sábado, 15 de janeiro de 2011

Lá Vem o Patto!:: Urbano Patto,

DEU EM O JORNAL DA CIDADE – PINDAMONHANGABA/SP

Caros leitores

Reproduzo artigos escritos em abril e janeiro de 2010. Por favor, substituam as cidades citadas neles por Petrópolis, Teresópolis e Nova Fribrugo e façam as correlações que julgar convenientes.

E basta !

Artigo publicado em 10 de abril de 2010

Quais são as justificativas e explicações para uma tragédia urbanas como a ocorrida em Niteroi essa semana ? Não há.

Eventos críticos da natureza e do clima, como terremotos, chuvas excepcionais, ressacas, furações, vulcões, tsunamis ainda podem ser explicados como frutos do imponderável e da “sorte ou do azar”, embora cada vez menos convincentemente devido ao avanço da técnica e da ciência para prevenção e mitigação e da cobrança cada vez maior da necessária prudência dos administradores e legisladores.

Mas, construir ou permitir que se construa edificações para uso urbano sobre um lixão desativado não tem nada a ver com isso, é pura e simples irresponsabilidade e descaso com a vida humana. É crime.

Tampouco há como alegar desconhecimento da existência da situação de risco, mesmo que não fosse de desabamento sob chuvas intensas. Foi relatado claramente nas notícias que há anos escorria chorume livremente em vários pontos no local e que era diversão de crianças colocar fogo nos vazamentos de gás metano gerado pela decomposição do lixo orgânico enterrado.

Um lixão daquele tamanho não é algo que possa passar despercebido, que uma vez recoberto por uma camadinha de terra está novo e pronto para uso, que cresceu mato encima e ninguém mais viu, ou lorotas desse tipo.

Agrava ainda mais a história saber que desde a desativação do lixão, e obviamente todo o processo que se seguiu de sua ocupação irregular, um mesmo prefeito foi eleito e reeleito duas vezes e que no intervalo entre seus mandatos os outros também eram por ele apoiados.

Não há como não ficarmos indignados com situações desse tipo e não cobrarmos de nós mesmos brasileiros enquanto coletividade e eleitorado um padrão mais alto de exigências para o exercício da função pública.

Enquanto isso o projeto “Ficha Limpa” ainda tramita a trancos e barrancos no Congresso Nacional e mandatários acusados de corrupção que renunciam antes de iniciados processos de cassação não perdem os direitos políticos e retornam à vida pública pelo voto.

“Ficha limpa” para candidatos dá até para exigir por lei mas, “voto limpo” do eleitor só se pode conseguir pela educação e consciência de cada um.

Artigo publicado em 09 de janeiro de 2010.

2010 chegou! Com muita chuva e algumas catástrofes. Nessas ocasiões sempre aparecem os engenheiros de obras feitas e os lembradores de profecias, pragas e maldições.

Daqui a pouco haverá, se é que já não há, gente dizendo que São Luiz do Paraitinga sofreu o que sofreu porque o padre que proibia os carnavais antigamente, rogou uma praga que pegou. Afinal, ele achava que carnaval é coisa do demônio e que só podia dar em punição dos céus. Ainda mais somado com essas histórias de cultuar o Saci, personagem pagão e irreverente. Onde já se viu? Dia do Saci, não podia resultar em coisa boa.

Crendices à parte, uma coisa que se pode afirmar sem medo de errar é que essa chuva foi uma das maiores, se não a maior, já registrada desde que se registra o volume de chuvas na região. É uma dessas manifestações extremas da natureza, que acontecem e que os homens não estão capacitados para prever, se antecipar e muito menos impedir. Os exemplos mais recentes são a erupção do vulcão Mayon nas Filipinas, o terremoto de Áquila, o furacão Katrina em Nova Orleans, o Tsunami na Indonésia.

O que se pode é aferir é a resolutividade das ações dos homens e instituições para atender às emergências e, posteriormente, para recuperar o que for recuperável, reconstruir o que for necessário e aprender com tudo isso e tomar as providências para que situações como essa não se repitam, ou ao menos que as situações similares que possam vir a ocorrer, em qualquer tempo e lugar, sejam respondidas sempre com maior rapidez e menores danos.

Ressalte-se a importância da solidariedade humana que aflorou nesse episódio e a bravura e altivez que o povo e as lideranças de São Luiz do Paraitinga tem demonstrado e que por isso não tenhamos duvidas que reconstruirão sua cidade, e com certeza melhor, pois é isso que a humanidade faz, reconstrói cotidianamente sua história, seu patrimônio e sua cultura.

Nessa reconstrução deverão ser bem-vindos: nova Igreja, novas casas, e por que não, novos casarões coloniais, novas canções e marchinhas, a festa do Divino, o Carnaval, o afogado, as orações, mais fortes ainda, daqueles que crêem, a memória de Elpídio do Santos, de Oswaldo Cruz, de Juca Teles, do padre que rogou a praga e do Saci.

Isso tudo junto é alma de um povo e de uma cidade, e não tem enxurrada, por mais volumosa ou violenta que seja, que consiga carregar.

Urbano Patto, Arquiteto Urbanista e Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, membro do Conselho de Ética do Partido Popular Socialista -PPS- do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com.

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