segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

''Queremos o apoio de Brasil na ONU''

Roberto Simon

Hadi Ghaemi, Diretor da Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã

Com apoio de ONGs brasileiras, grupos de dissidentes iranianos estão lançando uma iniciativa para tentar fazer com que a mudança retórica do governo de Dilma Rousseff em relação aos direitos humanos no Irã leve a ações concretas - votos na ONU condenando os abusos de Teerã e um diálogo direto com opositores. Informalmente, a campanha tem início hoje, com a visita de Hadi Ghaemi, diretor da Campanha Internacional pelos Direitos Humanos no Irã, que está sendo trazido a São Paulo e Brasília pela ONG Conectas. Ghaemi terá reuniões na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência e no Itamaraty. A seguir, trechos da entrevista ao Estado.

Qual é o objetivo de sua visita ao Brasil?

Queremos pedir ao Brasil que apoie resoluções da ONU para a crise humanitária no Irã. Nosso desejo é que o País se preocupe com as violações que estão ocorrendo no Irã.


Imagino que uma das prioridades seja mudar a forma como o Brasil tem votado na ONU.

Exatamente. O Brasil sistematicamente se abstém diante de resoluções da ONU sobre a questão dos direitos humanos no Irã. A única exceção foi um voto contrário ao governo iraniano em 2003 - o único nos últimos nove anos. Em outubro e dezembro, por exemplo, o Brasil voltou a se abster. Estamos extremamente preocupados com essa mensagem. Parece que o governo brasileiro não se importa com o que está acontecendo no Irã. Acreditamos que a promoção dos direitos humanos deve ser uma prioridade da política externa brasileira.

O Brasil costuma justificar suas abstenções na Assembleia-geral da ONU dizendo que a instância adequada para esse tipo de debate é a Comissão de Direitos Humanos (CDH) das Nações Unidas. Como o sr. vê essa posição?

Então está vindo uma grande oportunidade: a CDH se reunirá em março e o Irã constará em sua agenda. Queremos que o Brasil vote "sim" para a resolução que será proposta.

E qual será o teor do texto?

Sobre as violações sistemáticas, a pouca cooperação do Irã com os mecanismos da ONU e a nomeação de um representante que se reportará diretamente à CDH sobre a situação iraniana.

O Brasil argumenta que isolar o Irã é talvez a pior atitude para lidar com essas violações. O sr. acha possível fortalecer os laços com Teerã, mas, ao mesmo tempo, condenar os abusos?

Certamente, pois o Brasil é um poder emergente que não pode ser ignorado. Nós saudamos essa nova posição do País no mundo, mas queremos que a questão dos direitos humanos conste na agenda brasileira. O Brasil pode ter um papel muito construtivo, por não ser um país do chamado "Norte" e despertar grande admiração do povo iraniano. Mas, na medida em que a diplomacia brasileira ignora os direitos humanos, ela perde respeito.

O último governo brasileiro considerava que americanos e europeus usavam a questão dos direitos humanos para ampliar a pressão sobre o programa nuclear iraniano. O sr. reconhece que existe essa correlação?

Primeiro, não são americanos ou europeus que estão pedindo condenações às violações cometidas no Irã, mas a própria comunidade de direitos humanos iraniana. E isso ocorre há anos. Segundo, esse argumento demonstra como é fundamental o envolvimento do Brasil - um país emergente, fora dos centros convencionais de poder - na questão. Esse debate não tem nada a ver com os EUA, mas com o povo iraniano e com as obrigações internacionais do governo do Irã de proteger sua população.

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