país, a ameaça de um desenvolvimento desatualizado com as exigências do século XXI e a falta de um pensamento estratégico sobre o assunto.

- Por isso me coloquei como candidata, para mostrar que o meio ambiente não é a disputa do verde pelo verde, é uma forma de criar novos negócios, novos materiais, nova base de conhecimento, produzir mais com menos recursos naturais - disse.

Marina acha que nenhum dos dois oponentes entendeu esse mundo novo.

Serra também disse que se apresentou como candidato para preparar o Brasil para o século XXI.
- Hoje, não temos fundamentos sólidos para o desenvolvimento sustentado. Essa eleição vai decidir o que vai acontecer com o país, com a sociedade e a economia neste século. Foi essa percepção que me levou a ser candidato.

Ele acha que o modelo econômico do governo Lula está esgotado. Que ele teve a chance de uma situação extremamente favorável e não aproveitou para criar as bases desse crescimento sustentado.

- No governo anterior, os preços dos produtos de exportação caíram 10%, no governo Lula subiram 110%. É uma situação inédita desde os anos 30. Mas o país está se desindustrializando, está dependendo mais da exportação de matérias-primas e está aumentando o déficit externo.

O "desenvolvimento sustentável", para Marina, significa incluir a variável ambiental e climática dentro de uma estratégia de crescimento. O "desenvolvimento sustentado", para Serra, significa ter uma política de juros mais baixos, câmbio mais valorizado, maior poupança interna, menor déficit em transações correntes.

São dois pontos. A dúvida é o que realmente pensa Dilma Rousseff. Seus silêncios e suas contradições deixam um vazio no ar.

Legislativo não é apêndice do governo :: Arnaldo Jardim

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Ainda há muita água para rolar, mas, por hipótese -e não mais que por hipótese-, admitamos que a atual aliança governista eleja maioria expressiva nas duas Casas do Congresso. A primeira pergunta a fazer é: qual a consistência político-ideológica dessa maioria?

Sabemos que o partido lulista tentará usar tal maioria para avançar em mudanças constitucionais e legais ditas "de esquerda". Sabemos, também, que a outra metade (possivelmente majoritária no bloco), representada pelo PMDB de face mais liberal, quererá não mais que usufruir sua parcela de poder.

A segunda pergunta é: a que se prestaria essa aliança? Ela serviria para uma sustentação convencional do governo, não para grandes arroubos políticos. Não teria, por exemplo, homogeneidade para aprovar as inadiáveis reformas tributária e previdenciária, que o governo Lula postergou.

Tramada sobre circunstâncias, e não sobre programas, essa aliança teria uma consistência debilitada e uma convivência sempre atritada.

Portanto, uma eventual maioria da atual base governamental na Câmara e no Senado significaria, sim, uma excessiva concentração de poder, mas relativizada pelos objetivos políticos transversos de cada facção situacionista.

Duvido que ela se prestaria a validar o sonho autoritário do partido lulista, impondo modificações exóticas à legislação. Já no governo Lula existiu enorme distanciamento entre o que os ideólogos do partido pregavam e a prática política.

Os sonhos do partido sempre foram contornados no discurso que Lula faz à sociedade, operando o convencimento popular por prática populista frequentemente demagógica. Lula sempre esteve longe, muito longe, de aderir ao ideal de uma revolução transformadora.

Já o cerne da "intelligentsia" do partido lulista sonha usar o processo democrático -um tanto pateticamente, reconheçamos- para fazer a revolução que ainda não aconteceu. Mantém a visão da "tomada do palácio" para, a partir do governo, "moldar a sociedade".

Na Presidência, Lula ignorou essa visão com sua implacável hegemonia política sobre o partido; mas, quando ele não estiver mais lá -admitamos, por hipótese-, o PMDB teria muito mais cuidados com o destino do governo e das leis, estou certo? Não é novidade para o PMDB que o núcleo ideologizado do partido lulista sonha afastá-lo das decisões reais do poder.

A contínua pregação da hegemonia esquerdista -algo que não se concretizará tão cedo- deixa claro que o acolhimento do PMDB nas hostes lulistas é meramente oportunista e que o nível de confiabilidade da aliança é precário. Ao PMDB, definitivamente, não interessa contribuir para um modelo autoritário.

Mas há outra hipótese a considerar: no caso de vitória do candidato de oposição José Serra, como espero e aposto, a questão da maioria parlamentar se inverteria, posto que a adesão do PMDB a um eventual governo Serra seria lógica.

Isso não só pelo vínculo natural que o candidato tem com as frações históricas do partido como também pelo peristaltismo usual da sua parcela mais, digamos, pragmática. Na sua passagem pelo Ministério da Saúde, a aprovação da emenda nº 29 já demonstrou isso.

E não é só. É evidente que uma eventual bancada diminuta e os efeitos da cooptação do governo -o governo lulista nunca se inibiu com isso- podem criar dificuldades eventuais à resistência oposicionista. Mas isso já aconteceu num Brasil relativamente recente e o país se redemocratizou.

O que engrandece a resistência não é o número de parlamentares, mas a capacidade de luta democrática e articulação política da bancada oposicionista, inclusive aproveitando as contradições do bloco adversário.


Arnaldo Jardim, engenheiro, é deputado federal pelo PPS-SP e candidato a novo mandato.

Fernando de Barros e Silva: Bebê a bordo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A pequena Dilma está sentada na sua cadeirinha, os pezinhos soltos no ar, no banco traseiro do carrão de Lula. Supomos que o carrão seja de Lula (só pode ser), uma vez que no banco da frente tudo o que conseguimos divisar são dois vultos engravatados, atrás do vidro escurecido pelo insufilm.

Dilminha tem a expressão assustadiça e os bracinhos esticados, segurando firme na proteção da cadeirinha. Poder e desamparo, tutela e dependência estão contrastados, entre o banco da frente e o banco de trás, na charge histórica que Angeli publicou aqui ontem.

Nela não há nenhuma palavra, apenas a inscrição "Lei da Cadeirinha". A condição infantilizada, ou lulo-dependente da candidata, fica ainda mais exposta porque a criança retratada pelo artista tem feições de uma senhorinha convencional. (Veja: www.folha.com/102539).

Quando começou a campanha na TV, Marina Silva disse, com razão, que estavam "querendo infantilizar a sociedade brasileira com essa história de pai e de mãe". Este tem sido um dos traços definidores da sucessão, recorrente nas falas de Lula e na propaganda de Dilma.

Mas também a campanha de José Serra é muito infantilizante. A escolha de Indio da Costa como vice e tudo o que veio depois dela transformaram a candidatura tucana numa espécie de berçário da UDN. Entre o que Serra imaginava ser e o que se tornou o tombo é imenso.

Dilma, porém, é imbatível em matéria de festa infantil. Mãe do povo ou filha de Lula, tanto faz, o que importa é que ela permaneça protegida na sua "cadeirinha".

Nunca um presidenciável foi tão blindado.

Até mesmo nas entrevistas, a petista se preserva cuidadosamente distante da imprensa. É comum vê-la no "JN" caminhando até um púlpito, atrás do qual fala a um buquê de microfones, sem repórteres por perto, o que -conforme observou Renata Lo Prete- dificulta muito réplicas ou questões embaraçosas e lhe confere desde já ar presidencial. Dilma já sentou na cadeirinha.

Serra: Lula deixa roubar' e Dilma é 'envelope fechado'

DEU EM O GLOBO

Para tucano, continuidade da atual administração traz risco para o Brasil

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse que sua principal adversária na disputa, Dilma Rousseff (PT), está perto da inexistência política" e comparou-a a Celso Pitta, eleito prefeito de São Paulo graças à popularidade do padrinho Paulo Maluf. Serra disse que, se Dilma for eleita, o presidente Lula não conseguirá se eleger nem para deputado em 2014 - tão fraco seria, segundo ele, o eventual governo da petista: Votar num envelope fechado é temeridade." Sabatinado por colunistas e leitores do GLOBO, o tucano disse que o governo Lula deixa roubar e que o atual modelo da administração federal se esgotou. "Botar lá gente que vai continuar com essa privatização do Estado, privatização do governo, que vai continuar com os abusos, com o desrespeito à democracia, é um risco muito grande para o Brasil", afirmou.

