quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Berlusconi será julgado por exploração sexual de menor e abuso de poder

Premiê italiano é acusado de ter pagado por sexo com marroquina conhecida como ''Ruby'', quando ela tinha 17 anos; em maio, ele telefonou a uma delegacia de polícia para intervir em favor da jovem, alegando que se tratava de uma sobrinha de Mubarak

Andrei Netto

Dentro de 20 dias, o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, será levado ao banco dos réus. Em uma decisão inédita, a Justiça de Milão decidiu enviar o chefe de governo aos tribunais por abuso de poder e corrupção de uma menor em um escândalo sexual envolvendo a jovem marroquina Karima El-Mahroug, conhecida como "Ruby Rubacuori".

Pressionado pela queda de popularidade e por protestos de rua realizados por mulheres, o processo aumenta o risco de que os dias de "Il Cavaliere" no poder de Roma estejam contados.

A decisão de enviar Berlusconi aos tribunais foi tomada pela juíza Cristina Di Censo, aceitando a requisição do procurador-chefe do Ministério Público de Milão, Edmondo Bruti Liberati, que havia solicitado um "julgamento imediato". O recurso, previsto no Código Penal italiano, pressupõe que a polícia já reuniu as evidências necessárias para que um suspeito seja julgado.

Em sua requisição à Justiça, Liberati afirmara que já dispõe de "elementos probatórios" sobre o envolvimento do chefe de governo com prostitutas em festas promovidas numa de suas mansões, em Arcore. Em uma dessas celebrações, Berlusconi, hoje com 74 anos, teria mantido relações sexuais pagas com Ruby, que à época tinha 17 anos - idade que caracterizaria a exploração sexual de menor.

Além disso, Berlusconi teria interferido pela libertação de Ruby, detida pela polícia italiana entre 27 e 28 de maio por suspeita de roubo. O "abuso de poder" teria ocorrido em telefonema à delegacia, quando obtivera a libertação da jovem ao dizer que ela era "sobrinha" do presidente do Egito, Hosni Mubarak - derrubado na sexta-feira.

Ontem, Berlusconi não falou aos jornalistas e deu sequência à sua agenda oficial, realizando visita à Catânia, na Sicília. A missão de defendê-lo coube ao ministro da Justiça, Angelino Alfano, que lembrou a "presunção de inocência". Já a oposição aproveitou a decisão judicial para pressionar ainda mais o premiê. Em nota, Anna Finocchiaro, uma das líderes do Partido Democrata (PD), o maior da oposição, exigiu a demissão de Berlusconi sob o pretexto de "preservar a credibilidade da Itália no mundo". A hipótese da demissão, entretanto, foi prontamente rejeitada por Alfano.

Queda. Apesar da decisão de ficar no poder, a situação de Berlusconi é cada vez mais delicada. Se o empresário contava com alto porcentual de apoio no início dos escândalos sexuais, agora a opinião pública se volta contra seu governo. Pesquisa do instituto Demos, publicada na segunda-feira, indicou que a popularidade de Berlusconi é de 30,4% em fevereiro, seu pior índice desde 2005. O premiê também enfrenta protestos, o maior deles promovido por organizações feministas - definidas como "subversivas" por Berlusconi - e realizado em várias cidades do país no último fim de semana.

Apesar da pressão pública, porém, a carreira política do Cavaliere ainda pode resistir à Justiça. Para Marcho Tarchi, cientista político da Universidade de Florença, a decisão de abrir um "julgamento imediato" contra o premiê pode beneficiá-lo. "Berlusconi agora tem mais possibilidades de se apresentar como uma vítima de perseguição judiciária", entende.

PARA LEMBRAR

Berlusconi tem pendente diante do Tribunal de Milão o chamado caso Mills, no qual é acusado de corrupção em ato judicial, pelo qual terá de depor em 11 de março. Outro processo é do Mediaset, seu império de mídia, no qual o primeiro-ministro é acusado de suposta fraude fiscal e cujas audiências serão retomadas no dia 28, após a suspensão de ambos por um escudo judicial agora invalidado. Em fase de audiência preliminar está o caso Mediatrade, também suspenso até agora, no qual a procuradoria deve decidir se julga Berlusconi por apropriação indevida e fraude fiscal.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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