domingo, 3 de abril de 2011

Fim de uma era:: Eliane Cantanhêde

Um quarto de século depois da morte morrida do regime de 1964, o governo conseguiu exorcizar mais um fantasma: as cerimônias e "ordens do dia" em que comandantes militares faziam a apologia do golpe, prolongando a agonia e constrangendo o poder civil.

O 31 de março de 2011 passou quase suavemente e ninguém soube, ninguém viu, ninguém deu bola.

Sem frisson nos quartéis, tensão no Planalto, atenção da mídia. Muito menos crises como a que derrubou o primeiro ministro da Defesa do governo Lula. Foi-se o tempo.

Nelson Jobim vetou atos alusivos à data nas três Forças, o comandante do Exército repassou a ordem, a tropa bateu continência. E o general Augusto Heleno arquivou sua palestra sobre "a Contrarrevolução que salvou o Brasil".

Ficou aborrecido? Pode até ser, mas declarou: "Sou militar, respeito a disciplina e a hierarquia. O superior determinou, eu cumpri".

Heleno foi comandando no Haiti e na Amazônia, sempre defendendo suas ideias. Uma das mais polêmicas foi quanto à questão da segurança nacional na Raposa/Serra do Sol. Falou na dupla condição de militar e de expert em Amazônia. Causou mal-estar, mas foi ouvido.

Ele completa 12 anos de generalato junto com o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), José Elito, e ambos passaram para a reserva do Exército no dia 29 de março. Elito fica no cargo, que não é cativo de oficial da ativa, mas Heleno tem 45 dias a partir de então para costurar o pijama.

Não pense que vá se contentar em dormir o sono dos justos ou se integrar a esses clubes militares que fazem festinhas e entopem a internet com textos fora de tom e de época nos 31 de março. Heleno tem mais o que fazer -e o que dizer.

Em 2011, o Brasil vira mais uma página da sua história. Só falta a Comissão da Verdade, aberta a todos os lados para clarear o passado e mirar o futuro. Com a palavra e o voto, o Congresso Nacional.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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