"O Brasil não vai votar num envelope fechado"

Serra ataca duramente a adversária do PT e o governo Lula e também se diz otimista com a possibilidade de haver segundo turno

MÍRIAM LEITÃO: A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) foi divulgada esta semana. Dá para ver que, nos últimos cinco anos, houve aumento de renda, mas o melhor ano foi 1996. O acesso à telefonia, depois da privatização, aumentou 300%. E, na educação, os avanços são lentos, mas foram um pouco mais rápidos no governo Fernando Henrique. O ex-presidente não aparece em seu programa, e o presidente Lula aparece. O senhor tem vergonha do legado tucano? Gostaria de ser o candidato do presidente Lula?

SERRA: Nunca me passou pela ideia ser o candidato do Lula. Nem por vontade própria, nem por vontade provavelmente recíproca. O PT colocou na pauta que a campanha deveria se orientar pelo debate entre os governos Lula e Fernando Henrique. Muitos jornalistas, muita gente entrou nessa. De fato, esta eleição não está decidindo entre governo Fernando Henrique e governo Lula, até porque as circunstâncias são totalmente diferentes. Se você verificar as entrevistas que eu dei, discursos, verá que, a todo momento, entro em análises do que aconteceu no passado e agora. E tenho outra coisa de que, graças a Deus, eu me orgulho: não tenho que ficar, a cada momento, revisando meu passado. Nem guardo num cofre trechos da minha história, que é mais ou menos conhecida. Então, tenho muita paz em relação a essas circunstâncias do passado, comparações etc. Fui ministro do Fernando Henrique. Tudo que foi feito na Saúde, na minha época, foi com a cobertura dele. Isso é mais ou menos óbvio.

MÍRIAM: Mas não é falar do passado para ficar nessa discussão sobre o que foi melhor. É para que se possa entender quais são as ideias da candidatura, o que foi feito quando vocês estiveram no poder. Por que a pessoa do seu partido que governou o Brasil oito anos não aparece?

SERRA: Mas a todo momento ele esteve comigo. A estratégia de programa de televisão é uma. A estratégia política de falar para a mídia é outra. A estratégia de comício é uma terceira. Essa história de que eu fico pondo o Lula (no programa eleitoral) não é verdade. Apareceu num clipe que era para comparar, mostrar até que a candidata Dilma não tem história. Quem são as duas pessoas que estão aí? Eu sou candidato, e o Lula é o patrono (de Dilma), praticamente o candidato de novo. Lula está se candidatando por meio dela. Então, sublinhamos: o Lula tem história? Tem. Alguma experiência? Tem. Eu também. E ela, nenhuma. Ao contrário, (o uso do Lula) foi numa perspectiva crítica. Então, a partir daí, fixou-se jurisprudência. Acho que é muito folclore isso.

ILIMAR FRANCO: Existe uma crise da representação política. Se for eleito, o senhor colocaria como uma das prioridades promover uma reforma política? E que reforma política, que ideia defenderia?

SERRA: A questão essencial é a eleitoral neste momento. Tenho uma proposta concreta que acho que começaria a mudar o sistema político brasileiro. É de implantar o voto distrital em municípios que têm segundo turno, onde há mais de 200 mil habitantes. Por exemplo: o Rio tem quantos vereadores? Cinquenta? Você dividiria o Rio em 50 distritos e elegeria um vereador para cada distrito. Por que esse voto distrital puro? Porque a população se sentiria muito mais representada e cobraria de quem fosse eleito. Você introduziria no Brasil o vírus benigno do voto distrital e da melhor representação. Se depois vai fazer distrital misto ou voto de lista, é outra história. Começaria por aí. A questão é melhorar a representação, o controle sobre aquele em quem o eleitor votou. Outra coisa que eu mexeria é na história do horário, que não é gratuito. É tudo, menos gratuito. Primeiro, porque as empresas de comunicação descontam no Imposto de Renda. Segundo, porque é uma fortuna fazer uma campanha em que se acaba vendendo candidato, em alguns casos - no meu nunca aconteceu -, como se fosse iogurte, sabonete, sapato de praia. Fantasiando inteiramente. No meu ver, tem que ter a câmera e o candidato. Programa político eleitoral não é de entretenimento. Se a política é chata, é chata. Eu também limitaria, pela legislação, a questão dos nanicos, de partidos de aluguel.

RICARDO NOBLAT: O senhor disse que comentou com o Lula, em janeiro, a respeito da eventual quebra de sigilo de sua filha, Verônica. Estavam surgindo dados, em blogs e em sites, que indicavam que poderia ter havido quebra de sigilo da Verônica. Em outubro do ano passado, que, aliás, foi quando houve a quebra de sigilo, o "Jornal do SBT" publicou reportagem sobre venda de dados sigilosos em SP. E até ouviram o senhor porque havia ali elementos que mostravam a quebra de sigilo de pessoas importantes, o senhor, a sua família, o presidente Lula. Quando foi exatamente que o senhor começou a ter maior segurança de que isso tinha acontecido?

SERRA: Eu nunca dei declaração sobre essa conversa (com Lula). Eu fiz um comentário numa emissora de TV, onde eu ia dar uma entrevista, e alguém ouviu e passou para o jornal. Então, ficou uma história mal explicada. No dia 25 de janeiro, teve o aniversário de São Paulo, e o Kassab convidou o Lula. E, depois da reunião, nós conversamos. Eu disse ao Lula que ia ser candidato a presidente. Estava aquela onda na imprensa de sai ou não sai (candidato a presidente). Eu já tinha tomado a decisão de sair, e transmiti ao Lula. Ele nunca passou isso para fora. Foi discreto a esse respeito. A conversa girou em torno disso. No final, eu passei a ele cópias de blog de amigos dele e do blog de amigos da Dilma. E o blog tinha coisas sujas a respeito da minha filha, da minha família. Então, eu dei a ele. Falei: "Olha, se puder parar isso". Minha filha me disse que deviam estar quebrando sigilos porque existiam dados, segundo ela, que só estavam no IR. Mas ela também não tinha certeza. Foi isso. Ocupou 5% do tempo da conversa. Isso foi tudo. Agora, essa questão de outubro, eu não sabia. Foi a Verônica que começou a me dizer que achava estranho, ela e meu genro... Há uma indústria de blogs mantida pelo PT. Ou mantém pagando no bolso direto, ou mantém através de terceirização. A TV Brasil paga a gente que tem blog sujo. É uma remuneração indireta. E que se dedicam (os blogs) à difamação. No caso do Eduardo Jorge, dos outros (tucanos), foi em função de campanha eleitoral. Desde 2006, havia "dossiês" com coisas delirantes de quando ela (a filha) morava nos Estados Unidos. Vocês não imaginam a sujeira que é isso. Quebrou (o sigilo) de mais gente, então, não é o PT. Claro que foi. Agora, pode ter usado um pé de chulé qualquer que chega lá e pega? Pode.

NOBLAT: Essa reportagem de outubro era sobre quebra de sigilo, sobre venda na Rua Santa Efigênia de dados sigilosos... Sobre um site que falava de dados sigilosos. Mostrava os de Lula, do filho do Lula, do senhor, de pessoas da sua família. E lá, nessa reportagem, o senhor já comenta isso. Diz que é um crime, que tem que ser combatido. O que eu pergunto é: isso já acontecia há mais tempo, não é o fato de acontecer agora... (Serra interrompe Noblat)

SERRA: Mas eu não tinha essa consciência. E também teria que se comprovar. Vou ser bem franco: vejo gente aí escrevendo que eu quis aproveitar, divulgar, me fazer de vítima e etc. Sabe qual foi a minha primeira reação quando soube da (quebra de sigilo) da Verônica? Não foi a de divulgar. Você não quer ver nome de seus familiares exibidos. Depois, ela trabalha, uma pessoa que não tem nada a ver com política. Por mim, não teria divulgado para não trazer amolação para ela. Sempre tive essa preocupação.

