quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Reflexão do dia – Antonio Gramsci

A política é ação permanente e dá origem a organizações permanentes, na medida em que efetivamente se identifica com a economia. Mas esta também tem sua distinção, e por isso pode-se falar separadamente de economia e de política e pode-se falar da “paixão política” como um impulso imediato à ação, que nasce no terreno “permanente e orgânico” da vida econômica, mas supera-o, fazendo entrar em jogo sentimentos e aspirações em cuja atmosfera incandescente o próprio cálculo da vida humana individual obedece a leis diversas daquelas do proveito individual, etc.


(Antonio Gramsci, in: Maquiavel, a política e o Estado moderno, pág. 14, 3ª edição – Civilização Brasileira, 1978)

Saga cearense:: Merval Pereira

DEU EM O GLOBO

A saga de Ciro Gomes continua se revelando uma das mais patéticas da política nacional. De político renovador que acabou com as oligarquias cearenses, tornou-se símbolo de sua própria oligarquia, e acabou dando a volta ao mundo para acabar novamente em Sobral, que já teve seu irmão como prefeito e terá um representante seu no Ministério do primeiro governo Dilma, com o patrocínio político de seu grupo cearense.

De quase presidente eleito em 2002, Ciro Gomes está prestes a tornar-se um político sem mandato e sem apoio político de seu próprio partido, o PSB, que entrou em polvorosa quando a presidente eleita o convidou pessoalmente para assumir o Ministério da Integração Nacional.

A começar pelo presidente e principal líder do PSB, o governador reeleito em Pernambuco, Eduardo Campos, houve reação de todos os lados contra sua indicação.

Campos tinha um candidato pessoal ao Ministério e não abriu mão para Ciro.

O PMDB fez questão de revelar seu descontentamento com a volta de Ciro ao primeiro plano do governo do qual se sente sócio.

O vice-presidente eleito, Michel Temer, que Ciro chamou de comandante de um agrupamento sem escrúpulos, mandou seu recado: como ministro, Ciro lhe deveria obediência hierárquica, e teria que ter "contenção verbal".

Ciro ficou conhecido pela virulência de sua fala, o que lhe valeu o apelido de "língua de aluguel" do governo, especialmente quando se referia ao tucano José Serra.

Na eleição presidencial de 2002, houve um momento da campanha em que o então candidato do PPS, Ciro Gomes, apareceu na frente de Lula.

O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, dizia que sua situação era tão confortável que, se Ciro tivesse viajado com a mulher, Patrícia Pillar, e desaparecido da campanha, poderia ter sido eleito.

Em vez disso, prosseguiu na campanha e, entusiasmado pela aprovação popular que colhia naquele momento, deixou-se perder pela boca, o que, aliás, tornou-se seu hábito.

Xingou de burro um eleitor que o questionava num programa de rádio, fez comentários machistas em relação a Patrícia Pillar e se perdeu completamente, não conseguindo nem mesmo ir para o segundo turno.

Nunca ninguém foi tão humilhado publicamente quanto Ciro Gomes na campanha eleitoral deste ano, impedido de apresentar sua candidatura à Presidência da República pelo próprio Lula, que o induziu ao erro ao sugerir que transferisse seu título eleitoral para São Paulo a fim de disputar o governo daquele estado.

Não conseguiu apoio do PSB, que tinha o empresário Paulo Skaf como candidato, um dos maiores absurdos políticos de nossa história recente, foi bombardeado pelo PT, e acabou não podendo nem mesmo ser candidato a deputado federal.

Vendo o cerco contra sua candidatura à Presidência na eleição deste ano se apertar, Ciro voltou a usar sua língua ferina, dessa vez contra o próprio governo.

Disse que Lula "viajou na maionese", e estava enganado pensando que era Deus e que tudo podia.

Disse que Serra era mais preparado para exercer a Presidência da República do que Dilma.

Caiu em desgraça junto ao PT, ao PMDB e ao próprio PSB, cujo presidente Eduardo Campos conspirou com Lula para inviabilizar a candidatura de Ciro.

A relação conflituosa de Ciro com Lula levou até mesmo a que ele rompesse com seu maior aliado político no Ceará, o senador Tasso Jereissati, que já abandonara o candidato tucano José Serra para apoiá-lo em 2002.

Pois Ciro traiu o acordo branco que tinha com Tasso no Ceará para tentar se aproximar mais de Lula, mas não teve a contrapartida.

O que Lula queria era uma disputa polarizada entre Dilma e Serra, ou entre PT e PSDB, ou, melhor ainda, entre ele e Fernando Henrique.

E Ciro insistia em quebrar essa polarização, alegando que era melhor para os governistas que houvesse mais candidaturas.

Lula mostrou-se certo, do ponto de vista de seu interesse pessoal, na estratégia, tanto que foi a presença de Marina Silva pelo PV que impediu que a disputa se resolvesse já no primeiro turno.

Mas, naquele momento, registrei aqui na coluna que o que menos importava era o que pensa ou diz o deputado Ciro Gomes. "Goste-se ou não da maneira como o deputado federal Ciro Gomes faz política, uma coisa é certa: sua desistência forçada à disputa da Presidência da República é um golpe na democracia", escrevi então.

Considerava, e ainda considero, que a interferência frontal do presidente Lula para inviabilizar uma candidatura em benefício da que escolhera era uma agressão do ponto de vista democrático à livre escolha do eleitor.

Conchavos de gabinete com o objetivo de transformar em plebiscito uma eleição em dois turnos, concebida justamente para dar ao candidato eleito a garantia de apoio da maioria do eleitorado, reduziram o sentido da eleição.

Ciro foi de diversos partidos, inclusive da Arena no tempo da ditadura, mas teve sucesso político no PSDB, pelo qual chegou a ser ministro da Fazenda na transição do governo Itamar Franco.

Foi chamado às pressas para apagar um incêndio que ameaçava a candidatura presidencial de Fernando Henrique Cardoso.

O então ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, foi flagrado com o microfone aberto em um programa de televisão dizendo coisas como "o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde".

Ciro Gomes era um jovem político de sucesso que governava o Ceará, e foi uma grande solução política para o momento.

Esse período serviu também para que se tornasse adversário ferrenho tanto do ex-presidente quanto de José Serra, a quem, pela gana que tem, deve atribuir uma atuação decisiva para que não tenha continuado ministro da Fazenda.

Na ocasião, o presidente eleito Fernando Henrique Cardoso ofereceu-lhe o posto de Ministro da Saúde, que Ciro recusou, considerando uma ofensa a oferta.

Anos depois, José Serra, derrotado na disputa para a Prefeitura de São Paulo, ocupou o Ministério da Saúde e alavancou sua carreira política, tornando-se candidato a presidente em 2002.

Até hoje medidas adotadas no ministério, como os genéricos, lhe rendem uma visibilidade política importante.

Pois, ironicamente, Ciro hoje tinha como seu sonho de consumo assumir o Ministério da Saúde no governo Dilma, o que lhe foi negado liminarmente.

Fingidor revisitado:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Fernando Pessoa em Autopsicografia fez um verso memorável e amplamente conhecido que, se aplicado à realidade brasileira, cabe com perfeição à figura do presidente Luiz Inácio da Silva: "O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente."

O que Lula diz não se escreve como atestam as inúmeras declarações desmentidas por atos e palavras dele mesmo. Portanto, não se deve comprar pelo valor vendido a afirmação de que a volta às lides eleitorais em 2014 é uma possibilidade real.

Outro dia mesmo Lula dizia o contrário: que a disputa de uma nova eleição presidencial estava fora de seus planos.

Em outra entrevista, logo depois da reeleição, o presidente anunciava que iria "assar uns coelhinhos" em São Bernardo do Campo quando deixasse o cargo dali a quatro anos.

Um ano e pouco depois afirmava que a candidatura presidencial de 2010 seria fruto de consenso entre o PT e os partidos aliados. Avisava também que não anteciparia a escolha porque isso levaria à "queima" da candidatura na fogueira das intrigas internas e dos ataques da oposição.

Dito isso, no início do ano seguinte, dois antes do ano eleitoral, apelidou Dilma Rousseff de a "mãe do PAC", sacramentou a candidata de forma autocrática e iniciou ali mesmo a campanha que ficaria marcada como a mais longa da história.

O que Lula diz hoje pode ser diferente amanhã, a depender da avaliação referida única e exclusivamente na conveniência dele sem que sejam medidas as consequências no tocante às regras maiores da democracia: o respeito à lei e a observância das oportunidades iguais para as forças políticas representativas da sociedade.

