terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Pagar pedágio mas voltar a pé:: Wilson Figueiredo

Ao se completar o primeiro mês com o ex-presidente Lula à espera de alguma coisa que não sabe se ocorrerá, mas que o persegue dia e noite, começa a ficar mais claro (para ele) que os fatos mantêm curso independente das expectativas, com vida própria e riscos exclusivos. Não cabe reclamação.

Não serão poucos os que já procuram impressão digital em indícios que precedem fatos e complicam personagens. Estão à espreita os azares das coincidências imprevisíveis na seqüência que não se completará tão cedo. O ex-presidente já deve saber que os acontecimentos não esperam por ele, nem se dispõem a estar à disposição dele daqui a quatro anos. Os precedentes históricos são relativos por um lado e absolutos pelo outro.A diferença entre um ex-presidente e um presidente começa antes de se consumar a passagem do poder.E não termina enquanto um dos dois não desiste.

O desequilíbrio emocional que sacudiu a impaciência de Lula na campanha eleitoral o impediu de entender que sua eleição não foi o que lhe possa ter parecido. O passado lega as conseqüências mas não se explica por intermédio do presente. Nem autoriza fazer mais de uma aposta contra o futuro. O ex-presidente não relaciona a própria eleição, em dose dupla, com tudo que a precedeu, pelo temor de se deparar com o elo perdido no caminho sem fim. Nada a ver com o que tenha feito e tudo sem considerar a democracia.

A volta de Lula em 2014 (não faz questão de data) começou a ficar fora do alcance: a eleição, e não o destino, é o gatilho da reeleição, com as bênçãos do presidencialismo.Não lhe escaparam, ao montar a equação, tanto as condições de Dilma Rousseff (antes da garantia médica) quanto as próprias. As hipóteses correlatas e as pesquisas o perturbaram. Sobretudo aa diferenças entre o presidente e a candidata, principalmente depois de eleita. Não deu outra. As diferenças, a começar das pequenas, falaram com mais firmeza. Versões já consideram sintomas de depressão e riscos próprios de pré-candidatos. Da extroversão à depressão a distância é curta. Um mês incompleto e já é outro o estilo do novo governo. O dele, não. Antes de haver reeleição, o segundo mandato estava na ordem das emergências, que eram raras. A reeleição, como conseqüência inevitável do mandato, tanto facilita quanto dificulta. Não por esta razão, Getúlio Vargas elegeu-se presidente, pelo voto direto, cinco anos depois de ter sido deposto como ditador (durante 15 anos). Voltou pelo voto direto ao poder que conhecera por dentro de 1930 a 1945, com um saldo discutível a seu tempo, mas que a História encampou.

A volta _ e pelo voto direto _ terminaria com o suicídio do presidente, mas a morte dramática promoveu a revisão política imediata, imobilizou a oposição e situou Getúlio Vargas acima das avaliações efêmeras de adversários e contemporâneos.A eleição de JK para o mandato seguinte ao de Vargas transcorreu sob a expectativa do golpe militar e terminou arrematado pelo eufemismo conhecido como contra-golpe, que garantiu a vontade das urnas e a posse de Kubitschek, a quem se cobrava mais do que a maioria simples de voto, que a Constituição estabelecera.

Juscelino Kubitschek também saiu para voltar mais adiante (não havia reeleição) e foi atropelado pelas conseqüências da renúncia do seu sucessor. E o sobrenatural disse a que veio: quando chegou a oportunidade, a eleição direta tinha ido embora. A volta ao poder leva perigo, mesmo com a quarentena de um mandato separando a ida e a volta. Quem não sabe, paga pedágio e volta a pé.

Quem se der ao esporte cívico de levantar números do que ficou dos 15 anos de Vargas, e compará-los com os 16 de Fernando Henrique e Luiz Inácio Lula da Silva somados, entenderá socraticamente que a história não aprende conosco, e sim nós é que temos de aprender com ela.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

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