NOBLAT: Mas uma crítica que se faz é que o senhor deu muita importância a esse assunto - não que ele não merecesse - e está, com isso, tentando recuperar, eventualmente... (Serra interrompe)

SERRA: É uma crítica imbecil, primeiro, de quem não quer gastar neurônios para pensar no que está acontecendo. Segundo, é tipicamente de um comitê petista. Ou o sujeito que tem medo de patrulhamento. Não tem pé nem cabeça isso.

JORGE BASTOS MORENO: O senhor acredita que, após esta eleição, vai haver uma mexida partidária, independente de uma reforma política? O nível que está a campanha eleitoral para presidente adia um pouco um projeto, que é o sonho de muitos tucanos e de muitos petistas, não sei se é o seu também, de, no futuro, esses dois partidos (PT e PSDB) se unirem através de projetos comuns, já que eles nasceram, praticamente, afinados um com o outro?

SERRA: Não conheço esses tucanos. Devem ser mais exóticos ainda do que o tucano natural. Tem uma diferença PSDB-PT com relação à concepção do que é partido, do que é democracia, liberdade. Isso é antagônico. Não significa que não tem gente dentro do PT, gente dentro do outro lado que não tenha mais afinidade. Estou dizendo como partido, como instituição. Agora, eu eleito presidente, a parte política, pode está certo, será bem conduzida. Eu, no Ministério da Saúde, consegui aprovar seis leis importantes, que marcaram o sistema de saúde no Brasil. Mais uma emenda constitucional com o apoio da oposição. Sempre atendi todos. Eu conheço. Sei como são, como funciona a vida parlamentar. Eu creio que o governo Lula foi e tem sido um dos mais fracos da História em matéria de Congresso Nacional. Do que eu me lembro, realmente, só não foi mais fraco do que o do Collor. Estou me referindo ao período da democratização. Tudo lá, cada voto, tem que recompor a maioria e tem que ceder mais cargos porque, como começou assim, cria um círculo vicioso.

MERVAL PEREIRA: O PSDB tem a tradição de vencer em São Paulo. O senhor foi eleito prefeito e governador. No entanto, nas duas campanhas presidenciais, em 2002, o senhor perdeu para o Lula em São Paulo; agora está perdendo para a Dilma em São Paulo, enquanto Alckmin, em 2006, ganhou com uma diferença de quase 4 milhões de votos e Fernando Henrique ganhou, em 94 e 98, com cinco milhões de votos de diferença. Como o senhor explica esse insucesso no momento em São Paulo, estado que o senhor governou, e como o senhor imagina ganhar uma eleição perdendo no estado que governou?

SERRA: Não imagino; nós vamos ganhar em São Paulo. Não estou perdendo. Eleição não é uma partida de futebol. Eleição só tem um lance, um gol, que é no final. Então não considero que estou perdendo. O fato é que eu fiquei mais distante de São Paulo, a campanha só começou em agosto, tem o peso em relação a Dilma, da popularidade do Lula...

ELIO GASPARI: O que o senhor pretende fazer para colocar em funcionamento, de maneira eficaz, duas iniciativas nascidas no governo FH que atravessaram a atual administração sem resultados significativos. Primeiro, o ressarcimento ao SUS pelos planos de saúde de despesas feitas na rede pública para atendimento de seus clientes. Segundo, a generalização do cartão do SUS, pelo qual cada cidadão poderá ter, num só plástico, os dados relativos ao seu atendimento médico na rede pública.

SERRA: Essas foram iniciativas minhas no governo Fernando Henrique. Foram ideias minhas. E não tivemos tempo de concluir ou de implantar efetivamente. Por exemplo, o cartão SUS, eu comecei, consegui financiamento, e a gente pensava que o próximo governo desse sequência, e eles deixaram para trás.

ANCELMO: E essa questão do ressarcimento?

SERRA: Lógico, não tem nada mais justo. Estávamos nessa batalha, era uma batalha jurídica. Aprovou-se uma lei, as pessoas reagiram contra, com bons advogados, com a experiência que eles têm no setor, e nesse contexto é que mudou o governo e foi tudo deixado de lado. Até porque a ANS passou a ser loteada. Porque uma coisa gravíssima no Brasil foi o loteamento dessas agências de Estado, porque não são de governo, são de Estado. Isso é uma aberração. Isso é uma coisa que vai ter que se consertar no Brasil.

ZUENIR VENTURA: Quando foi que a sua campanha errou, se é que errou?

SERRA: Eu estou muito no calor da campanha para fazer uma análise a esse respeito. Não vejo erro. Às vezes as circunstâncias são mais fortes... Eu nunca na vida fiz passa-moleque. Aqui se diz isso (risos)? Quando você engana o outro, você faz um passa-moleque. É uma uma rasteira, combina uma coisa e faz outra. Posso ser chato, duro (...) Eu sou muito atento, mas eu tive um que foi o maior da minha vida, que foi o do Osmar Dias. Estava tudo combinado e de repente... Eu tenho um defeito em política, acredito que, quando a gente combina uma coisa, o outro vai cumprir. Se você disser, isso foi um erro? Pode ter sido, mas...

ZUENIR: Eu vi uma declaração atribuída ao ex-presidente Fernando Henrique que parece uma tentativa de explicar isso. Ele teria dito que o senhor não está sintonizado com o país, mas que há condições de mudar isso. O senhor concorda?

SERRA: Eu não vi essa declaração, sinceramente.

ARTUR XEXÉO: As pesquisas eleitorais, de certa forma, antecipam o resultado da eleição. Conheço eleitores seus que não têm mais esperança na sua vitória. Quando o senhor acorda e tem uma agenda enorme de campanha pela frente, o senhor acha que ainda vale a pena? O senhor acredita numa virada?

SERRA: Acho que vai ter uma virada. Se você me acompanhasse todo o período em que estou acordado, veria que estou com uma energia que não tive na minha vida. Essa energia provém de uma convicção de que vou ganhar. Do que provém essa convicção? O Brasil não vai votar num envelope fechado. É demais isso. Eu acredito que as pessoas vão se dando conta, sobretudo nessa reta final. Sobre pesquisas, posso dar exemplos de viradas e não viradas.

VERISSIMO: Entre várias semelhanças, numa coisa os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula são diferentes: na política externa. Se eleito, voltará a política antiga, menos terceiro-mundista e mais alinhada com os Estados Unidos?

SERRA: Farei outra política. No caso da família Verissimo, houve uma alternância. Leiam o livro "O senhor embaixador", do Erico Verissimo. Vocês vão ver que ele era admirador do Foster Dulles (ex-secretário de Estado americano na Guerra Fria, opositor do comunismo). Tem lá uma apologia porque o personagem está andando pelas ruas de Washington, quando o grande estadista Foster Dulles morreu. O filho passou para o lado contrário em matéria de questão externa. Vou ter uma política própria. Pega a política do Lula: primeiro teve muita promoção política, na época do Fernando Henrique também. Eu acho bom. Em geral, eu vou viajar menos pelo mundo. Na parte comercial, houve pouca agressividade comercial. No Lula menos ainda que no Fernando Henrique. No governo Fernando Henrique, investiu-se muito tempo no Mercosul. Não é aquela coisa simplificadora de que sou contra o Mercosul. O que tinha que ter sido feito era uma zona de livre comércio. Depois se faria uma união alfandegária. Mas isso é fruto de um amadurecimento, de décadas. Quiseram fazer logo de cara. Resultado: não funcionou. Na questão externa, de tarifas com o resto do mundo, de políticas comerciais, não se avançou como se devia na zona de livre comércio. O governo Lula fez más del mismo. E aí usando só para frufru. Para festival, chefes de Estado. A Venezuela entrar no Mercosul é uma piada. Acho que o governo Lula, em matéria de promoção comercial, não avançou nada. Teve um dado que eu levantei: houve cem tratados de livre comércio no mundo desde 2003, e o Brasil assinou apenas um. Com Israel, ainda com as restrições de que não pode ser das áreas contestadas dos assentamentos em terras palestinas. O Brasil vai ser o quinto PIB do mundo e, de cem tratados, só fez esse? O que foi feito é que, para entrar no Conselho de Segurança, ficaram-se abrindo embaixadas. A fatia do Brasil no comércio exterior mundial é a mesma. Apesar do boom de preços das exportações brasileiras, ficamos com a mesma fatia. O que me leva a desconfiar que, em termos físicos, se fosse possível calcular, nós diminuímos a participação no comércio mundial. Vamos fazer uma política agressiva de comércio exterior, de defesa comercial. Reconhecemos a China como uma economia de mercado a troco de quê? É uma medida cucaracha de política externa. Qualquer economia moderna, eficiente, competitiva tem mecanismos de defesa comercial. Finalmente, o Brasil não vai mais ter carinho e amizade por ditadores, por fascistas do século XXI.