Tanto pode se candidatar a presidente de novo, como pode concluir que não vale a pena o risco de perder a eleição ou de não ter um terceiro período melhor que os dois agora em vias de conclusão. Isso não se saberá pelas palavras de Lula.

Valem muito mais as atitudes. E elas nestes oito últimos anos nos informam que Lula vai pairar como uma sombra sobre o governo Dilma. Se outros personagens, de governo e de oposição, aí incluída a presidente, não souberam marcar suas posições e assumir seus papéis na política, Lula o fará na condição de protagonista.

Seja como pré-candidato a presidente - que parece ser exatamente sua pretensão ao acenar com a possibilidade, a fim de assegurar cobertura permanente da imprensa - seja como ocupante do espaço deixado vazio para que atue como bem lhe convier.

À francesa 1. Pensando bem, para Ciro Gomes o melhor negócio é ficar fora do ministério. Pelo menos escapa de se explicar, ou precisar pedir desculpas por ter chamado a aliança que elegeu Dilma de "roçado de escândalos".

Ficaria como o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e Mangabeira Unger. Um se desculpou por ter cumprido seu dever de deputado de oposição na CPI dos Correios (mensalão), para ser candidato. O outro, para ser ministro pediu perdão por ter escrito que o governo Lula foi o mais corrupto da história.

À francesa 2. Pensando mais um pouco, a melhor coisa que o presidente do PT, José Eduardo Dutra, poderia fazer é desistir de ser senador na vaga de Antônio Carlos Valadares, o titular que esnobou um ministério tentando valorizar o passe para dar lugar ao suplente Dutra.

O petista evitaria o vexame de ser senador sem votos e ainda deixaria Valadares amargar o gosto de língua queimada.

Ação e reação. Haverá quem considere uma descortesia o bispo de Limoeiro (CE), d. Manuel Edmilson da Cruz, ter recusado a comenda D. Helder Câmara, oferecida pelo Senado, em protesto contra o recente aumento nos salários dos parlamentares.

Ocorre que a iniciativa das afrontas tem sido do Parlamento, e se a sociedade não deixar isso claro seguirá sendo insultada.

Muito agradecida:: Melchiades Filho

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - É cedo para fazer um prognóstico do time de ministros de Dilma Rousseff. O sucesso do primeiro escalão depende dos planos da Presidência, e, por ora, pouco ou nada se sabe deles. Já dá, no entanto, para arriscar uma leitura política da montagem do governo.

Maldosa ou não, Dilma asfixiou os principais aliados eleitorais, PMDB e PSB, e optou pelo próprio partido.

O PT emplacou:

* Todo o núcleo-duro político do Planalto (Casa Civil, Secretaria-Geral e Relações Institucionais);

* O comando da área econômica, com Fazenda e Planejamento;

* Os ministérios "cartões de visita", que concentram programas de muito apelo popular -Educação, Saúde e Desenvolvimento Social;

* O controle hierárquico sobre os órgãos "policiais" (PF e Receita);

* Secretários-executivos de confiança em pastas sob direção de outras siglas, como Minas e Energia;

* O maior volume de recursos sobre os quais os ministros terão poder de decisão em 2011 -R$ 56 bilhões, 34% a mais que em 2010.

Já o PMDB, que no governo Lula dispunha de fatia equivalente à do PT, perderá 35% de verbas. O PT tomou-lhe a Saúde e as Comunicações, repartições de importância política e orçamentária. Deu em troca a Previdência e o Turismo. Ai.

Ao PSB Dilma reservou o mesmo tratamento de PR, PDT, PC do B e até de uma legenda que nem integrou a chapa dela na eleição, o PP: todos ficarão com o número de ministérios que tinham sob Lula.

Além disso, os ministros extra-PT são discretos ou desconhecidos -a exceção é o peemedebista Nelson Jobim (Defesa). A tropa petista, por sua vez, traz vários nomes com trânsito na imprensa: Antonio Palocci, Zé Eduardo Cardozo, Fernando Haddad, Aloizio Mercadante...

A presidente "gestora", como se vê, fez, na largada, uma aposta política. O senão é que a equação não fecha. Privilegiar o PT num Congresso com 22 partidos? Talvez a reforma política venha pra valer.

O enfraquecer dos vitoriosos::Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Ministério perfeito para guardar o lugar

O convite a Ciro Gomes para integrar o ministério foi uma tentativa da presidente eleita Dilma Rousseff de dar um certo lustre político ao perfil de sua equipe, além de atingir outros objetivos, menos nobres, tais como dividir o PSB e reduzir a força de seu presidente, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Ciro, embora um personagem polêmico nas relações políticas, daria inegavelmente um peso específico ao conjunto. Mas a tentativa se frustrou.

Não que não haja pessoas adequadas para lugares certos no ministério convidado até agora, há; não que tenham todos uma carga negativa de fracasso na sua trajetória administrativa, existem os bem sucedidos, muitos. Exceções, que confirmam a regra de que o ministério Dilma é fraco.

Já se apressam em preocupações os defensores da tese de que ainda não é possível falar do desempenho de um grupo que nem tomou posse. Mas é disso que se trata: só o perfil já desenhado é tão pálido que até se discute, com impropriedade, uma reforma ministerial o mais breve possível.

O grupo ministerial que termina o governo Lula, composto em boa parte pelo segundo escalão de secretários-executivos após a desincompatibilização de ministros, em abril, voltou para seus postos anteriores, ou seja, aceitaram o rebaixamento. Para os ministérios onde o governo Lula foi reconhecidamente mal, sem resultados a apresentar nem nos palanques eleitorais - esses aceitam tudo -, como Educação e Saúde, não houve a chamada perspectiva de solução no novo governo: no primeiro, ficou o governo anterior de modestos resultados e, no segundo, depois de deixar para o final, à espera de um nome reconhecido pela sociedade, a presidente fez sua escolha por eliminação.

Por sinal, acabou nomeando um político que atuou na área de gestão da saúde levemente, muito tempo atrás, mas foi grande especialista mesmo na negociação dos assuntos de interesse do governo no Congresso. Poderá, com a experiência adquirida na formação de maiorias, finalmente aprovar novo imposto para a Saúde, recriando a CPMF, por cuja derrota tanto chora o presidente Lula.

Perdedores na disputa de outubro, como estava previsto desde o início, não foram deixados à margem; os que não se candidataram, foram aquinhoados primeiro; há a imensa cota do presidente que sai, formalmente, em janeiro. É um jeito de formar equipe, cada um tem o seu.

Mas o ministério que começa é bisonho, não tem nomes fortes, nem técnicos nem políticos. Denota que a presidente eleita, em que pese o alegado conhecimento do governo e realmente ter atuado durante o período de transição, não tinha na verdade um plano. Ficou submissa à repetição, ao antigo, ao presidente que a elegeu sucessora. Ficou sem condições de reagir, nem mesmo para contrapor nomes que sempre considerou melhores para seu governo, como um novo comando para o Ministério da Fazenda, por exemplo.

Quem mais se enfraqueceu com este ministério foram os que saíram mais fortes da eleição: as bancadas do PMDB, do PT, do PSB, seus líderes no Congresso, os governadores eleitos desses partidos, que se fragilizaram, todos. Os vencedores não se sentem representados.

O PSB, que ficou para o fim por resistir o quanto pôde à sangria dos seus vitoriosos, terminou ontem escalado para dois ministérios: Integração, que já foi seu, e Secretaria dos Portos, também de sua cota, mas agora desidratada da intenção inicial de adquirir robustez. Haveria a soma de duas áreas importantes da infraestrutura, para agradar a um negociador exigente. Agora, não mais.

E pelo PSB se volta ao início: o fator Ciro Gomes. Houve, nesse caso, um conjunto de procedimentos mal encaminhados em que se destaca, à frente de tudo, a personalidade polêmica que, na pré-campanha eleitoral, já havia detonado todos os aliados ao lado de quem lutaria no segundo turno da disputa presidencial.

Depois, exatamente por ser controvertido, foi tratado pelo presidente do partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, com cuidado e distância. Assim, foi passada ao governador do Ceará, Cid Gomes, a missão de consultar o irmão Ciro sobre suas pretensões. Ele mandou responder que não queria nada.

