domingo, 10 de abril de 2011

Até agora foi fácil; o problema são os outros 1.361 dias

José Roberto de Toledo

Foi o início de governo mais positivo que Dilma Rousseff poderia ter. Ela começou mais bem avaliada do que todos os seus antecessores desde a redemocratização. Bateu o recorde de Luiz Inácio Lula da Silva nos primeiros três meses de mandato.

Por ora, sua gestão é vista como uma extensão do governo Lula. A presidente se beneficia da avalanche de consumo que põe em segundo plano outras dimensões da vida do eleitor.

A renda em alta e o acesso ao crédito têm efeito anestésico sobre as queixas da população em relação a setores mal avaliados, como o serviço público de saúde e a carga de impostos.

Eventos negativos, como a tragédia da serra fluminense no começo do ano, não atrapalharam sua imagem até agora. Mas ela se beneficiou das boas notícias, como os repetidos elogios públicos de Barack Obama ao Brasil e a ela própria, durante sua visita ao País.

Ao contrário de seu mentor, a presidente não é uma líder carismática, não dispõe de um canal de comunicação direto com o público, mas isso tem suas vantagens. Ela não veste o figurino clássico do populismo, o que a poupa de uma parte das críticas que Lula costumava receber.

A lua de mel com a imprensa e o público garantiu também uma transição tranquila no Congresso. Na única votação importante que enfrentou, a do reajuste do salário mínimo, saiu-se bem: 93% de fidelidade de sua inchada e heterogênea base na Câmara dos Deputados.

Os efeitos de novas tragédias, como o massacre da escola em Realengo, no Rio de Janeiro, podem provocar pequenas variações nas taxas de popularidade, mas não são determinantes. O que pesa na avaliação dos presidentes é o bolso dos eleitores.

Por isso, a curva de aprovação de Dilma deve variar em função do consumo das famílias e da taxa de inflação. Se não adotar medidas eficientes para conter a alta dos preços, correrá mais risco no longo prazo, à medida que a espiral inflacionária comece a corroer o poder aquisitivo das famílias.

Se, ao contrário, pisar fundo no freio e derrubar o poder de consumo da população, pode encarar uma queda abrupta de aprovação. Os próximos 1.361 dias serão muito mais desafiadores para Dilma do que foram os 100 primeiros.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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