domingo, 6 de fevereiro de 2011

Brigas impedem oposição de traçar estratégia para 2014

Apesar de terem três "presidenciáveis" e de governarem 10 Estados, PSDB e DEM não articulam plano coletivo

Marcelo de Moraes

Juntos, os partidos de oposição governam mais de um terço dos Estados (são oito do PSDB e dois do DEM), incluindo os mais ricos e populosos, como São Paulo e Minas Gerais. Possuem pelo menos três pré-candidatos presidenciais com considerável potencial eleitoral: José Serra, Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Apesar disso, em vez de prepararem o terreno para recuperar a hegemonia política perdida em 2003 com a posse do petista Luiz Inácio Lula da Silva, PSDB e DEM, as duas maiores legendas da oposição, começam o ano enfrentando, possivelmente, suas maiores crises internas.

Entre os tucanos, já não há disfarces em relação ao racha que coloca em lados opostos os grupos de Aécio e Serra, que antecipam em demasia o processo presidencial de 2014. No meio dos dois, Alckmin tenta equilibrar os pés nas duas canoas, mas sonha em ser novamente candidato.

Improviso. Enquanto briga, a oposição perde tempo na preparação de um plano consistente para tentar impedir a reeleição de Dilma Rousseff (ou até a volta de Lula) na próxima eleição. No último pleito, a improvisação na campanha tucana foi tão grande que Serra só garantiu sua presença no segundo turno graças ao inesperado crescimento de Marina Silva (PV) e ao inusitado debate sobre aborto e religião.

Assim, representantes desses grupos puxam o debate para lados diferentes. Aécio Neves e seus aliados defendem, por exemplo, a adoção de uma agenda municipalista e um estilo de oposição ao governo federal menos radical. O novo líder do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto (BA), eleito com o apoio de Aécio, admite negociar uma agenda consensual com Dilma para o Congresso.

"Estamos dispostos a dialogar com o governo em torno de uma agenda comum que seja boa para o País. O problema é que até agora não existe essa agenda do governo federal", afirma.

Do lado de Serra, a proposta é esticar a corda na relação com o Planalto e jogar duro contra o governo até para marcar uma posição diferenciada junto ao eleitorado. O grupo está fechado com a proposta de salário mínimo de R$ 600, como foi prometido por Serra na campanha presidencial. Já o lado de Aécio acha que pode ser negociado um outro valor, menos salgado para o governo.

Na volta aos trabalhos do Congresso, o novo líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), já deu esse tom, apresentando emendas pelo salário mínimo de R$ 600, além de requerimentos de informação pedindo explicações ao governo federal sobre, por exemplo, as operações da Caixa Econômica Federal com o Banco Panamericano. Nogueira é ligado ao governador Alckmin, mas também é próximo de José Serra.

Plano de voo. Além disso, os serristas acham que é cedo para sacramentar o nome do próximo candidato, como desejam os aecistas. Preferem combinar um plano de voo comum para o partido, adotando temas como segurança pública e educação e intensificando campanhas no Nordeste, onde consideram que têm sido arrasados nas eleições presidenciais.

Nas últimas conversas internas, os tucanos ligados a Serra defendem também que o partido trabalhe para mudar a imagem de que representa as elites, enquanto Lula e o PT falam pelos mais pobres. Nesse caso, a defesa de um salário mínimo mais alto, contra a posição do governo federal, poderia ser um primeiro passo.

Terceira via. A situação é tão embaralhada que até mesmo o PPS, terceira força da oposição, já apresenta indícios de insatisfação com a crise interna dos tucanos e fechou um bloco parlamentar na Câmara com outro partido, o PV. Como os verdes têm um claro projeto de poder liderado pela ex-senadora Marina Silva, a aliança pode ser o primeiro passo para que o partido troque de aliado em 2014.

"Nas duas últimas eleições, apoiamos a candidatura do PSDB e podemos continuar a fazer isso. Mas acho que seria precipitado confirmar com tanta antecedência a repetição dessa aliança. O que precisamos, primeiro, é definir que pontos queremos defender dentro do Congresso. Estamos buscando propostas que combinem com os interesses da sociedade", conta o líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR).

FONTE O ESTADO DE S. PAULO

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