FERNANDO CALAZANS: O Brasil será sede nos próximos anos dos dois maiores eventos esportivos do planeta: a Copa e os Jogos Olímpicos. Como o senhor pretende controlar os gastos públicos, que, nesses casos, sempre superam o que estava previsto - ou por superfaturamento ou por atraso nas obras. E segundo, no plano da segurança, o que pode ser feito?

SERRA: A base do crime organizado no Brasil é o contrabando de armas e drogas. Entre tudo o que a Dilma disse, o maior absurdo foi num debate de televisão, quando disse que as nossas fronteiras são as mais bem guardadas do mundo. É exatamente o oposto. Carro roubado entra no Paraguai em troca de armas. Até jornais fizeram reportagens comprando arma na Bolívia. Isso é a base do crime organizado. O preço da cocaína no Brasil caiu 50 vezes nos últimos 15 anos. Então, você tem aí um problema de oferta que é anterior e superior a todos os outros problemas, por incrível que pareça, porque é a base do crime organizado, e por isso que eu quero criar o Ministério da Segurança Pública. O governo federal não tirar o corpo fora como faz hoje. Você vê, a única proposta que o PT está fazendo, que a Dilma está fazendo, é criar UPP em todo Brasil, como se isso fosse a fórmula mágica. Uma medida que funciona no Rio restritamente. A solução para o Brasil é essa? Imagine. Com toda droga, essa coca, e essas armas que entram. Então, esse é um ponto. Como tem Copa e Olimpíada, naturalmente vai ter uma segurança muito reforçada, e isso não me inquieta. Quanto à questão de fazer, tudo ficou para o próximo governo. Tudo. Vai ter fazer isso direito, tem que sair. É um compromisso que um governo assumiu festivamente para o outro cumprir, e vai ter cumprir mesmo até porque são boas oportunidades. Para não ter superfaturamento precisa ter planejamento e, segundo, não deixar roubar. Negócio de roubar é não deixar. Não deixar, e dar o exemplo de cima. Isso é muito importante. Quando você tem uma autoridade que começa errado, a coisa vai para baixo com uma legitimidade que não tem tamanho.

NOBLAT: O senhor acha que o governo deixou roubar?

CANDIDATO: Eu acho que deixou. Não estou dizendo no caso da Copa, porque nem começou.

JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS: As atuais leis de incentivo à cultura têm, entre outros vícios, o de incentivar artistas e produtores poderosos que, a rigor, não precisariam de incentivo algum. Como o senhor vai mudar isso?

SERRA: O exemplo clássico é o Circo de Soleil, que teve incentivo. Acho que isso não deve acontecer. Isso foi decidido e aprovado por um conselho. Então não é erro da lei, mas da aplicação da lei.

CORA RÓNAI: Outro dia, o senhor falou que Índia e China seriam países com projeto de nação. Eu queria saber o que isso significa e saber o que falta ao Brasil para que possa ser considerado um país com projeto de nação?

SERRA: A China e a Índia têm mais ou menos claro para onde querem ir em matéria de desenvolvimento, defendem seus interesses na política internacional, de economia, política-política, não são exibidos. Defesa de interesse não é exibição, são discretos. No fundo, (o que acontece hoje), é o seguinte: estamos caminhando para voltar ao modelo hasta fuera de crescimento de antigamente, diante dos anos 30. Ou vamos ser um país industrial aberto mas competitivo. Hoje está caminhando para trás. Acho que a minha eleição representará no sentido do Brasil perseguir um modelo de crescimento sustentado com indústria da vanguarda junto com a agricultura.

ARNALDO JABOR: Agora que o Lula está atacando frontalmente sua campanha: quando o senhor vai defender o governo anterior? Quando vai mostrar à população que, sem o Plano Real, sem as leis que o governo anterior criou, como responsabilidade fiscal, privatizações, consolidação da dívida interna, telefonia, o governo Lula seria apenas um populismo virtual?

SERRA: Vou mostrar ao Jabor o estoque de debates, discursos, gravações, para ele poder ter uma ideia mais realista sobre o que a campanha está fazendo.

ARNALDO BLOCH: Em abril, Chico Buarque confessou a uma revista francesa que vai votar na Dilma porque é a candidata do Lula e disse: "eu gosto do Lula". Em seguida, acrescentou que não vê grande diferença se o Serra ganhar: "A Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença." Meses depois, Cacá Diegues, numa entrevista em que não declarou seu voto, disse a mesma coisa: "Em linhas gerais, não vejo grande diferença." Ontem (anteontem), a candidata Marina, aqui neste auditório, também disse isso: "Não vejo muita diferença entre Serra e Dilma." De onde vem essa noção de que o senhor é parecido com a Dilma? E como é sua relação hoje com a classe cultural?

SERRA: Vindo da parte do Chico esse comentário, acho até uma colher de chá. Vindo da parte do Cacá, que é meu colega da UNE, fiquei curioso. Acho que há uma diferença imensa. Mas acho que, apesar de tudo, ele (Cacá) vai votar em mim. Mesmo achando que dá na mesma. Acho que é mais uma posição política com relação a uma certa insatisfação, que eu não sabia, de condução da campanha do que propriamente em relação à minha pessoa. Quero dizer que respeito, o Cacá é muito inteligente. Ainda bem que não li isso antes. Na campanha, não posso ter estresse. Você falou da cultura. Eu tenho amigos na área da cultura, mas nunca desenvolvi uma política junto aos artistas, aos fazedores de cultura mais ativos. Mas, em compensação, na prefeitura e mesmo no governo federal, eu meti o bico. Inclusive houve um projeto de recuperação do patrimônio histórico que foi ideia minha. Quando eu estava no Planejamento, o BID financiou. Sempre fui muito ligado, até porque na universidade eu cheguei a ser ator, diretor do grupo teatral da Politécnica. Na prefeitura, criei a Virada Cultural, que foi um sucesso estrondoso em São Paulo. Agora foi feita no Rio também. E no estado, o orçamento que mais cresceu foi o da cultura.

ANCELMO GOIS: Fernando Henrique Cardoso prometeu duas vezes que a questão da violência urbana seria prioridade. Não foi. Lula também prometeu aqui que a questão da violência urbana seria um prioridade. Não foi. Por que acreditar que com o senhor vai ser uma prioridade?

SERRA: Porque o que falo eu faço.

ANCELMO: Já Fernando Henrique e Lula...

SERRA: Não estou dizendo que é o caso dele (Fernando Henrique). Tudo o que o Ministério da Justiça tem em matéria de segurança foi criado na época do Fernando Henrique. Houve alguns equívocos, por exemplo, a Secretaria Nacional Antidrogas. Ele fez uma péssima nomeação. Resultado: uma coisa nova, boa, acabou naufragando, não fazendo o que deveria ter feito. Mas tomou as iniciativas. Depois (no governo Lula) só se fez fru-fru.

