sábado, 5 de fevereiro de 2011

Oposição resiste e faz ''jornada da partida''

Milhares de manifestantes anti-Mubarak voltam à Praça Tahrir pela queda do regime

Jamil Chade

A oposição no Egito continuou desafiando a repressão do regime do presidente Hosni Mubarak e milhares de pessoas se reuniram ontem na Praça Tahrir, no Cairo, para mais um dia de manifestações contra o governo. Nos últimos 11 dias, a batalha pelo poder já deixou cerca de 300 mortos e 4 mil feridos.

Os manifestantes ignoraram ontem o clima de terror imposto pelo regime e batizaram a sexta-feira de o "Dia da Partida", exigindo novamente a renúncia de Mubarak. O ditador não caiu, mas seu governo cedeu e pediu que a oposição entregue um documento com suas principais exigências, o que foi considerado um sinal de fraqueza.

A lista que será apresentada pede uma nova Constituição, o fim da lei de emergência e a saída do presidente. Membros da oposição revelaram ao Estado que farão mais exigências e temem que a decisão de Mubarak de pedir a lista seja apenas mais uma tática para ganhar tempo.

Um "grupo de notáveis" foi formado para atuar como intermediário entre governistas e opositores. Hoje, 25 personalidades da oposição criarão a aliança que terá a missão de negociar a democratização do país. Entre elas está Mohamed ElBaradei, ex-secretário-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, e Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe.

"Não nos vamos até que Mubarak se vá", gritava a multidão no Cairo. Várias outras cidades promoveram manifestações ontem. Para a emissora Al-Jazira, 1 milhão de pessoas saíram às ruas ontem em todo o país.

Praça Tahrir. Com facões, paus e barras de metal, milícias favoráveis a Mubarak passaram a controlar ontem algumas das principais ruas que levam até a Praça Tahrir. O Estado percorreu parte da região. Em uma das ruas, o carro foi parado por cerca de dez pessoas armadas que, sem pedir autorização e fazendo ameaças aos passageiros, abriram as portas, o porta-malas, exigiram os passaportes e questionaram o motivo da "visita". As milícias tomavam conta do entorno da praça. Barricadas e postos informais de controle foram formados.

A reportagem não revelou que jornalistas estavam no carro. Antes de sair às ruas, todos haviam deixado equipamentos, gravadores e máquinas fotográficas no hotel. Caneta e papel também ficaram para trás. Ao pensar que o objetivo dos passageiros era "ver a linha de divisão entre as facções pró-Mubarak e o grupo de oposição", dois dos milicianos subiram no carro. Um deles sentou-se na janela do passageiro com um facão nas mãos. O outro subiu no porta-malas com uma barra de ferro.

Os jornalistas dentro do carro pensaram que estavam sendo levados pelas milícias. Mas, logo ficou claro que os homens queriam servir de guias para os repórteres verem a linha de controle, como haviam solicitado.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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