sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

BC cria compulsório de 60% para deter dólar

DEU EM O GLOBO

Na primeira medida do governo Dilma para segurar o dólar, o BC criou um compulsório de 60% limitando operações dos bancos que apostam na queda da moeda. Com isso, eles terão que comprar US$ 7 bilhões no mercado. Em reação, o dólar subiu 0,77%, a R$1,688. O BC alertou que brasileiro deve ter cautela ao se endividar em dólar.

Ofensiva para puxar o dólar

Na 1ª medida do governo Dilma, BC cria compulsório de bancos, que devem retirar até US$7 bi do mercado

Patrícia Duarte

Ogoverno Dilma Rousseff moveu-se do discurso para a ação ao adotar, ontem, sua primeira medida concreta contra o derretimento do dólar. O Banco Central (BC) instituiu um compulsório inédito de 60% que vai, na prática, limitar operações dos bancos que representam apostas na queda do dólar frente ao real. A ação deve incentivar a compra de aproximadamente US$7 bilhões no mercado à vista pelos bancos nos próximos três meses, o que pode puxar para cima a cotação da moeda americana. Ontem, o dólar subiu 0,77%, para R$1,688.

Ainda que esse movimento de recomposição do valor do dólar venha a ser discreto, como preveem especialistas e equipe econômica, a regra do BC deixou os agentes financeiros mais atentos à resolução do governo de realmente atuar para conter a valorização excessiva do real, o que tem efeito na formação das expectativas e influencia os negócios. Na equipe econômica, estima-se que a cotação deve ficar mais próxima de R$1,70, sem ultrapassar R$1,75.

O compulsório incidirá sobre a posição vendida dos bancos, que, no jargão do mercado, significa que a instituição está fechando mais contratos de venda de dólares (a importadores, por exemplo) do que de compra de moeda. O banco aumenta esta operação porque acredita que a moeda americana ficará cada vez mais barata, ao passo que os reais que recebe em troca podem ser aplicados em títulos públicos, que rendem os juros reais mais elevados do mundo. O crescimento dessa aposta nos últimos meses é identificado como combustível para a contínua apreciação do real.

- A medida em si não afeta tanto as cotações, mas gera um efeito emocional. É uma postura nova do BC, de atuar no câmbio por outras vias - avaliou o superintendente de Tesouraria do banco Banif, Rodrigo Trotta, lembrando que ainda há muita liquidez no mercado externo, o que limita o efeito da ação.

"Mais emblemática do que prática"

Pela medida anunciada ontem, deverão ser recolhidos ao BC - a título de compulsório bancário, em espécie e sem remuneração - 60% do valor da posição de câmbio vendida que exceder o menor dos seguintes valores: US$3 bilhões ou o patrimônio de referência dos bancos.

Se um banco tem patrimônio de US$2 bilhões e uma posição vendida de US$6 bilhões, a taxa do compulsório recairá sobre a diferença, de US$4 bilhões. Ele teria, portanto, de depositar no BC US$2,4 bilhões em espécie, sem remuneração.

Essa ação é uma regra prudencial que não define as condições da operação, apenas eleva seu custo. Por isso, de acordo com o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, a expectativa é que os bancos façam as contas e reduzam suas posições vendidas até o ponto em que não terão de recolher compulsório.

Segundo os dados de dezembro do BC, as posições vendidas atingiram US$16,8 bilhões. Para não pagar compulsório, teriam de ser de US$10 bilhões, ou seja, os bancos teriam de comprar no mercado cerca de US$7 bilhões para se desfazer de parte de suas posições. Quando há uma força compradora de uma moeda, a pressão é de alta em sua cotação.

- A medida, isoladamente, é um indutor de valorização do dólar (frente ao real) - afirmou Aldo Mendes.

Esta semana, a moeda americana atingiu a menor cotação desde 1º de setembro de 2008, R$1,65, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou na terça-feira que o governo adotaria medidas para não permitir que o dólar "derretesse", prejudicando as exportações. Apesar de sinalizar que haveria um cardápio de medidas, inclusive de controle de capitais, não anunciou qualquer uma. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, já havia puxado o coro na véspera.

A iniciativa do BC, segundo seu presidente, Alexandre Tombini, foi prudencial. O mercado brasileiro de dólares à vista, argumentou, movimenta cerca de US$2 bilhões ao dia. Caso houvesse algum problema, como uma crise financeira, não haveria como cobrir sem volatilidade a atual posição cambial dos bancos (entregar os dólares de todos os contratos).

- (As posições cambiais) estão superdimensionadas. Elas vão se adequar à realidade do mercado - afirmou o presidente do BC.

- Os R$10 bilhões (patamar que o BC calcula para as posições vendidas) são manejáveis e não trazem riscos ao sistema - disse Aldo Mendes.

Para o diretor de câmbio da corretora Fair, Mário Battistel, o mercado ainda avaliará melhor os impactos da medida, ainda mais que a tendência continua sendo de mais entrada de recursos externos no país também por causa da elevada taxa básica de juros, de 10,75% ao ano. E o mercado acredita que a Selic fechará o ano a 12,25%, melhorando ainda mais os rendimentos dos títulos públicos. Mas Battistel concorda que o governo tem dado sinais de que quer manter o real menos valorizado:

- Vejo a ação (de ontem) do BC mais emblemática do que prática.

Aldo Mendes disse que não há outras medidas cambiais no radar do BC, apesar de reconhecer que permanece a tendência mundial de desvalorização do dólar.

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