
Embora façam um discurso em defesa da democracia, acusem de forma indignada dirigentes nacionalistas de países que não seriam democráticos mas que atendem às condições mínimas da definição de democracia, e não hesitem em apoiar movimentos de direita que tentam derrubá-los pela força, não obstante tudo isso, apoiam de forma integral governos abertamente ditatoriais e corruptos, mas que se portam de forma "amiga" em relação a seus interesses de curto prazo.
Quanto à "confusão" de seus intelectuais, foi um artigo em Le Monde (6.fev.2011) que a acentuou referindo-se a intelectuais de direita na França como Bernard-Henri Lévy, para quem "a situação seria muito complexa", ou Olivier Mongin que declara: "mais vale um Ben Ali que um Bin Laden".
No fundo, diz o jornal, "a revolução iraniana está em todas as mentes". E, portanto, para se evitar uma possível ditadura islâmica e, portanto, nacionalista, se apoia uma ditadura corrupta e dependente.
Em primeiro lugar, não há qualquer razão de ordem democrática ou de ordem moral para essa opção.
Por que uma ditadura corrupta e dependente é melhor para seu povo do que uma ditadura islâmica?
Segundo, não há razão para se colocar o problema da Tunísia ou do Egito nesses termos.
Existe sempre o risco de uma revolução nacionalista islâmica, mas esse risco só aumentará e se tornará real se os países ricos insistirem em pensar em termos dessas duas alternativas radicais, e, a partir daí, continuarem a optar pela ditadura corrupta e dependente.
Egito e Tunísia já não são países estritamente pobres, mas, ao contrário de países como o Brasil ou como a Índia, não realizaram ainda sua revolução capitalista, não contam com uma classe empresarial ampla, uma classe média diversificada, e um Estado capaz de defender os interesses nacionais.
É disto que esses países precisam, é isto o que os jovens que lideram essas duas revoluções com ajuda da Internet reivindicam.
Eles tiveram acesso à educação, mas a administração dependente e incapaz de suas economias não promove o desenvolvimento econômico necessário para que eles tenham empregos e salários decentes ou então oportunidade de se tornarem empresários.
Estes objetivos conflitam com a lógica imperialista, que sempre foi a de se aliar às elites dependentes e aos governos corruptos das colônias. Mas será que essa é a melhor estratégia?
ORIENTE MÉDIO
Em relação aos países pobres, acredito que ainda dê bons resultados. Mas a era dos impérios está terminando.
Foi isso o que mostraram os países do Leste Europeu em 1989; é isto que estão dizendo os países do Oriente Médio em 2011.
A revolução agora não é tão decisiva como foi aquela, porque os países do Oriente Médio são menos desenvolvidos, e porque os impérios do Ocidente não estão tão debilitados como estava o soviético.
Mas é um equívoco subestimar a justa indignação e a determinação desses povos de alcançarem e autonomia nacional e a democracia.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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