terça-feira, 8 de março de 2011

Oposição e arte de perder tempo:: Wilson Figueiredo

O ex-presidente Itamar franco, ciente de falar nessa condição e consciente de que a oportunidade não podia ser perdida, certamente quis esboçar um divisor de águas com a declaração de que “a única coisa que a oposição não poderia fazer é se calar”. A oposição que se prática até hoje nem sequer afinou os instrumentos de sopro, de cordas e de percussão para dar concertos a céu aberto.

Ficar, pela terceira vez consecutiva, com a responsabilidade da derrota nas costas, não é estimulante para reanimar uma tendência política que foi favorecida em dois mandatos presidenciais, mas não se preparou para o período de vacas magras. E, independente do resto, não correspondeu à expectativa histórica deferida à social democracia no espaço social brasileiro.

O tipo de oposição praticada pelo PSDB, coadjuvado pelo PPS e DEM, deixou a desejar numa sociedade em que a classe média queria se reconhecer e ser politicamente aceita. Mas foi negligente com o advento da grande classe média, cujos sinais localizam novos tempos a partir da eleição de Lula. O resto ficou pelo caminho e a atividade política não recuperou o prestígio perdido, nem se redimiu dos equívocos.

Limitada pelo bipartidarismo no tempo dos militares, a oposição apenas ganhou tempo. Depois se esfacelou em divergências. Os beneficiários de sempre se serviram quando a democracia os acolheu em sua infinita magnanimidade. Ainda bem que Lula só veio a ser, bem depois, o beneficiário desse hiato histórico. Foi eleito mas não correspondeu à imagem que dele projetou o petismo, na velha perspectiva de esquerda sem suficiente fundamento teórico. E o próprio se rendeu a um conceito radical e retrógrado da luta de classes sem resultados democráticos.

Lula veio, ficou por dois mandatos e teve a tentação do terceiro, mas não encontrou condições favoráveis. Resignou-se a contribuir para a democracia e se absteve de submetê-la a testes de carga superior à sua capacidade de assimilar formas estranhas aos princípios. Aplicou-se em eleger a sucessora.

A veemência do senador Itamar Franco nada tem a ver com o tom intolerante de oposição radical que desacreditou a Constituição de 46 e , depois da morte de Getúlio Vargas, não conseguiu se reencontrar com a confiança democrática. O mandato presidencial de JK foi um oásis varrido pela tempestade de areia que a eleição de Jânio Quadros desencadeou. O governo João Goulart lidou com as sobras da crise e se equivocou ao lidar com os restos do golpismo a fundo perdido.

O quarto presidente da série extra-constitucional praticou o nacionalismo estatal e preparou a retirada antes que fosse tarde. Com o quinto, apressou-se o processo de saída. A eleição presidencial indireta era indigesta à oposição e, por sua vez, a direta não era palatável aos militares.

A recomendação do primeiro vice-presidente Itamar Franco, levado ao exercício da presidência sob a Constituição de 88, foi de um homem público fiel aos valores do seu tempo, em que a liberdade e a desigualdade social passaram à responsabilidade dos governos. O senador Itamar Franco apontou o salário-mínimo confiado à decisão exclusiva do Executivo como um precedente perigoso, porque “pode se repetir indefinidamente”. E alertou que “Congresso que fica sem função perde a razão de ser”.

A oposição – e não apenas o PSDB – tem responsabilidades que podem favorecê-la se exercidas a tempo. O Estado Novo foi precedido de um temor que preparou a sociedade para a aprovação da Lei e da criação do Tribunal de Segurança Nacional, e encaminhou a ditadura. A exclusão do Congresso na revisão anual do salário-mínimo, para o senador Itamar Franco, é sinal de advertência. A oposição não pode deixar de advertir - como fazia o deputado Café Filho na Constituinte de 46, com entonação de Cícero – “lembrai-vos de 37”. Dispensa-se o resto.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

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