domingo, 9 de janeiro de 2011

'A verdade não prescreve', diz coronel da reserva

DEU EM O GLOBO

Para Fagundes, governo Dilma não fará "caça às bruxas"

BRASÍLIA. O coronel da reserva João Batista Fagundes, que representa as Forças Armadas na Comissão de Mortos e Desaparecidos, não acredita que o governo Dilma promoverá uma "caça às bruxas" e iniciará uma perseguição aos militares que confrontaram com os militantes de esquerda nos anos 60 e 70. Fagundes, muito próximo do comandante do Exército, general Enzo Peri, afirmou que não há resistência para a criação da Comissão Nacional da Verdade:

- Essa comissão irá esclarecer pontos ainda desconhecidos. A verdade não prescreve, ainda que existam certas coisas que estão sepultadas. A Dilma tem se mostrado sensata na abordagem desses temas. Que se crie a Comissão da Verdade. O militar é um cumpridor da lei.

Fagundes reconhece que as causas de Dilma não são unanimidade entre os militares, especialmente no meio dos que estão na reserva e que viveram o período da ditadura:

- Não há um descontentamento generalizado, mas alguns que não concordam com certas coisas, como o pagamento de pensão aos familiares de Carlos Lamarca (indenizado pela Comissão de Anistia). Não tenho nada contra.

Fagundes cita como prova de entendimento entre civis e militares o convite que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez ao ex-guerrilheiro e deputado federal José Genoino (PT-SP). O parlamentar deverá ser assessor especial de Jobim.

- Quer demonstração mais eloquente que essa de pacificação dos ânimos?! Convidar um sujeito que, naquela época, foi declaradamente um inimigo! Convivi bem com o Genoino no Congresso. O espírito está desarmado - diz Fagundes.

A Comissão da Verdade, em tramitação no Congresso, terá a atribuição de esclarecer circunstâncias de torturas, mortes, desaparecimentos e ocultação de cadáveres; identificar e tornar públicos locais onde foram cometidos esses crimes; e colaborar para apuração dessas violações, mas observados os limites da Lei da Anistia.

Se instalada, caberá a Dilma indicar seus sete integrantes, que precisam ser pessoas de reconhecida idoneidade e conduta ética, identificadas com a defesa da democracia e respeito aos direitos humanos. A Comissão funcionará por dois anos.

O coordenador-geral do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Gilson Cardoso, afirmou que está otimista. Ele diz que o "recado" da presidente foi dado por sua ministra dos Direitos Humanos, Maria Rosário, em seu discurso de posse. Rosário fez um apelo aos congressistas pela aprovação da comissão.

- É um governo que desponta na direção do resgate da dignidade dos mortos e desaparecidos - diz Gilson Cardoso.

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