sábado, 9 de abril de 2011

Enquadrar os usineiros:: Celso Ming


Tanto o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, como o da Agricultura, Wagner Rossi, confirmaram que o governo prepara duas mudanças no setor do etanol: a monitoração de todo o segmento sucroalcooleiro deverá passar para a Agência Nacional do Petróleo (ANP); e a implantação de uma política que garanta fornecimento e cotações estáveis para o etanol.

Desde dezembro, os preços do álcool vêm disparando (veja gráfico) porque tinha chegado a entressafra e não havia estoques suficientes para dar conta do consumo. Em abril, o Brasil chegou a importar 200 milhões de litros dos Estados Unidos - justamente o país a que pretende exportar.

Como 85% da frota de veículos é movida por motores flex (que rodam com qualquer mistura de etanol e gasolina), a alta do etanol levou a uma alta do consumo de gasolina, o que obrigou a Petrobrás a importar nada menos que 1,5 milhão de barris para suprir o mercado interno.

Situações assim, anualmente, conspiram contra o plano defendido largamente pelo setor: dar ao etanol a condição de commodity internacional. Se não tem produto para entregar, como é que se pode pretender ser exportador? E, mais do que isso, como querer que o etanol se transforme em commodity, condição que exige oferta e demanda fortes e, ao mesmo tempo, formação transparente de preços?

O sumiço do etanol vem se repetindo ano a ano na entressafra do Centro-Sul, período de cinco meses que vai de dezembro a abril. Mas, desta vez, a escassez foi mais forte por três razões. Primeira: a produção de cana-de-açúcar foi mais fraca do que a projetada, seja por efeito de seca em algumas regiões, seja por insuficiência de investimento que se seguiu a dois anos de preços baixos. Segunda: a frota flex cresceu mais de 100% nos cinco últimos anos e puxou o consumo de etanol. E, terceira razão: a alta das cotações do açúcar no mercado internacional levou as usinas integradas a canalizar mais matéria-prima para a fábrica de açúcar do que para as destilarias de etanol. Pode-se acrescentar ainda que o simples aumento da frota e do consumo de combustíveis exigiu mais álcool anidro, que vai na mistura com a gasolina à proporção de 25%.

A proposta de passar o setor para a supervisão da ANP faz sentido por outra razão: a redução dos custos de produção e a estabilização dos preços passam pela regularização do uso de bagaço de cana para produção de energia elétrica. Até agora, apesar do alto potencial, esse segmento ficou praticamente abandonado, porque as regras dos leilões de compra de energia dão o mesmo tratamento à produzida por biomassa e à eólica (obtida dos ventos). A energia gerada por biomassa (bagaço de cana) até agora não conseguiu concorrer com a eólica, que vem obtendo incentivos do governo. Até agora, as usinas não conseguiram produzir eletricidade por menos de R$ 160 por MWh, enquanto as eólicas saem por alguma coisa entre R$ 130 e R$ 140 por MWh.

O problema do momento é que o governo fica aflito com a pressão inflacionária da escassez de álcool e, em vez equacionar os problemas do setor sucroalcooleiro, acena com intervenções e com a adoção de política de preços à custa do caixa das empresas. Quando não é da Petrobrás, é das usinas de açúcar e etanol.

CONFIRA

Parece pouco

O aumento do IOF, de 1,5% para 3,0%, cobrado no financiamento à pessoa física, tende a ter baixo impacto sobre a evolução do crédito não só porque o consumidor brasileiro tende a não sentir grande diferença de aumento das prestações.

Vem mais?

O ministro Guido Mantega está avisando que, se não funcionar, as doses serão redobradas. Começa com essa advertência: se dentro de mais alguns dias tudo vai ficar mais caro e mais difícil, então é melhor comprar agora, antes que aperte.

Dribles no IOF

Se com mais ou menos aperto essa política funcionar, o comércio já sabe que sucedâneos usar: o mais prático é o maior parcelamento das contas do cartão de crédito. E o governo tende a não apertar esse segmento, porque teme o aumento da inadimplência. Outro recurso é a volta do cheque pré-datado. E uma terceira opção é aumentar as operações de leasing, que já cobrem 28,4% das vendas de veículos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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