segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Torcida por Dilma:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

"Gosto de falar "nunca antes" porque tem gente que sofre" ( Lula, debochando de adversários e desafetos)

Houve uma cena na posse da presidente Dilma que escapou à atenção da maioria dos jornalistas reunidos no mezzanino do Palácio do Planalto. Foi quando Dilma, depois de discursar no Congresso, desfilava em carro aberto cumprimentando o povo, e Lula, com a faixa no peito, irrompia no salão principal do Palácio para recebê-la no alto da rampa.

O tempo foi curto para que Lula apertasse todas as mãos que se estendiam à sua passagem e atendesse a todos os pedidos de posar para fotos. Mas ele não perdeu a chance de se deter diante de alguns dos futuros ministros de Dilma, vários deles seus ex-ministros, para fazer recomendações de última hora e distribuir instruções.

Atrasou-se alguns minutos e foi obrigado a sair correndo dentro do salão de mãos dadas com dona Marisa para se postar no alto da rampa. Mais tarde, depois de transferir a faixa para Dilma, desceu a rampa junto com ela e mergulhou no meio do povo na Praça dos Três Poderes. Agarrou e foi agarrado. Beijou e foi beijado.

Chorou.

A Lula não se poderá negar o título de o mais informal e emotivo presidente da República da história recente do País. Mas há muito de cálculo na informalidade e na emoção. Foi assim que ele conseguiu estabelecer uma forte ligação com as pessoas e alimentar a adoração de uma grande parcela delas.

A continuidade que Dilma representa está na tentativa de resgate ou de aperfeiçoamento das promessas de campanha de Lula em 2002 e 2006. Fora isso, Dilma será um presidente mais voltado para a administração e menos para a plateia. Lula deverá ajudá-la de dois modos: aconselhando-a e insinuando seu eventual possível retorno no futuro.

Há também muito de cálculo político na admissão do retorno. É tudo o que mais teme a oposição. Por isso ela criará o mínimo de sérios problemas para Dilma com a esperança de que Lula não volte em 2014. Prefere, mesmo que seja para perder, enfrentar Dilma, candidata à reeleição, a Lula, que outra vez eleito poderá se reeleger.

Daqui até 2018 terá se passado muito tempo. Uma nova geração de líderes políticos emergirá com mais força. A idolatria por Lula terá esfriado. E – quem sabe? – o próprio Lula, com mais de 70 anos de idade, poderá ter ganhado o gosto por outras coisas que não seja apenas a disputa de eleições.

Ficou devendo

O capuchinho italiano Frei Damião de Bozzano, que ganhou fama de santo no Nordeste e foi aclamado como o sucessor do padre Cícero, decorou 19 sermões em português quando chegou ao Brasil e os repetiu ao longo de mais de 50 anos de pregações. A repetição era vista pelo povo como prova irrecusável da coerência dele, homem de uma só palavra. Dilma fez um discurso ao se eleger em outubro. E dois ao tomar posse no sábado. Não se acanhou de repetir nos três as mesmas ideias gerais e platitudes. Até frases. Coerência! Ou falta de melhores redatores.

O prodígio de Agnelo

O novo governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, ex-PCdoB, eleito pelo PT, conseguiu um prodígio: unir contra ele o senador Cristovam Buarque (PDT) e o ex-ministro José Dirceu que sempre viveram às turras. Os dois apoiaram a eleição de Agnelo. Mas na hora de compor o governo, Agnelo ignorou pedidos dos dois. Mais: deixou de atender a ligações de Dirceu ou simplesmente não deu retorno. Também não os convidou para sua cerimônia de posse. Cristovam já rompeu de forma barulhenta com Agnelo. Matreiro, Dirceu só espera a hora de dar o troco.

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