'É o mesmo fenômeno Maluf-Pitta'

SERRA NA SABATINA DO GLOBO: "A ética na política, na vida pública, está chegando ao chão", disse, sobre o atual governo

Foi respondendo a uma pergunta da leitora Maria Thereza Bunte que o tucano José Serra fez uma das críticas mais fortes à adversária do PT, Dilma Rousseff. E voltou a bater forte nas considerações finais.


MARIA THEREZA BUNTE: O senhor aprovaria a possibilidade de o presidente voltar após ter sido reeleito?

JOSÉ SERRA: Acho que reeleição não é uma boa. Não deu certo no Brasil. Não vou transformar isso em objetivo de governo. Agora, voltar depois, eu deixaria... Aliás, o Lula só tem uma chance de ser candidato em 2014, de novo: se eu ganhar. Se a Dilma ganhar, o Lula não se elege deputado. O que aconteceu com o Paulo Maluf em São Paulo? Ninguém sabia quem era o (Celso) Pitta, ele se elegeu, o que aconteceu? Aliás, só falta o Lula dizer: "Não votem mais em mim se a Dilma não governar bem". Maluf disse isso. Só falta isso, ele já disse tudo. O único jeito de o Lula ser candidato e ganhar em 2014 é se eu ganhar.

JORGE BASTOS MORENO: O que mais irrita a Dilma é ser comparada ao Pitta...

SERRA: Não sabia. São duas pessoas diferentes (Dilma e Pitta). Estou me referindo ao fenômeno político. Alguém que está perto da inexistência política, que é inventado pelo governante que está saindo e tem popularidade, que não tem ideias próprias, conta com uma máquina avassaladora em cima. Porque o Lula ainda é mais forte que o PT. No caso da Dilma, ela é muito mais fraca que o PT. Esse tipo de fenômeno é o Maluf com o Pitta, sim. O essencial da análise é: você votar num candidato que de fato não vai governar. Se quiser governar, vai dar a maior briga, dura uma semana. Ainda mais com o PT no meio, o partido da encrenca. Nos escândalos do PT, foi tudo cavado por eles mesmos. O PSDB, em matéria de armar confusão para os outros, de descobrir escândalos, é uma nulidade. O caso do mensalão é clássico, não teve nada a ver com o PSDB ou a oposição. Mais ainda: na época, pessoas importantes do governo procuraram Fernando Henrique e outros, querendo conversar para não ter impeachment, e foram muito bem recebidas. Curioso é que hoje se acusam de golpe aqueles que foram procurados para que o presidente pudesse se sustentar.

RICARDO NOBLAT: O PT se queixa muito da imprensa, diz que a imprensa é serrista. O senhor também se queixa da imprensa? Acha que ela beneficia a candidatura do PT?

SERRA: Eu me queixo, mas defendo que a imprensa seja livre. Não defendo censura de imprensa com o nome de conferência, congresso, comitê, participação popular etc. Que na verdade não são. Sou ardoroso defensor dessa liberdade.

NOBLAT: O senhor acha que a imprensa é mais simpática com o PT?

SERRA: Não diria isso. No atacado, não. Mas uma coisa que entre os tucanos se fala é: imagina se fosse o Fernando Henrique, certas coisas que o Lula faz ou fala. Imagina se o Fernando Henrique estivesse na campanha, como o Lula está. Seria um escândalo, viriam manifestos... Lembra em 2002? Inventaram que tinha um filme sobre o Lula, que iria passar no meu programa. O Zé Dirceu foi procurar o FH. Tudo inventado. Aí veio um manifesto assinado por Antonio Candido, Celso Furtado, para defender que não tivesse baixaria. Aquilo era pintinho perto do que estão aprontando nesta campanha, só com coisas familiares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

SERRA: Estou convencido de que esta eleição vai ser muito importante para o Brasil neste século. O governo Lula se beneficiou de uma conjuntura única da economia mundial. Não lembro outro período de bonança como este. Mas este período não foi aproveitado para colocar o Brasil num rumo de crescimento de médio e longo prazos. Temos fundamentos sólidos para um desenvolvimento sustentado, que é o que importa. Esta eleição vai decidir muito o que vai acontecer na economia, na sociedade. A ética na política, na vida pública, está chegando ao chão. A banalização dos piores costumes da política, desvalorização do mérito, das instituições, dos direitos individuais... Ou tomamos rumo diferente ou entramos num processo de desgaste e perda de rumo muito acentuado. Acho que esta eleição vai definir isto: o que vamos fazer neste século. Essa percepção é que me levou a ser candidato. Então, entrei nesta luta como a luta da minha vida. O que temos agora é a luta entre o mito e uma proposta. O mito é que o Lula continuaria governando, de fora. Mesmo que continuasse de dentro, atravessaria um momento muito complicado. O modelo Lula se esgotou. E botar lá gente que vai continuar com essa privatização do Estado, os abusos, o desrespeito à democracia, incompetência, desconhecimento da realidade, falta de propostas, governo publicitário é um risco muito grande para o Brasil. É uma análise serena, não se trata de causar alarme. Votar num envelope fechado é uma temeridade. Estou sendo muito sincero, não estou fazendo discurso para angariar votos. É minha convicção.

Perguntas que Dilma deixou sem resposta

DEU EM O GLOBO

Ao se recusar a debater com leitores e colunistas do GLOBO, a candidata do PT, Dilma Rousseff, deixou sem resposta perguntas como as duas abaixo:

Verissimo: Se eleita, qual será seu primeiro gesto, aquele ato de impacto que costuma inaugurar governos? Ou não haverá nada disso?

Ricardo Noblat: Se Lula não a tivesse escolhido, a senhora cogitava ser candidata a qualquer outra coisa?


O que Dilma não respondeu

Perguntas que colunistas do GLOBO fariam para a petista, que se recusou a debater

Ancelmo Gois

Eu gostaria de repetir a pergunta que fiz a Lula, então candidato em 2002, até porque, em que pesem as promessas do atual presidente, de lá para cá o problema se agravou ainda mais. Por que acreditar que, com a senhora na Presidência, o problema da violência poderia ser atenuado?

Merval Pereira

Candidata, a senhora vem sofrendo uma transformação radical, à vista de todos, tanto na fisionomia quanto na ideologia. Qual é a verdadeira Dilma, a gerentona do governo, que já colocou muitos ministros a chorar depois de discussões, ou a mãe gentil do povo brasileiro? A que coloca o chapéu do MST e diz que não trata dos movimentos sociais na base da polícia, ou a que diz que não convém colocar o chapéu do MST e que não tolerará ilegalidades? A que se orgulha de ter participado da luta armada contra a ditadura e foi saudada por José Dirceu como "minha companheira em armas" ou a que nega ter pegado em armas contra a ditadura? A que classificou de "rudimentar" a proposta do então ministro Antônio Palocci de limitar os gastos do governo, ou a que defende o corte de gastos e tem o mesmo Antônio Palocci como coordenador de sua campanha?

Ilimar Franco

A necessidade de uma reforma política é recorrente no discurso de todos os partidos. Os presidentes da República falam de sua necessidade, mas nenhum deles assumiu a responsabilidade de levá-la adiante. Nas gestões do presidente Lula, a Câmara esteve próxima de aprovar uma reforma que previa a votação em lista fechada para a Câmara dos Deputados e o financiamento público das campanhas. Se a senhora for eleita presidente da República, pretende trabalhar pela votação de uma reforma política? A senhora é favorável, ou não, ao voto em lista? A senhora é favorável, ou não, ao financiamento público?

Ricardo Noblat

Se Lula não a tivesse escolhido para ser candidata à sucessão dele, a senhora cogitava ser candidata a qualquer outra coisa? Caso seja eleita e Lula queira voltar em 2014, a senhora abrirá mão da reeleição?

Jorge Bastos Moreno

Qual a sua verdadeira posição em relação ao sistema de partilha do pré-sal, já que, como integrante do governo, a senhora não foi tão enfática?

