sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Forças rebeldes já controlam poços de petróleo na Líbia

Importantes campos de petróleo no Sul e no Leste da Líbia estão em mãos de opositores, constatam jornalistas que já começam a entrar no país em guerra civil. O controle dos poços compromete a exportação de gás e petróleo. Com seu território cada vez mais reduzido, o ditador Muamar Kadafi enviou milhares de soldados e mercenários num contra-ataque às rebeliões em cidades próximas à capital, Trípoli. E voltou a falar na TV, mas desta vez só por áudio. Ele ameaçou cortar o envio de petróleo se os protestos não pararem e a1ertou que os opositores estão influenciados pela al Qaeda, de Osama bin Laden. Na corrida diplomática para frear Kadafi, a Suíça se apressou a congelar bens do ditador. Segundo o Itamaraty, todos os brasileiros que estavam em Trípoli já deixaram o país. Os que estão em Benghazi, onde milhares de pessoas se aglomeram no porto, devem embarcar hoje. Os conflitos fizeram o preço do petróleo encostar em US$ 120 ontem. Mas a cotação perdeu força após a Arábia Saudita prometer aumentar a produção de óleo para compensar a quebra na Líbia.

Revolucionários tomam campos de petróleo

Perda de poços no sul e no leste compromete produção. Isolado, ditador tenta contra-ataque e põe a culpa em Bin Laden

TRÍPOLI. Importantes campos de petróleo no sul e no leste da Líbia já estão em mãos de rebeldes, relatam moradores e jornalistas que começam a entrar no país, enquanto Muamar Kadafi enviava ontem milhares de soldados e mercenários num contra-ataque aos levantes populares em cidades próximas à capital, Trípoli. A perda de alguns dos principais campos do país já compromete a exportação de gás e petróleo e se torna um fator a mais a sufocar o regime.

Segundo o jornal britânico "The Guardian", todos os campos de petróleo do sul estão sob controle dos rebeldes, que teriam decidido cortar a exportação. A empresa petrolífera Sirte está sob pressão para parar os trabalhos no campo e na refinaria , contou um funcionário. "A ordem era parar a fim de enviar uma mensagem a Kadafi para deter os assassinatos. Decidimos negar a ele o privilégio de exportar petróleo e gás à Europa", contou o engenheiro Moustafa Raba"a ao jornal. O boicote impede a exportação de 80 mil barris por dia somente do campo de Dregga.

Os principais campos de petróleo do leste também estão em mãos rebeldes, incluindo o porto de Ras Lanuf, por onde o petróleo é exportado, os campos de El Brega e gasodutos que vão do deserto até os portos. Os rebeldes estão protegendo os terminais de Ras Lanuf e Marsa El Brega, temendo sabotagem. Ao contrário do sul, os comitês organizadores que agora administram Benghazi afirmam que a produção não será afetada.

- As exportações prosseguem como de costume - disse Karim, que integra o comitê administrador de Benghazi.

Com seu território cada vez mais reduzido, Kadafi voltou ontem a falar na TV, mas desta vez usou um tom menos ameaçador. Ele pediu que os pais desarmem seus filhos, afirmando que estão agindo sob o poder de alucinógenos e influenciados por Osama bin Laden. Num trecho que parecia destinado ao Ocidente, Kadafi ameaçou cortar o envio de petróleo se os protestos não pararem.

- Se os cidadãos não forem trabalhar, o fornecimento de petróleo será cortado - disse o ditador, cujo poder parece se concentrar agora em Trípoli e regiões no centro do país.

Ao contrário de discursos anteriores, Kadafi não apareceu na TV, fazendo seu pronunciamento por telefone. Isso gerou rumores de que ele teria morrido. O ditador disse que os manifestantes não têm demandas genuínas e que estão sob a influência de Osama bin Laden:

- Eles têm 17 anos. Estão dando pílulas a eles à noite, colocando pílulas alucinógenas em suas bebidas, seu leite, seu café, seu Nescafé - disse Kadafi.

O pronunciamento veio horas depois de a al-Qaeda no Magreb Islâmico criticar "a carnificina e o massacre covarde" de líbios. O braço da organização terrorista no Norte da África acusou Kadafi de contratar mercenários e bombardear opositores, e pediu que os islâmicos apoiem o levante líbio.

O governo da Líbia exigiu que os rebeldes entreguem as armas e ofereceu dinheiro em troca de informações que levem à prisão de líderes da revolta. O regime também convocou milhares de mercenários para se unirem na defesa da capital. A Federação Internacional para Direitos Humanos estima que existam cerca de seis mil mercenários na Líbia - a metade deles em Trípoli.
Gás venenoso pode ter sido usado em ataque

A batalha mais sangrenta de ontem foi travada em Zawiya, a apenas 50 quilômetros da capital e que na véspera anunciara ter sido tomada por rebeldes. Usando armas automáticas, as forças de Kadafi atacaram uma mesquita onde estavam acampados revoltosos. O minarete foi derrubado pela artilharia. Foram cinco horas de combate que, segundo a TV árabe al-Jazeera, deixaram cem mortos e 400 feridos na cidade, que fica próxima a campos de exploração de petróleo. Após o confronto, milhares ocuparam a Praça dos Mártires, ao lado da mesquita, numa manifestação contra o ditador, gritando:

- Fora! Fora!

O outro grande ataque foi a Misurata, terceira maior cidade líbia. A ação incluiu o uso de gás venenoso, segundo um militar desertor à al-Jazeera. As milícias usaram lançadores de granadas e morteiros contra os rebeldes que guardavam o aeroporto. No final, havia "uma pilha de corpos e um pântano de sangue", descreveu um morador.

Perto do aeroporto, militares da Academia de Força Aérea e moradores tomaram a base aérea onde forças leais a Kadafi se refugiavam. Eles desmontaram caças para impedir que sejam usados contra a população.

Houve ataques do governo também em Sabratha, com disparos feitos de helicóptero, e Sabha. Já as milícias antigoverno estão no controle de Zuara, a 120 quilômetros de Trípoli, assim como de al-Kufra, mil quilômetros a sudeste de Benghazi.

Trípoli permanece fechada, com tiros sendo ouvidos. Enquanto isso, cidades em poder dos rebeldes, como Benghazi, Misurata e Zuara, formam comitês para administrá-las. Em Benghazi, dez mercenários foram presos, interrogados e serão levados a julgamento.

A oposição começa a se organizar. Ontem, líderes tribais e políticos se reuniram em al-Baida para formar uma frente única contra Kadafi. Mustafa Abdel-Jalil, que renunciou ao Ministério da Justiça, disse que não há diálogo com o ditador e pediu sua saída imediata. O número de mortos é incerto - mais de 600 segundo ONGs. A França, no entanto, calcula que chegaria a 2 mil.

No mais recente golpe a Kadafi, um de seus principais aliados, o primo Ahmed Kadafi al-Dam, deixou o governo e denunciou " violações dos direitos humanos". Al-Dam pertencia ao círculo íntimo do ditador.

FONTE: O GLOBO

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