
O caminho de Kassab seria lógico se não existisse uma hegemonia do grupo do governador Geraldo Alckmin no PSDB paulista, e se o ex-governador José Serra não tivesse sofrido tamanho desgaste interno com a segunda derrota numa disputa pelas eleições presidenciais. Kassab é Serra, simplesmente isso. A complicação que se armou a partir disso foi dada pelas urnas e pelos conflitos que Serra provocou, ou não soube evitar, durante a campanha eleitoral, com integrantes de seu partido e com os aliados do DEM. O caminho do Kassab em direção ao PSDB, no entanto, foi obstruído por uma contingência regional - a hegemonia de Alckmin em São Paulo - que afeta o prefeito diretamente, e uma contingência nacional - a inegável conquista de espaço pelo senador Aécio Neves, talvez não ainda por mérito próprio, mas pelos conflitos internos irrompidos durante a campanha de Serra. Um Kassab cujo destino político naturalmente tenderia a uma incorporação ao PSDB, que teria resistências muito menores por parte do DEM nacional, acabou envolvido numa missão política de afastar o DEM "aecista" de um PSDB nacional cada vez mais "aecista", e de um PSDB paulista "alckmista" e, em consequência, também "aecista". Pode ter conseguido exatamente o contrário: aproximar ainda mais as lideranças demistas do PSDB de Aécio Neves. Se houver uma incorporação do DEM ao PSDB, agora, será um movimento em torno da liderança do ex-governador mineiro.
A ginástica feita por Kassab para viabilizar-se na política produziu tantos efeitos colaterais que dificilmente o favorecerão, nacionalmente ou regionalmente. Kassab prosperou junto ao eleitorado conservador, aliado a um PSDB que conquistava cada vez mais essa faixa do eleitorado. Venceu as eleições para a prefeitura no auge de popularidade de Serra, a quem sucedeu, como vice, na prefeitura, e de quem teve o apoio, como governador, quando disputou a reeleição para a prefeitura, em 2008. Funcionou, todavia, como uma "sublegenda" serrista do PSDB, mais do que como uma liderança do DEM. O DEM paulista tem dificuldade de existir sem o PSDB, porque o partido de Alckmin é hegemônico no Estado e conta com a lealdade dos setores de classe média mais conservadores, com peso eleitoral importante. Serra, todavia, parece ter sido rapidamente varrido do mapa partidário do Estado após a sua derrota nas eleições presidenciais e a vitória de Alckmin para o governo do Estado. Alckmin, que tinha a maioria dos diretórios do interior, mas não desfrutava nem de maioria, nem de prestígio, no diretório da capital, conseguiu movimentar-se rapidamente e hoje domina o partido em todo o Estado. Numa convenção nacional para escolher um candidato tucano para presidente, em 2014, seria voto certo para Aécio. Kassab, sem o padrinho Serra, perde o poder de rachar o PSDB paulistano, façanha que conseguiu em 2008, e não tem nenhum poder de negociação com o PSDB paulista, onde Alckmin reina sem concorrentes.
A "guinada" à esquerda, tentada na negociação de adesão ao PSB, com uma baldeação pelo PDB, é uma tentativa de conquistar outro eleitorado, na impossibilidade de concorrer com o PSDB pelos votos conservadores de São Paulo. Mas, nacionalmente, afugentou os integrantes de um partido que, embora tradicional, tem um conteúdo ideológico já solidificado e nenhuma vergonha de ser de direita. Em vez de ver o PDB como uma opção à extinção, os políticos demistas que poderiam fechar com Kassab passaram a vê-lo como um risco maior. A senadora Kátia Abreu (TO), por exemplo, embora tenha sérios problemas políticos no seu Estado, é uma liderança conservadora importante, o que atraiu eleitorado correspondente. Uma pessoa com a biografia do ex-senador Marco Maciel (PE) também ficaria incomodado com o futuro anunciado para o PDB, o PSB, até porque é adversário local do presidente do partido socialista, o governador Eduardo Campos. Uma opção de adesão ao governo, ou ao socialismo, também não atrai um político com o passado do ex-senador Jorge Bornhausen (SC).
Pode parecer meio esquisito, mas é por estar na órbita de influência de Serra que Kassab achou que o caminho mais fácil era aderir a um partido da base governista, e de esquerda. Pensou paulista, quando o DEM apostava que despontaria como uma liderança nacional.
O perito federal agrário Elias Vieira de Menezes, em e-mail, registrou que, na coluna da semana passada, a observação de que mudanças na estrutura do Incra podem "encontrar resistências corporativas de funcionários do instituto, que atuam na ponta burocrática" pode induzir o leitor a generalizar que todos os servidores do Incra são burocráticos e contra mudanças. Não foi essa a intenção. O corpo técnico do Incra é que tem salvado o instituto do desastre do reparte partidário das superintendências estaduais. E, como registra o leitor, ganhando os piores salários do governo federal.
Maria Inês Nassif é repórter especial de Política.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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