Elio Gaspari

No campo político a senhora defende a introdução do voto de lista. Vamos ser claros: desde 1946 o eleitor brasileiro votou em candidato para a Câmara dos Deputados, indicando-o nominalmente. Por exemplo: o eleitor quer votar em Dilma Rousseff para deputado e vota em Dilma Rousseff. Como funcionará isso no seu sistema de lista? O eleitor votará no partido, digamos o PTB, presidido por Roberto Jefferson, e qual será a ordem de entrada dos candidatos? A da vontade da direção do PTB ou de qualquer outro partido que organizou a lista?

Zuenir Ventura

A senhora disse que a oposição está com medo de que uma mulher dê certo na Presidência. A senhora já se considera eleita? Não é cedo para cantar vitória?

Verissimo

Se eleita, qual será o seu primeiro gesto, aquele ato de impacto que costuma inaugurar governos? Ou não haverá nada disso?

Chico Caruso

Como pretende conviver com caricaturas e caricaturistas, se for eleita?

Míriam Leitão

O governo tem banalizado o crime de quebra de sigilo fiscal dos líderes da oposição e familiares do candidato José Serra com frases espantosas. O ministro da Fazenda disse que vazamentos sempre acontecem; o presidente Lula perguntou num comício "cadê esse tal de sigilo?"; a senhora declarou que falar disso é desespero e jogo eleitoral da oposição. Tente imaginar a situação inversa: os dados da sua filha sendo espionados no órgão que deve zelar pela proteção constitucional do sigilo. O que a senhora sentiria? A senhora considera normal que órgãos do Estado sejam usados para espionar adversários políticos?

Flávia Oliveira

Uma das primeiras medidas do governo Lula na área econômica foi a elevação dos juros básicos para controlar uma inflação crescente em 2002/2003. O resultado foi um primeiro ano de governo com PIB estagnado. Que medidas fiscais e monetárias a senhora pretende adotar no início do seu mandato para manter o Brasil com crescimento econômico e baixa inflação?

Fernando Calazans

A senhora disse que, se eleita, estenderia a mão para os adversários. A mão ainda pode ser estendida? É possível ou impossível um entendimento, no governo, com o PSDB? Por quê?

Artur Xexéo

Uma das áreas mais polêmicas do atual governo, a administrada pelo Ministério da Cultura, não recebeu até agora uma só menção no seu programa do horário eleitoral. Caso ganhe as eleições, quais são as suas prioridades na área da cultura?

Joaquim Ferreira dos Santos

O presidente Lula praticamente não esteve presente a eventos de cultura, como uma peça de teatro, um concerto de clássicos ou música popular. A senhora também não tem sido vista em plateias de cultura. Qual a sua relação pessoal com os hábitos culturais?

Cora Rónai

A senhora tem sido apresentada, na sua campanha, como um duplo do presidente Lula, "Lula e Dilma", como se ambos tivessem governado o país juntos ao longo dos últimos anos. Caso venha a ser eleita, a parceria continua? Teremos "Dilma e Lula" no poder?

Arnaldo Jabor

Se a senhora for eleita, vai seguir a trilha do Lula, mais conciliadora, ou vai dar ouvidos às ordens de petistas de carteirinha como Dirceu, Berzoini e outros?

Arnaldo Bloch

O maestro John Neschling disse que teve um encontro com a senhora e ficou impressionado com seu conhecimento das óperas russas, a ponto de cantar árias inteiras. Como a senhora vê, em contrapartida, a situação da cultura brasileira, completamente ausente do debate eleitoral?

Mais uma procuração falsa de Atella

DEU EM O GLOBO

Sigilo de genro de Serra também foi quebrado por meio de apresentação de documento falsificado em Santo André

Sérgio Roxo e Silvia Amorim

SÃO PAULO e RIO. Sérgio Rosenthal, advogado de Verônica Serra, filha do presidenciável José Serra (PSDB), disse ontem que os dados fiscais do genro do candidato, Alexandre Bourgeois, também foram violados por uma procuração falsa, apresentada pelo mesmo Antônio Carlos Atella Ferreira à agência da Receita Federal em Santo André, ABC paulista. O falso documento, diz o advogado, consta dno inquérito da Polícia Federal que apura a violação do sigilo fiscal de Verônica. Atella, que usou falsa procuração também em nome de Verônica, é filiado ao PT.

- Foi o mesmo procedimento criminoso que permitiu o acesso ao sigilo da Verônica. Diante disso, é possível inferir que os dados do Alexandre também foram acessados - disse Rosenthal, ao deixar a Superintendência da PF em São Paulo.

Carimbo falsificado também é do 16º Tabelião de SP

A filha de Serra teve seu sigilo fiscal violado em 29 de setembro de 2009 na delegacia de Receita em Santo André. Os dados foram acessados após Atella entregar uma procuração falsa em nome de Verônica. Esses dados teriam sido usados num dossiê montado por petistas.

O advogado esteve de manhã na sede da PF para marcar a data do depoimento de Verônica e Bourgeois e teve acesso, pela primeira vez, à investigação. O falso documento, segundo ele, também tinha carimbo falsificado do 16º Tabelião de São Paulo, mesmo cartório que Atella usou para quebrar o sigilo da filha de Serra. E foi entregue à Receita no mesmo dia em que deu entrada no departamento a procuração que permitiu a violação dos dados de Verônica.

Rosenthal disse que ficou surpreso ao ver a falsa procuração de Bourgeois, uma vez que a própria Receita divulgou, esta semana, que o genro de Serra não tivera dados fiscais acessados por funcionários do órgão, mas só dados cadastrais. Para o advogado, a procuração em nome de Bourgeois reforça a tese de ação orquestrada com interesses político-eleitorais:

- Não entendi por que esse documento não veio à tona até agora - afirmou.

O que se sabia, até então, era que o genro de Serra teve os dados cadastrais acessados em 16 de outubro de 2009, na Receita em Mauá. O acesso ocorreu no terminal usado pela servidora do Serpro Adeildda Ferreira Leão dos Santos, de onde também foram extraídas ilegalmente cópias das declarações de Imposto de Renda de pessoas ligadas ao PSDB, incluindo o vice-presidente do partido, Eduardo Jorge Caldas Pereira.

Verônica e seu marido serão ouvidos pela PF na próxima quarta-feira, em São Paulo. O horário ainda não foi definido. Um dos objetivos da investigação é colher a assinatura da filha do presidenciável para confrontá-la com a rubrica que consta na procuração apresentada à Receita, e que teria sido falsificada.

A filha de Serra está no exterior, e seu retorno ao Brasil está previsto para hoje.

No inquérito, há documentos comprovando que Atella apresentou outras duas procurações para obter dados fiscais em São Paulo, uma delas em nome de José Gomes Graciosa, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio, em novembro de 2009. Pela assessoria, Graciosa disse que não conhece Atella e nunca firmou tal procuração.

Ontem no Rio, ao saber da falsa procuração em nome do genro, Serra disse não ter se surpreendido:

- Vejo isso sem grandes surpresas, pois isso tem sido a metodologia do crime contra as pessoas, que tem sido praticado nesta campanha. De maneira que cada dia tem uma novidade, mas tudo dentro daquele processo de confronto do PT.

Colaboraram Henrique Gomes Batista e Maiá Menezes

Falsificações usaram mesmo selo

DEU EM O GLOBO

Roberto Maltchik e Gerson Camaroti

BRASÍLIA. O selo usado para fraudar a procuração que permitiu a violação do Imposto de Renda da filha de José Serra, Verônica Serra, também serviu para falsificar documentos levados à Receita Federal seis meses depois.

Em ofício enviado anteontem à Corregedoria da Receita, o tabelião Fábio Tadeu Bisognin, do 16º Tabelionato de Notas de São Paulo, informa que o selo que legitimaria a assinatura de Verônica é o mesmo usado para falsificar um pedido de extinção do nome fantasia de uma empresa de equipamentos para direções hidráulicas, que funciona em Mauá (SP), em março deste ano.