No encontro com a presidente eleita, o presidente do PSB deu esse recado mas sugeriu que Dilma falasse pessoalmente com ele. Ela falou e ele aceitou o convite. O Ministério da Integração Nacional, que já estava com o ministro indicado por Eduardo Campos, passou para Ciro que, no entanto, queria muito mais poder, nacional, com o Ministério da Saúde.

Para os objetivos do novo governo, era muito: pretendiam todos, o PT à frente, dividir o PSB, reduzir a força de Eduardo Campos tendo em vista o jogo eleitoral futuro, e manter Ciro sob controle. Para o PT não interessam governadores ou legendas muito fortes, além do próprio PT. Conseguiram reduzir o tamanho político do presidente do PSB e da bancada, mas não mantiveram Ciro na sua órbita.

Eduardo Campos receberá de volta o Ministério da Integração e Cid Gomes, a ele equiparado nas negociações, manterá com o Ceará a Secretaria dos Portos. Dimensão restrita para o partido que elegeu seis governadores e inflou a vitória de Dilma no Nordeste.

A presidente eleita certamente deve ter percebido, com sua sensibilidade e intuição, que a presença do Ciro, por mais problemático e espumoso que seja o político, daria peso ao governo. Além de livrá-la de uma espécie de ombudsman de tempo integral. Forçou a solução, tirou de Eduardo Campos o prestígio que conquistou nas eleições, dividiu o partido, mas não teve o resultado esperado. Como esteve reclusa durante a transição, não se revelam os efeitos sobre ela das contramarchas. Porém, a falta de reações ao desrespeito de que tem sido vítima, como a grosseria de integrantes do governo que apontam, já, a volta de Lula em 2014, tirando-lhe a chance de reeleição, demonstra conformismo com o fato de estar apenas guardando lugar do padrinho e eleitor. Nada mais natural que os ministros façam o mesmo papel.


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Cartórios, decretos e diplomas :: Roberto DaMatta

DEU EM O GLOBO

Em 1968, bastou um humilde requerimento para a Universidade de Harvard me enviar pelo correio o diploma de Master of Arts em Antropologia. Dois anos depois - após escrever uma tese - recebi, com a mesma ausência de pompa, o título de doutor em Filosofia (o tal Ph.D), que nos anos 70 causava um furor invejoso no Brasil - este país das papeladas e dos papelões. Das carteiras de identidade, alvarás, cartas de motorista, diplomas, certificados, títulos, atestados e certidões que, num sentido preciso e ibero-kafkiano, revelam que a papelada - a carteira e o diploma - conta mais que nós. Essa é a lógica dos decretos que aumentam absurdamente o salário dos parlamentares. Eles revelam que a lei não tem nada a ver com a economia moral da democracia. A que condiz com uma concepção do serviço público como expressão de uma aliança positiva entre Estado e sociedade. Pois, no Brasil, é a sociedade que sustenta um Estado absurdamente autorreferido e perdulário. Esse é, sem dúvida, o traço distintivo de um presidente que sai registrando a obra em cartório!

Quando recebi o canudo, falei sobre essa informalidade com colegas americanos. A resposta foi dura para os meus ouvidos de brasileirinho socializado para ser um aficionado de títulos: o que vale não é o diploma, mas a obra. Uma outra experiência notável foi ter que reconhecer a firma do presidente da Universidade de Harvard no consulado brasileiro. Sem tal aval, que meus colegas harvardianos achavam absurdo, o diploma não poderia ser levado em conta na universidade que me havia licenciado para a especialização na Harvard. Eis o nosso paradoxo ou ardil 22. Sem um papel você não pode ter o papel que precisa e sem esse papel, você não existe. A vida começa com um papel e você não nasce de uma trepada, mas de uma ida a um cartório.

Pior que isso, só a diplomação de Dilma Rousseff, eleita pelo povo a primeira mulher a ocupar a Presidência no Brasil. Pela mesma lógica o voto te fez presidente, mas sem um alvará você não pode exercer o poder que lhe foi dado pelo povo. Essa é uma das provas mais cabais do nosso perverso amor às papeladas que engendram papelões. O povo elege, mas, sem o alvará do Supremo, o eleito não é nada. Vejam o absurdo: depois de uma eleição nacional, alguém tem que ungir os eleitos com os santos óleos da burocracia, tal como os papas faziam com os imperadores na antiguidade. E depois dizem que eu idealizo e invento um detestável "Brasil tradicional" na minha modesta e ignorada obra antropoliterária.

Faço questão de notar, porém, que pouco adianta denunciar esse gosto pela papelada se o drama nacional continua sendo gerenciado por esse importante e pouco discutido teatro de burocracias e formalidades. Pois, entre nós, o documento vale mais do que vida e a história. O alvará que confirma, também libera os candidatos corruptos, condenados pela Lei Ficha Limpa na base de detalhes processuais. A gramática, como sempre, elimina a verdade do discurso. Por isso gostamos tanto dos diplomas que dizem que somos o que não somos.

Entrementes, porém, já sucede um entretanto: Lula - que vai saindo como nunca nenhum presidente deixou o cargo neste país - manda registrar em cartório os seus feitos como presidente, exagerando aqui e ali nos eventos e deixando de lado o mais importante: o fato de ter sido o primeiro mandatário de esquerda eleito no Brasil; o fato de ter sido o primeiro presidente de um partido ideológico mas que governou como um coronel político tradicional, aliando-se sem pejo ou dúvida aos outros coronéis do nosso sistema de poder. Que o seu partido, dito o mais moderno do Brasil, fez um mensalão e ama os cartórios luso-brasileiros onde tudo cheira a mofo e não há movimento, mas somente papelada. O salvador dos pobres consolida o capitalismo financeiro; o autêntico operário - aquele que seria a voz do povo destituído - foi o mais mendaz mandatário da história do nosso país. O registro em cartório prova como somos mais moldura do que quadro; como gostamos mais do vestido do que da dama; como preferimos a forma ao conteúdo. E como pensamos que a verdade é mesmo feita de papeladas e registros com firma reconhecida.

Um ministério de medíocre continuidade :: Elio Gaspari

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Dilma nomeou mais de 30 ministros, mas a pergunta de R$1 milhão continua no mesmo lugar: e Lula nisso?

Na melhor das hipóteses, Dilma Rousseff compôs um ministério de continuidade buscando talentos no segundo escalão. Na pior, apresentou uma promessa medíocre. Fez sua campanha prometendo desenvoltura na Educação e na Saúde. Manteve na Educação um titular franqueado por seu "Grande Mestre" e nomeou para a Saúde, credenciado pelo aparelho do PT, um infectologista vindo da pasta da Articulação Política, contaminado pelas febres inerentes ao cargo.
A nobiliarquia ministerial tem 35 marqueses e três duques que realmente contam: Fazenda (com a Receita), Justiça (com a polícia) e a Casa Civil, com o resto. Dos três, Guido Mantega é aquele que traz melhor desempenho. Pode não ser muita coisa, mas é alguma coisa. Na Justiça, José Eduardo Cardozo prenuncia um comissariado movido pela obsessão de uma reforma política destinada a empurrar o voto de lista e o financiamento público (leia-se "pelo público") das campanhas eleitorais. Por enquanto, o principal objetivo dessa mobilização é erguer uma bandeira sob cuja sombra espera-se criar um arcabouço teórico que justifique a absolvição da quadrilha do mensalão. Antonio Palocci chegará à Casa Civil com dois sucessos: a estabilização econômica durante o surto de terrorismo financeiro de 2002/2003 e uma espetacular dispensa pelo Supremo Tribunal Federal no caso da quebra do sigilo do caseiro Francenildo.

Irmanados na fé petista, Dilma e Palocci tendem a formar uma poderosa dupla. Não se deve esquecer, contudo, que a futura presidente assumiu de fato a Casa Civil em novembro de 2005, quando enfrentou o último canto daquilo que se denominava ekipekonômica. Diante de um plano de ajuste fiscal de longo prazo, concebido nos ministérios da Fazenda (Palocci) e Planejamento (Paulo Bernardo), ela mostrou a que viera. Detonou o trabalho ("rudimentar") e calou o contraditório: "Esse debate é absolutamente desqualificado, não há autorização do governo para que ele ocorra." Com esse episódio, fechou um ciclo iniciado nos anos 90, por meio do qual a ekipekonômica emparedava o governo com planos, entrevistas e artigos de notáveis. Na verdade, não foi Dilma Rousseff quem prevaleceu. Ela apenas vocalizou a posição de Nosso Guia e tanto Palocci como Paulo Bernardo entenderam.

