quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Reflexão do dia - Marco Antonio Villa

O PT não gosta de ser atacado. Na verdade, hostiliza quem o ataca. Tem enorme dificuldade de conviver com a crítica. Imagina ser o proprietário de um pensamento único, algo como o velho centralismo democrático leninista. Quem for contrário deve se calar. Seus dirigentes acabaram se acostumando com uma oposição pouco atuante. Que passou os últimos oito anos quase que em silêncio, temendo o debate, acreditando piamente nos índices de popularidade do presidente .


(Marco Antonio Villa, no artigo,’Tigre de papel’, na Folha de S. Paulo, ontem)

Boca fechando:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A pesquisa do Ibope divulgada ontem pelo “Jornal Nacional” mostra que a diferença entre a candidata oficial, Dilma Rousseff, e o tucano José Serra se reduziu pela metade desde a eleição de 3 de outubro. De 47% dos votos válidos, Dilma aumentou 6 pontos, chegando a 53%, enquanto Serra, que teve 33% nas urnas, hoje está com 47%, tendo crescido nada menos que 14 pontos em dez dias.

A diferença de 14 pontos caiu para seis com o início da propaganda oficial e depois do primeiro debate do segundo turno, na TV Bandeirantes.

Ou, como dizem os especialistas quando a diferença entre os candidatos se estreita, “a boca do jacaré está fechando”.

É possível tirar a ilação de que o tom mais agressivo utilizado pela candidata Dilma Rousseff não surtiu efeito.

O resultado da pesquisa do instituto Vox Populi, que faz pesquisas para o PT, também divulgada ontem, que deu uma diferença de 8 pontos para Dilma, igual ao detectado pelo Datafolha depois do primeiro turno, mas antes do debate televisivo, pode ser atribuído à data em que foi realizada.

Enquanto o Ibope foi feito entre os dias 11 e 13, o Vox Populi fez a sua pesquisa no domingo e na segunda-feira.

Como estava programado o debate para a noite de domingo, a pesquisa só pegou parcialmente o efeito dele na opinião dos eleitores.

O difícil é entender por que o instituto Vox Populi fez questão de sair a campo no próprio domingo, antes do debate.

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A Nuvem


A guerra santa em que está se transformando perigosamente a campanha presidencial já tem sua crítica quase em tempo real em um novo livro do acadêmico Carlos Nejar, que está sendo lançado pela editora R&F.

“A nuvem candidata à Presidência” relata em tom de crônica a atual campanha eleitoral, com todos os candidatos perfeitamente identificados, embora com outros nomes, e uma vencedora, a própria Nuvem do título.

Um ditado muito conhecido é o que diz que “política é como nuvem, cada vez que se olha está diferente”.

Nejar foi buscar a própria nuvem para falar de uma candidata nefelibata, perdida com seus sonhos no meio de uma guerra eleitoral.

A candidata oficial é Dila Mene, homenagem à amada de Camões, Dinamene, que um lapso do escrivão pôs a perder, e o presidente explica: “Dila sou eu hoje! Dila sou eu amanhã. Sou eu sempre Dila”.

A candidata oficial “mudou a aparência, os penteados, mas não se adaptou ao espetáculo, atriz novata no palco, atropelando a metade das falas ditadas da coxia”.

O opositor principal é Teodorico Serra, que detesta cães e gatos, “não tem carisma, tudo nele é forçado, (...) reúne preparo e certa tendência ao autoritarismo”.

Albertina “é filha da floresta, suave, elegante, inteligente nos debates, mas perde-se na miudeza do partido e dos programas, que é como querer chegar na Lua montada sobre um cavalo”.

Há ainda Plínio, O Velho, “trazendo os oráculos gregos e latinos, com um socialismo corroído nas ruínas e que parece novo, diante do formol ou espartilho da situação e de certa oposição que não tem ideias. Igual a seu homônimo da antiguidade, pode ser engolido pelo Vesúvio eleitoral que preserva os grandes devorando os pequenos”.

Nejar cita Laurence J. Peter, o educador canadense autor do“ Peter principle” (Princípio de Peter) que diz que, numa burocracia de sistema hierárquico, todo funcionário tende a ser promovido até o seu nível de incompetência.

Pois Peter também definiu que “entrar numa igreja não o torna cristão, assim como entrar numa garagem não a transforma em um carro”.

Crítica que, para Nejar, poderia ser perfeitamente dirigida às súbitas aparições de candidatos ateus em igrejas, “com o rosto mais resignado e eclesial”.

E, como que já prevendo a polêmica que está instalada na campanha presidencial, ele relata as dificuldades da candidata Dila Mene para definir sua religiosidade.

Perguntada em 2007 se acreditava em Deus, uma pergunta recorrente a todos os candidatos a presidente, ela respondeu: “Eu me equilibro nessa questão.

Será que há? Será que não há?”.

Já em fevereiro deste ano, perguntada se tinha alguma religião, respondeu, respondeu peremptória: “Não, mas respeito”.

Em abril, disse na TV Bandeirantes: “Acredito numa força superior que a gente pode chamar de Deus”.

Em maio, perguntada pela revista Isto é se era católica, saiu-se com essa: “Sou.

Quer dizer, antes de tudo cristã. Num segundo momento, católica. Num terceiro, macumbeira”.

Albertina é decididamente evangélica, e Teodorico Serra é católico apostólico romano. Certa feita, em uma reunião de evangélicos, misturou “fumantes e ateus”.

Escreve Nejar: “Talvez para ele o ateu seja um fumante do nada e o fumante, um ateu do cigarro. Ou talvez o ateu seja um charuto, e o fumante, vapor engarrafado”.

Já a Nuvem, em vez da Bolsa-Família, inventou a Bolsa-Futuro, “que é a societária paz. Criando formas de as famílias, com o próprio esforço, se sustentarem”.

Letícia, o nome da Nuvem, relata Carlos Nejar, “viu cumprir-se sua vitória nas urnas sem saber ao certo onde estava. E escutava os alaridos das ruas. Não sei, leitores, se o sonho lhe pregou uma peça, ou se ela é que pregou uma peça ao sonho. O fato é que todos os dias se uniram àquele dia. Como se os sinos de muitos e muitos anos tocassem numa só vez. E a alma de repente quisesse vir para fora do corpo”.

Maioria cativa:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Os partidos governistas, assim compreendidos os que são aliados do governo Luiz Inácio da Silva, elegeram maioria expressiva no Congresso Nacional: mais de 60% dos deputados federais e quase 60% dos senadores, numa conta que considera 7 senadores e 66 deputados "independentes".

As pesquisas indicavam que os governistas seriam em maior número, cerca de 70%, até um pouco mais, tanto na Câmara como no Senado. De qualquer modo, um quadro muito diferente daquele desenhado pela eleição de 2002, quando Lula chegou ao poder.

Em 2003 tomaram posse 254 deputados tidos como governistas e 259 considerados oposicionistas. No Senado o cenário era ainda mais favorável à oposição: 31 governistas para 50 oposicionistas.

A situação não demorou a se alterar e, principalmente na Câmara, na eleição seguinte a correlação de forças estava não só invertida, como era de impressionantes 353 governistas para 160 oposicionistas.

No Senado, apesar de o governo ter se fortalecido (49 senadores para 32 da oposição) a vida continuou difícil para o Palácio do Planalto, notadamente por causa do comportamento do PMDB.

Para 2010, Lula tinha um plano: dizimar os oposicionistas no Senado. Conseguiu parcialmente, ao trabalhar para derrotar adversários como Tasso Jereissati, Marco Maciel e Artur Virgílio, mas não "fez" os 58 senadores previstos.

Ficou com 48 das 81 vagas, sem contar as cadeiras do PP, PV, PSOL e sem partido, enquanto à oposição ficaram reservados 26 lugares.

O PMDB agora bem mais firme do lado lulista porque o presidente do partido será vice-presidente da República, se Dilma Rousseff for eleita presidente.

E se o resultado for outro, e se José Serra ganhar?

Problema nenhum. Ficará em minoria no Congresso algumas semanas até que os partidos antes aliados a Lula se tornem aliados ao novo presidente.