O documento básico de entrada de CNPJ da empresa AWF Comercial, com assinatura fraudulenta, foi apresentado em 8 de março de 2010. A violação do sigilo da filha de Serra ocorreu em 30 de setembro de 2009. A falsificação de março tem as mesmas características da fraude que resultou na quebra do sigilo fiscal de Verônica, indica o tabelião.

De acordo com o tabelião, "é impossível que um mesmo selo seja utilizado em dois atos distintos".

Receita orientou fraude em procurações, diz servidora

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A servidora da Receita Federal Ana Maria Caroto Cano, investigada pela quebra de sigilo fiscal de cinco pessoas ligadas ao candidato José Serra (PSDB), afirmou à Polícia Civil de São Paulo que foi orientada pela Corregedoria do Fisco para "encobrir" violações de dados fiscais. O corregedor-geral da Receita, Antonio Carlos Costa d"Ávila, nega. A servidora foi levada a prestar depoimento sobre as quebras de sigilo após denúncia do aposentado Edson Pedro dos Santos. Ele acusou o marido da servidora, José Carlos Cano Larios, de tentar fazer com que assinasse uma procuração em seu nome para acessar dados da Receita. Segundo o depoimento de Santos, o marido de Ana Maria bateu à porta de sua casa há cinco dias e disse: "Minha mulher é funcionária da Receita, eu preciso que o senhor assine aqui dando autorização para que ela acesse suas declarações de renda dos exercícios 2007 e 2008."

Receita orientou fraude, diz servidora

Funcionária afirma em depoimento à Polícia Civil que foi orientada pela corregedoria do Fisco para "encobrir" violações de dados fiscais

Bruno Tavares e Roberto Almeida

Ana Maria Caroto Cano, servidora da Receita investigada pela violação de sigilo fiscal de cinco pessoas ligadas ao presidenciável José Serra (PSDB), afirmou em depoimento à Polícia Civil de São Paulo que foi orientada pela corregedoria do Fisco para "encobrir" violações de dados fiscais.

A servidora foi levada a prestar depoimento sobre as quebras de sigilo no 1º Distrito Policial de Mauá (SP) após denúncia do metalúrgico aposentado Edson Pedro dos Santos. Ele acusou o marido da servidora, José Carlos Cano Larios, de tentar fazer com que assinasse uma procuração em seu nome para acessar dados da Receita.

Segundo o depoimento de Santos obtido pelo Estado, o marido de Ana Maria bateu à porta da casa dele na última segunda-feira e declarou: "Minha mulher é funcionária da Receita, eu preciso que o senhor assine aqui dando autorização para que ela acesses suas declarações de renda exercícios 2007 e 2008. Quem fez esse pedido é o contador que fez suas declarações."

Santos pegou a procuração, mas não assinou. No dia 7 de setembro ele procurou seu contador e o indagou sobre o caso. "Você pediu acesso ao meu Imposto de Renda?" O contador negou e o aconselhou a procurar a polícia. No dia 8 o aposentado deixou uma carta no 1.º Distrito Policial de Mauá narrando o que tinha acontecido.

Ontem, ele disse que não imaginava que seu caso tivesse relação com o escândalo de violações de sigilo na Receita. Em 2008 ele foi candidato a vereador de Mauá pelo PPS. "Fiquei na dúvida. Ainda bem que meu contador me alertou para procurar a polícia. Até agora mão sei explicar por que queriam acessar meus dados."

Segundo o delegado Marcos Carneiro, chefe do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), Ana Maria e seu marido afirmaram que as assinaturas começaram a ser colhidas a pedido da corregedoria do Fisco, após a série de reportagens sobre o escândalo.

O objetivo, segundo a funcionária da Receita, seria o de "justificar" acessos ilegais a declarações de Imposto de Renda. Segundo a polícia, Ana Maria foi indagada sobre quem na corregedoria a teria orientado a "encobrir" as violações de dados fiscais, mas não citou nomes.

"Segundo ela, (as autorizações) são de pessoas que pediram favores e ela teria feito o acesso", afirmou o chefe da Demacro. "Quando começou a reportagem maciça, Ana Maria foi orientada, segundo ela, por funcionários da corregedoria da Receita, para que declarassem que o acesso aos dados foi por vontade própria. Isso não corresponde. Esse cidadão (o metalúrgico aposentado) foi o primeiro que achou estranho", afirmou Carneiro.

Ana Maria Caroto Cano é filiada ao PMDB-SP desde setembro de 1981. Segundo a corregedoria do Fisco, que a investiga, partiram do computador dela acessos supostamente imotivados a 114 CPFs.

Reação. O corregedor-geral da Receita, Antonio Carlos Costa D"Avila, reagiu, em nota, à declaração de Ana Maria sobre a "orientação" do órgão . "A Corregedoria-Geral da Receita Federal do Brasil contesta e repudia a informação divulgada pela imprensa de que haveria orientado a servidora Ana Maria Rodrigues Caroto Cano, que está sob investigação, a providenciar qualquer documento para encobrir ou justificar irregularidades cometidas."

Lula faz campanha durante agenda de governo

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente aproveita compromissos em Suzano e São Bernardo para atacar gestão tucana em SP e promover candidaturas de Dilma e Mercadante

Roberto Almeida

Oficialmente, o presidente Lula cumpriu ontem "agenda de trabalho" em São Paulo, conforme definição do próprio site da Presidência. Na prática, porém, transformou solenidades de inauguração em Suzano e São Bernardo do Campo em comícios petistas, atuando como cabo eleitoral de Dilma Rousseff e Aloizio Mercadante. E atacou duramente as gestões tucanas no Estado.

Ao inaugurar um campus universitário em Suzano, diante de uma plateia de cerca de 300 estudantes e moradores da cidade, Lula classificou como uma "vergonha" os números da educação das gestões tucanas no Estado e no governo federal. Lula afirmou que há 704 mil estudantes beneficiados pelo Programa Universidade Para Todos (ProUni), do governo federal, ante 96 mil alunos matriculados em universidades públicas em São Paulo. E responsabilizou a "elite paulista".

"O fato de que o ProUni tem neste momento mais alunos que todo o sistema de ensino público universitário em São Paulo demonstra que a elite paulista que governou este Estado nunca se importou em colocar o pobre para fazer universidade", disse em durante discurso. "O maior Estado da Federação, o mais rico do País, que tem mais indústria, a maior renda per capita, só tem 96 mil alunos estudando em escola pública do Estado. É, na verdade, uma vergonha para o Brasil, e sobretudo para a elite que governou o Estado de São Paulo até agora."

"Ignorância". Mais tarde, em São Bernardo, voltou a usar uma solenidade oficial, para entrega de Unidade de Pronto Atendimento 24 horas, como palanque de campanha. E mirou diretamente no tucano José Serra, principal rival de Dilma na corrida presidencial. Acusou o governo Serra de agir com "pura ignorância" ao não investir no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

PSDB de São Paulo reage às críticas de Lula

DEU EM O GLOBO

Para tucanos, petista mistura papéis de líder e cabo eleitoral

SÃO PAULO. As críticas do presidente Lula às gestões tucanas causaram uma resposta imediata do governo de São Paulo e do PSDB paulista, que, em nota, o acusou de "confundir os papéis de líder da nação e cabo eleitoral". O ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza, hoje secretário de Educação de São Paulo, em nota, acusou Lula de "mentir deslavadamente" ao dizer que é o presidente que mais criou universidades e escolas técnicas.

Para tucanos, mais vagas ociosas nas universidades

Ontem, Lula afirmou que, enquanto nas universidades públicas de São Paulo há 96 mil alunos, já passaram pelo ProUni 234 mil alunos. "O que cresceu no governo Lula foram vagas mal planejadas e ociosas e a evasão escolar, além de gastos e contratações de pessoal. Entre 2003 e 2008, diminuiu em termos absolutos o número de formandos nas federais: foram 84.036 em 2008, contra 84.341 em 2003", afirmou o ex-ministro, em resposta.