A boa notícia, ou pelo menos o depósito de esperanças, está numa trinca da bancada de feminina: Miriam Belchior (Planejamento), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente). Elas têm a característica que identificava Dilma Rousseff em 2002, ao ser chamada para o Ministério de Minas e Energia. Acumulam currículos e, no caso das duas primeiras, militância petista.

Foi fácil para Dilma Rousseff compor um ministério que representa a continuidade do projeto de poder de Lula. Fica faltando definir o papel de Nosso Guia a partir de 2 de janeiro, quando retornará ao mundo onde os sinais de trânsito podem estar fechados, portas não abrem sozinhas e, como já percebeu, as pastilhas Valda de Guido Mantega vão para Dilma.

Depois de todo o esforço de composição do ministério, o governo de Dilma Rousseff continua onde sempre esteve: qual o papel de Lula, o pau do circo, que não está em lugar nenhum, mas deu a todos os lugares onde estão?

Elio Gaspari é jornalista.

Ih, deu ''lulice'' no Lulinha! :: José Nêumanne

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Convém, de início, reconhecer que o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva está cada vez mais com tudo e cada vez mais "prosa". E tem sobejas razões para tanto: a dez dias de passar a faixa para a sucessora, atingiu os píncaros da glória com 87% de popularidade e 80% de apoio ao governo nas pesquisas de opinião. E quem duvidar das pesquisas está convidado a ler o noticiário dos últimos 50 dias sobre o resultado da eleição e as consequências disso no alto comando do poder republicano. Contra tudo e contra todos ele impôs seu "poste" ao Partido dos Trabalhadores, levou Dilma Rousseff praticamente do nada ao topo do poder e se transformou no Condestável incontestável do futuro governo. A ponto de a jornalista Mary Zaidan registrar em seu twitter que o próximo passo da presidente eleita será convidá-lo a permanecer na Presidência com pompa e força. Nunca antes na História do Brasil um governante foi tão popular e teve tanto poder no último mês do mandato, quando a tradição reza que contínuo afasta o pé do quase ex-chefe para varrer embaixo da cadeira e copeiro lhe serve café frio.

Mas nem o mais condescendente dos devotos da notória obra de Sua Excelência deixará de reconhecer que o homem anda exagerando. O contraste entre a discrição da presidente que entra e o exibicionismo do que está de saída ulula mais do que o óbvio de Nelson Rodrigues. Na muvuca das compras de fim de ano, Dilma Rousseff se escondeu atrás do saco de presentes de Papai Noel e age numa discrição tão silenciosa que o colunista Roberto Pompeu de Toledo chegou a elogiar sua inexistência na última página da Veja da semana passada. De fato, nem o heterônimo de Fernando Pessoa Ricardo Reis inexistiu tanto em Lisboa na cena do melhor romance do Prêmio Nobel de Literatura José Saramago quanto nossa já quase primeira magistrada nos dois meses que separam sua vitória nas urnas da transmissão do cargo. Oito anos depois da badalada transição mais democrática da história do PSDB para o PT há tão escassa transição a ser feita de um petista para outro que, como já foi lembrado, a composição do futuro ministério mais parece apenas uma reforma ministerial capitaneada por Lula. Muitos ficam, outros trocam de cadeira, quase nada muda.

Nesta cena, prestes a ser ex-presidente, Lula se move com desenvoltura surpreendente até para quem o tem em conta de um grande cara-dura. No palanque da favorita, num comício no segundo turno da eleição em Campinas, ele deu o primeiro passo nessa direção ao criticar os adversários e neles incluir os meios de comunicação ditos conservadores. "Eles não se conformam que o pobre não aceita mais o tal do formador de opinião pública. Que o pobre está conseguindo enxergar com seus olhos, pensar com a sua cabeça, pensar com a própria consciência, andar com as suas pernas e falar pelas suas próprias bocas, não precisa do tal do formador de opinião pública. Nós somos a opinião pública e nós mesmos nos formamos", proclamou, parodiando (sem saber, é claro) o homônimo francês Luís 14, dito o Rei Sol, construtor do Palácio de Versalhes, a quem é atribuída a sentença que sintetiza o auge do absolutismo: "L"état c"est moi" ("o Estado sou eu"). Há dúvidas sobre a autoria da frase, mas ninguém jamais duvidou de sua falsidade: o pretenso autor morreu em 1715, seu bisneto Luís 16 foi decapitado por revolucionários 78 anos depois e o Estado francês existe 295 anos depois de o corpo real ter virado pó.

Com Dilma eleita e cada vez mais convencido de ser infalível como um papa católico, Lula mandou o repórter Leonencio Nossa, deste jornal, "se tratar" com um psicanalista por lhe ter perguntado se visitava o Maranhão em retribuição a serviços prestados pelo clã Sarney a seu sucesso político. Na mesma ocasião, também sem ter exata noção do que falava, atribuiu a mandatos populares o condão de tornar seres humanos instituições, negando a essência democrática da impessoalidade institucional e pregando o culto à personalidade, próprio de tiranias nazista, fascista e comunista.

Ao se dizer "a encarnação do povo", comparou-se com Cristo na eucaristia. E, ante uma plateia de prefeitos e governadores ansiosos por aplaudi-lo em troca de polpudas verbas do PAC 2, ele relacionou a vitória eleitoral de sua candidata entre as obras do próprio governo. E teve o topete de convidar José Dirceu, acusado em processo que tramita no Supremo Tribunal Federal de ter chefiado uma operação ilícita de compra de apoio parlamentar, para participar da solenidade em que registrou em cartório as realizações de seus oito anos de gestão. Quando todos imaginavam que aquele poderia ser o gran finale da ópera à qual o cínico acréscimo de Dirceu simbolizou a incorporação do "mensalão" aos feitos da república petê-lulista, o presidente deu uma demonstração clara de que ainda não se desfez de todos os truques retóricos para se manter em cena, mesmo tendo autorizado gastos de R$ 20 milhões para celebrar sua despedida. Questionado numa entrevista à RedeTV sobre sua intenção de voltar futuramente ao cargo, ele respondeu: "Não posso dizer que não, porque sou vivo. Sou presidente de honra de um partido, sou um político nato, construí uma relação política extraordinária."

Ih, deu "lulice" no Lulinha! Após ter jurado que o futuro governo teria a cara da chefe sem deixar de apoiar publicamente a permanência de auxiliares fiéis, o patrono expôs sua protegida ao maior dos constrangimentos, avisando: "estou de olho em você, garota." É isso aí! Das hipóteses da surpreendente escolha de Dilma para sucedê-lo a melhor é a de Arnaldo Jabor que, em entrevista à Playboy, apostou que ele só pode ter escolhido uma mulher porque, machista, não crê que uma fêmea o trairia, como na certa um macho o faria. Mas seguro morreu de velho e, para evitar a síndrome da criatura que sempre apunhala o criador, avisou que o fantasma do rei morto atormentará as noites insones da rainha posta.

Jornalista, escritor e editorialista do "Jornal da Tarde"

Resposta torta :: Míriam Leitão

DEU EM O GLOBO

O Blog do Planalto rebaixou o Brasil. Para justificar o injustificável 53º lugar no PISA, diz o seguinte: “Na lista dos 52 países que estão à nossa frente, apenas um tem o PIB inferior ao do Brasil, a Tailândia.” Como somos a oitava economia, fica o mistério: como podem existir 51 países maiores do que o Brasil? Com argumentos toscos e obviedades, o governo repete sua autolouvação.

Estão na nossa frente, na lista do desempenho da educação, países como Chile, Bulgária, Eslovênia, Estônia, Romênia, Lituânia, Turquia, Sérvia e Trinidad e Tobago. Inúmeros outros de PIBs menores do que o do Brasil.

A educação sempre foi uma chaga aberta no país.

Foi protelada governo após governo. Não é um problema só do atual. Na administração passada, deu um passo importante que foi a universalização. Os avanços que ocorreram agora foram insuficientes. É melhor reconhecer isso para dar sentido de urgência a um déficit que pode nos roubar o futuro. Melhor reconhecer os erros do que tentar torcer a aritmética mais básica e dizer que existem 51 países maiores do que o oitavo do mundo.

O Blog do Planalto mobilizou ministros para responder ao jornal O GLOBO, que fez no fim de semana um caderno com o balanço dos oito anos do governo Lula. É natural que um espaço oficial ressalte os avanços e dê menos ênfase aos erros. O que cansa é a versão de que nada de certo ocorreu antes de 2003.