Os analistas estrangeiros terão algum trabalho para explicar aos respectivos públicos o fenômeno, por aqui sobejamente conhecido e absolutamente lamentável, da formação de maiorias no entorno no poder, qualquer que seja ele.

Caso seja Serra e não Dilma o vencedor, tais partidos terão adaptação rápida, uma vez que migraram para a seara petista vindos exatamente de onde agora se prontificariam a voltar em nome do patriotismo e da governabilidade.

Sinuca. Os líderes religiosos exigem de Dilma praticamente um rompimento público com causas caras ao PT - casamento entre homossexuais e descriminalização do aborto, entre outras - quando pedem que ela divulgue uma carta aberta se comprometendo a não mexer com esses assuntos.

Se for preciso, o partido aceitará calar até a eleição, mas é difícil acreditar que aceite a situação, uma vez ganha a Presidência. Inclusive porque é o presidente do PT quem chama de "medieval" o debate dos temas de caráter religioso.

Pesos. Compreende-se que o PT queira "inflar" o personagem Paulo Preto, procurando criar correspondência no PSDB com o caso Erenice Guerra. Trata-se, porém, de uma comparação militante.

A acusação ao Paulo Preto é de ter desviado R$ 4 milhões doados à campanha de José Serra. Questão a ser resolvida pelo PSDB, por suposto.

Já as denúncias envolvendo Erenice dizem respeito a desvios públicos engendrados a partir da Casa Civil da Presidência da República, cuja acusada um dia antes de ser orientada a pedir demissão ainda recebia crédito de confiança por parte da candidata Dilma.

Querer que o episódio tucano tenha agora o mesmo efeito que teve o caso petista no primeiro turno é apostar alto no poder da manipulação dos fatos.

Ou querer produzir imparcialidade de maneira artificial.

Egotrip. De um tucano "coordenador" de campanha sobre a possibilidade de vitória no segundo turno: "Vai depender do psiquiatra do Serra."

Lavando a alma :: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL (online)

Assisti, domingo, por dever de ofício, a todo o áspero debate de duas horas pela TV Bandeirantes entre os candidatos Dilma Rousseff e José Serra, com a troca de insinuações, denúncias, ferroadas, no estilo de bate-boca de fim de feira livre, no avanço às xepas que engambelam a fome dos pobres. Dilma e Serra partiram para o tudo ou nada. Em tácito acordo pouparam o presidente Lula, que anda sumido para escapar das pedradas da oposição.

Talvez os próximos debates da todo-poderosa TV Globo e da Record aproveitem os ensinamentos do ringue da Bandeirantes.

E não há maior dificuldade em reconhecer que o engessamento do debate em fatias minúsculas de dois, três minutos sufoca a naturalidade da conversa em todos os tons. Dilma e Serra buscaram atingir os pontos fracos do adversário.

Mas erraram o alvo. Serra não explorou a marcação cerrada de Lula contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que deve interessar a poucos alcoviteiros e deixa na maioria a constrangedora impressão de despeito. Ora, FHC depois de receber Lula e a esposa, dona Maria Letícia, no Palácio do Planalto, que retribuiu a gentileza com o convite ao casal para um jantar, viajou para a Europa, onde fatura em dólares por cursos e palestras em diversos países. Vem ao Brasil poucas vezes e por alguns dias.

Nesta campanha, FHC anunciou seu apoio óbvio ao candidato José Serra. Há uma escorregadela ética no ódio que Lula cultiva pelo seu antecessor. O mais popular presidente de todos os tempos, que passa metade do ano viajando pelo mundo sem gastar um centavo, não se satisfaz com a popularidade recordista e que ignora as muitas falhas da indispensável rotina.

O presidente Getulio Vargas foi um trabalhador que varava as madrugadas despachando o “volumoso expediente”.

Pois, governar é também despachar processos.

Uma tarefa indelegável. Lula não lê nem folheia um processo. A leitura provoca-lhe azia e enjoo.

Mas não o incomoda nas viagens da sua permanente campanha. Cada vez passa menos tempo no seu gabinete para assinar os despachos, sem acrescentar uma linha.

Nesta reta final, com a série de debates entre Dilma e Serra, anunciados pelas redes de TV, Lula não tem como participar.

Mas vai à forra, com pesadas declarações contra o candidato José Serra.

A acreana Marina Silva, presidente do Partido Verde, não apoiará a Dilma, que a perseguiu como ministra do Meio Ambiente. E os seus 20 milhões de votos no primeiro turno e que levaram à nova campanha para a decisão nas urnas de 31 de outubro, apesar do favoritismo da Dilma, não são favas contadas.

Esta semana, tive o privilégio de uma conversa telefônica com o ex-presidente e atual senador eleito Itamar Franco. Lavei a alma com o amigo de muitos anos e que é um homem de bem. Trocamos as nossas preocupações com a crise ética e moral que atinge os três poderes, em especial o pior Congresso de todos os tempos e que deve ceder a coroa ao próximo, a julgar pelo desfile de candidatos no abominável horário de propaganda eleitoral.

Aprendi o truque. Nas próximas recaídas no porão do vexame pelo desprestígio da minha profissão, telefonarei para o senador Itamar Franco, um homem de bem.

Inflexão :: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A agressividade, ops!, a "assertividade" de Dilma Rousseff no debate da Band marcou uma nítida inflexão na sua campanha e veio para ficar. Os programas do PT estão mais pesados, forçando a comparação entre o governo de Lula e o de FHC e insistindo que os tucanos privatizam até a mãe. A Dilma boazinha já era.

Já o Serrinha reforça o gênero paz e amor, apesar dos rompantes. Surpreendido pela reviravolta da adversária, parece no segundo turno um padre pregando a união entre todos os irmãos.

Se Dilma é objetiva, Serra está subjetivo. Ela fala em Bolsa Família e Luz Para Todos, programas que atingem diretamente a "vida das pessoas" -expressão que sempre repete para engatilhar os 28 milhões que saíram da miséria. Ele responde com conceitos abstratos: "caráter", "verdade", "coerência", "honestidade". Além disso, se Dilma se esforça para falar e para mostrar gente, Serra insiste em falar de empresas e de investimentos.

Num movimento pendular, Lula some da propaganda de Dilma, e Fernando Henrique aparece na de Serra, como se um já tivesse dado tudo o que tinha de dar à campanha e o outro estivesse sendo redescoberto oito anos depois.

Dilma vinha perdendo votos devagar e sempre desde o fim do primeiro turno.

Evidentemente, acendeu uma luz amarela na sua candidatura, que deu uma chacoalhada no jeitão e joga com o confronto.

Serra, que foi favorecido pela queda de Dilma e principalmente pela ascensão de Marina Silva, não chacoalhou nada, optando pelo personagem sereno e confiável. Devem ter bons motivos -ela para jogar o personagem boa moça fora, e ele para manter o bom moço no ar.

Com a distância encurtando, mas ainda bem favorável a Dilma, ela precisa segurar a sangria, ele tem de ousar. O problema dos dois é que, com o tempo apertado, não dá mais para improvisar nem para testar. É acertar ou acertar a mão.

Munição anti-Dilma é do próprio lulismo – Editorial:: O Globo

Para usar uma imagem do boxe, é como se, numa luta de dois rounds, uma esmagadora maioria previsse a vitória de um dos lutadores por nocaute.

Porém, um golpe inesperado daquele marcado para perder jogou o adversário favorito, zonzo, nas cordas, enquanto soava o gongo do intervalo. É assim que parece a candidata Dilma Rousseff, que tenta se refazer do susto de não ter acabado com a eleição no primeiro turno, e parte para o ataque, na campanha do segundo, aposentando o manual de boas maneiras usado no início da luta.

