quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ainda mais isolado, Kadafi diz que só deixa poder morto

Rebeldes ampliam controle sobre cidades do Leste; petrolíferas suspendem produção

Apesar de ter sofrido novas baixas em seu governo, com a renúncia de seus ministros da Defesa, do Interior e do chefe de Gabinete, o ditador Muamar Kadafi desafiou os líbios ao garantir que prefere morrer como mártir a deixar o poder. Kadafi manteve o tom ameaçador, advertindo que “limparia a Líbia casa por casa” se os manifestantes não recuassem. Metade da costa líbia já estaria sob o domínio de rebeldes. Opositores controlam várias cidades do Leste e vigiam terminais e oleodutos contra a ação de vândalos. A petrolífera italiana Eni suspendeu parte de suas atividades no país, incluindo o gasoduto responsável por 10% do gás natural que a Itália consome. A empresa, que produz um terço do 1,5 milhão de barris diários da Líbia, assegurou, no entanto, que conseguirá atender aos clientes. Já a espanhola Repsol suspendeu todas as suas atividades.

Kadafi diz que prefere ser mártir a renunciar

Rebeldes tomam cidades do leste do país, onde já vigiam terminais petrolíferos e oleodutos

TRÍPOLI - O ditador Muamar Kadafi apelou ontem a seu figurino excêntrico e à retórica nacionalista para tentar convencer milhares de opositores de que o país está sob controle após uma semana de uma revolta popular que já deixou pelo menos 400 mortos, segundo cálculos de ONGs líbias no exterior.

Apesar de ter sofrido novas baixas com a renúncia do ministro da Defesa, Abdel Fattah Younes al-Abidi, e de vários diplomatas, incluindo o embaixador nos EUA — e diante de relatos de que o leste do país estaria sob comando da oposição — Kadafi vestiu um robe e um turbante marrons para um discurso de mais de uma hora no qual garantiu que não vai deixar o país e que “morrerá como um mártir, lutando até a última gota de sangue”.

O ditador usou um tom ameaçador, advertindo que “limparia a Líbia casa por casa” se os manifestantes não recuassem — levando a Liga Árabe a suspender a participação do país na entidade.

— Conhecem alguém decente que participa disso? São todos bêbados e drogados! Não sou presidente e não posso renunciar.

Se tivesse um cargo, renunciaria e jogaria na cara de vocês! Homens barbados estão por trás disso.

A imprensa segue ordens de Osama bin Laden e Ayman al-Zawahiri, que vão converter a Líbia em algo pior que o Afeganistão — disse Kadafi.

O cenário do discurso, aliás, era a prova definitiva de que o ditador estava em Trípoli: a casa de sua família, transformada numa espécie de museu após ter sido bombardeada em 1986 pelos EUA, causando a morte de Hanna, uma das filhas do líder árabe.

FONTE: O GLOBO

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