Há um trecho em que a defesa do governo diz que fez uma “minirreforma tributária.” E na lista dos itens dessa minirreforma inclui “prorrogação da DRU e da CPMF.” Em outro trecho, diz que a DRU foi uma forma “engenhosa” feita pelo governo anterior de “desviar R$ 100 bilhões da educação.” Ou bem prorrogar a DRU é parte de uma minirreforma ou é uma forma perversa de desviar recursos da educação. O governo tem que escolher como definir o mecanismo que, a propósito, bom nunca foi.

Quando inventada, a Desvinculação das Receitas da União (DRU) tinha o objetivo de ser uma ferramenta temporária, enquanto não se fazia uma reforma tributária.

O governo FHC e o governo Lula não fizeram a reforma e o que era para ser temporário se eternizou.

O Blog do Planalto diz que eu fui parcial porque disse que o crescimento de 2010 é em parte devido à queda de 2009. E que ao citar o déficit em transações correntes de US$ 50 bilhões não o atribuí à crise internacional.

Vamos por partes na suposta parcialidade. Que o crescimento de 2010 é em parte devido à queda do ano passado é um fato estatístico.

Como se mede o crescimento do PIB comparando um ano com o anterior, a recuperação após uma queda é atingida por um fenômeno conhecido como carregamento estatístico.

Isso não desmerece o desempenho de 2010, mas assim é a estatística. Façase a conta pelo crescimento médio dos dois anos e se terá que o país cresceu em média 3,5%. Bom, mas nada espetacular.

Quanto ao déficit em transações correntes, ele tem pouca relação com a crise externa. O que os escribas oficiais poderiam ter dito é que mostra a força do crescimento, da importação, inclusive de máquina e equipamentos. O Brasil não teve queda de exportação.

Os produtos que o Brasil exporta aumentaram de preço. Então, não se culpe a crise externa pelo déficit brasileiro.

O governo diz que é mito que ele manteve a política econômica do governo anterior e fica procurando nuances para negar o inegável. Diz que a queda das metas de inflação foram mais drásticas antes e agora são mais graduais.

Ora, a ferramenta é exatamente a mesma.

É falso dizer que o atual governo derrubou a inflação de dois dígitos para o nível de 5%. Todos sabem que o que fez subir a inflação no finalzinho do governo anterior foi o temor de que o governo Lula fosse colocar em prática certas ideias amalucadas que seus economistas defendiam para segurar os preços.

A média de investimento público dos dois governos é de medíocres 0,8% do PIB.

Com o balanço do PAC pode- se fazer mágicas, mas os fatos são eloquentes. A única obra de logística do PAC concluída foram as eclusas de Tucuruí, iniciadas há 30 anos. Mesmo assim, a contabilidade do PAC registra 70% das ações de logística concluídas. O presidente Lula inaugurou, dias atrás, 16 km da ferrovia Oeste- Leste que terá 1.700 km.

Não se inaugura uma obra com menos de 1% concluída, a menos que se pense que as pessoas são bobas.

O governo se credita ter diminuído a mortalidade infantil.

É verdade. O governo anterior também. A taxa tem caído fortemente há três décadas. A mortalidade infantil caiu, segundo o IBGE, 33% no governo Fernando Henrique, e 27% no atual. A torcida é para que essa queda seja ainda maior no governo Dilma.

A autolouvação chega a comemorar queda de doenças transmissíveis no país, onde quase 5.000 pessoas morrem por ano de tuberculose.

Há dramas urgentes e números inaceitáveis. Se o governo admitisse isso seria levado mais a sério ao mostrar suas conquistas.

Empresa privada e o Projeto Nacional :: Carlos Lessa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

O Brasil é uma nau sem rumo no oceano da globalização. A crise não ensejou nenhuma mudança de direção

O crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no período 2003-2010 (4,1%) foi inferior à média latino-americana (4,2%). A média argentina (7,5%) foi quase o dobro da brasileira. Peru, Uruguai, Venezuela, Colômbia e Paraguai tiveram médias superiores à brasileira. A comparação com os países ditos emergentes (Bric) é muito mais vergonhosa: a Rússia nos supera, com 4,8% ao ano, a Índia, com 8,2%, e a China, 10,95%, nos esmagam. Este ano, o PIB brasileiro deverá crescer cerca de 7,5%, porém havia sido negativo (0,6%) em 2009.

Não é, por conseguinte, uma verdade que a crise mundial tenha sido "uma marolinha" e que tivemos um desempenho "excepcionalmente bem-sucedido". Nossa defesa contra a crise acionou o setor bancário oficial: Banco do Brasil (BB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal (CEF) praticaram, sem a inspiração de nenhum projeto nacional, medidas pontuais meritórias.

O Brasil parece uma nau sem rumo no oceano da globalização. A crise mundial não parece ter dado indício a nenhuma mudança de rumo. Alguns produtos primários continuam tendo preços especulativos e conferiram aos Anos Lula uma bonança nas contas externas e sucesso no controle da inflação; esse resultado foi obtido sem mudança estrutural relevante.

A promessa para o futuro repousa no pré-sal, porém permanece a dúvida de nos convertermos ou não em exportadores de óleo cru. Nesse caso, a República Velha (que foi embebida em café) será recomposta em mais uma nação periférica e infeliz, de soberania curta, pasto prioritário da geopolítica imperial.

A empresa privada, no Brasil, tem um comportamento tímido em termos de ampliação de capacidade produtiva. Sendo grande e fazendo parte de um oligopólio, sua timidez engendra uma anêmica taxa de investimento produtivo e uma orientação de rentista, ou seja, procura não se endividar e ser uma aplicadora no mercado financeiro enquanto prospecta oportunidades especulativas com mercadorias, ativos financeiros e, por vezes, realiza seu sonho de assumir o controle de uma competidora ou fornecedora crítica.

Entendo sua timidez: não tem clara a percepção de um futuro maior, pois inexiste um projeto nacional; sabe da intolerância governamental com altas de um dígito na taxa de inflação; sabe que o governo utiliza o modelo de metas de inflação, o que implica em valorização do real e juros primários muito elevados (o maior do planeta). Na fração de mercado que a empresa controla, é frequente a opção por importar componentes a custos mais baixos. Por outro lado, se não for primário-produtora, se defronta com um mundo em crise, com demanda atrofiada, e selvagem competição entre produtores industriais. Confia (caso da indústria automobilística e de eletrodomésticos) no endividamento familiar não intimidável por juros e bom pagador para manter aberto o acesso aos objetos de desejo familiar.

A política econômica, monetária e fiscal sacrifica o investimento público. Para o Brasil crescer 5% ao ano, nossa taxa de investimento deveria ser de 23% a 24% do PIB. Em 2010, cresceu um pouco (de 18% para 19%), reflexo de um ano eleitoral, de uma retórica euforizante e de algum investimento público pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para 2011, a palavra de ordem da nova presidente é cautela com os gastos, e seus ministros confirmados já se declararam pelo corte parcial do PAC. Existem gigantescos restos a pagar.

A empresa privada optará pela cautela. Para umas poucas, surge a ambição de se converterem em multinacionais num mundo onde a globalização está sob suspeita, mas continua superimposta. A Vale, por exemplo, em vez de desenvolver novas províncias minerais - na Amazônia, além de Carajás existe um fantástico patrimônio mineral a ser incorporado - se move com um projeto de se converter na maior mineradora mundial. Em vez de utilizar bilateralmente seu excelente minério de ferro para obter carvão metalúrgico e desenvolver a siderurgia nacional, compra da China material ferroviário e não exige que os chineses instalem e transfiram sua tecnologia ferroviária para o Brasil. Os chineses, quando compraram aviões da Embraer, forçaram-na a abrir uma filial na China e vão "clonar" nossa tecnologia. O Grupo Gerdau se espalhou pelo mundo e centralizou uma fundação-chave na Holanda. Nosso setor de proteínas vermelhas está adquirindo filiais nos EUA. Obviamente, e plenamente autorizados pelo Banco Central, exportadores brasileiros mantêm grandes aplicações financeiras no exterior. Obviamente, de forma disfarçada, capitais brasileiros, sobretudo aqueles oriundos "de formas estranhas", navegam no mar do Caribe e se instalam em paraísos fiscais.