Se vai funcionar, não se sabe. A primeira pesquisa do segundo turno, do Datafolha, registrou grande estreitamento na vantagem que Dilma ostentava em relação a Serra. Os 54% a 46% dos votos válidos levantados pela sondagem refletiram um importante sangramento de votos dilmistas iniciado na última semana de campanha do primeiro turno. Ontem, foi a vez do Ibope, divulgado no “Jornal Nacional”: 53% a 47%. Confirma-se a aproximação de Serra. A julgar pelo primeiro debate do segundo turno, domingo na TV Bandeirantes, uma das armas sacadas pela candidata oficial, como fizera Lula no segundo turno de 2006, o “fantasma” das privatizações, encontra um candidato tucano rápido no gatilho da réplica, ao contrário de Geraldo Alckmin naquela ocasião. Além disso, os quatro anos de governo lulopetista concedidos a mais pelo eleitorado demonstraram que sacrossantas estatais terminaram privatizadas, mas de maneira deletéria: privatizadas pelo fisiologismo político, caso do setor elétrico; pelo aparelhamento, em que se destaca a Petrobras; e para a criação de dificuldades a fim de se venderem facilidades, como ocorrido nos Correios sob a influência de Erenice Guerra e herdeiros.Dilma Rousseff e o PT se apresentam como vítimas de torpes acusações espalhadas pela internet.

O ponto nevrálgico dos ataques tem sido a lembrança de que a candidata já defendeu a legalização do aborto, tema que, infelizmente, tem servido para contaminar o debate político por crenças religiosas. Até aqui, a campanha tem servido de alerta ao PT, alvejado por uma artilharia conhecida por militantes do partido: textos e filmes distribuídos pela internet. Outro aspecto de todo este tiroteio é que parte da munição de que se valem grupos para atacar Dilma Rousseff é obtida em documentos oficiais. Neste sentido, não se pode, a rigor, entender como calúnias algumas mensagens que circulam na rede de computadores. Afinal, como o governo Lula é um conglomerado de correntes ideológicas, com várias capitanias hereditárias distribuídas pela máquina pública, e algumas delas controladas por agrupamentos de esquerda autoritária, não é difícil encontrar propostas radicais, emanadas de dentro do governo, contrárias à Constituição.

Quem consultar a terceira versão do “Plano Nacional de Direitos Humanos”, assinado pelo próprio Lula, encontrará muito daquilo de que a candidata quer manter distância: descriminalização do aborto, censura à imprensa, ataque ao direito constitucional de propriedade etc. A própria Dilma chegou a encaminhar à Justiça eleitoral parte desse plano como programa de seu governo. Diante da má repercussão, voltou atrás. Haja o que houver, Lula paga hoje um preço por ter abrigado no governo correntes cujo projeto de país nada tem a ver com as aspirações das classes médias que aumentam de peso na sociedade brasileira

Freire diz que virada de Serra sobre Dilma está próxima e convoca militantes para campanha de rua

DEU NO PORTAL DO PPS

Foto: Tuca Pinheiro
Freire convoca militantes para confirmar, nas ruas, a virada de Serra.

Por: Assessoria do PPS

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, espera para os próximos dias uma virada do candidato a presidente José Serra (PSDB) sobre a governista Dilma Rousseff (PT). Segundo ele, as últimas pesquisas Datafolha e Ibope e as sondagens internas feitas pela coligação "O Brasil Pode Mais" indicam esse caminho. "Há uma tendência clara de redução da vantagem de Dilma sobre Serra. A virada está próxima", afirma Freire, que convoca todos dirigentes do partido e a militância para sair às ruas reforçar a campanha de Serra neste segundo turno das eleições.

"É hora de irmos à rua. Temos uma cordenação nacional de campanha, mas, paralelo a isso, é importante a iniciativa individual de cada um. Vamos conseguir o voto de um amigo, de um parente. E é fácil pegar material de campanha. Basta entrar no site de Serra e pedir", orienta Freire. Os jingles, artes, avatar, fotos e outros materiais podem ser baixados no próprio site e para receber o material impresso em casa basta acessar aqui e preencher o formulário. Também é possível ir até o comitê do Serra em sua cidade e solicitar o kit de campanha.

"Estamos mobilizados e a redução da diferença de intenção de votos entre os candidatos é evidente", reforça Freire, deputado federal eleito por São Paulo. Ele informou ainda que os parlamentares do PPS já trabalham forte pela vitória de José Serra nos estados. Nesta semana estão sendo realizadas várias reuniões de organização de campanha e atos políticos por todo o Brasil

Acesse aqui para receber em sua casa o kit da campanha Serra45

Baixe aqui outros materiais de campanha

O País real e a candidata :: José Israel Vargas

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Externei recentemente, neste espaço, preocupações sobre a ciência e a tecnologia brasileiras, a meu ver, obstáculo maior ao desenvolvimento econômico e social almejado para o nosso país. Verifico agora que perplexidade de índole ainda mais ampla vem de ser retratada, em manchete de primeira página, por um de nossos grandes jornais diários, ao questionar: Quem vai administrar o País real?

Estou convencido de que, a despeito do inegável progresso econômico e social ocorrido em continuação ao trabalho realizado pelas administrações passadas, o angustiante grito de alarme reflete a insegurança quase generalizada no País sobre a qualidade da liderança atual e da que pode emergir do segundo turno do pleito eleitoral. De um lado, acabamos de assistir, no primeiro turno, ao desempenho tíbio da oposição, talvez devido à influência oportunista de marqueteiros, deixando de oferecer, na ocasião, soluções para os graves e abrangentes problemas do País real. De outro lado, a possível reassunção do poder de vasta aliança articulada entre opções políticas díspares, sob o guante do chefe inconteste tanto do partido "social-nacionalista" quanto da antiga súcia, sempre ávida em aderir ao eventual poder do dia.

A força do líder da aliança afirmou-se paulatinamente pela prática de contrafações sistemáticas de fatos bem sabidos de nossa História recente. Transmudadas em "herança maldita", elas são ostentadas como sólidas verdades para engodo de suas audiências, mobilizadas a um só tempo em despeito e autolouvação ostensiva. Nessa trajetória, vem posando de autor exclusivo de grandiosas obras e iniciativas políticas, executadas ou em curso de execução, "jamais dantes" testemunhadas pela humanidade embasbacada, em ilustração eloquente do desprezo que o líder vota ao saber e à verdade. Infeliz e antiga atitude, genialmente retratada pelo Bardo: "O prêmio com que mais se alevanta o engenho, não o dá a Pátria, não, que está entregue ao gosto da cobiça..."

A candidata escolhida exclusivamente pelo líder da aliança, a então poderosa ministra da Casa Civil, levou a Copenhague (COP 15) a proposta brasileira sobre medidas destinadas a mitigar o clima, usurpando desta feita, no grande encontro, as atribuições da ministra Marina Silva, de fato a responsável pela área... É fácil imaginar as razões que levaram o presidente da Republica à inusitada preterição: as eleições! O propósito era expor a candidata em fórum internacional, armada de batuta de comando erguida discricionariamente até mesmo por sobre os profissionais da área e do próprio Itamaraty.

O Brasil renunciou ao privilegio conferido pelo Tratado do Rio (1992) a ele e a outros países em desenvolvimento, que consistia na isenção de reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa, por terem iniciado tardiamente sua industrialização, geradora das referidas agressões ambientais.

Tanto a China como a Índia, à vista de suas contribuições importantes para o efeito estufa e submetidas a fortes pressões internacionais, comprometeram-se a reduzir em 30% suas emissões poluentes até o ano de 2020 e vincularam as reduções paulatinas a frações bem definidas de seu produto interno bruto (PIB) anual.

Já o Brasil adotou meta de reduzir as suas emissões, até aquele ano, em cerca de 39%, sem, contudo, especificar, até agora, o ritmo anual e as práticas necessárias à promoção das reduções anunciadas. O País comprometeu-se também a observar a meta (parcial) de reduzir em 80% o desmatamento, em relação ao ano de 2005. Tal fração, somada à da agropecuária, constitui 58% do total das nossas emissões, mas nosso governo igualmente deixou de apontar os valores anuais das ações indispensáveis ao cumprimento dessas obrigações.

É, pois, duvidoso que esses compromissos sejam cumpridos, tanto mais que o seu cumprimento envolverá profunda reestruturação do sistema agropecuário nacional, bem como intenso reflorestamento compensatório do desmatamento decorrente tanto da expansão da infraestrutura na região amazônica (usinas hidrelétricas, linhas de transmissão e estradas) quanto das demandas de madeira para a construção civil e outras obras pelo País afora. De fato, a correlação entre o aumento do PIB nacional e o desmatamento é hoje bem conhecida, e o "sucesso" alardeado para sua redução seria, pois, devido antes à recente crise econômica do que às medidas adotadas pelo governo.

