sábado, 29 de janeiro de 2011

O caminho mais curto para voltar:: Wilson Figueiredo

Por ser a mais consolidada presença política do lado de fora do governo e, portanto, com autoridade para fazer mais do que cara feia, o PSDB não pode desperdiçar em 2014 a oportunidade de cumprir a missão oposicionista de que não deu conta nas três últimas ocasiões eleitorais. Quando do mensalão, a direção social-democrata puxou o freio de mão e, satisfeita com dividendos eleitorais presumíveis, ficou à espera das consequências. Mas não encontrou o meio de explorar o tesouro pré-eleitoral do mensalão. Já era tarde para ser apenas espectador e, também sócio oculto em costumes desabonadores, o PSDB se deu por satisfeito com o que acreditou ter capitalizado para usar nas eleições. Na verdade, não queria era se comprometer com o que viesse por fora do previsível.

Não faltou tempo para recompor a fachada da democracia restaurada depois da vitória final pela própria eleição indireta. A representação política gastava, por conta da democracia, o saldo deixado pelo jogo com que Tancredo Neves e Ulysses Guimarães retomaram, das mãos dos militares, o mando republicano com as mesma armas com que tinham chegado e ficado lá (a eleição indireta). Parecia haver sido restaurada a respeitabilidade política, até que o mensalão rompeu as costuras das conveniências e se inclinou na direção do pior que se pudesse imaginar. O temor de crise dissuadiu o ânimo de confronto fora das urnas, mas não encaminhou solução ética (meia dúzia de parlamentares pagaria por todos os beneficiários). A contribuição do presidente Lula foi dizer que não soubera de nada.Não convenceu.

Quanto à oposição, tratou de debandar ao se dar conta de que a crise, no velho estilo republicano, era o caminho mais curto para voltar atrás. A tradicional hipótese de golpe de estado entrou no raciocínio circular que não deixava saí-da. O fundo golpista se dissolveu na expectativa de que tudo se processaria como de hábito. Declarados ou ocultos, todos são sócios remidos. Constou que houve reunião dramática do lado de dentro do governo.

Com a presença de Lula, que (presume-se) tremeu. Tudo se passou como se não houvesse perigo por perto.

Mas a situação não se resolveu por si, e as hipóteses variavam em torno da mesma solução, já clássica, que ficou embutida na suspeita recíproca. Ao chegar à beira do abismo, a oposição se conteve. O governo – não fosse Lula o presidente, a história podia ser outra – se encolheu para dar a impressão de que se resignava. A questão ficou para ser resolvida nas urnas em 2006, mas aí a situação se inverteu e a oposição pagou a conta. Dentro da grande história, a historinha do mensalão não foi escrita porque não teve vencedor, que é quem se encarrega de produzir versões e lançá-las em circulação. Não seria por falta de escândalos, pois já provaram que a atual democracia tem mais fôlego do que as anteriores. Veio a eleição em 2006 e, com ela, a reeleição de Lula, que renasceu das cinzas do primeiro governo petista, sem as figuras que eram os penduricalhos a que se referia Brizola. Enquanto a apuração do mensalão prosseguia em banho- maria, faltavam ao governo Lula condições de garantir qualquer coisa.

A história seria outra se não tivesse havido aquele mal-estar quando o próprio Lula desautorizou a insistência em aprovar a reeleição indefinidamente. Surpreendeu o PT e o PSDB (o PMDB ficou chupando dedo) com a declaração de que iria trabalhar em favor da candidatura Dilma Rousseff. Mais uma vez, a oposição errou os cálculos e achou que a República cairia no seu colo por gravidade. Nem gravidade, nem gravidez. Lula tirou casquinha na candidatura Dilma e satisfez sua cota de narcisismo inesgotável, até que percebeu que a vitória continha, no que lhe dizia respeito, a semente de derrota pessoal dele. Mas já era tarde para voltar atrás e refazer o projeto.

FONTE:JORNAL DO BRASIL

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