As questões estruturais brasileiras não estão em pauta política; não se discutem suas características, seu processo genético-constitutivo nem os modos alternativos de superação. Apesar do fracasso do neoliberalismo e da globalização "estar fazendo água", no Brasil nos movemos segundo o velho dito português "tudo como antes no Quartel de Abrantes", que qualquer empresa lê na composição ministerial da nova presidente, no hino monocórdio de condenação da balbúrdia fiscaliza e no anúncio da pré-candidatura de Lula para o período pós-Roussef.

Está certa a timidez empresarial e sua opção rentista. Isto gera um subproduto: ser tímida é imensamente rentável. Bancos, companhias distribuidoras de energia elétrica, concessionárias de estradas e líderes em ramos comerciais praticantes da venda a prestação para famílias endividadas são enormemente lucrativas. Veem com desconfiança qualquer ideia de projeto nacional e reduzem a ação do governo à gestão limitada das políticas públicas.


Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O enigma:: Ernesto Maggiotto Caxeiro

Quando terminou historicamente a redemocratização,com a eleição direta de Fernando Collor,muitas pessoas de esquerda que haviam militado na grande frente que era o PMDB(então MDB)resolveram continuar nesta frente com alguns argumentos que ainda estão aí na ordem do dia para fundamentar as relações mais que esquisitas entre o antigo partido da ética,o PT e o PMDB.

A justificativa para este tipo de atitude é que o PMDB é o partido mais inserido na sociedade brasileira e portanto aquele com mais contato com a massa.A massa é o sonho da esquerda brasileira ,sempre mantida em diminutos partidos sem muita expressão.Diante da ascenção do PT ao poder a idéia de uma revolução,pelo menos transformações radicais,retornou. Até ao mensalão.

Com o mensalão pensava-se que toda esta transformação iria desaparecer.O PT era "o último partido"Qual não foi a surpresa ao ver o Presidente Lula,no final de seu primeiro mandato mostrar habilidade em fazer uma aliança com este partido,que o mesmo Presidente,anos atrás incluiu nos " trezentos picaretas'do congresso.

A aliança que impediu a queda do Presidente Lula criou expectativas extraordinárias para a " revolução":O PMDB se tornou um campeão da democracia,o processo da corrupção passou a ser algo secundário e...o contato com a massa que o PMDB representa passou a ser a possibilidade real da mudança.

Isto tudo demonstra que a esquerda continua pensando em termos absolutamente ultrapassados,tanto nos seus conceitos quanto na sua prática.Quando se vê que determinados agentes da sociedade civil são cooptados pelo estado e o governo;quando se observa esta aliança,observa-se que ela não é mais do que um compromisso pragmático,pois as reflexões acima mostram que o processo de mudança terá que ser contra o PMDB,pois este,ao que se saiba nunca propôs uma revolução;quando se ouve a presidente eleita prometer o fim da miséria,não se sabe bem como,já que o PMDB está há anos no poder e não cogitou disto sequer,sendo mesmo representante do fisiologismo que mantém a nação presa nas dificuldades históricas de seu crescimento.

Como ser uma esquerda mudancista fazendo acordos com o antigo regime? É um enigma difícil de responder agora, mas cujas vésperas não são auspiciosas.

É professor de Filosofia

Ameaça de greve pode parar amanhã aeroportos do país

DEU EM O GLOBO

Após três horas de reunião, fracassou a tentativa de acordo entre dirigentes das companhias aéreas e dos sindicatos dos trabalhadores do setor para evitar uma greve da categoria, que reivindica reajuste salarial. O desfecho torna iminente a paralisação nacional de pilotos, comissários e pessoal de solo amanhã, antevéspera do Natal. Nesse dia, estão programadas assembleias em varias capitais, e a categoria promete ao menos uma operação-padrão, o que deverá gerar atrasos em cascata nas principais rotas. Para evitar quebra-quebra nos aeroportos, caso a greve se confirme, o Ministério da Defesa enviou oficio aos governadores, solicitando reforço na segurança. No quarto dia seguido de atrasos, ontem o percentual de voos que saíram com mais de 30 minutos após o horário previsto chegou a 23,8%, ou seja, 528 partidas. Outros 150 voos foram cancelados. Na Europa, o inverno rigoroso, com fortes nevascas, afeta não só aeroportos, mas também estradas e ferrovias. Só no Reino Unido, as perdas podem atingir US$ 40 bilhões.

Turbulência de Natal

AMEAÇA NO AR

Tentativa de conciliação com aéreas fracassa e trabalhadores prometem greve para amanhã

Geralda Doca

Não houve acordo na tentativa de conciliação promovida ontem pelo Ministério Público do Trabalho entre dirigentes sindicais das companhias aéreas e dos trabalhadores do setor para evitar uma greve. O desfecho torna iminente a paralisação nacional de pilotos, comissários e pessoal de solo amanhã, antevéspera do Natal. Neste dia, às 5h, estão programadas assembleias em várias capitais, principalmente no Rio (em frente ao Santos Dumont) e em São Paulo (Guarulhos e Congonhas), onde os funcionários do setor aéreo estão mais mobilizados. A categoria promete ao menos uma operação-padrão, o que deverá gerar atrasos em cascata nas principais rotas.

Estão programados para o dia 23 entre 480 mil e 500 mil embarques e desembarques, com pelo menos 240 mil passageiros circulando entre os principais aeroportos do país. Para evitar quebra-quebra nos aeroportos, caso a greve se confirme, o Ministério da Defesa enviou ofício aos governadores, solicitando reforço na segurança. A recomendação é que a Infraero também reforce sua equipe.

Os atrasos de voos vêm crescendo desde o fim de semana. Ontem, depois de ter atingido 16,5% às 12h, o percentual de voos com destinos domésticos que decolaram mais de 30 minutos após o horário previsto chegou a 23,8% às 20h - atingiu 528 dos 2.220 voos programados. Outros 150 foram cancelados.

Jobim faz reunião de emergência

Os problemas foram maiores com a Webjet, que atrasou 29,5% das suas rotas, seguida por TAM (27,8%) e Gol (25,2%). Das 154 partidas internacionais previstas, 38 saíram fora do horário (24,7%). Na TAM, o percentual foi de 46,9% (das 32 programadas, 15 atrasaram).

Os pedidos de reforço de segurança da Defesa foram encaminhados na sexta-feira pela pasta, diante do temor das consequências da paralisação no dia de maior movimento nos aeroportos na semana de Natal. A própria intervenção do Ministério Público no conflito foi a pedido da Defesa.

Porém, durante o encontro realizado ontem em Brasília, representantes da classe trabalhadora recusaram a proposta de reajuste de 6,5% (cerca de meio ponto percentual acima da inflação) feita pelas empresas. A proposta anterior era de 6,08%. A categoria insiste em 13% (com ganho real) para aeroviários (trabalhadores de solo) e aeronautas (pilotos e comissários).

Ao tomar conhecimento do resultado da reunião, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, convocou uma reunião com o presidente da Infraero, Murilo Barboza, e a secretária de Aviação Civil, Fabiana Todesco. Eles ainda avaliavam a situação às 21h, para ver o que poderia ser feito para evitar a greve, como por exemplo convocar uma reunião com as companhias aéreas. Ao fim do encontro com os trabalhadores, elas diziam não acreditar na greve.

- Não acreditamos que vai haver paralisação. Não há o menor cabimento em fazer uma greve no dia 23 de dezembro por tudo o que o Natal significa para a sociedade brasileira - afirmou Odilon Junqueira, negociador por parte das companhias.

- O que as empresas fizeram (proposta de 6,5%) foi uma provocação. Vamos convocar os trabalhadores para a greve durante todo o dia 23. Ainda que não haja greve, o trabalhador vai, no mínimo, atrasar os voos - rebateu Marcelo Schimidt, secretário-geral do Sindicato dos Aeronautas.

- Queremos pedir desculpas à sociedade pela radicalização do caos aéreo - emendou o presidente do Sindicato dos Aeronautas, Gelson Dagmar Fochesato.

Anac não tem plano de contingência

Fochesato disse que, caso as assembleias aprovem a paralisação, somente deverão decolar 30% das partidas programadas. Porém, quem vai definir quais rotas serão mantidas serão as próprias empresas.

Os trabalhadores reclamam que estão tentando negociar com as companhias desde o dia 30 de setembro e argumentam que o setor cresceu 30% só entre janeiro e setembro.

Apesar do impasse, o procurador-geral do Trabalho, Otávio Brito Lopes, disse acreditar numa negociação - embora não tenha sido marcado novo encontro. Afirmou, entretanto, que se a paralisação se confirmar, o Ministério Público vai acompanhar o movimento, sobretudo do ponto de vista da legalidade e da preservação da saúde e da segurança dos passageiros. Caso haja problemas neste sentido, o Ministério Público poderá ajuizar uma ação no Tribunal Superior do Trabalho (TST), onde um ministro estará de plantão, contra o movimento.