A Secretaria de Saúde de São Paulo também respondeu à crítica sobre a acusação, feita por Lula, de que o governo paulista não investiu no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência (Samu). "A contrapartida do governo do estado seria o atendimento dos casos de urgência encaminhados pelas ambulâncias aos hospitais estaduais", informou a secretaria, em nota.

PF prende políticos aliados de Lula e Sarney no Amapá

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Investigação aponta ação de quadrilha liderada pelo governador do Estado e outras autoridades

A Polícia Federal prendeu no Amapá o governador Pedro Paulo Dias (PP), o ex-governador Waldez Góes (PDT) e outras 16 pessoas, sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de bens, tráfico de influência, fraude em licitações e formação de quadrilha. Dias é candidato à reeleição, e Góes tenta o Senado. Ambos contam com apoio explícito do presidente Lula e da candidata à Presidência Dilma Rousseff (PT), e o ex -governador é aliado do senador José Sarney (PMDB-AP). A operação da PF detectou que, sob o comando do governador, a máquina do Estado era dominada por uma quadrilha de altos funcionários que fraudavam 9 em cada 10 licitações, superfaturando os contratos e cobrando e distribuindo propinas abertamente. O Planalto não quis comentar a proximidade de Lula com os políticos presos.


PF prende governador, ex-governador e presidente de TCE do Amapá

Rui Nogueira e Vannildo Mendes

Um governo inteiro atrás das grades e sob investigação por corrupção ativa e passiva, peculato, lavagem de dinheiro, ocultação de bens, tráfico de influência, fraude em licitações públicas e formação de quadrilha. Esse foi o saldo final da Operação Mãos Limpas que a Policia Federal deflagrou no Amapá, na madrugada de ontem, quando prendeu o governador Pedro Paulo Dias (PP), que é candidato à reeleição, e o ex-governador Waldez Góes (PDT), que disputa vaga no Senado.

Ambos têm apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. O ex-governador também é aliado do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Ao todo, a PF prendeu 18 pessoas com autorização do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), João Otávio de Noronha, que preside o inquérito desde que as investigações, iniciadas em agosto de 2009, alcançaram a cúpula do Estado. O governo foi entregue ontem ao presidente do Tribunal de Justiça (TJ) do Amapá, o desembargador Dôglas Evangelista Ramos.

O terceiro na linha sucessória, o presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Amanajás (PSDB), está impedido de assumir o Executivo porque concorre ao governo do Estado, mas também foi alvo de um mandado coercitivo - obrigado a acompanhar a PF, submetido a interrogatório e liberado em seguida.

A Operação Mãos Limpas detectou que, sob o comando do próprio governador Pedro Dias, que era vice de Waldez antes deste se desincompatibilizar para concorrer ao Senado, a máquina do Estado era dominada por uma quadrilha de altos funcionários que fraudavam 9 em cada 10 licitações, superfaturando os contratos, cobrando e distribuindo propinas abertamente.

O acerto prévio na escolha de empresas era tão escancarado que uma única empresa de segurança e vigilância manteve "contrato emergencial" por três anos com a Secretaria de Educação do Estado. O valor da fatura mensal com a secretaria era de R$ 2,5 milhões. A PF mapeou pagamentos e tem provas de que o dinheiro era desviado para contas dos políticos e assessores do governo.

Todos os presos, por ordem do ministro Noronha, deveriam chegar na madrugada de hoje a Brasília. O governador Pedro Dias e o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), José Júlio de Miranda Coelho, vão ficar nas celas da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-governador do DF José Roberto Arruda ficou por dois meses.

Os outros 16 presos do Amapá vão para celas do presídio da Papuda. Depois de Arruda, o governador do Amapá foi o segundo a ser preso no exercício do cargo.

Petista confunde "fralda" com "fraude" e encerra entrevista

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Graciliano Rocha
De Porto Alegre

A presidenciável Dilma Rousseff (PT) confundiu as palavras "fraude" e "fralda" e encerrou entrevista coletiva em sua primeira aparição pública após o nascimento do neto em Porto Alegre.

Sem participar de atos de campanha desde anteontem para acompanhar o parto de Paula, sua filha única, Dilma disse no início da entrevista, em tom de brincadeira, que gostaria de falar de fraldas e mamadas do neto Gabriel.

Cerca de 25 minutos depois, um repórter começou a fazer uma pergunta sobre "fraldas" e foi cortado pela candidata, que aparentemente pensou que ele se referia ao escândalo da Receita.

"Eu não falo mais sobre fraudes, vocês me desculpem, vocês perguntem isso para o meu adversário [José Serra, do PSDB], que isso é a pauta dele", afirmou a candidata antes de deixar a sala.

Segundo Dilma, o nascimento de Gabriel foi momento mais feliz de sua vida. "Os avós sempre me disseram que a gente fica meio bobo [com os netos]. Estou hoje meio boba", disse.

Um dia antes, Lula pediu votos para Góes

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Candidato ao Senado pelo PDT exibiu depoimento de presidente na TV na véspera de prisão pela Polícia Federal

Trecho da gravação foi exibido de novo ontem; no RS, Dilma disse que corrupção é combatida "doa a quem doer"

Graciliano Rocha
De Porto Alegre

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apareceu no horário eleitoral gratuito do Amapá pedindo votos para o ex-governador e candidato a senador Waldez Góes (PDT) na véspera de ele ser preso pela Polícia Federal sob suspeita de integrar um esquema de corrupção.

Góes e o atual governador do Estado, Pedro Paulo Dias (PP), que concorre à reeleição, foram presos com outras 16 pessoas, ontem pela manhã, sob suspeita de participar do desvio de verbas federais e estaduais. A operação da PF foi batizada de Mãos Limpas.

A mensagem de apoio de Lula ao candidato, um depoimento que dura 28 segundos, foi ao ar na noite de quinta, horas antes da deflagração da ação policial.

No vídeo, o presidente olha direto para a câmera e diz que aprendeu a importância de ter apoio no Senado para governar bem. Lula afirma: "Quando for presidenta, Dilma vai precisar de senadores que ajudem a aprovar seus projetos".

O presidente encerra a aparição pedindo votos para o pedetista: "Aqui no Amapá vote em Waldez Góes, que está com Dilma".

Parte do depoimento voltou a ser exibida no programa da tarde de ontem, após o candidato ter sido preso.

Em Porto Alegre, a presidenciável petista Dilma Rousseff elogiou a operação da PF e declarou que o governo Lula combate a corrupção "doa a quem doer".

"[A operação] é absolutamente de acordo com o que sempre fizemos. A gente tem tido em relação à Polícia Federal, à CGU [Controladoria Geral da União] e a todos os órgãos de investigação a seguinte orientação, sempre foi a [orientação] do presidente Lula: "desmantele esquema de corrupção doa a quem doer"."

COLADO A LULA

O governador preso tentava se vincular a Lula e Dilma. Quatro dias antes de ser preso, obteve na Justiça Eleitoral o direito de veicular imagens com os dois, já que seu companheiro de chapa, Alberto Góes, é do PDT, que integra a coligação de Dilma.

Na disputa ao governo, Góes enfrenta o candidato Camilo Capiberibe (PSB), que tem o apoio do PT.

POEMA :: Carlos Pena Filho

Senhora de muito espanto,
vestindo coisas longínquas
e alguns farrapos de sono,

eu vim para te dizer
que inutilmente contemplo
na planície de teus olhos
o incêndio do meu orgulho.

Senhora de muito espanto,
sentada além do crepúsculo
e perfeitamente alheia
a realejos e manhãs.

Eu vim para te mostrar
que se inaugurou um abismo
vertical e indefinido
que vai do meu lábio arguto
ao chumbo do teu vestido.

Senhora de muito espanto
e alguns farrapos de sono,
onde o céu é coisa gasta
que ao meu gesto se confunde.

Um dia perdi teu corpo
nas cores do mapa-múndi.