quinta-feira, 7 de abril de 2011

Mantega aumenta imposto e desmente Petrobras

Para combater a entrada de dólar e a desvalorização da moeda norte-americana frente ao real, o ministro da Fazenda anuncia o aumento do IOF para 6%. Na mesma entrevista, descarta reajuste dos combustíveis, possibilidade levantada pelo presidente da estatal do petróleo, Sergio Gabrielli.

Mais um aperto no crédito

Equipe econômica estende imposto de 6% a empréstimos do exterior com vencimento em dois anos

Ana D"angelo, Ganriel Caprioli e Victor Martins

Numa tentativa desesperada de estancar o derretimento do dólar e a valorização do real, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem mais um aperto no crédito de curto prazo que vem do exterior. A partir de hoje, os empréstimos tomados por empresas e instituições financeiras fora do país pelo prazo de até dois anos pagarão Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%. A expectativa da divulgação de uma medida de maior impacto, que não saiu, se refletiu na cotação da moeda norte-americana, que caía desde a semana passada e teve uma pequena alta de 0,31% ontem, fechando em R$ 1,614.

Além de segurar o câmbio, a iniciativa tem o objetivo de diminuir o crédito disponível para o consumidor. Para especialistas, a medida terá impacto pequeno. Em 29 de março, o governo já tinha passado a cobrar IOF nas operações com prazo de até um ano. Antes, elas eram isentas desse imposto.

“A medida desencoraja a tomada de crédito para prazos mais curtos por aqueles que querem fazer arbitragem, ou seja, direcionar o dinheiro para aplicações financeiras”, justificou Mantega. Segundo ele, as taxas de juros no Brasil “são mais altas” e se torna vantajoso captar no exterior a custo mais baixo para emprestar aqui no país.

Segundo ele, a decisão foi necessária porque a taxação dos empréstimos do exterior com prazo de até um ano não está sendo suficiente para conter o fluxo de capital externo. “Está sobrando liquidez no mercado internacional. A economia brasileira está mais forte e o país mais atraente”, afirmou.

A nova medida, no entanto, decepcionou os analistas. “Não só frustra, como tem pouco impacto, uma vez que boa parte das captações já é feita com prazo superior a dois anos”, afirmou o estrategista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani. Para ele, no entanto, “faz parte do jogo” manter ruídos e o risco elevado no mercado cambial, fator que evita que uma enxurrada maior de dólares chegue ao país. Padovani ressaltou ainda que a ampliação da cobrança reforça o conjunto de medidas capazes de atenuar a supervalorização do real, mas não de estancá-la.

Para o professor de finanças do Ibmec-DF Aquiles Rocha, o alarde em torno de novas medidas pode ter efeito contrário. “Nenhuma medida estrutural foi tomada. O impacto é marginal e esse processo, repetidas vezes, pode levar os agentes do mercado a acreditarem que o governo não tem força para segurar o câmbio, o que vai estimular mais entrada de capital”, ponderou.

Fluxo

Os investidores estrangeiros e as empresas que captam recursos no exterior não se intimidaram com a atuação do governo e continuaram trazendo dólares para o Brasil. No primeiro trimestre, o ingresso líquido da divisa norte-americana em solo brasileiro foi de US$ 35,6 bilhões, o maior volume desde 1982, quando a série histórica do Banco Central teve início. Para se ter ideia do tamanho do desafio cambial, esse valor é 46,5% superior à entrada de capital externo de todo o ano passado.

A maior parte desses recursos chegou via setor financeiro, com captações no exterior para aproveitar os juros mais baratos lá fora. Uma parte desse dinheiro aplicado no Brasil é classificado como Investimento Estrangeiro Direto e outra parcela, direcionada para renda fixa. Apenas em março, entraram US$ 12,6 bilhões, cifra recorde para o mês.

De 30 de março a 1º de abril, entretanto, houve uma desaceleração. O período registra uma saldo negativo de US$ 760 milhões em três dias úteis. “O pessoal está dando uma esperada. Muito mais em reação a um temor de uma intervenção mais agressiva no câmbio do que em resposta às medidas anteriores”, avaliou Jankiel Santos, economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank.

Político no BB

Conforme o Correio antecipou na edição de ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, confirmou a indicação do ex-senador Osmar Dias (PDT-PR) para a Vice-Presidência de Agronegócio do Banco do Brasil (BB) e a permanência do restante dos atuais vice-presidentes e do presidente da instituição financeira, Aldemir Bendine. Depois do anúncio, Mantega saiu e deixou para o presidente do BB os comentários sobre a escolha. Bendine afirmou que a instituição está habituada a ter “homens públicos na sua cúpula”. Perguntado sobre a compra de um banco no exterior, limitou-se a dizer que está na “fase de recolher assinaturas para fechar o negócio”.

Baixa renda prejudicada

Fábio Monteiro

O brasileiro com renda mais baixa está pagando a fatura da escalada dos produtos agrícolas, que subiram 60% nos últimos 12 meses. O preço dos alimentos corrói intensamente o orçamento das famílias. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1) registrou alta de 0,80% em março. No ano, a taxa chegou a 2,53% e, em 12 meses, a 6,16% — se esse fosse o indicador de inflação oficial, estaria quase no teto da meta, que é de 6,5%.

No trimestre, a inflação para as famílias com rendimento abaixo de três salários mínimos ficou 0,04 ponto percentual maior que a registrada para todo o país. O IPC-C1, divulgado na véspera da apresentação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que sai hoje, é um alerta pelo valor elevado que marcou. Os economistas esperam uma taxa pesada para o IPCA, de até 0,72%.

A elevação mais sentida foi a das hortaliças e legumes (7,78%). Além de alimentação, que subiu 1,51% no mês, os itens dos grupos vestuário (0,75%), saúde e cuidados pessoais (0,48%) e educação (0,48%) também incomodaram. “O gasto com alimentação no orçamento das famílias de baixa renda é muito relevante. Então, o reajuste nos preços é mais sentido”, disse o economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. Para ele, o cenário negativo deve se prolongar por todo o ano.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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