sábado, 9 de abril de 2011

Dinheiro público no mensalão

Empresas de Marcos Valério receberam R$92 milhões

Carolina Brígido

BRASÍLIA. Relatório da Polícia Federal sobre o esquema do mensalão revela que as empresas de Marcos Valério receberam 60,5% de todo o dinheiro que o Banco do Brasil utilizou do Fundo Visanet de 2001 a 2005. Durante o período, foram repassados às empresas de Valério, o operador do mensalão, R$92 milhões.

Apesar de citar que as empresas de Valério começaram a receber o dinheiro na gestão de Fernando Henrique, o relatório informa que somente foram detectados serviços não prestados na Era Lula. É citado o exemplo de contas bancárias da SMPB no Banco Rural. Até 2002, uma das contas tinha limite de R$300 mil. A partir de 2003, o limite chegou a R$10 milhões.

De acordo com o documento, entre 2003 e 2005, as empresas de Valério tomaram empréstimos do Banco do Brasil, do BMG e do Banco Rural para sustentar o esquema. Houve acordo em pelo menos um empréstimo tomado pelo PT no BMG, alvo de discussão judicial. O PT assumiu a dívida, e o processo foi suspenso.

Para a polícia, os repasses do BB só foram possíveis porque membros da diretoria de marketing colaboraram com os desvios. Segundo o relatório, valeram-se "os sócios da DNA Propaganda Ltda da total falta de controle da vultosa verba de publicidade administrada pela instituição financeira estatal". "As investigações indicaram que a diretoria possuía um incrível poder discricionário para indicar as empresas que seriam beneficiadas com verbas de publicidade do Banco do Brasil, originadas tanto do Fundo de Incentivo Visanet quanto do orçamento próprio do banco". O dinheiro era repassado a beneficiários do valerioduto. Entre eles estava o próprio Marcos Valério e seu sócio Ramon Rollerbach. O relatório detalha as quantias.

O texto explica a partilha dos lucros entre Marcos Valério e seus aliados. Dos R$44 milhões repassados pelo Visanet a empresas dele a título de adiantamentos por contratos com o BB, R$4,7 milhões ficaram com a DNA Propaganda. O valor não foi contabilizado pela empresa e serviu, segundo a polícia, como "instrumento legítimo de influência política".

A polícia diz que Valério se aproximou do governo federal após a primeira vitória de Lula. "A dispendiosa campanha eleitoral do ano de 2002 resultou em um déficit orçamentário nas contas da nova coligação partidária que assumiu o governo federal em janeiro do ano de 2003, causando a fragilidade econômica que seria inteligentemente explorada por Marcos Valério através de uma ação de cooptação financeira. O empresário, por intuição ou experiência, tinha consciência da oportunidade que se abria, passando a iniciar uma habilidosa operação de aproximação do núcleo financeiro do novo grupo político detentor do poder central".

O documento cita casos que precisam ser melhor apurados - como os "laranjas" que receberam R$1,8 milhão do esquema e disseram que só emprestaram o nome para a criação da empresa beneficiada. Há ainda o caso do banqueiro Daniel Dantas. O relatório conclui que os repasses da BrasilTelecom, de Dantas, a Valério não estão esclarecidos. O documento cita que os contratos da BrasilTelecom com empresa de Marcos Valério foi assinado às pressas e sem aval da área de marketing da companhia. A PF não conseguiu rastrear o destino dos R$3,4 milhões que a BrasilTelecom repassou para Valério. O dinheiro foi parar em duas empresas de Trading e de lá usado para compra de dólares.

Também há menção aos R$300 mil que o ex-ministro Pimenta da Veiga disse que recebeu por consultoria advocatícia a Valério e aliados. A PF destaca que Pimenta da Veiga disse que não tem como comprovar o serviço. Alega que a consultoria foi "verbal". O relatório integra inquérito que investiga o mensalão no STF. Agora, o documento está nas mãos do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Ele vai decidir se é o caso para abrir nova frente investigativa do episódio, diante das novas provas.

FONTE: O GLOBO

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