Da mesma lavra surgiria projeto de lei sobre direitos humanos, enviado ao Congresso Nacional "sem ler", justificou-se a atual candidata oficial. Diante dos protestos da opinião pública em defesa das liberdades democráticas, esse projeto foi retirado. Entretanto, renasceu das cinzas, reapareceu no programa para o futuro governo petista e teve - talvez provisoriamente - o mesmo destino da iniciativa anterior, também lançado no limbo por falta de leitura... Hábito que parece ser a marca deste governo.

Registre-se que o mesmo governo do qual se tornou figura central a digna candidata se alinha também com um acordo sobre direitos humanos estabelecido entre o Brasil... Cuba e China! A tanto vai o nosso amor pela justiça. Vamos, assim, manter relações mais do que amistosas com governos apontados pela comunidade internacional como criminosos.

Finalmente, o apoio dado à candidatura de um assumido queimador de livros ao alto cargo de diretor da Unesco, organização das Nações Unidas dedicada à promoção da educação, da cultura, da ciência, da informação e da comunicação, bem ilustra que essas atividades são cada vez mais estranhas ao atual governo brasileiro.


Ph.d. pela Universidade de Cambridge, professor Emérito da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, foi Ministro da Ciência e Tecnologia

Os falsários :: Demétrio Magnoli

DEU EM O GLOBO

Carlos Augusto Montenegro, o presidente do Ibope, profetizou há muitos meses uma vitória folgada de José Serra no primeiro turno. A campanha não havia começado e o Ibope não tinha pesquisas relevantes. O Oráculo falou para bajular aquele que, presumia sua sabedoria política, seria o próximo presidente. Mais tarde, durante a campanha, de posse de inúmeras pesquisas, o Oráculo asseverou com a mesma convicção que Dilma Rousseff venceria no primeiro turno. A bajulação aos poderosos de turno obedece a uma lógica inflexível. Na mesma entrevista, ele sugeriu que a oposição atentava contra a democracia ao repercutir os escândalos no governo. Cada um fala o que quer, nos limites da lei, mas o Oráculo de araque não se limita a isso: ele vende um produto falsificado.

Pesquisas de opinião declaram uma margem de erro e um intervalo de confiança. A margem de erro expressa a variação admissível em relação aos resultados divulgados. O intervalo de confiança expressa a confiabilidade da pesquisa - ou seja, a probabilidade de que ela fique dentro da margem de erro. Na noite de 3 de outubro, o Ibope divulgou as pesquisas de boca de urna para a eleição nacional e para 16 Estados, registradas com margem de erro de 2% e intervalo de confiança de 99%. Das 17 pesquisas, 12 ficaram fora da margem de erro. O intervalo de confiança real é inferior a 30%. Um cenário similar, catastrófico, emerge das pesquisas para o Senado. Há tanta diferença assim entre isso e vender automóveis com defeitos nos freios?

O Ibope não está só. Datafolha, Sensus e Vox Populi não fizeram pesquisas de boca de urna, mas suas pesquisas imediatamente anteriores também não resistem ao cotejo com as apurações. Todos os grandes institutos brasileiros cometem um mesmo erro metodológico, bem conhecido pelos especialistas. Eles usam o sistema de amostragem por cotas, que tenta produzir uma miniatura do universo pesquisado. A amostra é montada com base em variáveis como sexo, idade, escolaridade e renda. Isso significa que a escolha dos indivíduos da amostra não é aleatória, oscilando ao sabor de variáveis arbitrárias e contrariando os princípios teóricos da amostragem estatística.

O Gallup aprendeu a lição depois de errar na previsão de triunfo de Thomas Dewey nas eleições americanas de 1948. Venceu Harry Truman e o instituto mudou sua metodologia, adotando um plano de amostragem probabilística, que gera amostras aleatórias. Quase meio século depois, os institutos britânicos finalmente renunciaram à amostragem por cotas. O copo entornou em 1992, quando as pesquisas baseadas na metodologia furada previram a vitória trabalhista, mas triunfou o conservador John Major. Na sequência, uma equipe de especialistas identificou o problema e apresentou a solução. Os institutos brasileiros conhecem toda essa história. Não mudam porque a metodologia atual é mais prática e barata. Vendem gato por lebre.

A amostragem por cotas não permite calcular a margem de erro. Os institutos "resolvem" a dificuldade chutando uma margem de erro, que exibem como fruto de cálculo rigoroso. Como as eleições brasileiras costumam ter nítidos favoritos, eles iludem deliberadamente a opinião pública, cantando acertos onde existem, sobretudo, equívocos. Não é um fenômeno novo. Jorge de Souza, no seu Pesquisa Eleitoral: Críticas e Técnicas (Editora do Senado, 1990), já registrava que 16 das 23 pesquisas Ibope referentes às eleições estaduais de 1986 se situaram fora da margem de erro - o mesmo desastroso intervalo de confiança, em torno de 30%, verificado neste 3 de outubro.

Nem todos os institutos são iguais. O Datafolha conserva notável isenção partidária, embora também utilize o indefensável sistema de amostragem por cotas. O Oráculo do Ibope anda ao redor dos poderosos, sem discriminar partidos ou candidatos, farejando oportunidades em todos os lados. Marcos Coimbra, seu congênere do Vox Populi, pratica uma subserviência mais intensa, porém serve apenas a um senhor. Durante toda a campanha, o Militante assinou panfletos políticos governistas fantasiados como análises técnicas de tendências eleitorais. Dia após dia, sem descanso, sugeriu a inevitabilidade do triunfo da candidata palaciana no primeiro turno. Sua pesquisa da véspera do primeiro turno, publicada com fanfarra por uma legião de blogueiros chapa-branca, cravou 53,4% dos votos válidos para Dilma Rousseff. Errou em 6,5 pontos porcentuais, quase três vezes a margem de erro proclamada, de 2,2%.

Pesquisas, obviamente, não decidem eleições. Mas elas têm um impacto que não é desprezível. Sob a influência dos humores cambiantes do eleitorado, supostamente captados com precisão decimal pelas pesquisas, consolidam-se ou se dissolvem alianças estaduais, aumentam ou diminuem as doações de campanha, emergem ou desaparecem argumentos utilizados na propaganda eleitoral, modifica-se a percepção pública sobre os candidatos. Os institutos comercializam um produto rotulado como informação. Se fosse leite, intoxicaria os consumidores. Sendo o que é, envenena a democracia.

Beto Richa, o governador eleito em primeiro turno no Paraná, obteve da Justiça Eleitoral a proibição da divulgação de pesquisas eleitorais que não o favoreciam. A censura é intolerável, principalmente quando solicitada por alguém que se comprazia em dar publicidade a pesquisas anteriores, nas quais figurava à frente. Ele poderia ter usado o horário eleitoral para expor a incúria metodológica dos institutos e o lamentável papel desempenhado por alguns de seus responsáveis, como o Oráculo e o Militante. A opinião pública, ludibriada a cada eleição, encontra-se no limiar da saturação. Mais um pouco, aplaudirá o gesto oportunista de Richa e clamará pela censura. Que tal os institutos agirem antes disso, mesmo se tão depois do Gallup?

Ah, por sinal, qual é mesmo a taxa de aprovação do governo Lula?

Sociólogo, é Doutor em Geografia Humana pela USP.

Embate agora tem Serra na ofensiva e erosão do favoritismo de Dilma: Jarbas de Holanda

1) A campanha da nova etapa da disputa presidencial – propiciada pelos quatro pontos percentuais que, nos últimos 15 ou dez dias antecedentes de 3 de outubro, Marina Silva subtraiu dos índices de intenção de votos de Dilma Rousseff, bem mais do que a fatia que desviou de Serra, menos de dois pontos, segundo o Datafolha divulgado no dia 9 – começou a travar-se num clima basicamente distinto, até oposto ao dominante ao longo da do 1º turno. Ademais da contenção, pelo menos inicial, do radicalismo de propostas do PT e retórico do presidente Lula, de par com um aumento do papel de Michel Temer e da máquina nacional do PMDB (consequências do adiamento da decisão que valorizei na semana passada), o novo clima é marcado pela atitude ofensiva assumida pela campanha do candidato oposicionista, em contraponto a uma postura defensiva do Palácio do Planalto e de sua candidata (que a disfarçou em agressividade no debate com o adversário na TV Bandeirantes). Essa postura é reflexo do choque, que, inesperadamente, eles tiveram com a erosão eleitoral sofrida no Sul, no Sudeste e também no Centro-Oeste (resultante das denúncias sobre escândalos praticados no governo; da repulsa às ameaças dele e da candidata ao papel de imprensa nessas denúncias; da vinculação de Dilma à descriminalização do aborto, facilitada por proposta favorável a isso do PT e agora explorada em favor da campanha oposicionista).

