sábado, 23 de abril de 2011

Pro trabalhador, bacalhau:: Celso Ming

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, corre certo risco de se tornar conhecido como a rainha Maria Antonieta do governo Dilma.

Na última terça-feira, ele afirmou que há maneiras mais eficientes de combater a inflação. E deu um exemplo: os trabalhadores devem agir mais conscientemente e, em vez de carne, que ficou cara, devem consumir bacalhau.

Não consta que alguém tivesse avisado Maria Antonieta de que os brioches que ela recomendara para consumo dos seus súditos pouco antes da Revolução Francesa eram bem mais caros do que o pão que o povão também já não podia comprar.

Mas ainda há tempo para alguém avisar o ministro Lupi de que o quilo de bacalhau que ele está recomendando apenas episodicamente sai mais barato do que a carne consumida pelo trabalhador brasileiro.

Mas não é propriamente por essa recomendação que o ministro Lupi deve merecer reparo. Deve merecer pelo que ele pensa sobre a inflação e pela ordem de prioridade que seu contra-ataque deve receber do governo de que participa.

Lupi assim se expressou terça-feira: "A inflação não é esse diabo que muita gente fala. Temos de combater a inflação, mas sem sacrificar o crescimento". Assim, o ministro bombardeia a política de juros aplicada como terapia contra a inflação, porque, segundo ele, prejudica o emprego e o interesse do trabalhador.

Infelizmente, muita gente no Brasil pensa como o ministro Lupi e, por pensar assim, deve ter estranhado as frequentes declarações do ex-operário Lula da Silva, que em seu governo sempre julgou a inflação nefasta para a vida do trabalhador. Lula nunca desautorizou seus cães de guarda no Banco Central a atacá-la com a ferocidade dos juros.

Não há nos manuais da Economia Política a antinomia entre combate à inflação e garantia do crescimento econômico. Ou seja, não há sobre isso recomendação excludente, do tipo "ou se faz uma coisa ou se faz outra". Todos os estudos sobre o assunto mostram que a inflação pode, de início, dar a impressão de que estimula o consumo, mas sempre produz duas vítimas: a primeira é o salário do trabalhador e a outra é o próprio crescimento econômico. A escalada de preços derruba o investimento e também a saúde de qualquer economia.

Isso significa que uma das precondições (embora não suficiente) para a obtenção de um crescimento econômico sustentável é o controle da inflação. A ideia de que uma inflaçãozinha a mais não é o diabo e que pode ser tolerada, como pensa o ministro do Trabalho, tende a adiar o contra-ataque e esse adiamento torna as coisas bem mais difíceis depois, especialmente se a inflação engatar a terceira marcha.

Lupi parece até mesmo fora de sintonia com o discurso do governo de que participa. Como seu partido, o PDT, se posicionou contra o governo na questão do reajuste do salário mínimo (a proposta defendida pelo PDT era de um reajuste mais alto), a presidente Dilma Rousseff o ameaçou de demissão.

E a falta de sintonia continua. Desde seu pronunciamento de posse, a presidente Dilma vem repetindo que a prioridade de seu governo é o combate à inflação. Lupi pensa diferente.

CONFIRA

As cotações do ouro não param de subir. Este é o resultado da crescente perda de confiança na capacidade de o Tesouro americano honrar sua dívida. Reflete, também, a desvalorização do dólar ante as outras opções de aplicação: cada vez mais são necessários mais dólares para comprar o mesmo ativo.

O tamanho da alta

A onça-troy de ouro (31,1 gramas) subiu em dólares 5,7% em 2011 e bateu recorde depois de a Standard & Poor"s colocar a classificação dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos em "perspectiva negativa".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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