terça-feira, 15 de março de 2011

Começar de novo:: Merval Pereira

A nova Executiva do Democratas que deve ser eleita hoje por aclamação, acomodando todos os setores do partido, pode ser um estímulo para que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a principal estrela política do partido, permaneça nele, desistindo do projeto de criar um novo partido a partir de seu grupo político paulista.

Há esperança por parte da cúpula partidária, e há uma cautela por parte de Kassab, que decide seu destino amanhã em conversa com liderança do DEM.

São todos amigos, o desconforto que Kassab sentia já foi pelo menos reduzido com a saída da presidência de Rodrigo Maia e a escolha do senador Agripino Maia como candidato de consenso para substituí-lo.

- Não é fácil ficar- comenta Kassab - mas sempre foram meus conselheiros, meus amigos, e acertaram comigo muito mais do que erraram.

Talvez até Kassab esteja presente na reunião da Executiva, hoje em Brasília. Ele garante que, se sair, será para fazer um partido novo, e não um trampolim para uma fusão com o PSB ou outro partido qualquer, embora essa possibilidade não seja descartada.

A questão é como sair do partido oposicionista para integrar a base governista assim, da noite para o dia, sem uma explicação de fundo. O senador Agripino Maia pretende mantê-lo no partido com um discurso que deixará bem claro que o único partido liberal deste país é o Democratas, "que é um partido de oposição. E ninguém fica na oposição por interesse, fica por posição, por discurso. Se tiver convicção, sobrevive e até cresce na oposição".

Agripino Maia acha que "já que conseguimos colocar na Executiva as diversas correntes do partido, o que interessa agora é evitar que alguns saiam, como o Kassab, e essa chance ainda existe".

Afif Domingos o acompanhará, mas não quer sair; Claudio Lembo não quer sair e pode não acompanhar; o deputado Rodrigo Garcia já decidiu não sair.

Impasses regionais serão superados, aposta Agripino Maia. Ele desenvolve um raciocínio com que o qual pretende desestimular a saída do prefeito de São Paulo: a classe média paulista é muito forte e, quando o paulista elegeu Kassab, ele não era conhecido. Quem votou nele votou contra o PT, contra Marta Suplicy, votou naquele nicho que José Serra ocupava e que lhe transferiu. Na hora em que Kassab se travestir de governista, não terá os votos majoritários de um lado nem de outro.

Maia hoje proporá ao partido fazer de suas convicções seu carro-chefe. "Quanta gente no Brasil não quer um Estado inchado, não quer ver a infraestrutura feita, e aceita que seja com capital privado, para ter aeroporto, estrada, porto, como muitos países fizeram. Brigar contra a alta carga tributária é brigar pela competitividade do país".

Ele rejeita a idéia de que o partido seja de direita, mas o classifica, sim, de "um partido moderno", e cita países da América do Sul que são dirigidos por partidos semelhantes, como Chile, Peru e Colômbia.

Ele pretende fazer diretórios em todos os municípios do Brasil, apresentar candidatos a prefeito na maior parte deles, fazer a massificação das ideias liberais do partido, não apenas durante as campanhas eleitorais. "Temos que colocar em prática nossas ideias".

Na avaliação da cúpula do DEM, a união do PSB com o provável PDB (Partido da Democracia Brasileira) de Kassab já está incomodando tanto o PT quanto o PMDB.

E não vai esvaziar tanto o DEM quanto se temia, pois, por essa avaliação, a debandada foi evitada no momento em que foi feito o acordo da Executiva.

Kassab se recusa a ver um eventual partido que crie como uma janela para os políticos insatisfeitos em seus partidos, como PV, PP, PMN, PR e PTB, que podem sofrer sangrias com o surgimento desse novo partido.

No entanto, a imagem política do prefeito poderá sofrer com uma mudança brusca da oposição para a base governista, o que o estaria fazendo avaliar melhor seu próximo passo.

De qualquer maneira, um primeiro embate foi pelo menos adiado, com a decisão de não ocorrer a fusão partidária imediata. O deputado federal Gabriel Chalita, o segundo mais votado de São Paulo - atrás apenas do Tiririca - continuará no PSB enquanto não for formalizada a fusão, e lutará dentro do diretório, caso o PSB nacional queira fazer uma coligação com o PDB para as eleições municipais.

Chalita, que é um potencial candidato à prefeitura, só decidirá sair do PSB caso haja uma intervenção no diretório municipal para entregá-lo ao grupo político de Kassab.

Nesse caso, sua tendência e a de Erundina seria ir para o PMDB.

O Democratas tenta se reerguer dos escombros de uma derrota eleitoral séria para assumir o papel com que seus dirigentes sonham, mas não conseguem transformar em realidade: ser um grande partido liberal, próximo especialmente da classe média, trabalhando questões que afetam seu dia a dia, como meio ambiente, altos impostos, desemprego, apagão aéreo e insegurança pública.

A refundação programática do partido, numa posição que Bornhausen classifica de "centro humanista e reformador", não foi seguida da reformulação das bases partidárias, e os chamados cartórios eleitorais continuaram em vários estados. Essa tarefa o senador Agripino Maia assumirá hoje como seu principal objetivo.

A mudança programática já se desenhava desde uma reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC) realizada no Rio, em 2005. A IDC se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e social-democratas no mundo.

O que os Democratas defendem é que está na hora de uma verdadeira experiência liberal, com uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho do Estado para conseguir também uma redução de impostos.

FONTE: O GLOBO

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