No início da reunião, que durou três horas, representantes dos aeronautas entregaram ao procurador documentos com denúncias de excesso de jornada e não concessão de folgas.

Órgão regulador do setor aéreo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) foi convidada a participar da reunião de conciliação, mas não enviou representante. Alegou que a negociação sindical não é de sua competência. A Anac também não tem plano especial de contingência para a greve - as soluções terão que ser oferecidas pelas companhias aéreas.

Lula ‘inaugura’ teleférico três meses antes

DEU EM O GLOBO

O presidente Lula, em sua última visita oficial ao Rio, inaugurou e testou ontem as gôndolas do teleférico do Complexo do Alemão, que no entanto só será aberto ao público em marco. Através de um telão, ele inaugurou ainda a duplicação de 26 quilômetros da rodovia Rio-Santos, entre Santa Cruz e Itacuruçá, obras que se arrastaram por quatro anos. Lula acompanhou ainda pelo telão a entrega de 144 unidades habitacionais e das obras de reurbanização da Rua 4 da Rocinha. Transformada de um beco de 60 centímetros para uma via de até 12 metros de largura, a rua tem uma das maiores incidências de tuberculose do país.

Lula inaugura teleférico que só abre em março

Presidente chega de vidros abertos no Alemão ocupado e Pezão garante R$1 bi para melhorias em 13 favelas

Taís Mendes e Waleska Borges

Em clima de festa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem sua última visita oficial ao Rio, embarcando numa das gôndolas do teleférico do Complexo do Alemão - que só será aberto ao público em março. Durante o evento, o vice-governador Luiz Fernando Pezão anunciou R$1 bilhão de recursos próprios, além dos R$600 milhões do Ministério das Cidades, dentro do PAC 2, e dos R$600 milhões de empréstimos do BNDES, que serão aplicados em 13 comunidades (pacificadas ou não) do Rio. De acordo com Pezão, entre as obras está prevista a instalação de um teleférico na Rocinha e de um monotrilho na Tijuca. As obras devem começar já em maio.

Os recursos do Ministério das Cidades já foram liberados para investimentos nas comunidades de Mangueira, Batam e Tijuca. Além delas, o governo do estado investirá em melhorias em Rocinha, Manguinhos, Alemão, Kelsons, São Sebastião, Juramento, Jacarezinho, Macacos, Complexo do Lins e Dona Marta.

- Vamos fazer pintura das casas, telhados, abrir ruas, recuperar centros culturais, fazer teleférico na Rocinha e na Tijuca. Serão intervenções em todas essas favelas - afirmou o vice-governador.

Além do presidente e do vice-governador, participaram do evento o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, e vários ministros, entre outras autoridades.

Lula: "Complexo do Alemão não é mais bicho-papão"

Durante a solenidade, o presidente contou que se emocionou ao assistir, pela TV, à ocupação policial do complexo e da Vila Cruzeiro e pediu a Paes e Cabral que "não permitam que haja um retrocesso no Alemão".

- O Complexo do Alemão não é mais bicho-papão - brincou o presidente, arrancando aplausos da multidão que acompanhava o evento.

Lula embarcou na estação de Bonsucesso e fez a viagem até a estação do Morro da Baiana, dando início à fase de testes da instalação eletromecânica do sistema. Incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e construído pela Secretaria estadual de Obras, o teleférico é o primeiro sistema de transporte de massa por cabos do Brasil.

- Primeiro, quero agradecer ao Cabral e ao Pezão por terem trabalhado para permitir que a gente pudesse fazer a primeira viagem do teleférico no Complexo do Alemão, que só poderá ser utilizado pelo povo em março. O sistema vai passar primeiro por uma fase de testes. Quando estiver tudo testado e 100% garantido é que o povo vai poder transitar normalmente. Tem que ter paciência porque a demora é para o bem de vocês, por uma questão de segurança - explicou o presidente para a população sob o sol a pino.

O presidente, que também inaugurou um caixa eletrônico da Caixa Econômica Federal na estação do teleférico, destacou que as obras e a ocupação do Complexo do Alemão foram importantes para a autoestima dos moradores:

- Eu tive a oportunidade de vir de carro, com vidro aberto, cumprimentando as pessoas nas ruas. Acho que as pessoas estão com a autoestima tão elevada que não é possível medir. Finalmente, depois de tantos desgovernos no Rio, temos um governo que resolveu fazer o óbvio: privilegiar tratar das pessoas de bem do Rio em detrimento da bandidagem e do narcotráfico. O teleférico passa a disputar com o Pão de Açúcar o cartão postal do Rio.

No final da solenidade, Sérgio Cabral e Eduardo Paes entregaram a chave do Rio ao presidente, além de um recibo de mais de R$2 bilhões investidos na cidade em dois anos.

- E não estou incluindo o PAC 2. Isso permitiu um conjunto de ações importantes na cidade. É um gesto simbólico para dizer que a cidade do Rio está de portas abertas para o senhor - disse Eduardo Paes, durante a entrega da chave.

- Saio do Rio com a consciência tranquila de que não fizemos tudo, mas fizemos mais do que muitos fizeram durante décadas no estado - disse o presidente.

Moradores acompanharam evento com presidente

Sob o sol forte de ontem, dezenas de moradores permaneceram na rua até Lula deixar a estação do Morro da Baiana. Muitos aguardavam para tirar fotos do presidente, mas apenas as pessoas credenciadas tinham acesso ao evento.

A Rua Itajubara teve o tráfego interrompido, e o acesso às casas era feito por grades de proteção. Do lado de fora da Estação Baiana, moradores tentavam acompanhar a movimentação de janelas, lajes e calçadas.

O técnico de informática José Clóvis da Silva, de 37 anos, morador do Morro da Baiana, não trabalhou ontem por causa do evento:

- Com o teleférico, vamos economizar tempo e dinheiro. Depois da chegada da UPP, também aumentou a nossa sensação de liberdade.

A aposentada Elizete Correa da Silva Monteiro, de 59 anos, tentava deixar um recado:

- Há dias que muitas pessoas aqui não têm nenhum R$1. A entrada para o teleférico precisa ser gratuita ou ter um valor simbólico.

Outros moradores aproveitaram para reclamar da falta de água e luz no complexo.

A tranquilidade nos pontos visitados pelo presidente foi garantida por agentes de segurança contratados pelo cerimonial do evento. Policiais do Batalhão de Choque também estiveram nos arredores do Morro da Baiana. No início da manhã, homens do Esquadrão Antibombas lotados na Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) fizeram uma inspeção na Estação de Bonsucesso.

Rio prende 2 vereadores acusados de integrar milícia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Ao todo, operação com 200 policiais prendeu 25 suspeitos em Duque de Caxias

Acusações incluem 50 homicídios, extorsão, exploração de TV a cabo e internet clandestinas, além de jogo ilegal

Felipe caruso


RIO - Uma operação que envolveu 200 policiais civis do Rio prendeu ontem 25 pessoas acusadas de fazer parte da mais antiga milícia em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.A quadrilha, estruturada desde 2007 e conhecida como "Família É Nós", é suspeita de mais de 50 homicídios na região, extorsão, venda de gás, exploração de TV a cabo e internet clandestinas e máquinas caça-níqueis. A polícia estima que o grupo lucrava R$ 300 mil por mês.

As investigações começaram há seis meses. Escutas telefônicas indicam que o grupo vendia armas para traficantes das favelas do Complexo do Alemão, na zona norte, ocupadas pelo Exército desde 28 de novembro.

Para Alexandre Capote, delegado da Draco (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado), que coordenou a operação, a investigação mostra que não há competição entre tráfico e milícia.

"Fez cair por terra aquela visão utópica, romântica e ingênua de que a milícia é um mal necessário e uma autodefesa da comunidade. A milícia nada mais é do que uma empresa criminosa."

Apontados como líderes da milícia, os vereadores Jonas Gonçalves da Silva, PM reformado conhecido como Jonas é Nós (PPS), e Sebastião Ferreira da Silva, o Chiquinho Grandão (PTB), foram presos em suas casas.

Procurados pela reportagem, os advogados de ambos não foram localizados.

O filho de Jonas e ex-policial militar Éder Fábio Gonçalves da Silva, conhecido como Fabinho é Nós, também foi preso sob acusação de chefiar o bando.