2) Uma recuperação, possível mas incerta, do cenário anterior de consistente favoritismo de Dilma Rousseff passa a depender não apenas de que ela mantenha a larga vantagem de que desfruta no Norte e no Nordeste mas também de que contenha essa erosão. O que certamente vai levar o presidente Lula, após o impacto da frustração com o 2º turno, a se jogar na campanha dela, nas próximas semanas, com um grau de envolvimento, pessoal e do governo, ainda maior do que verificado até 3 de outubro. Com o qual buscará compensá-la por meio de radicalização social do discurso voltado ao eleitorado de baixa renda e menor grau de escolaridade, em especial o das periferias das cidades e regiões metropolitanas do Sudeste e do Sul. Discurso de caráter classista, pobre versus rico, semelhante ao que usou contra Geraldo Alckmin no 2º turno de 2006, e diferente do de cunho moderado, nesse aspecto, que deverá caber à candidata.

3) Por seu turno, favorecido pela competitividade que enfim ganhou, a campanha de Serra concentrará esforços, viáveis, em alargar a vantagem, que obteve na região Sul, em ampliar a pequena superioridade conseguida em São Paulo (menos de 800 mil votos) e em reduzir bastante a diferença pró-Dilma em Minas Gerais. Isso tudo combinado com promessas, populistas, direcionadas sobretudo para o Nordeste, de um salário mínimo de R$600 e de aumento das aposentadorias e do Bolsa Família, bem como com o empenho para atrair a maior parcela dos eleitores de Marina Silva nas capitais das diversas regiões. A conquista desses eleitores é importante principalmente no Estado do Rio, onde Serra teve votação muito baixa. Quanto à Minas, a percepção do peso de um salto da votação lá, capaz de compensar o amplo predomínio lulista no Nordeste, teria induzido Serra, segundo informação de algumas colunas políticas, a garantir a Aécio Neves que não disputará reeleição em 2014 caso seja vitorioso agora.

“A sucessão sequestrada”

Trechos de editorial do Estado de S. Paulo, do dia 11. Que, após reafirmar apoio manifestado à candidatura de José Serra, condena com veemência “ataques de grupos mais conservadores de diferentes denominações cristãs” a Dilma Rouseff “sob a alegação de que, se eleita, ela patrocinará a liberação total do aborto”: “Na passagem hoje mais citada de uma entrevista concedida em 2007, ela considerou um ‘absurdo’ que o aborto seja considerado um crime no Brasil. Isso não faz dela uma candidata pior ou melhor. Os critérios pelos quais se devem avaliar os aspirantes à chefia do governo são de outra natureza. Excluem a defesa ou a condenação de posições na esfera do comportamento individual em razão de convenções religiosas, ou da falta delas, salvo se o candidato prometer mudar a legislação para autorizar ou proibir determinada prática na órbita privada. Não foi o caso de Dilma”. “Quando um clérigo sustenta que o aborto deve ser proibido em qualquer hipótese, cabe aos seus correligionários agir, na vida real, de acordo ou em desacordo com esse ponto de vista. Trata-se de uma decisão de estrito foro íntimo. O que o sacerdote não pode querer é que o Estado laico se dobre aos dogmas de sua fé. O país já passou por esse debate quando tramitava não Congresso o projeto, afinal aprovado, permitindo experiências com células tronco embrionárias para fins terapêuticos. Agora, na polêmica do aborto, a perspectiva só pode ser a da saúde pública – a interrupção da gravidez é a terceira causa da mortalidade materna no Brasil. Ainda é tempo de “civilizar” o segundo turno,resgatando-o da tutela religiosa”.

Dilma promete a igrejas vetar teses históricas do PT

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ela se compromete com evangélicos a negar ampliação de direito ao aborto, casamento homossexual e novo registro civil para transexuais

João Domingos

BRASÍLIA - Na luta para garantir o voto dos eleitores evangélicos, a candidata do PT, Dilma Rousseff, comprometeu-se a vetar questões polêmicas previstas no Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), que foi montado dentro do próprio governo.

Entre os itens que prometeu vetar, caso eleita, estão a ampliação do direito ao aborto, o casamento de pessoas do mesmo sexo e a mudança no registro civil para transexuais. Disse ainda que respeitará a livre organização religiosa e os cultos evangélicos. Para reforçar o compromisso, a campanha de Dilma estuda a divulgação de uma carta.

Fruto de seguidas conferências de direitos humanos - uma marca dos governos do PT -, até agora o PNDH-3 vinha sofrendo críticas por prever o controle social dos meios de comunicação e a revisão na Lei da Anistia, mas nunca havia sido atacado por um ex-ministro do atual governo. E com a importância de Dilma.

Em resposta às promessas da candidata, de que questões como o aborto, a fé e o homossexualismo não devem fazer parte da política do governo, 51 representantes de Igrejas Evangélicas que se reuniram com Dilma e com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o almoço, ontem, disseram que a partir de sábado vão anunciar o apoio à petista em seus templos e cultos.

Dilma tem razão para ceder tanto aos evangélicos, a ponto de abjurar de parte do Programa de Direitos Humanos. De acordo com o pastor Ivanir de Moura, presidente da Federação Evangélica de Santa Catarina, hoje os evangélicos são cerca de 50 milhões, detendo por volta de 25 milhões a 30 milhões de votos.

Passagem secreta. Lula também contribuiu para convencer os evangélicos a apoiar Dilma. Sem alarde, o presidente deixou o Palácio do Planalto e foi até o hotel onde ocorria o encontro entre Dilma e os líderes religiosos. Entrou por uma passagem longe dos olhos dos repórteres. No encontro, disse que em seu governo nunca as igrejas tiveram tanta liberdade de culto. E lembrou veto seu ao artigo de uma lei que restringia as preces em voz alta durante os cultos, por considerá-las poluição sonora.

Lula disse também aos evangélicos que não acreditassem que Dilma seria favorável ao aborto.
"Todo mundo se lembra que tanto em 2002 quanto em 2006 eu fui vítima de boatos e preconceitos. E nunca houve tanta liberdade quanto em meu governo", disse o presidente.

O reverendo Guilhermino Cunha, presidente da Igreja Presbiteriana, foi um dos primeiros a pregar o apoio dos evangélicos a Dilma. Recorreu a uma parábola para defender a petista. Segundo ele, numa viagem transoceânica, um rato estava roendo os fios do sistema de navegação da aeronave. O comandante pensou que todos cairiam no mar. Mas se lembrou de suas aulas de biologia e de que o rato tem o cérebro pequeno.

Então, imbicou o avião para o alto, até que o pouco ar no cérebro do roedor o levou à morte. "É preciso voar alto. Os ratos não resistem às grandes altitudes", disse o reverendo. Ele não quis dizer quem é rato da parábola. "Digo que fazer uma oposição injusta e ingrata, à base de boatos, não resiste aos voos mais altos."

O deputado Manoel Ferreira (PR-RJ), coordenador da bancada evangélica na campanha de Dilma, disse que o encontro foi importante porque os pastores vão se engajar na luta para eleger a petista. Ele afirmou que, mesmo tendo sido procurado pelo tucano José Serra, preferiu ficar com Dilma por causa do governo Lula. "O ponto alto de nossa campanha é a continuidade do governo do presidente Lula, dos programas sociais e da distribuição de renda", argumentou ele.

