quinta-feira, 21 de abril de 2011

Pagaremos mico?::Rubens Bueno

A década que começa promete ser muito boa para o Brasil. Nos próximos anos, estaremos sendo visitados por milhares de pessoas de todo o mundo por conta de dois grandes eventos de escala mundial que iremos hospedar: a Copa-14 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. E não só por isso. O Brasil está amadurecendo como um dos principais destinos da agenda turística internacional.

Os eventos, especificamente, representarão, entretanto, excelente oportunidade de negócios e de geraçao de emprego em vários segmentos da economia, com destaque para o Turismo. Aliás, estimativas do Ministério do Turismo preevem o desembarque, só para os jogos da Copa, de mais de 600 mil estrangeiros. Espera-se o deslocamento de 3,6 milhões de pessoas apenas no mês do Mundial da FIFA.

Apesar da boa expectativa que esses jogos trazem, um problema se agiganta sem que o governo federal se mexa. Refiro-me ao iminente apagão da mão de obra no país. Órgão do próprio governo, o Ipea prevê que em 2020 serão necessários, na área da infraestrutura, por exemplo, 1,1 milhão de engenheiros para atender o mercado.

Diante das previsões, torna-se imperativa a aplicação imediata de grandes recursos na qualificação de trabalhadores. Certo? Não para o governo do PT. Ao contrário do que as projeções poderiam sugerir, os recursos do governo para a capacitação profissional estão diminuindo ao invés de aumentando.

Para entender o que está ocorrendo, primeiro é necessário (tentar) explicar uma contradição. É que ao mesmo tempo em que o governo autoriza o pagamento de convênios para a capacitação na área do Turismo, ele aplica profundos cortes neste orçamento, sob o eufemismo de "contingenciamento".

Vamos aos exemplos. Nos últimos três anos, o conselho deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), tem aprovado a liberação de consideráveis recursos para a qualificação de trabalhadores. Em 2008, por exemplo, foram R$ 900 milhões. E em 2010, para serem injetados na capacitação este ano, o FAT autorizou o pagamento de R$ 1,2 bilhão.

Entre a autorização da aplicação dos recursos e as salas de aula, o governo aplica uma tesourada no dinheiro da qualificação profissional. Encarregado de afiá-la, o Ministério do Planejamento, órgão responsável por estabelecer os limites de gastos de cada ministério, tem removido aproximadamente 2/3 do dinheiro disponível para a capacitação dos brasileiros. Isso significa que o Brasil vem dispondo de pouco mais de R$ 300 milhões, nesses últimos tempos, para qualificar os trabalhadores no âmbito dos programas do Ministério do Trabalho.

O resultado é previsível. Segundo o jornal O Globo, o montante de recursos do FAT aplicado na capacitação, em todos os setores, despencou 68,6% em 15 anos. A queda obviamente impactou o número de beneficiados. Se na década de 90 foram 13 milhões os trabalhadores instruídos com dinheiro do Fundo, nesta década eles somam 1 milhão.

Está claro que é a vez de o Brasil ocupar a preferência do mundo nos próximos anos. A questão é saber se teremos suficientes camareiras, recepcionistas, cozinheiros, padeiros, garçons, agentes de viagem, operadores e organizadores de eventos. Está nas mãos, principalmente, do governo federal qual o papel que queremos desempenhar. Vamos "pagar mico" ou sairemos bem na foto?

* Rubens Bueno é deputado federal e líder do PPS na Câmara

FONTE: SITE AB NOTÍCIAS

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