A Câmara Municipal de Duque de Caxias divulgou em nota que acompanha as investigações para decidir se afasta os vereadores. Ao todo, foram 34 mandados de prisão e 51 de busca e apreensão, inclusive no gabinete dos parlamentares.

Entre os que tiveram a prisão preventiva decretada estão 13 PMs, quatro ex-PMs, um terceiro-sargento do Exército, um fuzileiro naval, um ex-fuzileiro naval e um comissário da Polícia Civil.

Três PMs e o comissário ainda estão foragidos. Todos responderão a ação penal pela acusação de crime de quadrilha armada. A pena pode chegar a 12 anos de prisão.

PPS/RJ manda para o Conselho de Ética caso de vereador envolvido com milícia

DEU NO PORTAL DO PPS

Por: Redação

Nota do Diretório do PPS do Rio de Janeiro

O presidente Estadual do PPS no Rio de Janeiro, deputado Comte Bittencourt, entende que se trata de uma questão gravíssima a situação do vereador filiado ao partido, Jonas Gonçalves da Silva, conhecido como "Jonas é Nóis", que aparece como suposto envolvido em esquema de milícia desbaratado pela polícia na Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro, nesta terça-feira (21).

Para Bittencourt, esse envolvimento fere os princípios éticos do Partido Popular Socialista.

Nesse sentido, o presidente do legenda já encaminhou à Comissão de Ética em caráter de urgência, solicitação de relatório circunstanciado para que o partido possa rapidamente adotar todas as medidas saneadoras que o caso requer.

Deputado Comte Bittencourt
Presidente do PPS-RJ

Cineasta iraniano condenado critica atuação do Brasil

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O cineasta iraniano Jafar Panahi, 50, afirma em entrevista que o Brasil privilegia as suas relações econômicas com o Irã, em detrimento dos direitos humanos. Panahi, um dos mais destacados opositores do regime de Mahmoud Ahmadinejad, foi condenado anteontem a seis anos de prisão.

Iraniano preso acusa Brasil de ignorar direitos humanos

País privilegia relação econômica, disse cineasta Jafar Panahi em outubro

Um dos expoentes da oposição ao presidente Ahmadinejad, ele teve a condenação à prisão anunciada anteontem

Aline Khouri e Flavio Rassekh

Condenado anteontem a seis anos de prisão, o cineasta iraniano Jafar Panahi, 50, diz que o Brasil privilegia as relações econômicas com o Irã em detrimento dos direitos humanos.

"São os governos que julgam o que é mais importante: as violações de direitos humanos ou suas possíveis oportunidades econômicas.

O Brasil pesou este lado, colocou as duas variáveis na balança e julgou que valeria a pena pelo lado econômico", declarou Panahi, em entrevista feita por telefone no último dia 27 de outubro -há pouco menos de dois meses, portanto- num raro intervalo de liberdade.A entrevista permanecia inédita até hoje. No início do ano, Pahani já havia passado 88 dias preso.

Premiado nos festivais de Cannes e Veneza, ele destacou-se como um dos principais opositores ao regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Folha - O sr. já havia sido preso outras vezes. Qual foi a diferença no último episódio?

Jafar Panahi - Essa última foi totalmente diferente, até porque Evin [onde ficou preso da última vez, no noroeste do país] é a prisão mais famosa do Irã, por conta de seus prisioneiros políticos. Fiquei três meses preso, a partir do dia 1º de março. Fui detido com minha família, mas eles foram liberados após dois dias. Em Evin estão também minorias religiosas como os bahá"í [religião monoteísta surgida na antiga Pérsia]. Todos ali são prisioneiros de consciência.

Em quais condições vivem esses presos?

Não pude ter qualquer contato com qualquer um fora da minha cela. Quando saíamos, éramos orientados pelos guardas a andar com os olhos vendados.Depois de 14 dias na solitária, fui levado a uma cela muito apertada, de 1 m por 2,5 m, dividida com duas outras pessoas. Só saíamos da cela para ir ao banheiro ou tomar banho duas vezes por semana. Esses companheiros também foram feitos prisioneiros devido às suas ideias. Não haviam feito nada que ferisse a lei.Não dava para ver mais nada mesmo, apenas quando havia visitas, nos momentos que os guardas nos levavam por distância um pouco maior. Recebi a primeira visita depois de um mês e pouco.

Em relação às mulheres no Irã, quais os ganhos mais significativos nos últimos anos e quais as proibições que precisam ser revistas?

Acho que o ganho dos últimos anos foi a conexão com o resto do mundo, que faz com que as mulheres comparem a situação de seus direitos com aqueles adquiridos em outras partes do mundo e a partir disso reivindiquem. O governo está de olho nisso e ataca cada manifestação desse contato, por isso a enorme quantidade de senhoras, jovens e jornalistas presas apenas por exigir liberdade.Então o passo mais urgente é garantir esse direito mais primordial, que é o da livre expressão. A maioria dos filmes que faço foca nas limitações das mulheres, porque embora homens também sofram várias barreiras, as mulheres são mais sacrificadas, seus direitos básicos são mais cerceados.Quando os direitos básicos não são respeitados e o Judiciário não pode atuar independentemente, a situação chega a um ponto em que a Justiça não pode ser feita.

Como o sr. encara as relações do Brasil com o Irã, enquanto potências mundiais tendem a sanções e embargos?

É natural que cada governo tente proteger seus próprios interesses. Existem estratégias políticas no jogo e certamente o Brasil não ignora isso. O que fala mais alto não é solidariedade, mas interesses políticos e comerciais. Nessas condições, os princípios dos direitos humanos são ignorados em detrimento dos interesses econômicos.Em momentos assim, são os governos que julgam o que é mais importante: as violações de direitos humanos de um país ou suas possíveis oportunidades econômicas. O Brasil pesou este lado, colocou as duas variáveis na balança e julgou que valeria a pena pelo lado econômico. As lideranças do Irã querem destruir qualquer minoria porque não enxergam outra maneira de ver. Por isso qualquer um que pense diferente vai para a cadeia.

Em diversas declarações o sr. se remete ao ato de pensar e dirigir um filme como uma necessidade de questionar algumas certezas. O cinema acaba sendo uma terapia?

O princípio da profissão de cineasta é ser verdadeiro consigo mesmo, é acreditar no que você está fazendo e ter certeza de que aquilo é correto. Sem isso, não há sucesso. Cineasta não pode mentir para si mesmo.

FELIZ NATAL!

São os votos de Gilvan e Graziela

Recomeçar::Carlos Drummond de Andrade

E é hoje o dia da faxina mental… joga fora tudo que te prende ao passado… ao mundinho de coisas tristes… fotos… Peças de roupa, bilhetes de viagens… E toda aquela tranqueira que guardamos… Jogue tudo fora… Mas principalmente… Esvazie seu coração… E fique pronto pra Vida!

“Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço não do tamanho que os outros me enxergam”.

Não importa onde você parou… Em que momento da vida você cansou… O que importa é que sempre é possível e necessário “Recomeçar”.

Recomeçar é dar uma chance a si mesmo, é renovar as esperanças na vida e o mais importante… Acreditar em você de novo.

Sofreu muito neste período?

Foi aprendizado…

Chorou muito?

Foi limpeza da alma…

Ficou com raiva das pessoas?

Foi para perdoá-las um dia…

Sentiu-se só por diversas vezes?

É porque fechaste a porta até para os anjos…

Acreditou que tudo estava perdido?

Era o início da tua melhora… Pois é… Agora é hora de reiniciar… De pensar na luz… De encontrar prazer nas coisas simples de novo.

Que tal um corte de cabelo arrojado? Roupas novas? Um novo curso… Ou qualquer outra coisa. Olha quanto desafio… Quanta coisa nova nesse mundo te esperando.

Ta se sentindo sozinho? Besteira… Tem tanta gente que você afastou com seu “período de isolamento”… tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu para “chegar” perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza… Ficamos horríveis… O mau humor vai comendo nosso fígado… Até a boca fica amarga…

Recomeçar…

Hoje é um bom dia para recomeçar novos desafios. Aonde você quer chegar?

Vai alto… Sonhe alto… Queira o melhor do melhor… Se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor… Só o melhor vai se instalar na nossa vida.

Das utopias::Mario Quintana

Se as coisas são inatingíveis... ora!
não é motivo para não querê-las...


Que tristes os caminhos, se não fora
a mágica presença das estrelas!