Em Minas, Aécio busca virada para Serra

DEU EM O GLOBO

Ex-governador comanda ato com prefeitos mineiros, em ofensiva para fazer com que tucano supere Dilma no estado

Adriana Vasconcelos

BELO HORIZONTE. Com o ex-governador e senador eleito Aécio Neves à frente, o PSDB mineiro organiza hoje um megaevento em Belo Horizonte. O objetivo é atrair para a campanha do presidenciável José Serra prefeitos que, no primeiro turno da eleição, pregaram o voto “Dilmasia” (na petista Dilma Rousseff, para a Presidência, e no tucano Antonio Anastasia, para o governo estadual) em Minas. Com o governador Anastasia reeleito, Aécio pretende usar sua popularidade para reverter a vantagem de Dilma no estado.

Aliados de Aécio indicavam ontem que pesquisas internas teriam constatado que a diferença entre Dilma e Serra em Minas já teria caído para a mesma diferença registrada ontem pelo Ibope no cenário nacional (seis pontos). Ontem à noite, Aécio disse que confia na vitória de Serra, e disse que vai sugerir a ele, hoje, que assuma compromisso com os prefeitos de estabelecer um índice de reajuste para os repasses do FPM, o Fundo de Participação dos Municípios.

— O presidente Lula, por ter um contato direto com a população, se preocupou pouco com as administrações municipais — disse Aécio. — Minas, estado com um grande número de municípios, talvez seja o local adequado para ele incorporar esse chamamento e se comprometer com a recuperação do FPM.

Aécio disse acreditar que o eleitorado de Marina Silva (PV) em Minas esteja mais próximo de Serra: — Esse eleitorado flutuante deverá ter mais afinidade conosco neste segundo turno. Vamos fortalecer essa identidade e mobilizar todas as lideranças para garantir a vitória de Serra.

A expectativa de Aécio é reunir hoje, na Associação Médica de Minas Gerais, cerca de 300 líderes políticos do estado.

Semana passada, Aécio ligou para prefeitos, pedindo presença no evento, que terá a participação de Serra.

Além disso, todos os prefeitos que apoiaram a candidatura de Anastasia no primeiro turno receberam uma carta assinada por Aécio, pelo atual governador e pelo ex-presidente Itamar Franco, também eleito senador, pelo PPS, convidando-os para a reunião de hoje.

Serra busca apoio do PMDB gaúcho

DEU EM O GLOBO

Partido se reúne hoje. Ibsen Pinheiro elogia tucano e diz que ele "não tem o dedo podre" para fazer nomeações

Clarissa Barreto*

PORTO ALEGRE. Em evento suprapartidário realizado ontem com deputados, prefeitos e líderes de partidos que apoiam a candidatura tucana à Presidência, em Porto Alegre, o candidato José Serra aproveitou para afagar o PMDB gaúcho, que esteve dividido no primeiro turno. Serra chegou a visitar o candidato derrotado ao governo do estado, José Fogaça, que durante o primeiro turno optou pela neutralidade. Cacique peemedebista, o deputado federal Ibsen Pinheiro discursou e elogiou Serra para as cerca de 800 pessoas que participaram do encontro num hotel da capital gaúcha Em seu discurso, o candidato tucano afirmou que costuma escolher bem quem trabalha com ele e acenou com uma possibilidade de cargos para os aliados.

— É claro que vamos contar com nossos companheiros mais próximos. Ninguém constroi o Brasil sozinho. Não sou dado a messias, temos que trabalhar em equipe — disse Serra.

Mesmo sem o apoio institucional do PMDB, que será decidido hoje em reunião do diretório, Ibsen Pinheiro elogiou Serra, garantindo que ele tem o “dedo bom” para escolher equipe.

— A primeira tarefa de um presidente nem é tão árdua. É nomear o chefe da Casa Civil e seus ministros. Não pode errar, e o Serra nunca errou. Ele não tem o dedo podre, ele escolhe por honradez e competência — afirmou Ibsen.

Fogaça “foi o melhor senador”, diz Serra Após uma rápida caminhada pelo centro de Porto Alegre, Serra foi em busca de outro apoio peemedebista: José Fogaça. Depois de reunir-se a portas fechadas com o tucano por cerca de dez minutos, Fogaça não admitiu o voto em Serra. Ele condicionou o apoio à decisão do partido, que será tomada hoje em reunião da executiva.

— Sempre tive uma posição pessoal, mas acima dela está uma posição coletiva e partidária.

Isso vai orientar a minha posição, que é a mesma do primeiro turno, a mesma de sempre. Não mudei em nada.

O não-posicionamento de Fogaça não impediu Serra de tecer elogios ao ex-senador: — Disse uma coisa a ele que eu digo a muita gente. Eu tive mandato de oito anos no senado e sempre o tomei como um modelo de senador responsável.

Foi o melhor senador com quem eu convivi lá.

Questionado sobre a distribuição de cargos de um eventual governo, Serra disse que só depois que ganhar a eleição falará sobre o tema.

— Não vou falar de governo sem ter resultado. Só falo de governo se ganhar. Mas acho que tem coisas que eu aprendi a fazer na vida e uma delas é me cercar de gente boa para trabalhar, desde que eu era líder estudantil.

Tucano se irrita com perguntas sobre Paulo Souza O candidato se irritou nas duas vezes em que foi perguntado por jornalistas sobre Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário SA) e acusado de ter desviado R$ 4 milhões da campanha de Serra. Primeiro, limitouse a dizer que era uma “pauta petista”. Depois, em entrevista coletiva, após a reunião com Fogaça, Serra acusou um repórter do jornal “Valor Econômico” de fazer um comentário racista.

— Não tem o que comentar.

Considero, em primeiro lugar, um preconceito odiento o fato de se referir a uma pessoa com esse apelido. Quando me disseram esse apelido, eu disse que não conhecia. Não tenho preconceito racial e, na sua pergunta, está envolvido um preconceito racial. Segundo, não tem nada para comentar, exceto a pauta petista. Não houve desvio de dinheiro na minha campanha nenhum.

E a Dilma (Rousseff, candidata petista) está preocupada com o desvio de dinheiro na minha campanha. Já eu estou preocupado com o desvio de dinheiro feito na Casa Civil.

Mais tarde, em Rio Grande, Serra voltou a ser questionado sobre um email que o atual governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), teria lhe enviado em 2009 com críticas a Paulo Vieira de Souza. Serra negou ter recebido qualquer email de Goldman sobre o assunto.


(*) Especial para O Globo

Indio pede que classe média não viaje e vote

DEU EM O GLOBO

Estratégia de serristas no Estado do Rio é colar imagem de Dilma a temas polêmicos

Cássio Bruno

A campanha do candidato à Presidência José Serra (PSDB) anunciou ontem, no Rio, em encontro com cerca de 500 líderes políticos e comunitários que, nas próximas semanas, vai colar a imagem da adversária Dilma Rousseff (PT) a propostas polêmicas da terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Na reunião, organizada pelo vice na chapa de Serra, Indio da Costa (DEM), no Tijuca Tênis Clube, coube ao deputado federal Arolde de Oliveira (DEM), fiel da Igreja Batista, divulgar a estratégia da oposição para o segundo turno no estado e atacar Dilma sobre questões envolvendo religião e aborto. Já Indio, em tom conciliador, apelou para que a classe média não viaje no feriadão de Finados, em 2 de novembro: — Peçam para a classe média ficar aqui (no Rio) porque votar em Serra se trata de garantir as nossas liberdades de expressão, de imprensa e de culto. Com tanta corrupção no Brasil e uma imprensa livre, já imaginou se amordaçarem a imprensa brasileira? Não queremos transformar o país na Venezuela — disse Indio.

O candidato a vice na chapa de Serra pregou a parceria com o governador reeleito Sérgio Cabral (PMDB), sem citá-lo, caso o tucano seja eleito. Entre as promessas feitas para o Rio, está a criação do Ministério da Segurança, com apoio e expansão das UPPs, bandeira de Cabral adotada por Dilma.

— Ninguém vai governar olhando para trás e para as carteirinhas de filiação partidária — ressaltou Indio, dizendo que a população não conhece as propostas de Dilma e que ela “conta uma lorota aqui, outra lorota ali”.

Já Arolde de Oliveira criticou o risco de “ditadura do Estado” com o PNDH-3: — Ali estão previstas agressões à democracia.

