quarta-feira, 16 de março de 2011

Acordo no pré-sal :: Merval Pereira

Os efeitos da crise política nos países árabes aproximaram os interesses do Brasil e dos Estados Unidos na área de energia, o que pode resultar em acordos importantes, principalmente em relação à produção do pré-sal, a serem assinados durante a visita do presidente Barack Obama ao país no próximo fim de semana.

O governo americano deve fechar um importante acordo de garantia de fornecimento de petróleo com o Brasil, e é possível que também na produção do etanol os dois países se aproximem.

Comprar barril antecipado já foi feito no passado recente pela China, que em 2008 emprestou US$10 bilhões com o compromisso de a Petrobras exportar 200 mil barris diários por um período de dez anos.

A China hoje, graças a esse contrato, é o principal importador de petróleo brasileiro.

O contrato de fornecimento, que já está em vigor, só pôde ser assinado porque a perspectiva de aumentar a produção brasileira é grande e garante o cumprimento do contrato a longo prazo.

A ideia de os Estados Unidos fazerem essa compra antecipada já vem sendo pensada pelo governo brasileiro há algum tempo, pois o projeto é fazer o Brasil exportar o máximo possível de petróleo, para não sujar nossa matriz energética, onde predomina a energia hidrelétrica e há programas alternativos de álcool combustível e biodiesel.

Se pegarmos a geopolítica do petróleo, o Brasil está em uma posição bastante confortável por ser uma democracia estável, não ter problemas étnicos nem religiosos, e sem conflitos em suas fronteiras.

É um produtor que dá segurança de que enviará o petróleo, ao contrário dos países árabes sujeitos a toda sorte de imprevistos, e também da Venezuela, enquanto estiver sob o controle de Chávez, e os países africanos como Angola e Nigéria.

Para os Estados Unidos essa garantia é fundamental, pois eles estão com a produção de petróleo caindo, cada vez mais dependente de importação.

Hoje produzem 7 milhões de barris de petróleo por dia e importam de 18 a 20 milhões.

Para o Brasil é muito interessante fazer um contrato com o maior consumidor de petróleo do mundo e que vai continuar nessa situação durante muito tempo.

A importância estratégica está na possibilidade, que já foi feita com a China, de facilitar investimentos da Petrobras, criando linhas de financiamento de que ela vai precisar muito na exploração do pré-sal.

Os Estados Unidos têm também muita tecnologia nesse setor, muitas empresas fornecedoras de bens e serviços. As empresas americanas nessa área de petróleo têm um mercado muito grande no Brasil, porque cada vez mais o setor é o que mais investe.

O setor de petróleo representa cerca de 12% do PIB brasileiro, e a previsão é chegar a 20% em 2020. Um setor importante em que podem ser feitos acordos é o de segurança ambiental para evitar possíveis acidentes na exploração do pré-sal.

O especialista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, considera que há outro aspecto importante nesses acordos que devem ser firmados: "Estaremos também quebrando um paradigma no setor de petróleo, que sempre foi muito estatizado e tem uma visão antiamericana. Sempre houve o temor de certos setores de que os Estados Unidos tivessem um interesse ilegítimo em nosso petróleo. Um contrato comercial forte serviria para mudar essa visão".

Ele sugere que também na produção de etanol poderíamos negociar contrapartidas, como o fim das barreiras protecionistas para a exportação do etanol brasileiro para o mercado norte-americano.

Segundo Pires, o setor de etanol no Brasil vem se consolidando através de uma desnacionalização: a Cosan se fundiu com a Shell; os Biaggi venderam suas usinas para a Bunge; a Dreyfus comprou a usina Santa Elisa; a BP (British Petroleum) está comprando usinas de álcool, mas o curioso é que nenhuma empresa americana petroleira entrou nesse mercado de etanol.

Seria um mercado interessante para os dois lados, pois os Estados Unidos hoje já são o maior produtor de etanol do mundo, seguidos pelo Brasil, mas o etanol deles é de milho, muito caro e compete com a alimentação.

Segundo o consultor, a notícia é importante, enfim, por representar o reconhecimento do maior importador de petróleo do mundo da importância que o Brasil vai ter no mercado de petróleo nos próximos anos.

FONTE: O GLOBO

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