É uma série de projetos que contrariam nossas vocações democráticas, que desconstroem as instituições brasileiras e, principalmente, contrariam, agridem e desmontam os princípios cristãos sobre os quais o Brasil, desde o Descobrimento, tem montado suas tradições. Eles querem fazer a ditadura do Estado — discursou Oliveira.

A intenção dos aliados de Serra é convencer os eleitores, principalmente os evangélicos, de que, com Dilma, o PNDH-3 será aprovado e, assim, temas como aborto e direitos reivindicados por gays serão legitimados.

Ibope: Serra sobe 14.3%

DEU EM O GLOBO

Ibope: diferença é de 6 pontos

Pesquisa do Ibope mostra disputa acirrada pela Presidência, com a petista Dilma Rousseff com seis pontos de vantagem sobre o tucano José Serra. Dilma tem hoje 49% dos votos, contra 43% de Serra. A margem de erro é de dois pontos.

Ibope: Dilma tem 49%, e Serra, 43%

Diferença entre os dois hoje é de seis pontos; na votação do primeiro turno, a distância foi de 14,3 pontos

Regina Alvarez

BRASÍLIA. Pesquisa do Ibope sobre as intenções de voto na corrida presidencial mostra uma redução na vantagem da candidata do PT, Dilma Rousseff, sobre o tucano José Serra.

Dilma tem 49% das intenções de voto e Serra, 43%. Dos entrevistados, 5% declararam que vão votar em branco ou anular o voto e 3% estão indecisos.

Se considerados só os votos válidos, Dilma tem 53% e Serra, 47%. A diferença de seis pontos percentuais é menor do que a verificada no resultado final do primeiro turno da eleição, de 14,3 pontos.

Na pesquisa, encomendada pela Rede Globo e pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, a diferença entre os dois também é menor do que os índices divulgados pelo Instituto Datafolha, no último fim de semana, que indicavam diferença de sete pontos nos votos totais, e de oito pontos, nos votos válidos. No primeiro turno, a candidata do PT obteve 46,91% dos votos válidos, enquanto José Serra ficou com 32,61%.

Pesquisa feita após o debate

A pesquisa do Ibope divulgada ontem já reflete a repercussão do primeiro debate do segundo turno, realizado no domingo à noite pela TV Bandeirante.

O primeiro embate direto entre Serra e Dilma foi marcado por uma mudança de postura principalmente da petista, que se mostrou mais agressiva. Dilma disse que foi apenas “assertiva”.

Ataques e acusações mútuas foram a tônica do debate, que abordou temas polêmicos como o aborto, já fartamente explorado na internet e no meio religioso. A candidata petista acusou a campanha do adversário de ser a origem de boatos que estariam prejudicando a sua imagem. O tucano revidou, acusando Dilma de ter duas caras.

A propaganda eleitoral também seguiu a mesma linha, com acusações dos dois lados da campanha e abordagem de temas como as privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso, apontadas como o fator que derrotou Geraldo Alckmin na disputa com o presidente Lula, em 2006.

Na pesquisa do Ibope — a primeira realizada pelo instituto no segundo turno — foram ouvidos 3.010 eleitores em todo o território nacional, entre os dias 11 e 13 de outubro. A pesquisa está registrada no TSE sob o número 35669/2010.

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Na primeira pesquisa do Instituto Datafolha para o segundo turno, divulgada no sábado, dia 9, Dilma aparece com 48% das intenções de voto e Serra, com 41%. Naquela amostragem, realizado no dia 8 em todo o país, 4% dos entrevistados disseram que votarão em branco ou anulariam o voto e 7% estavam indecisos.

Computados apenas os votos válidos, a petista tinha 54% dos votos e o tucano, 46%, segundo o Datafolha.

Naquela amostragem, 89% declararam estar totalmente decididos em relação ao candidato que escolheram, enquanto 10% admitiram que poderiam ainda mudar seu voto. Entre os eleitores de Marina Silva (PV), Serra ficaria com 51% e Dilma com 22%, segundo a Datafolha.

Vox Populi dá 48% a Dilma e 40% para Serra

Nos votos válidos, petista está com 54,5%, contra 45,4% do tucano

SÃO PAULO. Pesquisa Vox Populi divulgada ontem apontou a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, à frente neste segundo turno das eleições, com 48% das intenções de voto, enquanto seu adversário do PSDB, José Serra, tem 40%. Considerandose apenas os votos válidos (sem contar os votos em branco e nulos), Dilma alcança 54,5%, contra 45,4% de Serra.

A pesquisa, divulgada pelo portal iG, foi realizada de 10 a 11 de outubro com três mil eleitores. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos.

A pesquisa foi registradano TSE om o número 35648/2010.

O Vox Populi também aferiu a repercussão do debate entre Dilma e Serra, no último domingo, na TV Bandeirantes.

Segundo o levantamento, 22% dos entrevistados disseram que assistiram ao programa e 77% afirmaram que não. Entre os que viram, 37% disseram acreditar que Dilma venceu o confronto, enquanto 32% deram a vitória a Serra.

Colaborou: André de Souza

GPP: Serra na liderança

Esta não vai dá para dizer a fonte. Vamos dizer que foi um passarinho que soprou no meu ouvido. E ele não é tucano. O instituto GPP fez uma pesquisa nacional, que deu os seguintes números:


Serra 52%

Dilma 48%

Para que não haja confusão: Estes números são de uma pesquisa de campo e não do tracking tucano, que faz pesquisa telefônica. De qualquer maneira, eles estão próximos do que tem constatado o tracking: uma vantagem para Serra, mas ainda em situação de empate técnico.

Segundo outra fonte que consultei, o Instituto GPP goza de credibilidade e tem um histórico de acerto em pesquisas sobre intenção de votos, que realizou em outras disputas eleitorais.

Fonte: Blog Pitacos
Tibério Canuto

Entre tucanos e petistas, visões diferentes

DEU EM O GLOBO

Para oposição, tom agressivo de Dilma reflete preocupação de petistas

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Para a oposição, a primeira pesquisa do Ibope neste segundo turno das eleições confirmou a tendência de crescimento do candidato do PSDB à Presidência, José Serra. O discurso de integrantes de PSDB e DEM é que, mais do que as pesquisas, o tom agressivo da candidata Dilma Rousseff (PT) já mostra que a campanha governista está muito preocupada.

Aliados de Dilma, por sua vez, afirmaram que o levantamento, assim como o do Instituto Datafolha, no último domingo, mostrou a consolidação da vantagem da petista.

N o caso da oposição, a avaliação é a de que as pesquisas já mostraram o crescimento de Serra, mas não de forma completa.

O líder do DEM na Câmara, Paulo Bornhausen (SC), disse que os levantamentos internos da campanha mostram que Serra vem conquistando votos nas regiões Sul e Sudeste e também nas regiões Norte e Nordeste, onde Dilma foi campeã de votos no primeiro turno: — O destempero, a agressividade de Dilma é de quem está atrás nas pesquisas, e não na frente. A resolução de Dilma de atacar é de desespero.

Há uma tendência de virada na eleição. As pessoas estão vendo que é possível Serra ganhar. Para nós, Serra lidera a eleição — disse Paulo Bornhausen, para quem foi negativo o fato de Dilma ter tomado a iniciativa de citar a mulher de Serra, Mônica Serra, no debate da TV Bandeirantes, domingo.

Pelas análises internas, a maioria dos votos dados à candidata do PV, Marina Silva, no primeiro turno, estaria migrando para o tucano. Na mesma linha, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse acreditar que o comportamento de Dilma é um sintoma mais importante da temperatura da campanha, do que dos resultados das pesquisas: — O que importa é que essa pesquisa mostra uma tendência de vantagem a curto prazo. A gente sente a onda formada.

Desde o debate da TV Bandeirantes, ficou bem claro que o favoritismo já mudou de lado.

O comportamento adotado desde o debate de domingo é de quem está buscando recuperar terreno — disse o senador paranaense.

Para petista, vantagem de Dilma está consolidada Já na campanha de Dilma, o discurso é o de que a vantagem está consolidada e se aproxima dos percentuais atingidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo então candidato tucano Geraldo Alckmin, nas eleições presidenciais de 2006. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), afirmou que todas as pesquisas mostram uma ampla vantagem de Dilma e que esse é o fato mais importante: — Isso (uma diferença de seis pontos) tem margem de erro. Está bom para o começo de segundo turno.

Está dando uma dianteira boa. É esperar a próxima pesquisa — disse Vaccarezza.

Mais otimista, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — que ontem esteve com Dilma — também disse acreditar que a pesquisa mostra que a candidata petista consolida a vantagem e que ela vencerá a eleição.

— É a consolidação da vantagem de Dilma de forma clara e nítida. Para tirar foto da gente, só na baixaria. Na política, não vai tirar. Por isso, essa campanha (de baixaria) — disse Eduardo Cunha.

Bolsa-Família age como freio à queda de petista

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Análise: José Roberto de Toledo

O Bolsa-Família foi um freio à queda de Dilma Rousseff (PT). Até duas semanas antes do primeiro turno, a petista sustentava 69% das intenções de voto entre os beneficiários do programa. Na última semana ela caiu para 62% nesse segmento, e agora tem 61%.

Entre os eleitores que não participam de nenhum programa federal, a eleição está empatada: 45% (Dilma) a 46% (José Serra).

Há forte correlação entre a penetração do Bolsa-Família e voto na petista. A votação em Dilma cresce nos municípios onde o porcentual de atendidos pelo programa é maior.

O Ibope mostra que a candidata do PT segue à frente de Serra nas duas regiões onde o Bolsa-Família tem peso maior: Nordeste e Norte/Centro-Oeste. O tucano lidera no Sul. Os dois empatam no Sudeste.

Quando se analisa a intenção de voto dos beneficiários do Bolsa-Família segundo sua religião, nota-se que Dilma teve pequena perda só entre os evangélicos que participam do programa, mas sustentou sua intenção de voto entre os católicos que recebem a bolsa.

Ou seja, entre o bolso e a consciência religiosa, o primeiro tem falado mais alto até agora para os beneficiários do programa. Especialmente para aqueles que têm renda familiar mais baixa. Por isso, a disputa pela Presidência deve se concentrar no Sudeste, especialmente nas maiores cidades. Não só porque é o maior colégio eleitoral do País, mas também porque é onde se concentra grande parte do eleitorado de Marina Silva (PV).


É jornalista especializado no uso de pesquisas

Viver de minas:: Miriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O Chile é um país sacudido por grandes eventos trágicos, naturais ou causados pela ação humana: terremotos, vulcões, elevação do mar, minas que desmoronam. O terremoto de 2010 foi um dos cinco maiores da História. Do seu subsolo, em minas como a de San José, o país tira o grande motor de sua economia, o cobre. Com a riqueza construiu uma garantia para tempos incertos.

As últimas 24 horas mantiveram bilhões de pessoas no mundo inteiro eletrizadas, de olho na fina fatia de terra chamada Chile, que se alonga na parte sul da América do Sul. O caso do Deserto de Atacama, com o resgate dos 33 mineiros soterrados por 69 dias, está destinado a ter inúmeras repercussões econômicas, políticas e diplomáticas.

A tecnologia de resgate de pessoas em situações de extremo risco deu um salto com o esforço chileno de retirar os mineiros soterrados em uma inacreditável profundidade de quase 700 metros. A gestão de risco ganhou um caso extraordinário de estudo. A indústria de seguros fará de novo suas revisões do custo de garantir a atividade, naturalmente arriscada, mas que esteve nas últimas horas expondo ao mundo as entranhas de suas precariedades.

A medicina e a psicologia terão elementos para estudos dos limites e sequelas de pessoas expostas a condições que parecem estar além da capacidade humana de resistência.

O Chile é um país precavido do ponto de vista fiscal. Há anos tem uma política fiscal responsável e sólida, uma verdadeira política anticíclica que fez o país construir uma reserva extra com o excesso de arrecadação quando o cobre está em alta. As exportações equivalem a 25% do PIB, e dois terços são de commodities. O cobre produz um terço das receitas fiscais do país. Quando o preço cai, o país entraria em crise se não se cuidasse.

O preço caiu fortemente em 2008 e 2009, mas já subiu 170% desde o piso. A soma das reservas cambiais e do fundo contra crises é quatro vezes maior que sua dívida externa. Essa solidez, numa economia do tamanho do estado do Rio, foi construída durante os 20 anos do governo de esquerda, da Concertación, e foi mantida pelo governo conservador que o sucedeu este ano.

Em fevereiro, o país foi sacudido por um terremoto quase tão forte quanto o do Haiti, mas que teve um impacto infinitamente menor, ensinando mais uma vez que as grandes tragédias são causadas pelos desatinos humanos, não pela natureza. A economia sentiu um impacto imediato pelos estragos materiais, perdas imobiliárias e quedas das ações de empresas diante da perspectiva de um faturamento menor. O prejuízo foi calculado em 17% do PIB. No segundo trimestre, o país cresceu 6,5% em relação ao segundo trimestre do ano anterior.

Deve crescer entre 5% a 6% este ano, apesar do terremoto. Foi exatamente essa capacidade de resistir a choques, criada por uma política fiscal austera e sensata, que fez a Moody’s elevar a classificação de risco do país. Ele está agora a três pontos do topo, e a seis pontos acima da classificação do Brasil.

O país tem uma taxa de investimento invejável: 26,8%. No Brasil, é 18%. Está com superávit em transações correntes. Com alta popularidade, a então presidente Michelle Bachelet, presidiu a eleição de forma olímpica sem transformar o cargo num palanque para seu candidato. Seu grupo perdeu a eleição, mas a política econômica foi mantida assim como os esforços para a redução da pobreza que vêm tendo sucesso há anos.

Essa sabedoria o Chile aprendeu dolorosamente.

Fora de qualquer controle humano, a placa tectônica Nazca já se deslocou algumas vezes com trágicas consequências. Em 1906, o terremoto de Valparaíso aconteceu logo depois do de São Francisco. Os dois juntos provocaram uma crise mundial. O Chile empobreceu.

Em 1939, o terremoto de Chillán deixou 30 mil mortos e um rastro de pobreza que levou o país a pedir socorro aos Estados Unidos. No de 2010, eles se levantaram sozinhos e em tempo recorde. Na política, os chilenos enfrentaram a pior das ditaduras latinoamericanas.

Isso talvez explique o cuidado do país em preservar as instituições democráticas.

O presidente Sebastián Piñera apesar da vitória convincente nas eleições perdeu rapidamente popularidade.

A gestão da crise dos mineiros está devolvendo a ele alto grau de aprovação.

Ontem, no centro dos acontecimentos, ele foi visto pelo mundo inteiro ao lado do presidente Evo Morales, da Bolívia, país que tem com o Chile uma velha inimizade causada pela guerra que tirou dos bolivianos uma saída para o mar. Os dois juntos receberam telefonemas dos outros líderes da América do Sul. Aumentaram as chances de uma saída pacífica para o velho conflito. Enquanto as cenas cinematográficas se repetiam diante do mundo, muitos desdobramentos já estavam em curso. Esse definitivamente não é um evento simples.

Viver de mineração hoje é estar exposto aos danos ambientais num mundo cada vez mais preocupado com isso. O impacto da mineração vai desde os enormes buracos e as construções abandonadas quando as reservas se esgotam, à contaminação de águas, concentração de metais e produtos tóxicos no ambiente, erosões de terra, desmatamento e risco de acidentes. Hoje, a nova concepção da mineração é que ela é uma indústria que faz gestão de resíduos: 95% do que é escavado é descartado. Em tempos de crescente sensibilidade ambiental e administrando um território exposto às intempéries, viver de minas é administrar riscos. É o que o Chile está mostrando saber fazer.

Palavras:: Graziela Melo

Palavras...
Podem ser
Cheias de
Sentimento,
De arrependimento,

Algumas!!!

Outras
Carregadas
De dor,

Símbolos

Ou talvez,

Expressão
De amor!!!

Palavras...

Elas são
Filosofia

Para pensar
De noite

e...

escrever
de dia!!!

Palavras

Que mexem,
Aterrorizam
O mundo,

Como guerra,
Vendaval,
Tremor
De terra!!!

Palavras
Que humilham
O homem

E doem
Muito
No coração!!!
ViolênciaPreconceito,Discriminação!!!



Rio,13/10/2010